Roteiro 3
Revelação Religiosa
Objetivo:
» Explicar o que é revelação religiosa, seus métodos e fundamentos.
IDEIAS PRINCIPAIS
-
A palavra Revelação significa divulgar alguma coisa que se encontra oculta.
-
A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Allan Kardec. A gênese, Capítulo 1, item 3.
-
Subentende-se como revelação religiosa a manifestação da vontade de Deus, desvendando aos homens conhecimentos essenciais à sua melhoria espiritual.
-
A natureza do conteúdo das revelações religiosas é […] ao mesmo tempo indicativa e imperativa, e sempre normativa. As manifestações de Deus sempre são feitas no contexto de uma exigência que pede confiança e obediência àquilo que é revelado. J. D. Douglas. O Novo Dicionário da Bíblia.
-
Para o Espiritismo, e no […] sentido especial da fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por si mesmo, sem a auxílio dos sentidos e cuja conhecimento lhe é dado por Deus ou por seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração […]. A gênese, Capítulo 1, item 7.
SUBSÍDIOS
A palavra Revelação significa “[…] intrinsecamente a exposição daquilo que anteriormente era desconhecido. Na teologia judaico-cristã, o termo é usado primariamente para comunicação da verdade divina de Deus para o homem, ou seja: a manifestação de Si mesmo e da Sua vontade.” (1)
A Revelação Religiosa objetiva divulgar publicamente algo que se desconhece ou que se encontra oculto; entretanto, especificamente, diz respeito à manifestação da vontade de Deus aos homens, a fim de ser por eles conhecida. A revelação religiosa apresenta, tradicionalmente, dois pontos focais: os propósitos de Deus; a “pessoa” de Deus. (1) (2)
1) Por um lado, Deus informa os homens a respeito de si mesmo […]. Assim é que o Senhor tomou Noé, Abraão e Moisés, aceitando-os em relação de confiança, informando-os sobre o que havia planejado e qual era a participação dos mesmos nesse plano (Gn 6.13-21; 12.1; 15.13-21; 17.15-21; Ex 3.7-22) (2)
2) Por outro lado, quando Deus envia sua palavra aos homens, ele também os confronta consigo mesmo. A Bíblia não concebe a revelação como simples transmissão de informações, divinamente garantida, mas antes, como a vinda pessoal de Deus aos indivíduos, para tornar-se conhecido deles (Gn 35.7; Ex 6.3; Num 12.6-8; Gl 1.15 (2)
A manifestação de Deus aos homens, base da revelação religiosa, é assim considerada pela Doutrina Espírita:
No sentido especial da fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por si mesmo, nem com o auxílio dos sentidos e cujo conhecimento lhe é dado por Deus ou por seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos, designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, enviados ou missionários, incumbidos de transmiti-la aos homens. Considerada sob esse ponto de vista, a revelação implica a passividade absoluta e é aceita sem controle, sem exame, nem discussão. (3)
A revelação religiosa pode, também, ser considerada geral ou universal, e específica, especial ou particular. A primeira refere-se aos acontecimentos vistos como fatos da manifestação divina que ocorrem na Natureza. Pode-se dizer, então, que “[…] há para a Humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo, etc. Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores.” (4) A segunda, a especial, refere-se aos atos divinos, propriamente ditos, considerados, em princípio, como de natureza sobrenatural e miraculosa.
Importa considerar que essa classificação é meramente didática porque, a rigor, tudo vem de Deus, o Criador Supremo: todas as revelações, gerais ou particulares, partem desta única fonte.
