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 EPM — Estudo e Prática da Mediunidade

PROGRAMA II — MÓDULO DE ESTUDO Nº III
FUNDAMENTAÇÃO ESPÍRITA — MECANISMOS DA MEDIUNIDADE

Roteiro 8


Tipos incomuns da mediunidade (2)


Objetivo específico: Relacionar e caracterizar as principais mediunidades de efeitos intelectuais de ocorrência incomum.



SUBSÍDIOS


E saíram os fariseus e começaram a disputar com ele, pedindo-lhe, para o tentarem, um sinal do céu. Jesus (Marcos, 8.11)


1. MANIFESTAÇÕES MEDIÚNICAS ARTÍSTICAS


O conhecimento do mundo não se expressa apenas em conceitos abstratos, fórmulas matemáticas ou equações geométricas. Pela arte é possível captar a realidade de forma imediata, intuitiva e sensível. Tendo como base o sentimento, a arte se exprime por meio da percepção do belo e da experiência estética. O sentimento é o veículo que a arte se expressa, retratando emoções positivas ou negativas, tais como alegria, esperança, tristeza ou desespero. O artista é a pessoa que possui a capacidade de racionalizar o sentimento, de forma a ser contemplado e entendido. A manifestação artística representa o que é normalmente chamado de “experiência interior”.

O conceito de beleza costuma ser associado ao de bom. Sócrates afirmava que o que é belo é bom. Por outro lado, se o belo desperta o bom, deve fazer parte da educação do indivíduo. Nesse sentido, o dramaturgo e poeta alemão Johann Schiller (1759-1805) propôs a educação estética como forma de harmonizar e aperfeiçoar o mundo e do ser humano alcançar sua verdadeira liberdade. A palavra estética origina-se do grego aisthetiké, significando tudo aquilo que pode ser percebido pelos sentidos.

O Codificador do Espiritismo considera que as manifestações artísticas são tanto mais grosseiras, rudes, contendo características de fealdade, quanto menor for o senso moral do artista.


Diz-se, de há muito, que o semblante é o espelho da alma. Esta verdade, que se tornou axioma, explica o fato vulgar de desaparecerem certas fealdades sob o reflexo das qualidades morais do Espírito e o de, muito amiúde, se preferir uma pessoa feia, dotada de eminentes qualidades, a outra que apenas possui a beleza plástica. É que semelhante fealdade consiste unicamente em irregularidades de forma, mas sem excluir a finura dos traços, necessária à expressão dos sentimentos delicados. Do que precede se pode concluir que a beleza real consiste na forma que mais afastada se apresenta da animalidade e que melhor reflete a superioridade intelectual e moral do Espírito, que é o ser principal. Influindo o moral, como influi, sobre o físico, que ele apropria às suas necessidades físicas e morais, segue-se: 1º) que o tipo da beleza consiste na forma mais própria à expressão das mais altas qualidades morais e intelectuais; 2º) que, à medida que o homem se elevar moralmente, seu envoltório se irá avizinhando do ideal da beleza, que é a beleza angélica. (7)


Os artistas são pessoas que, em geral, apresentam características peculiares da personalidade, em razão da sua aguçada sensibilidade. Tais características os tornam diferentes das pessoas comuns, sendo, não raro, equivocadamente vistos como pessoas exóticas, de difícil convívio. Entender a mente de um artista nem sempre é tarefa fácil, uma vez que o seu psiquismo, as suas motivações são diferentes das do comum dos mortais. Os artistas trazem as emoções à flor da pele, passando da tristeza à alegria, ou da euforia à depressão, rapidamente, porque a sensibilidade é, neles, de certa forma, exagerada, mesmo nos menos criativos. Emmanuel esclarece:


