Roteiro 6
Intuição
Objetivos específicos: Conceituar intuição. — Analisar os mecanismos da intuição.
SUBSÍDIOS
Disseram-lhe, pois: que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos, e creiamos em ti? O que operas tu? Jesus (João, 6.30)
1. CONCEITO DE INTUIÇÃO
A palavra intuição apresenta três significados: a) conhecimento imediato de alguma coisa, obtido por meio do entendimento sensível e ou do intelectual; b) conhecimento antecipado, caracterizado por um “pressentimento” ou por uma “presciência” de algo que poderá acontecer; c) conhecimento da essência das coisas, isto é, capacidade de enxergar além das aparências. O conhecimento imediato é reconhecido como um problema de ordem epistemológica (teoria do conhecimento) que investiga ser possível alguém ter o conhecimento das coisas sem o uso exclusivo da inteligência. Como conhecimento antecipado, a intuição está vinculada à percepção extra-sensorial. O terceiro significado, — que trata da apreensão da essência das coisas — é questão metafísica quando se indaga ser possível alguém enxergar aparências e a realidade das coisas. (10)
O conceito espírita de intuição abrange esses e outros significados: a) resulta da manifestação da faculdade anímica; b) decorre da faculdade mediúnica; c) faz relação com as provações da vida, definidas no planejamento reencarnatório; d) reflete aprendizado desenvolvido em épocas passadas ou no Plano espiritual.
Os fenômenos de emancipação da alma ou anímicos (de anima, alma) são produzidos pelo próprio Espírito encarnado nos momentos de desprendimento (desdobramento) do corpo físico. Nesta situação, o Espírito desdobrado tem consciência das ocorrências desenvolvidas tanto no Plano físico quanto no espiritual, podendo participar ativamente delas. Retornando ao corpo físico, a pessoa recorda intuitivamente dos acontecimentos vividos. «De ordinário — esclarecem os Espíritos Superiores — , ao despertardes, guardais a intuição desse fato, do qual se originam certas ideias que vos vêm espontaneamente, sem que possais explicar como vos acudiram. » (3), (11)
Os fenômenos mediúnicos (de médium, meio) decorrem da ação dos Espíritos sobre um instrumento humano, o médium. A intuição manifestada por via mediúnica é muito sutil. Surgem na mente ideias sobre um assunto ou acontecimento, cuja origem, a rigor, é desconhecida pelo medianeiro. Kardec enfatiza que nas mensagens mediúnicas, intuitivamente recebidas, a transmissão do pensamento do Espírito comunicante se dá por meio da alma do medianeiro, não atuando no caso da psicografia, por exemplo, na mão do médium. «[…] Nessa situação, o médium tem consciência do que escreve, embora não exprima o seu próprio pensamento. […]» (6)
A intuição pode ocorrer como lembranças de provas, definidas no planejamento reencarnatório. São provações semelhantes às que o Espírito não soube aproveitar, resultando daí lutas necessárias à sua melhoria espiritual. O reencarnante, então, «[…] pede a Espíritos que lhe são superiores que o ajudem na nova empresa que sobre si toma, ciente de que o Espírito, que lhe for dado por guia nessa outra existência, se esforçará pelo levar a reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das que incorreu. […] Essa voz que é a lembrança do passado, vos adverte para não recairdes nas faltas de que já vos fizestes culpados […].» (2)
A intuição é, também, uma lembrança de aprendizado desenvolvido pelo Espírito, em vidas passadas e nos intervalos das reencarnações. Surge como ideias inatas e como tendências instintivas. Os «[…] conhecimentos adquiridos em cada existência [e no Plano espiritual] não mais se perdem. Liberto da matéria, o Espírito sempre os têm presentes. Durante a encarnação, esquece-os em parte, momentaneamente; porém, a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso. Se não fosse assim, teria que recomeçar constantemente […].» (1)
2. MECANISMOS DA INTUIÇÃO
Pela intuição o homem capta o pensamento e as irradiações dos Espíritos, podendo ampliar as suas conquistas intelectuais e morais ou permanecer, mais ou menos estacionário, em processos de simbiose mental com outras mentes com as quais guarda afinidade. As percepções intuitivas ocorrem porque, como afirma Kardec, todo «[…] aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo […].» (4)
Sendo assim, a intuição é uma faculdade generalizada no ser humano, considerada o sistema inicial de intercâmbio mediúnico que permite «[…] comunhão das criaturas, mesmo a distância.» (17) O seu mecanismo básico está assentado no princípio de identificação e assimilação mental de ideias semelhantes ou afins.