Deus manifesta-se aos homens através dos próprios homens: todos os povos tiveram (e têm) os seus reveladores, que transmitiram esclarecimentos em todas as áreas do saber, ao longo dos tempos. Da mesma forma, todas “[…] as religiões tiveram seus reveladores e estes, embora estivessem longe de conhecer toda a verdade, tinham uma razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao caráter particular dos povos a quem falavam e aos quais eram relativamente superiores.” (5)
A teologia católico-protestante considera que a
[…] revelação especial na história sagrada é coroada pela encarnação do Verbo vivo e pelo registro da palavra falada das Escrituras. O evangelho da redenção [ou a Palavra de Deus], portanto, não é uma mera série de teses abstratas, sem relação com eventos históricos específicos; é a notícia dramática de que Deus tem agido na história da salvação, chegando ao clímax na Pessoa encarnada de Jesus Cristo e na sua Obra, para a salvação da Humanidade perdida. […] A série de atos sagrados, portanto, inclui a Providência de Deus em fornecer um cânon autorizado de escritos — as Escrituras Sagradas — que oferece uma fonte fidedigna de conhecimento de Deus e do seu Plano. (1)
Mas a revelação divina, considerada como tal, deve ser verdadeira, é um ponto indiscutível, como assinala Allan Kardec:
A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por conseguinte, não existe revelação. Toda revelação desmentida pelos fatos deixa de o ser, caso seja atribuída a Deus. E, visto que não podemos conceber Deus mentindo, nem se enganando, ela não pode emanar dele; logo, deve ser considerada produto de concepção humana. (6)
A grande questão polêmica diz respeito à possibilidade de Deus falar diretamente aos homens, sem intermediários. O Codificador do Espiritismo — o bom senso encarnado — , afirmou:
Haverá revelações diretas de Deus aos homens? É uma questão que não ousaríamos resolver, nem afirmativamente nem negativamente, de maneira absoluta. O fato não é radicalmente impossível, porém, nada nos dá dele prova certa. O que parece certo é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se impregnam do seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e ao grau de saber a que chegaram, esses podem tirar de seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em nome deste, têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus. As comunicações deste gênero nada têm de estranho para quem conhece os fenômenos espíritas e a maneira pela qual se estabelecem as relações entre os encarnados e os desencarnados. As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela inspiração pura e simples, pela audição da palavra, pela vidência dos Espíritos instrutores, nas visões e aparições, quer em sonho, quer em estado de vigília, como se vê tantas vezes na Bíblia, no Evangelho e nos livros sagrados de todos os povos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que a maioria dos reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes, o que não significa que todos os médiuns sejam reveladores, nem, ainda menos, intermediários diretos da Divindade ou dos seus mensageiros. (7)
A compreensão filosófica e científica da palavra Revelação apresenta sentido distinto da religiosa, e, em consequência, os métodos de investigação ou comprovação são, igualmente, diferentes.
Para os filósofos, revelação é a “manifestação da verdade ou da realidade suprema aos homens”, (8) o que não deixa de ser algo inatingível, uma vez que, à medida que o homem progride, ampliam-se os horizontes do seu conhecimento. A Ciência compreende revelação como a descoberta e o entendimento das leis que regem a Natureza, ou, ainda, a invenção de algo que favoreça o progresso humano.
Outro ponto distintivo é que as filosofias espiritualistas aceitam a ideia de Deus como religião natural, isto é, com exclusão de teologias, próprias da maioria das interpretações religiosas. A Ciência ainda não inclui Deus em suas cogitações.
A Filosofia classifica a revelação religiosa, portanto, em histórica e natural. A histórica está presente nas tradições e relatos das religiões — “consiste na iluminação com que foram agraciados alguns membros da comunidade, cuja tarefa teria sido encaminhar a comunidade para a salvação. Neste aspecto, a revelação é um fato histórico, ao qual se atribui a origem da tradição religiosa.” (8) A natural diz respeito à manifestação de Deus na Natureza e no homem. (8)
O filósofo alemão, Immanuel Kant (1724 - 1804) analisou, à luz da razão pura, aspectos da religião natural e da revelada em seu admirável livro A Religião nos Limites da Simples Razão, publicado pela primeira vez em 1793. Algumas das ideias desse brilhante pensador germânico ainda permanecem atuais, como as que se seguem:
A religião (considerada subjetivamente) é o conhecimento de todos os nossos deveres como mandamentos divinos. Aquela em que devo saber de antemão que alguma coisa é um mandamento divino, para reconhecê-lo como meu dever, é a religião revelada (ou que exige uma revelação). Ao contrário, aquela em que devo saber de antemão que alguma coisa é um dever antes que possa reconhecê-lo como mandamento de Deus, é a religião natural. […] Mas se admitir a revelação, sustentando que reconhecê-la e admiti-la como verdadeira não é para a religião uma condição necessária […]. Disso decorre que uma religião pode ser natural ao mesmo tempo que é revelada, se for constituída de tal modo que os homens pudessem ou devessem chegar a ela graças unicamente ao uso de sua razão […]. Disso decorre que uma revelação dessa religião num tempo e num local determinado poderia ser sábia e muito proveitosa para o gênero humano, na condição contudo que, a religião assim introduzida tendo sido uma vez estabelecida e tornada pública, cada um possa se convencer daí em diante da verdade que ela comporta para si e para sua própria razão. Nesse caso, a religião é objetivamente religião natural, embora subjetivamente seja revelada. (9)
Seguindo o pensamento de Kant, podemos, então, admitir que o Espiritismo apresenta características de religião natural e de revelada. E revelação natural porque se fundamenta na fé raciocinada: “Fé inabalável é somente a que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.” (10) Na verdade, os estudos filosóficos que tratam da revelação natural tiveram origem nas ideias dos filósofos neoplatônicos, para os quais o mundo é produto da emanação divina (teofania) (8) — Teofania é o processo natural que caracteriza a descida de Deus ao homem e a subida do homem a Deus. (8) Como filosofia religiosa revelada, o Espiritismo
[…] foi escrito por ordem e sob o ditado dos Espíritos superiores, para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, isenta dos preconceitos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido por eles examinado. […] (11)
A questão da revelação divina é amplamente questionada pela Ciência, cujos cientistas apresentam diferentes posicionamentos, desde os mais radicais, de negação absoluta da existência de Deus e, conseguintemente, de suas manifestações, até os que aceitam parcial ou totalmente a ideia de um Criador Supremo.