O artista, de um modo geral, vive quase sempre mais na Esfera espiritual que propriamente no Plano terrestre. Seu psiquismo é sempre a resultante do seu mundo íntimo, cheio de recordações infinitas das existências passadas, ou das visões sublimes que conseguiu apreender nos círculos de vida espiritual, antes da sua reencarnação no mundo. Seus sentimentos e percepções transcendem aos do homem comum, pela sua riqueza de experiências no pretérito, situação essa que, por vezes, dá motivos à falsa apreciação da ciência humana, que lhe classifica os transportes como neurose ou anormalidade, nos seus erros de interpretação. É que, em vista da sua posição psíquica especial, o artista nunca cede às exigências do convencionalismo do planeta, mantendo-se acima dos preconceitos contemporâneos, salientando-se que, muita vez, na demasia de inconsideração pela disciplina, apesar de suas qualidades superiores, pode entregar-se aos excessos nocivos à liberdade, quando mal dirigida ou falsamente aproveitada. (14)


As manifestações artísticas expressas por via mediúnica são tão variadas quanto às expressas pela arte. O Espírito comunicante e médium possuem o conhecimento artístico necessário para viabilizar a manifestação. O conhecimento que o médium tem do assunto pode ter origem em experiência reencarnatória anterior, em aprendizado desenvolvido no Plano espiritual ou em aquisições obtidas na atual vivência física.

Indicamos, em seguida, os principais tipos de médiuns para manifestações artísticas.

  • «Médiuns pintores ou desenhistas: os que pintam ou desenham sob a influência dos Espíritos. Falamos dos que obtêm trabalhos sérios, visto não se poder dar esse nome a certos médiuns que Espíritos zombeteiros levam a fazer coisas grotescas, que desabonariam o mais atrasado estudante.» (1) A mediunidade pictórica é facilmente sujeita à mistificação e à ação de Espíritos levianos. É preciso ter cautela em relação a esse tipo de produção artística. (2)

  • «Médiuns músicos: os que executam, compõem ou escrevem músicas, sob a influência dos Espíritos. Há médiuns músicos, mecânicos, semimecânicos, intuitivos e inspirados, como os há para as comunicações literárias.» (2) Os maiores médiuns musicais deste século vinte foram Iole Catera e Rosemary Brown, nascidas na Itália e na Inglaterra, respectivamente.

    Sob a ação dos Espíritos-músicos, Iole Catera improvisava músicas e produzia arranjos de músicas existentes. Sob inspiração, escrevia composições musicais para piano, para canto, para orquestra, revelando profundo conhecimento das leis da harmonia e do contraponto, não adquirido na sua última reencarnação.

    Rosemary Brown, apesar de ter recebido, na atual encarnação, algum conhecimento musical, transmitiu mediunicamente composições dos maiores expoentes da música clássica, consideradas de altíssima qualidade.

  • «Médiuns versejadores: obtêm, mais facilmente do que outros, comunicações em versos. Muito comuns, para maus versos; muito raros, para versos bons.» (3)

  • «Médiuns Poéticos: sem serem versificadas, as comunicações que recebem têm qualquer coisa de vaporoso, de sentimental; nada que mostre rudeza. São, mais do que os outros, próprios para a expressão de sentimentos ternos e afetuosos. Tudo, nas suas comunicações, é vago; fora inútil pedir-lhes ideias precisas. Muito comuns.» (4)

  • «Médiuns literários: não apresentam nem o que há de impreciso nos médiuns poéticos, nem o terra-a-terra dos médiuns positivos [médiuns cujas comunicações são nítidas e precisas]; porém, dissertam com sagacidade. Têm o estilo correto, elegante e, frequentemente, de notável eloquência.» (4)

  • «Médiuns historiadores: os que revelam aptidão especial para as explanações históricas. […] Variedade rara dos médiuns positivos.» (4)

2. MEDIUNIDADE POLIGLOTA E ESPECULAR


Os médiuns que durante o transe falam ou escrevem em línguas estrangeiras possuem a mediunidade poliglota, também conhecida como mediunidade de xenoglossia (xeno = diferente, estrangeiro; glosso = língua). São muito raros. (5)

A manifestação mediúnica em uma língua estrangeira não apresenta utilidade de ordem prática quando acontece na reunião mediúnica, sobretudo se as pessoas presentes desconhecem a língua em que o Espírito se manifesta. Tem valor quando, dirigida a público não-espírita ou com reduzido conhecimento da Doutrina Espírita, fornece evidências da sobrevivência do Espírito, após a morte do corpo físico. Há casos de obsessão em que o Espírito se manifesta, falando ou escrevendo, em língua estrangeira. O médium, por outro lado, só tem condições de transmitir a mensagem em língua estrangeira quando ele tem domínio desta, por aquisição na presente existência ou em reencarnações anteriores.

