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 EPM — Estudo e Prática da Mediunidade

PROGRAMA II — MÓDULO DE ESTUDO Nº I
FUNDAMENTAÇÃO ESPÍRITA — AS REUNIÕES MEDIÚNICAS

Roteiro 2


Condições de organização e funcionamento

[de uma reunião mediúnica]

Objetivo específico: Relacionar as principais características de organização e funcionamento da reunião mediúnica.



SUBSÍDIOS


Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai. Jesus (Mateus, 10.8)


As condições de organização e funcionamento de uma reunião mediúnica abrangem aspectos gerais, características do recinto das reuniões mediúnicas (local, mobiliário, equipamentos) e etapas de realização da sessão mediúnica. Neste roteiro estudaremos os dois primeiros aspectos. Importa considerar, todavia, que um «[…] grêmio espírita cristão deve ter, mais que tudo, a característica familiar, onde o amor e a simplicidade figurem na manifestação de todos os sentimentos.» (16)


1. CONDIÇÕES GERAIS


1.1 - Privacidade


As reuniões mediúnicas devem ser privativas, tendo as portas chaveadas para se evitar a entrada de participantes atrasados ou de pessoas estranhas ao trabalho. Não se justifica retardar o começo da reunião para aguardar a chegada de alguém atrasado, visto que a equipe espiritual já está presente e não se atrasa. Partindo do princípio que a atuação da equipe dos encarnados necessita ser feita em conjunto, os retardatários não devem ser aceitos porque, além de não terem participado da preparação inicial, ainda poderão interferir na concentração dos demais, com ruídos e movimentação. «Doutrina Espírita, na essência, é universidade de redenção. E cada um dos seus profitentes ou alunos, por força da obrigação no burilamento interior, é obrigado a educar-se para educar.» (19) Assim, o fechamento da porta da reunião ocorrerá no horário determinado para o início da reunião, antes da leitura preparatória. É recomendável que todo participante da equipe chegue mais cedo, cerca de quinze minutos antes do início da reunião. (14)


1.2 - Os participantes da reunião


É fundamental que o trabalhador do grupo mediúnico esteja integrado em outra atividade regular na Casa Espírita. Faz-se necessário também que tenha sido previamente preparado para a execução da tarefa e seja conhecedor das finalidades da reunião mediúnica. Deduz-se, portanto, que os participantes devam ter conhecimento e preparação evangélico-doutrinária. «O aprimoramento moral contribui para que, na condição de médiuns, de receptores da Espiritualidade, afinizemos com princípios elevados. O estudo e a fixação do ensino espírita coloca-nos em condições de mais amplo discernimento da vida, dos homens e dos Espíritos.» (10)

A quantidade de participantes está limitada ao tamanho da sala, não excedendo, porém, a 25 pessoas. André Luiz recomenda o número de catorze pessoas. (15) Já Léon Denis sugere dez a doze participantes, (4) sobretudo nos grupos iniciantes. (4) «Sendo o recolhimento e a comunhão dos pensamentos as condições essenciais a toda reunião séria, fácil é de compreender-se que o número excessivo dos assistentes constitui uma das causas mais contrárias à homogeneidade. […] Mas, também é evidente que, quanto maior for o número, tanto mais difícil será o preenchimento dessas condições.» (2)

Não se permitirá a presença de encarnados necessitados de auxílio espiritual durante a fase de manifestação dos Espíritos. O participante acometido de processo obsessivo deve ser afastado das atividades mediúnicas e encaminhado ao serviço de atendimento espiritual da Casa Espírita — ou à pessoa responsável, na Instituição, por este gênero de tarefa — , devendo retornar ao grupo mediúnico quando se revelar reequilibrado.

É fundamental que o grupo seja constituído de elementos simpáticos entre si, unidos pela busca de objetivos superiores e pelo desejo de se aperfeiçoarem moral e intelectualmente. «Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for.» (1)


1.3 - Horário, duração e frequência


Pode-se definir o horário de até 2 horas para a realização da reunião, abrangendo neste espaço de tempo a prece de abertura, estudo (se houver), irradiações, mensagens de benfeitores espirituais, manifestação de Espíritos que sofrem, prece de encerramento e avaliação da reunião. Não se recomenda mais de 60 minutos para a prática mediúnica, propriamente dita. As reuniões serão realizadas, sempre, nos mesmos dias e horários, pré-estabelecidos, com periodicidade definida pela direção da Casa Espírita: semanal ou quinzenal. A frequência ou número de reuniões, geralmente, é de uma vez por semana. É importante lembrar que o transe é uma alteração da consciência, que não deve ser provocado com muita frequência, para não causar desgastes físico e psíquico aos médiuns. (3), (6)

É medida de bom senso evitar a realização de reuniões extemporâneas ou ocasionais, apenas realizando-as, em caráter excepcional, em atendimento a situação especial, definida pela direção da Casa Espírita e por orientação espiritual pertinente. A condução de uma reunião nos padrões evangélico-doutrinários deve pautar pela simplicidade.


