Roteiro 3
O passe espírita
Objetivos específicos: Conceituar passe espírita. — Prestar esclarecimento sobre os mecanismos, os tipos e os efeitos do passe. — Explicar a utilização do passe nas reuniões mediúnicas.
SUBSÍDIOS
Como já foi visto, o fluido universal é o elemento primitivo do corpo carnal e do perispírito, os quais são simples transformação dele. Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer princípios reparadores ao corpo; o Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da subsistência do seu envoltório fluídico. (1) Essas explicações de Kardec são necessárias para que se possa melhor compreender o que é o passe, qual o seu mecanismo, a maneira correta de aplicá-lo e os benefícios por ele proporcionados.
1. CONCEITOS DE PASSE ESPÍRITA
— É uma emanação controlada da força mental que, sob a alavanca da vontade e da ação da prece, atrai a Força Divina em nosso benefício. (19)
— […] É a ação ou esforço de transmitir, para um outro indivíduo, energias magnéticas, próprias ou de um Espírito, a fim de socorrer-lhe a carência física elou mental, que decorre da falta dessa energia. (7)
— O passe é sempre, segundo a visão espírita, um procedimento fluídico-magnético, que tem como principal objetivo auxiliar a restauração do equilíbrio orgânico do paciente. (13)
— Assim como a transfusão de sangue representa uma renovação das forças físicas, o passe é uma transfusão de energias psíquicas […] é a transmissão de uma força psíquica e espiritual, dispensando qualquer contato físico na sua aplicação. (6)
2. MECANISMO DO PASSE
O mecanismo do passe baseia-se na transmissão do fluido vital:
— O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que o tiver em maior porção pode dá-lo a um que o tenha de menos e, em certos casos, prolongar a vida prestes a extinguir-se. (4)
— A energia transmitida pelo passe atua no perispírito do paciente e deste sobre o corpo físico. O perispírito recebe a energia através de pontos determinados, que André Luiz chama de centros de força e certas escolas espiritualistas chamam de chacras. (8)
— O nosso perispírito possui sete centros de força, que se conjugam nas ramificações dos plexos e que, vibrando em sintonia uns com os outros, ao influxo do poder diretriz da mente, estabelecem, para o nosso uso, um veículo de células elétricas, que podemos definir como sendo um campo eletromagnético, no qual o pensamento vibra em circuito fechado. (20)
Os centros vitais estão localizados, também, no duplo etérico, corpo fluídico que se apresenta como uma duplicata energética do indivíduo, interpenetrando o seu corpo físico ao mesmo tempo em que parece dele emergir. O duplo etérico emite, continuamente, uma emanação energética que se apresenta em forma de raias ou estrias que partem de toda a sua superfície. (10)
Os principais centros de força são os seguintes: coronário, cerebral, laríngeo, cardíaco, esplênico, gástrico e genésico, de acordo com a sua localização, próximos aos órgãos do corpo físico. (9) Sabe-se que papel capital desempenha a vontade em todos os fenômenos do magnetismo […]. A vontade é atributo essencial do Espírito, isto é, do ser pensante. Com o auxílio dessa alavanca, ele atua sobre a matéria elementar e, por uma ação consecutiva, reage sobre seus compostos, cujas propriedades íntimas vêm assim a ficar transformadas. (5) É assim que a água é fluidificada ou magnetizada, é assim que ocorrem as curas, conhecidas no meio espírita. […] quanto mais forte for a nossa vontade e quanto mais positiva for a nossa confiança, tanto mais eficientes serão os efeitos da magnetização. Afirmamos, por igual, que quanto mais nos elevarmos espiritualmente, tanto maior será o poder de nossa irradiação. (14) O perispírito do necessitado recebe fluidos do médium de passe, os quais são transferidos ao seu corpo físico, uma vez que a transfusão fluídica se opera de perispírito a perispírito. O fluido magnético, que se nos escapa continuamente, forma em torno do nosso corpo uma atmosfera. Não sendo impulsionado pela nossa vontade, não age sensivelmente sobre os indivíduos que nos cercam; desde, porém, que nossa vontade o impulsione e o dirija, ele se move com toda a força que lhe imprimimos. (15)
Outro fator importante no passe, além da vontade, é a ação da prece. A prece atrairá a assistência dos bons Espíritos, criando um clima de elevação e de harmonia, favorável à cura. A prece é um recurso de que todos podemos lançar mão, principalmente o passista, e que, quando corretamente executada, funciona como verdadeiro “banho” de limpeza fluídica. (11) A prece tem um outro papel importantíssimo, que é o de higienização do ambiente fluídico em que se encontra aquele que ora. No momento em que o passista passa a receber fluidos de qualidade superior, passa também à condição de repulsor dos fluidos inferiores do ambiente. (12)
3. TIPOS DE PASSE OU DE AÇÃO MAGNÉTICA (3)
A ação magnética pode produzir-se de muitas maneiras:
1º pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou magnetismo humano, cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do fluido;
2º pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente sem intermediário sobre um encarnado, seja para o curar ou calmar um sofrimento, seja para provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade está na razão direta das qualidades do Espírito;
3º pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador [no caso, médium passista], que serve de veículo para esse derramamento. É o magnetismo misto, semi-espiritual, ou, se o preferirem, humano-espiritual. Combinado com o fluido humano, o fluido espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Em tais circunstâncias, o concurso dos Espíritos é amiúde espontâneo, porém, as mais das vezes, provocado por um apelo do magnetizador. (3)
4. OS EFEITOS DO PASSE
Nem todo os homens são sensíveis à ação magnética, e, entre os que o são, pode haver maior ou menor receptividade, o que depende de diversas condições, umas que dizem respeito ao magnetizador e outras ao próprio magnetizado, além de circunstâncias ocasionais oriundas de diversos fatores. Comumente, o magnetismo não exerce nenhuma ação sobre as pessoas que gozam de uma saúde perfeita. (16)
Os fatores que interferem nos efeitos do passe podem ser resumidos em: impedimento provacional (a pessoa tem que passar por aquela provação); condições físicas do passista (velhice, uso de certos medicamentos, doenças em geral, vícios, etc.); falta de cooperação do paciente (falta de fé ou rejeição à ação fluídica).