Nos processos de comunicação viabilizados pela mediunidade poliglota, as ideias do Espírito comunicante chegam à mente do médium sob a forma de imagens. Estas imagens são captadas e decodificadas pela mente do médium, que as transmitem pela escrita ou pela fala. Kardec nos fornece as seguintes explicações:


O Espírito que se quer comunicar compreende, sem dúvida, todas as línguas, pois que as línguas são a expressão do pensamento e é pelo pensamento que o Espírito tem a compreensão de tudo; mas, para exprimir esse pensamento, torna-se-lhe necessário um instrumento e este é o médium. A alma do médium, que recebe a comunicação de um terceiro, não a pode transmitir, senão pelos órgãos do seu corpo. Ora, esses órgãos não podem ter, para uma língua que o médium desconheça, a flexibilidade que apresentam para a que lhe é familiar. Um médium, que apenas saiba o francês, poderá, acidentalmente, dar uma resposta em inglês, por exemplo, se ao Espírito apraz fazê-lo […]. (6)


 É importante distinguir mediunidade poliglota ou de xenoglossia das manifestações incoerentes da glossolalia. Glossolalia (glosso = língua; lalia = balbucio) é a repetição de colocações sem sentido, não relacionadas ao assunto ou situação envolvida. (9) São balbucios que simulam sons ou ruídos de uma língua estrangeira, porém, são totalmente ininteligíveis. É muito comum em processos obsessivos graves (fascinação e subjugação).

«O termo xenoglossia foi o professor Richet [Charles Richet] quem o propôs, com o intuito de distinguir, de modo preciso, a mediunidade poliglota propriamente dita, pela qual os médiuns falam ou escrevem em línguas que eles ignoram totalmente […], de glossolalia, nos quais os pacientes sonambúlicos falam ou escrevem em pseudo-línguas inexistentes, elaboradas nos recessos subconscienciais […].» (8)

Há casos excepcionais em que a mensagem mediúnica é recebida em língua estrangeira e invertida, escrita de trás para frente, de forma que a sua leitura só é facilitada por um espelho. Trata-se da mediunidade especular. Os médiuns Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira receberam mensagens em inglês, respectivamente ditadas pelos Espíritos Emmanuel e Joanna de Ângelis. Veja a ilustração que se segue. No Congresso Espírita Mundial, ocorrido em Paris, em 2004, por ocasião das comemorações do bicentenário de nascimento de Allan Kardec, Divaldo Franco recebeu uma mensagem de Léon Denis, escrita em francês e invertida.


EXEMPLO DE MENSAGEM POLIGLOTA E ESPECULAR (*)

MÉDIUM: Francisco Cândido Xavier

ESPÍRITO: Emmanuel



Atenção: para ler a mensagem, colocá-la diante de um espelho.


(*) Mediunidade especular (In: João Teixeira de Paula. Dicionário de Parapsicologia, metapsíquica e Espiritismo. Volume 3. São Paulo, EGRT, 1970.)


3. MEDIUNIDADE DE PSICOMETRIA


Em psicologia experimental, psicometria « […] significa registro, apreciação da atividade intelectual, entretanto, nos trabalhos mediúnicos, esta palavra designa a faculdade de ler impressões e recordações ao contato de objetos comuns.» (13) Neste sentido, o médium psicômetra que possui essa rara faculdade, «[…] tocando em determinados objetos, entra em relação com as pessoas e fatos aos mesmos ligados. Essa percepção se verifica em vista de tais objetos se acharem impregnados da influência pessoal do seu possuidor.» (11) Alguns médiuns necessitam sentir o objeto pelo tato, a fim de fazer a leitura psicométrica. Para outros, porém, é suficiente observar o objeto. [v. Impregnações fluídicas]


