Roteiro 4
A Revelação Espírita
Objetivo
» Analisar os fundamentos e as características da revelação espírita.
IDEIAS PRINCIPAIS
-
A Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas ou, se quiserem, os espiritistas. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos. Introdução I.
-
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem de tais relações. Allan Kardec: O Que é o Espiritismo. Preâmbulo.
SUBSÍDIOS
A palavra Espiritismo é um neologismo criado por Allan Kardec, utilizado pela primeira vez na introdução de O Livro dos Espíritos:
Para coisas novas precisamos de palavras novas; assim o exige a clareza da linguagem, para evitarmos a confusão inerente ao sentido múltiplo dos mesmos termos. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida; dar-lhes uma nova, para aplicá-las à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar as causas já tão numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo; quem quer que acredite ter em si alguma coisa além da matéria é espiritualista; mas não se segue daí que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em lugar das palavras espiritual, espiritualismo, empregaremos, para designar esta última crença, as palavras espírita e Espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, reservando ao vocábulo espiritualismo a sua acepção própria. Diremos, pois, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas ou, se quiserem, os espiritistas. […] (1)
O conceito de Doutrina Espírita, sua abrangência e finalidade devem ser solidamente compreendidos para evitar equívocos de interpretação. Assim, esclarece Kardec:
[…] O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática consiste nas relações que se podem estabelecer entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem de tais relações. […] O Espiritismo é uma Ciência que trata da origem e do destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corpóreo. (2)
Enquanto o enfoque da Ciência e da Filosofia é o mundo físico, com suas leis e normas de relações humanas, o Espiritismo estuda, em especial, as leis que regem a vida do mundo espiritual, considerando-as como forças da Natureza que atuam incessantemente sobre o plano físico, as quais, por sua vez, influenciam o plano extrafísico. (3)
Allan Kardec destaca que, em consequência dessa ação recíproca e incessante, o Espiritismo revela
[…] aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra não mais como coisa sobrenatural, mas, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma multidão de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso mesmo, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. […] O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica com facilidade. (4)
1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA REVELAÇÃO ESPÍRITA
Tais características estão relacionadas ao próprio conceito de revelação, independentemente da fonte de onde se origina e da forma como chega aos homens. Assim, é preciso considerar:
-
Pode-se “[…] dizer que há para a Humanidade uma revelação incessante. […]” (5)
-
É essencial que a revelação seja verdadeira para ser acatada e divulgada. Toda revelação que é desmentida pelos fatos não é aceita como verdade, principalmente se tem origem atribuída a Deus. (6)
-
As revelações humanas, propriamente ditas, podem apresentar equívocos, tal como acontece com os ensinamentos científicos, modificados em função do progresso. O Decálogo, por exemplo, recebido mediunicamente por Moisés, é o maior código moral da Humanidade, aplicável a qualquer povo, em qualquer época da história humana. Entretanto, as leis civis do legislador hebreu foram “[…] essencialmente transitórias, muitas vezes em contradição com a lei do Sinai, […]” (7) Tal fato demonstra que a leis criadas pelos homens são substituídas à medida que a sociedade melhora, intelectual e moralmente, enquanto a lei de Deus permanece inalterável.
-
As revelações são transmitidas por Espíritos esclarecidos, os quais, no cumprimento de missão específica, reencarnam para ensinar aos homens verdades que eles, por si mesmos, não conseguiriam ou demorariam a alcançar. (8)
-
Todas as religiões têm os seus reveladores, em, geral conhecidos como profetas, reencarnados para transmitir ensinamentos novos, interpretar os já existentes, ou, sob inspiração superior, orientar a respeito de conceitos e práticas religiosas. (9)
1.1 Características Específicas da Revelação Espírita
1. O Espiritismo nos fornece explicações concretas e claras sobre “[…] o mundo invisível que nos cerca […], suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem após a morte. […]” (10)
2. “Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica. […]” (11)
[…] Participa da primeira, porque foi providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa, nem de um desejo premeditado do homem; porque os pontos fundamentais da Doutrina provêm do ensino que deram os Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens sobre coisas que eles ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa conhecer, já que hoje estão aptos a compreendê-las. Participa da segunda, por não ser esse ensino privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo: por não serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivas, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa; por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-arbítrio; porque não lhes é interdito o exame, mas, ao contrário, recomendado; enfim, porque a Doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as consequências e aplicações. Em suma, o que caracteriza a revelação espírita é o fato de ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem. (12)
3. Como meio de elaboração e desenvolvimento, “[…] o Espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, isto é, aplicando o método experimental […].” (13)
