Roteiro 7
Tipos incomuns da mediunidade (1)
Objetivos específicos: Conceituar fenômenos de ectoplasmia. — Caracterizar os tipos mediúnicos associados à ectoplasmia.
SUBSÍDIOS
E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição. Paulo (Colossences, 3.14)
1. CONCEITO DE ECTOPLASMIA
A palavra ectoplasmia deriva de ectoplasma que, em biologia, refere-se à camada mais externa do protoplasma celular. O protoplasma é uma substância coloidal, viscosa e espessa, ricas em elementos vitais, existente no interior da célula, excluído o núcleo. A palavra foi criada por Charles Richet (1850-1935), conhecido como o “Pai da Metapsíquica”, ciência psíquica por ele fundada.
Para o Espiritismo o ectoplasma assemelha-se a uma «[…] pasta flexível, à maneira de uma geleia viscosa e semilíquida […].» (10) Nas manifestações mediúnicas de efeitos físicos, em especial nas materializações espirituais, é expelida do corpo do médium, « […] através de todos os poros e, com mais abundância, pelos orifícios naturais, particularmente da boca, das narinas e dos ouvidos, com elevada percentagem a exteriorizar-se igualmente do tórax e das extremidades dos dedos.» (10) A substância possui cheiro peculiar e cor leitosa que, durante as materializações, escorre em movimentos reptilianos, ao longo do corpo do médium que o produz, acumulando-se na parte inferior do organismo físico, onde adquire um aspecto de grande massa protoplásmica, viva e tremulante. (10)
Formado a partir do protoplasma celular, o ectoplasma possui densidade e características específicas, que o situa entre a matéria densa e a matéria perispiritual. Trata-se de uma substância saturada do magnetismo humano, utilizada pelos Espíritos na produção de fenômenos mediúnicos específicos ou de ectoplasmia, categorizados pela Codificação como de efeitos físicos, e de ocorrência incomum: curas magnético-espirituais; materializações e transportes de Espíritos ou de objetos; formação de agêneres; fotografia de Espíritos; levitação; transfiguração e poltergeist. São manifestações mediúnicas raras nos dias atuais, exceto as curas espirituais. Apresentamos, em seguida, as principais características de alguns desses fenômenos que não foram estudados no Programa I, módulos 1 e 3, deste Curso.
2. CURAS MEDIÚNICAS
A Doutrina Espírita ensina que toda doença tem origem no Espírito porque a ação moral desequilibrada do indivíduo afeta o seu perispírito. Como o perispírito do encarnado está intimamente ligado ao seu corpo físico, o desajuste vibratório de um, afeta o outro, produzindo, em consequência, as doenças.
A mediunidade curadora […] consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer medicação. […] Evidentemente, o fluido magnético [ectoplásmico] desempenha aí importante papel; porém, quem examina cuidadosamente o fenômeno sem dificuldade reconhece que há mais alguma coisa. A magnetização ordinária é um verdadeiro tratamento seguido, regular e metódico […]. Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzir-se convenientemente, ao passo que nos médiuns curadores a faculdade é espontânea e alguns até a possuem, sem jamais terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de uma potência oculta [Espíritos desencarnados] que é o que constitui a mediunidade […]. (5)
Allan Kardec esclarece que a «[…] cura se opera mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas, depende também da energia da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido.» (2)
Outro tipo de mediunidade de efeitos físicos, muito relacionado às curas, são as cirurgias espirituais, também denominadas cirurgias simpatéticas — assim chamadas por sua semelhança com a magia — e que envolvem grandes movimentações de fluidos ectoplásmicos. Tais cirurgias não acontecem, em geral, nas casas espíritas e os médiuns deste tipo de fenômeno, nem sempre são espíritas.