A psicometria é a faculdade que possuem certos sensitivos de, ao contato direto ou à simples presença de um determinado objeto, ou mesmo de um fragmento mineral, vegetal ou animal, apreender psiquicamente a história da própria peça em si, como matéria, ou a história do seu possuidor ou de pessoas que estiveram relacionadas com esse objeto, reconstituindo os respectivos ambientes, os fatos, pensamentos e sensações por elas vivenciadas no passado e no presente e, muitas vezes, prenunciando acontecimentos futuros que lhes dizem respeito. (10)


A leitura psicométrica só é possível porque a onda mental do médium, ao entrar em contato com o objeto, se expande e passa a circular dentro de um circuito fechado, desenvolvido pela atenção profunda e pela percepção avançada, «com a capacidade de transportar os sentidos vulgares para além do corpo físico, no estado natural de vigília.» (12)

A leitura psicométrica ocorre por duas vias: a) percepção dos fatos impressos na aura do objeto; b) relação telepática que o médium psicômetra faz com a mente de quem possui o objeto, independentemente esteja este encarnado ou desencarnado. Podemos, então, imaginar que o psicômetra, ao ter contato, direto ou indireto, com um objeto, entra em uma espécie de túnel do tempo, tomando conhecimento de fatos e pessoas relacionados ao objeto em questão.

Os médiuns que possuem mediunidades incomuns, como as citadas neste Roteiro, são muito assediados por mentes invigilantes, as quais são ávidas por novidades ou pelo que consideram fantástico e maravilhoso. São pessoas vivem em busca de um “sinal” para que tenham a fé fortalecida. Considerando este fato e, também, a citação do evangelista Marcos inserida no início do estudo, esclarece Emmanuel:


No Espiritismo-cristão, de quando em quando aparecem aprendizes do Evangelho sumamente interessados em atender a certas requisições, no capítulo da fenomenologia psíquica. Exigem sinais do Céu, tangíveis, incontestáveis. Na maioria das vezes, porém, a movimentação não passa de simples repetição do gesto dos fariseus antigos. Médiuns e companheiros outros, em grande número, não se precatam de que os pedidos de demonstrações celestes são formulados, quase que invariavelmente, em obediência a propósitos inferiores. Há ilações lógicas no assunto, que importa não desprezarmos. Se um espírito permanece encarnado na Terra, como poderá fornecer sinais de Júpiter? Se as solicitações dessa natureza, endereçadas ao próprio Cristo, foram situadas no âmbito das tentações, com que argumento poderão impô-las os discípulos novos aos seus amigos do invisível? […] Quem reclama sinais do Céu será talvez ignorante ou portador de má-fé; contudo, o seguidor da Boa Nova que procura satisfazer o insensato é distraído ou louco. Se te requisitam demonstrações exóticas, replica, resoluto, que não foste designado para a produção de maravilhas e esclarece a teu irmão que permaneces determinado a aprender com o Mestre a ciência da Vida Abundante, a fim de ofereceres à Terra o teu sinal de amor e luz, inquebrantável na fé, para não sucumbir às tentações. (15)



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 79. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte. Capítulo 16, item 190, p. 242.

2. Idem, ibidem - p. 243.

3. Idem, ibidem - Item 193, p. 246.

4. Idem, ibidem - p. 247.

5. Idem, ibidem - Item 191, p. 244.

6. Idem, ibidem - Capítulo 19, item 224, p. 286.

7. Idem - Obras póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 39. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Primeira parte, item: Teoria da beleza, p. 186-187.

8. BOZZANO, Ernesto. Xenoglossia. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Introdução, p. 7.

9. DICIONÁRIO MÉDICO ENCICLOPÉDICO TABER. Coordenado por Clayton L. Thomas. Tradução de Fernando Gomes Nascimento. 17. ed. São Paulo: 2000, p. 817.

10. NÁUFEL, José. Do abc ao infinito. Espiritismo experimental. Volume 2. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Capítulo 18 (Psicometria), item: O que é psicometria, p. 167.

11. PERALVA, Martins. Estudando a mediunidade. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 39 (Psicometria), p. 199.

12. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 20 (Psicometria), item: Mecanismos da psicometria, p. 157.

13. XAVIER, Francisco Cândido. Nos domínios da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 32. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 26 (Psicometria), p. 277-278.

14. Idem - O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006, questão 165, p. 102-103.

15. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 145 (Demonstrações), p. 325-326.


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