4. O método experimental, ou racional-lógico, tem por normas: a observação, a comparação, a análise, e “[…] remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os preside; depois, lhes deduz as consequências e busca as aplicações úteis […].” (13)
5. A priori, a Doutrina Espírita não estabelece ensino preconcebido, nem levanta hipóteses que não sejam resultantes da evidência dos fatos. Assim,
[…] não estabeleceu como hipótese a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da Doutrina. Concluiu pela existência dos Espíritos quando essa existência ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. […] (13)
6. O Espiritismo tem como princípio que Jesus é o modelo e guia da Humanidade (O Livro dos Espíritos, questão 625): “Para o homem, Jesus representa o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão de sua lei […].” (14)
7. Segundo informações do Espírito Emmanuel, Jesus é o governador do planeta Terra e nós, seus habitantes, somos tutelados por ele:
Antes de tudo, precisamos compreender que Jesus não foi um filósofo e nem poderá ser classificado entre os valores propriamente humanos, tendo-se em conta os valores divinos de sua hierarquia espiritual, na direção das coletividades terrícolas. Enviado de Deus, Ele foi a representação do Pai junto do rebanho de filhos transviados do seu amor e da sua sabedoria, cuja tutela lhe foi confiada nas ordenações sagradas da vida no Infinito. Diretor angélico do orbe, seu coração não desdenhou a permanência direta entre os tutelados míseros e ignorantes, dando ensejo às palavras do apóstolo, acima referidas. (15)
8. A revelação espírita tem como proposta fundamental reviver e explicar, em espírito e verdade, os ensinamentos de Jesus. Daí ser conhecido como O Consolador Prometido ou como O Cristianismo Redivivo. O outro princípio é que toda
[…] a doutrina do Cristo se funda no caráter que ele atribui à Divindade. Com um Deus imparcial, soberanamente justo, bom e misericordioso, Ele fez do amor de Deus e da caridade para com o próximo a condição expressa da salvação, dizendo: Amai a Deus sobre todas as coisas e o vosso próximo como a vós mesmos; nisto estão toda a lei e as profetas; não existe outra lei. ( † ) Sobre esta crença, assentou o princípio da igualdade dos homens perante Deus e o da fraternidade universal. […] (16)
A revelação espírita esclarece a criatura humana a respeito da sua origem, por que motivo se encontra aqui, no plano material, e qual é a sua destinação, após a morte do corpo físico. “O simples fato de o homem poder comunicar-se com os seres do mundo espiritual traz consequências incalculáveis, da mais alta gravidade […].” (17) É, pois,
[…] todo um mundo novo que se nos revela e que tem tanto mais importância, quanto a ele hão de voltar todos os homens, sem exceção. O conhecimento de tal fato não pode deixar de acarretar, generalizando-se, profunda modificação nos costumes, caráter, hábitos, assim como nas crenças que tão grande influência exerceu sobre as relações sociais. É uma revolução completa a operar-se nas ideias, revolução tanto maior e mais poderosa por não se circunscrever a um povo, nem a uma casta, visto atingir simultaneamente, pelo coração, todas as classes, todas as nacionalidades, todos os cultos. Razão há, pois, para que o Espiritismo seja considerado a terceira das grandes revelações. […] (18)
ORIENTAÇÕES AO MONITOR
1. Analisar o seguinte texto de Kardec, como introdução do assunto:
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática consiste nas relações que se podem estabelecer entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem de tais relações. (2)
2. Após a análise, dividir a turma em dois grupos, A e B, para realização das seguintes tarefas:
-
O grupo A deverá pesquisar neste Roteiro de Estudo informações que indiquem os fundamentos da revelação espírita. O grupo B deverá localizar ideias que indiquem as características da revelação espírita.
-
Cada equipe registra a pesquisa em folhas de cartolina ou papel pardo, que deverão ser afixados em locais de fácil visualização, na sala de aula.
-
Um ou dois relatores, indicados pelos grupos, apresentam o resultado da pesquisa. Se necessário, o monitor esclarece ou reforça pontos significativos.
-
O monitor correlaciona o assunto estudado com esta citação de Paulo de Tarso, apoiando-se no texto de Emmanuel, inserido em anexo: Na verdade, eu não me envergonho do evangelho: ele é força de Deus para a salvação de todo aquele que crê […]. Porque nele a justiça de Deus se revela da fé para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé. (Romanos, 1.16-17. Bíblia de Jerusalém).
ANEXO - TEXTO PARA FECHAMENTO DO ESTUDO
Viver pela fé
(Emmanuel)
REFERÊNCIAS
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Introdução I, p. 23-24.
2. Idem - O Que é o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Preâmbulo, p. 11.
3. Idem - A gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Capítulo 1, item 16, p. 31.
4. Idem - O Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª ed. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de janeiro: FEB, 2008. Capítulo 1, item 5, p. 59.
5. Idem - A gênese. Op. Cit. Capítulo 1, item 2, p. 22.
6. Idem ibidem - Item 3, p. 22.
7. Idem ibidem - Item 10, p. 27.
8. Idem ibidem - Item 5, p. 23-24.
9. Idem ibidem - Item 8, p. 25-26.
10. Idem ibidem - Item 12, p. 28.
11. Idem ibidem - Item 13, p. 28.
12. Idem ibidem - Item 13, p. 28-29.
13. Idem ibidem - Item 14, p. 29.
14. Idem - O Livro dos Espíritos. Op. Cit, questão 625-comentário, p. 403.
15. XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro. FEB, 2008, questão 283, p. 229-230.
16. KARDEC, Allan. A gênese. Op. Cit. Capítulo 1, item 25, p. 36.
17. Idem ibidem - Item 20, p. 33-34.
18. Idem ibidem - Item 20, p. 34.