O conhecido médium brasileiro José Arigó, por exemplo, realizava cirurgias espirituais utilizando facas ou canivetes, sem anestesia nem cuidados assépticos. A médium paulista Bernarda Torrúbio não utilizava instrumentos para realizar as cirurgias: após a prece costumeira, estendia as mãos sobre o doente sem tocá-lo, expelindo pelo vômito, em seguida, sangue e restos orgânicos dos tumores ou males que afetavam o doente. Esta mediunidade de cura está associada a outra: a de transporte. Ou seja, o Espírito desintegrava o tumor localizado no organismo do doente e o materializava no estômago da médium que, em sequência, o expelia. O livro A Mediunidade Segundo o Espiritismo, de Carlos Bernardo Loureiro, editora Mnêmio Túlio, possui informações complementares sobre o assunto.
A doação magnético-espiritual, usual nos trabalhos espíritas, pode curar um enfermo, caso não haja implicações cármicas impeditivas. Mesmo assim, produz significativo alívio ao doente, podendo, em consequência, abrandar a manifestação da enfermidade. As curas espíritas são obtidas pela aplicação do passe, pela fluidificação da água, pelo hábito saudável da oração, pelo enriquecimento da fé — obtida por meio de atitudes mentais positivas e mudanças de hábitos negativos. A transmissão fluídica pode ser feita diretamente à pessoa doente ou, à distância, por meio dos efeitos plasmadores (ideoplásticos) do pensamento e da vontade.
Há casas espíritas que realizam reuniões especiais de transmissão de fluidos, pelo passe, pela prece e pela intervenção espiritual indireta ou direta, como nos casos de cirurgias espirituais. Quando bem orientadas, tais reuniões proporcionam significativos benefícios. A natureza do trabalho exige maiores cuidados na preparação dos médiuns, no que diz respeito à alimentação, à ingestão de substâncias tóxicas ou irritativas (álcool, tabaco etc.) e à manutenção equilíbrio moral e emocional. Registramos, porém, que a cura definitiva das doenças está relacionada aos processos de reajustes do Espírito perante a Lei de Deus.
3. AGÊNERES
Agênere (literalmente, “o que não foi gerado”) é uma modalidade de aparição ou materialização tangível; estado temporário em que certos Espíritos se apresentam, muito similar ao da pessoa encarnada, ao ponto de produzir a ilusão completa [a de que ela está encarnada]. (6) Allan Kardec explica assim o fenômeno dos agêneres:
O […] perispírito, no seu estado normal, é invisível; mas, como é formado de substância etérea, o Espírito, em certos casos, pode, por ato da sua vontade, fazê-lo passar por uma modificação molecular que o torna momentaneamente visível. É assim que se produzem as aparições […]. Conforme o grau de condensação do fluido perispirítico, a aparição é às vezes vaga e vaporosa; doutras vezes, mais nitidamente definida; doutras, enfim, com todas as aparências da matéria tangível. Pode, mesmo, chegar, até, à tangibilidade real, ao ponto de o observador se enganar com relação à natureza do ser que tem diante de si. (3)
4. FOTOGRAFIA DE ESPÍRITOS
A fotografia de Espíritos, animais, plantas ou cenas do Plano espiritual, tem como base o princípio da ideoplastia ou das criações fluídicas, fenômeno pelo qual «[…] o pensamento pode materializar-se, criando formas que muitas vezes se revestem de longa duração, conforme a persistência da onda em que se expressam.» (8) Isto acontece porque os Espíritos atuam mentalmente sob os fluidos espirituais, de forma intencional, ou não, combinando-os, dispersando-os, formando conjuntos, imagens com movimento e colorido próprios. (1) «Idênticos fenômenos com a ideoplastia por base são comuns na fotografia transcendente, em seus vários tipos […].» (9)
O americano H. Mumler é, sem dúvida, o pioneiro no campo das fotografias transcendentais. Obteve, pela primeira vez, no ano de 1861, uma imagem humana junto a pessoas encarnadas que foram por ele fotografadas. O livro História do Espiritismo, de Arthur Conan Doyle, editora Pensamento, apresenta maiores informações sobre os médiuns-fotógrafos.