As ideias são os alicerces do pensamento. Este, por sua vez, é constituído de «[…] matéria mental, em que as leis de formação das cargas magnéticas ou dos sistemas atômicos prevalecem sob novo sentido, compondo o maravilhoso mar de energia sutil em que todos nos achamos submersos […]. (18) Vivemos, assim, mergulhados num universo de ondas mentais, mas somente nos associamos às ondas do pensamento que, se enovelam «[…] umas sobre as outras, segundo a combinação de frequência e trajeto, natureza e objetivo […].» (16)
A associação mora em todas as coisas, preside a todos os acontecimentos e comanda a existência de todos os seres. […] Assimilamos os pensamentos daqueles que pensam como pensamos. É que sentindo, mentalizando, falando ou agindo, sintonizamo-nos com as emoções e ideias de todas as pessoas, encarnadas ou desencarnadas, da nossa faixa de simpatia. Estamos invariavelmente atraindo ou repelindo recursos mentais que se agregam aos nossos, fortificando-nos para o bem ou para o mal, segundo a direção que escolhemos. Em qualquer providência e em qualquer opinião, somos sempre a soma de muitos. Expressamos milhares de criaturas e milhares de criaturas nos expressam. (14)
Os desejos e ideias expressos por alguém estão refletidos na sua aura ou halo vital, onde as correntes sutis do pensamento se deslocam numa frequência específica e apresentam cores peculiares. (18) «Essas forças, em constantes movimentos sincrônicos ou estado de agitação pelos impulsos da vontade, estabelecem para cada pessoa uma onda mental própria.» (19) Quando alguém se associa ao pensamento de outra pessoa e com ele se identifica, define-se uma espécie de “campo” ou circuito mental que será «[…] tanto maior quanto mais amplos se lhe evidenciem as faculdades de concentração e o teor de persistência no rumo dos objetivos que demande.» (20) É por este motivo que os pensamentos e os anseios da alma encontram sempre ressonância em outras mentes. Este processo é também conhecido como telementação, assim explicado por André Luiz:
Pelos princípios mentais que influenciam em todas as direções, encontramos a telementação e a reflexão comandando todos os fenômenos de associação […]. Emitindo uma ideia, passamos a refletir as que se lhe assemelham, ideia essa que para logo se corporifica, com intensidade correspondente à nossa insistência em sustentá-la, mantendo-nos, assim, espontaneamente em comunicação com todos os que nos esposem o modo de sentir. É nessa projeção de forças a determinar o compulsório intercâmbio com todas as mentes encarnadas ou desencarnadas, que se nos movimenta o Espírito no mundo das formas-pensamentos, construções substanciais na esfera da alma, que nos liberam o passo ou no-lo escravizam, na pauta do bem ou do mal de nossa escolha […]. (21)
A intuição, como toda faculdade psíquica, é neutra. Boas ou ruins são as associações mentais estabelecidas. Entretanto, disciplinando a vontade e a reflexão dos próprios atos, é possível elevar o padrão mental, em termos de moralidade e conhecimento, associando-se a Espíritos mais esclarecidos. Emmanuel informa, a propósito, que no seu desenvolvimento o «[…] estudo perseverante, com esforço sincero e a meditação sadia, é o grande veículo de amplitude da intuição, em todos os aspectos.» (12)
Pensando, conversando ou trabalhando, a força de nossas ideias, palavras e atos alcança, de momento, um potencial tantas vezes maior quantas sejam as pessoas encarnadas ou não que concordem conosco, potencial esse que tende a aumentar indefinidamente, impondo-nos, de retorno, as consequências de nossas próprias iniciativas. Estejamos, assim, procurando incessantemente o bem, ajudando, aprendendo, servindo, desculpando e amando, porque, nessa atitude, refletiremos os cultivadores da luz, resolvendo, com segurança o nosso problema de companhia. (15)
3. INTUIÇÃO E MEDIUNIDADE
Percebemos nas obras da Codificação Espírita que a intuição não é definida como uma mediunidade específica, mas como uma forma ou de alguns tipos de mediunidade de efeitos intelectuais se expressarem.