O grande efeito ou benefício do passe é, naturalmente, a cura, física ou psíquica.
A cura se opera mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na razão direita da pureza da substância inoculada; mas depende também da energia da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido […]. Os fluidos que emanam de uma fonte impura são quais substâncias medicamentosas alteradas. (2) As pessoas doentes do corpo ou da alma — presas a obsessões ou influências espirituais — devem buscar o lenitivo do passe para os seus males.
5. O PASSE NAS REUNIÕES MEDIÚNICAS
O passe é utilizado nas reuniões mediúnicas quando necessário. É uma forma de doar fluidos salutares ao Espírito sofredor comunicante, auxiliando-o na recuperação ou no equilíbrio do seu estado mental e emocional. Tem o poder de também auxiliar o médium durante a comunicação mediúnica, de forma que os fluidos deletérios sejam dissipados e não atinjam diretamente o equilíbrio somático do medianeiro. Naturalmente, não é uma conduta obrigatória, uma vez que o médium harmonizado com o plano espiritual superior encontra os recursos necessários para não se deixar influenciar pelas ações, emoções ou sentimentos do sofredor, que lhe utiliza as faculdades psíquicas para manifestar-se.
O passe é necessário no trabalho da desobsessão. (17)
Jesus impunha as mãos sobre os enfermos e sofredores, inclusive os endemoniados (obsidiados), curando-os dos seus males. Os apóstolos adotavam também essa prática. (18) Nas reuniões mediúnicas, a aplicação do passe deve ser observada regularmente, de vez que o serviço de desobsessão pede energias de todos os presentes e os instrutores espirituais estão prontos a repor os dispêndios de força havidos, através dos instrumentos de auxílio magnético que se dispõem a servi-los, sem ruídos desnecessários, de modo a não quebrarem a paz e a respeitabilidade do recinto. (18) Os médiuns passistas, no entanto, aplicarão o passe, quando se fizer necessário, a pedido do dirigente da reunião.
Referências:
1. KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 46. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo XIV, item 31, p. 294-295.
2. Idem, ibidem - p. 295.
3. Idem, ibidem - Item 33, p. 295-296.
4. Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 84. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Questão 70, p.77.
5. Idem - O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 73. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Segunda Parte. Capítulo VIII, item 131, p. 172.
6. FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Espiritismo de A a Z. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999, p. 377 (Passe).
7. GENTILE, Salvador. O Passe Magnético. São Paulo: IDE, 1994, p. 47 (O passe. Seus fundamentos).
8. Idem, ibidem - p. 62.
9. Idem, ibidem - p. 67.
10. GURGEL, Luiz Carlos de M. O Passe Espírita. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996, p. 84-86 (Duplo Etérico).
11. Idem, ibidem - p. 109 (A Prece).
12. Idem, ibidem - p. 111.
13. Idem, ibidem - p.113 (O que é o passe).
14. MICHAELUS. Magnetismo Espiritual. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, Capítulo V, p. 37.
15. Idem - Capítulo VI, item 1, p: 46.
16. Idem - Capítulo VIII, p. 58.
17. NOBRE, Marlene RS. O Obsessão e suas Máscaras. São Paulo: Editora Jornalística Fé, 1997. Capítulo 17 (Terapêutica e profilaxia), p. 142.
18. XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz. 25 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 52 (Passes), p. 183.
19. Idem - Evolução em Dois Mundos. Pelo Espírito André Luiz. 22 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Segunda parte, Capítulo XV (Passe magnético), p. 201.
20. XAVIER, Francisco Cândido. Entre a Terra e o Céu. Pelo Espírito André Luiz. 22 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 20 (Conflitos da alma), p. 163-164.