5. LEVITAÇÃO
Levitação é o fenômeno pelo qual pessoas, animais ou coisas erguem-se do solo, elevando-se no ar, a pequenas ou consideráveis alturas, com eventuais deslocamentos, sem evidente causa física. Há casos em que a pessoa ou o objeto levitado vai até o teto ou paira sobre as copas das árvores ou sobre a crista dos montes. […] Não só a literatura espírita, mas também a Bíblia e o próprio Hagiológico da Igreja Católica (*) narram casos de médiuns, de profetas e de santos que se elevaram no ar, ou levitaram em ambientes fechados, templos e ao ar livre. (7)
(*) Hagiológico ou hagiográfico: estudo relativo à biografia dos santos da Igreja Católica.
Kardec explica que quando alguém ou um objeto «[…] é posto em movimento, levantado ou atirado para o ar, não é que o Espírito o tome, empurre ou suspenda, como o faríamos com a mão. O Espírito o satura, por assim dizer, do seu fluido, combinando-o com o do médium.» (4) Dessa forma, cria uma substância (força ou energia) intermediária e própria para a realização dos fenômenos de levitação. (4)
A levitação é também chamada de mediunidade de translação ou de suspensão. Sem sombras de dúvidas, um dos mais notáveis médiuns de levitação foi o escocês Daniel Douglas Home (1833-1886), cognominado de “o homem flutuante.” Maiores informações sobre os feitos deste excepcional médium do século dezenove são encontradas na Revista Espírita de 1858, mês de fevereiro, e na de 1863, mês de setembro, bem como no livro Allan Kardec, volume 2, de Francisco Thiesen e Zeus Wantuil, edição FEB.
Os fenômenos mediúnicos, sobretudo os de efeitos físicos, chamam a atenção das pessoas. Médiuns menos esclarecidos transformam-nos em espetáculos públicos, em peças teatrais. Entretanto, cada «[…] médium é mobilizado na obra do bem, conforme as possibilidades de que dispõe. Esse orienta, outro esclarece; esse fala, outro escreve; esse ora, outro alivia.» (11)
Refletindo a respeito, lembramos a orientação de Paulo aos colossenses, ( † ) inserida no início deste Roteiro, que fala da necessidade de nos revestirmos da “caridade, que é o vínculo da perfeição”. Esta é a palavra-chave, independentemente da mediunidade que possuímos.
Todo discípulo do Evangelho precisará coragem para atacar os serviços da redenção de si mesmo. Nenhum dispensará as armaduras da fé, a fim de marchar com desassombro sob tempestades. O caminho de resgate e elevação permanece cheio de espinhos. O trabalho constituir-se-á de lutas, de sofrimentos, de sacrifícios, de suor, de testemunhos. Toda a preparação é necessária, no capítulo da resistência; entretanto, sobre tudo isto é indispensável revestir-se nossa alma de caridade, que é amor sublime. A nobreza de caráter, a confiança, a benevolência, a fé, a ciência, a penetração, os dons e as possibilidades são fios preciosos, mas o amor é o tear divino que os entrelaçará, tecendo a túnica da perfeição espiritual. A disciplina e a educação, a escola e a cultura, o esforço e a obra, são flores e frutos na árvore da vida, todavia, o amor é a raiz eterna. (12)
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 49. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 14, item 14, p. 322.
2. Idem, ibidem - Item 31, p. 336.
3. Idem, ibidem - Item 35, p. 338.
4. Idem - O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 79. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte, Capítulo 4, item. 77, p. 103.
5. Idem - Capítulo 14, item 175, p. 217.
6. Idem - Capítulo 32, item: Agênere, p. 512.
7. NÁUFEL, José. Do abc ao infinito. Espiritismo experimental. 13. Vol. 2. 2. ed. (Primeira edição FEB), 1999. Capítulo 16 (Levitação), p. 146.
8. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 19 (Ideoplastia), item: No sono provocado, p. 151.
9. Idem, ibidem - Item: Em outros fenômenos, p. 155.
10. XAVIER, Francisco Cândido. Nos domínios da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 32. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 28 (Efeitos físicos), p. 298.
11. Idem - Seara dos médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Item: Faculdades mediúnicas, p. 146.
12. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 5 (Com amor), p. 27.