Por exemplo, na mediunidade escrevente, Kardec esclarece que há três tipos de psicógrafos: mecânicos, semimecânicos e intuitivos. Os primeiros são os «[…] que nenhuma consciência têm do que escrevem […].» (8) Os segundos «[…] têm, instantaneamente, consciência das palavras ou das frases, à medida que escrevem […].» (8) Já os médiuns escreventes intuitivos são «[…] aqueles com quem os Espíritos se comunicam pelo pensamento […]. (8)
Nas percepções intuitivas, o médium interpreta a mensagem do Espírito comunicante e a transmite aos circunstantes, utilizando as próprias palavras, na linguagem que lhe é usual e de acordo com o seu entendimento. O Codificador explica que o médium intuitivo age como o faria um intérprete. Este, de fato, para transmitir o pensamento, precisa compreendê-lo, apropriar-se dele, de certo modo, para traduzi-lo fielmente e, no entanto, esse pensamento não é seu, apenas lhe atravessa o cérebro. Tal precisamente o papel do médium intuitivo. (9)
Kardec afirma igualmente que os médiuns inspirados e os de pressentimentos são uma variedade dos intuitivos. Os médiuns inspirados são «[…] aqueles a quem, quase sempre malgrado seu, os Espíritos sugerem ideias, quer relativas aos atos ordinários da vida, quer com relação aos grandes trabalhos da inteligência.» (7) Os médiuns de pressentimentos são «[…] pessoas que, em dadas circunstâncias, têm uma intuição vaga de coisas vulgares que ocorrerão no futuro.» (7)
Perante todas essas considerações, torna-se frequentemente difícil distinguir o pensamento do médium do que lhe é sugerido, o que leva muitos médiuns deste gênero a duvidar da sua faculdade. (6) Somente o tempo e a prática mediúnica perseverante oferecem condições para que se faça essa distinção. Os médiuns intuitivos de quaisquer modalidades devem, pois, permanecer tranquilos no seus postos de trabalho, ignorando os assédios dos que lhes pedem demonstrações ou “sinais”, segundo destaca o registro de João, ( † ) inserido no início deste Roteiro.
Os […] médiuns modernos são constantemente assediados pelas exigências de quantos se colocam à procura da vida espiritual. Esse é vidente e deve dar provas daquilo que identifica. Aquele escreve em condições supranormais e é constrangido a fornecer testemunho das fontes de sua inspiração. Aquele outro materializa os desencarnados e, por isso, é convocado ao teste público. Todavia, muita gente se esquece de que todas as criaturas do Senhor exteriorizam os sinais que lhes dizem respeito. […] Cada irmão de luta é examinado pelas suas características. O tolo dá-se a conhecer pelas puerilidades. O entendido revela mostras de prudência. O melhor demonstra as virtudes que lhe são peculiares. Desse modo, o aprendiz do Evangelho, ao solicitar revelações do Céu para a jornada da Terra, não deve olvidar as necessidades de revelar-se firmemente disposto a caminhar para o Céu. Houve dia em que a turba vulgar dirigiu-se ao próprio Salvador que a beneficiava, perguntando: “que sinal fazes tu para que o vejamos, e creiamos em ti?” ( † ) Imagina, pois, que se ao Senhor da Vida foi dirigida semelhante interrogativa, que indagação não se fará do Alto a nós outros, toda vez que rogarmos sinais do Céu, a fim de atendermos ao nosso simples dever? (13)
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Q. 218-a, p. 164.
2. Idem - Questão 393, p. 243.
3. Idem - Questão 415, p. 228.
4. Idem - O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 79. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.Capítulo 14, item 159, p. 211.
5. Idem - Capítulo 15, item 180, p. 230-231. [Obs. Não existe nesse Roteiro a referência nº 5]
6. Idem, ibidem - p. 231.
7. Idem - Capítulo 16, item 190, p. 242.
8. Idem, ibidem - Item 191, p. 243.
9. Idem - Capítulo 19, item 223, perguntas 5 a 9, p. 280-281.
10. ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo: Melhoramentos, 1995, vol. 12, p. 6181.
11. MOURA, Marta Antunes. Reformador. Rio de Janeiro: FEB, abril de 2006. Ano 124. Nº 2.125, p. 32-34.
12. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Questão 122, p. 79.
13. Idem - Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 92 (Demonstrações do Céu), p. 237-238.
14. Idem - Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 8 (Associação), p. 39-41.
15. Idem, ibidem - p. 42-43.
16. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. 23. ed. Rio de Janeiro: 2005. Primeira parte, Capítulo 17 (Mediunidade e corpo espiritual), item: Mediunidade inicial, p. 165.
17. Idem, ibidem - p. 166.
18. Idem - Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 4 (Matéria mental), item: Corpúsculos mentais, p. 49.
19. Idem, ibidem - p. 50.
20. Idem, ibidem - p. 51.
21 Idem, ibidem - p. 52.