1.4 - Renovação, assiduidade e pontualidade da equipe


A renovação frequente da equipe, «[…] reclamando contínuo trabalho de fusão e assimilação da parte dos Espíritos, compromete ou pelo menos demora os resultados.» (4) É desejável «[…] que ao menos um núcleo de antigos membros permaneça compacto e constitua invariável maioria.» (4) Essa questão precisa ser vista com cuidado e bom senso: nem abrir excessivamente as portas do grupo, permitindo “um vai e vem de pessoas”, nem bloquear ou dificultar a entrada de novos trabalhadores. (7) Pode-se programar a entrada de novos participantes, de tempos em tempos, analisando caso a caso, considerando as possíveis exceções.

Há outro ponto que merece ser analisado com critério: diz respeito à evasão, à falta de assiduidade e à impontualidade de alguns participantes da reunião. É necessário investigar as causas que estão produzindo estas ocorrências, com lucidez e espírito de fraternidade. Algumas hipóteses podem ser levantadas: talvez existam rivalidades, autoritarismo, indisciplinas acentuadas, práticas doutrinárias incorretas etc. É preciso estar atento que o «[…] que garante a estabilidade de um bom grupo mediúnico […] é o equilíbrio psíquico, emocional, daqueles que o compõem. (8)

O responsável pela reunião, no Plano físico, deve, então, conversar em particular com o participante faltoso, impontual ou que abandonou o grupo, ouvindo-o atentamente para, em seguida, tomar uma decisão em que se considere o trabalho da equipe, como um todo. As ausências e atrasos sistemáticos indicam que alguma coisa deve estar fora de controle, precisando ser reajustada, uma vez que a adesão a qualquer trabalho espírita é sempre de natureza voluntária. «Compreende-se, à vista desses fatos, quanto é necessário aplicar uma atenção rigorosa à composição dos grupos e às condições de experimentação.» (5)


2. O RECINTO DAS REUNIÕES MEDIÚNICAS


É ideal que a reunião mediúnica seja realizada num espaço especificamente reservado para esta finalidade. O local da reunião deve ser preservado de movimentação constante, ou de ruídos, de forma a favorecer a calma, o recolhimento, a concentração, o transe, e o intercâmbio mediúnico, elementos favoráveis à manifestação e atendimento de Espíritos necessitados de auxílio. Durante a reunião, os telefones, BIPs e pages devem ser desligados, evitando perturbar a concentração ou sintonia mediúnicas. Deve ser preservada, sempre que possível, de ruídos de tráfego ou gritos vindos da rua, sons de televisão ou rádios ligados nas redondezas. (9)

É preferível que as reuniões mediúnicas sejam realizadas no Centro Espírita. Não se aconselha prática mediúnica no lar, visto que nem sempre o ambiente familiar se mantém favorável às manifestações dos Espíritos. As reuniões de desobsessão, em especial, devem ocorrer na Casa Espírita.


À medida que se nos aclara o entendimento, nas realizações de caráter mediúnico, percebemos que as lides da desobsessão pedem o ambiente do templo espírita para se efetivarem com segurança. Para compreender isso, recordemos que, se muitos doentes conseguem recuperar a saúde no clima doméstico, muitos outros reclamam o hospital. Se no lar dispomos de agentes empíricos a benefício dos enfermos, numa casa de saúde encontramos toda uma coleção de instrumentos selecionados para a assistência pronta. No templo espírita, os instrutores desencarnados conseguem localizar recursos avançados do plano espiritual para o socorro a obsidiados e obsessores, razão por que, tanto quanto nos seja possível, é aí, entre as paredes respeitáveis da nossa escola de fé viva, que nos cabe situar o ministério da desobsessão. (11)


O mobiliário do local destinado à reunião mediúnica deve ser constituído, basicamente, de mesa e cadeiras. Tais cadeiras não devem ser incômodas, ao ponto de causarem desconfortos físicos àqueles que ali permanecerão por período de tempo superior a uma hora. Não é conveniente que sejam excessivamente confortáveis porque podem favorecer o sono. De uma maneira geral, o «[…] recinto das reuniões pede limpeza e simplicidade.» (12) Qualquer tentativa de realizar uma decoração mais sofisticada, como a colocação de tapetes, quadros, espelhos, e outras peças semelhantes, deve ser evitada. A disposição dos móveis deve favorecer o deslocamento da equipe de apoio, de forma silenciosa e sem riscos de se esbarrar em objetos ou pessoas.


Em seguida à fila dos assentos, colocar-se-á pequena acomodação, seja um simples banco ou algumas cadeiras para visitas eventuais. Um relógio será colocado à vista ou à mão, seja numa parede, no bolso ou no pulso do dirigente, para que o horário e a disciplina estabelecida não sofram distorções, e o aparelho para gravação de vozes, na hipótese de existir no aposento, não deverá perturbar o bom andamento das tarefas e será colocado em lugar designado pelo orientador dos trabalhos. (13)


É recomendável a existência de dispositivo elétrico que permita a graduação da luminosidade na sala, que deve ser obscurecida durante as comunicações mediúnicas. Evitar, no entanto, a obscuridade total. O vasilhame com água a ser fluidificada será mantido afastado da mesa dos trabalhos mediúnicos a fim de se evitar qualquer incidente durante as manifestações dos Espíritos. (15) Colocados sobre a mesa da reunião, ou em local apropriado, estarão papéis, lápis, cadernos de frequência, livros para consulta ou estudo, de preferência O Livro dos Espíritos, O Evangelho segundo o Espiritismo e um volume que desenvolva o pensamento kardequiano, conjugados aos ensinamentos do Cristo. (17)

A reunião mediúnica séria não comporta, a rigor, improvisações por parte dos dirigentes e colaboradores, nem descontinuidade da tarefa. Trata-se de uma atividade espírita de grande responsabilidade, direcionada ao amparo espiritual dos que sofrem, encarnados e desencarnados. Na prática mediúnica espírita há «[…] necessidade do Cristo no coração e na consciência, para que não estejamos desorientados ao toque dos fenômenos. Sem noção de responsabilidade, sem devoção à prática do bem, sem amor ao estudo e sem esforço perseverante em nosso próprio burilamento moral, é impraticável a peregrinação libertadora para os Cimos da Vida.» (19)

Sendo a mediunidade um instrumento de progresso moral e intelectual, não deve ser relegado ao abandono, a mercê dos acontecimentos fortuitos. A prática mediúnica requer, ao contrário, cuidados permanentes, caracterizados pelo estudo e pela dedicação, a fim de que se possa colaborar, ainda que de forma simples e humilde, com a tarefa de regeneração da humanidade. «Assim como qualquer trabalho terrestre pede a sincera aplicação dos aprendizes que a ele se dedicam, o serviço de aprimoramento mental exige constância de esforço no bem e no conhecimento.» (20)

Todos nós que estamos envolvidos com essa atividade espírita devemos, na verdade, ser praticantes da palavra e não simples ouvintes, enganando a nós mesmos, consoante o alerta existente na epístola de Tiago, capítulo 1, versículo 22.



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 78.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Segunda parte, Capítulo 29, item 331, p. 447.

2. Idem, ibidem - Item 332, p. 448.

3. DENIS, Léon. No invisível. Tradução de Leopoldo Cirne. 24 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Primeira parte. (O espiritismo experimental: as leis), Capítulo 9 (Condições de experimentação), p. 89-90.

4. Idem, ibidem - p. 101.

5. Idem, ibidem - p. 102.

6. MIRANDA, Hermínio C. Diálogo com as sombras. 22. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 1 (A instrumentação), item: O grupo, p. 27-49.

7. Idem, ibidem - p. 28-29.

8. Idem, ibidem - p. 38.

9. Idem, ibidem - p. 39.

10. PERALVA, Martins. Mediunidade e evolução. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Capítulo 7 (Estudar sempre), p. 34.

11. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz. 26.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 9 (Templo espírita), p. 47-48.

12. Idem - Capítulo 10 (Recinto das reuniões), p. 51.

13. Idem, ibidem - p. 51-52.

14. Idem - Capítulo 14 (Pontualidade), p. 64.

15. Idem - Capítulo 17 (Iluminação), p. 73.

16. Idem - Capítulo 20 (Componentes da reunião), p. 85.

17. Idem - Capítulo 27 (Livros para leitura), p. 111.

18. XAVIER, Francisco Cândido. Educandário de luz. 2. ed. IDEAL, 1988. Por diversos Espíritos. Capítulo 2 (Agrupamentos espiritistas - mensagem de Emmanuel) [Esse capítulo é uma reprodução da Questão 363 de “O Consolador”], p. 15.  [Obs. Não existe nesse Roteiro a referência nº 18]

19. Idem - Nos domínios da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Item: Raios, ondas, médiuns, mentes… (mensagem de Emmanuel), p. 10.

20. Idem - Pão Nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 167 (Entendimento), p. 350.

21 Idem - Seara dos médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Item: Ensino espírita, p. 20. [Obs. Não existe nesse Roteiro a referência nº 21]


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