Tal divergência é especialmente observada no que se refere à criação dos mundos e dos seres vivos. Entende-se, portanto, porque a Ciência não apoia a tese criacionista de algumas religiões, segundo a qual Deus é o Criador Supremo do Universo e de todos os seres, vivos e inertes. Não valoriza também o pensamento teísta, defendido por algumas interpretações religiosas, que une ideias evolucionistas (inclusive a teoria evolucionista de Charles Darwin) à crença em Deus, como Criador Supremo.
Para a Ciência, propriamente dita, Deus não interfere nos processos da criação universal, nem nos seus mecanismos evolutivos. Tais argumentos, contudo, não impedem a existência de cientistas, em número cada vez maior, que aceitam a ideia de Deus, como Albert Einstein ou Francis S. Collins, iniciador e coordenador do projeto genoma.
Como a ideia de Deus é inerente ao ser humano, acreditamos que no futuro a Ciência irá acatar a crença em Deus, estabelecendo, então, uma aliança entre a Ciência e a Religião, como esclarece Kardec:
[…] A Ciência e a Religião não puderam entender-se até hoje porque cada uma, encarando as coisas do seu ponto de vista exclusivo, repeliam-se mutuamente. Era preciso alguma coisa para preencher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse. Esse traço de união está no conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo, leis tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vez constatadas pela experiência essas relações, fez-se uma nova luz: a fé dirigiu- se à razão, a razão nada encontrou de ilógico na fé, e o materialismo foi vencido. […] (12)
ORIENTAÇÕES AO MONITOR
1. O monitor faz explanação geral do tema previsto para a reunião, destacando os pontos mais significativos.
2. Em seguida, realiza ampla discussão a respeito da revelação religiosa, orientando-se pelo questionário inserido em anexo, previamente respondido pelos participantes.
3. Fazer o fechamento do assunto com apresentação de vídeo ou outra projeção que trate do assunto estudado. Como sugestão, indicamos os seguintes materiais:
-
DVD Nº 4 da série Evolução, a incrível jornada da vida, produzido pela Scientific American Brasil, editado pela Duetto. O item Ciência e Religião atende aos propósitos do estudo.
-
Anjos e demônios, segredos revelados I e II (há outros itens, mas estes dois atendem melhor o tema estudado). You Tube, item I: https://www.youtube.com/watch?v=BPLYwE3bsqY. You Tube, item II: https://www.youtube.com/watch?v=rVOdO4rHRgM5.
-
Evidências da existência de Deus. You Tube: https://www.youtube.com/watch?v=oHs4LSrDhTE8.
-
História das Religiões (3 DVDs). Trata-se de excelente produção realizada nos Estados Unidos, em 1999, com legendas em português, distribuída no Brasil pela Europa filmes. Encontramos informações fundamentais sobre as religiões, suas origens, formação e práticas. As imagens e as locações são de qualidade excelente. Vários estudiosos e/ou representantes das religiões são entrevistados. As narrações são realizadas pelo conhecido ator inglês, de ascendência indiana e judaico-russa, Ben Kingsley. †
ANEXO — QUESTIONÁRIO
Recomenda-se que os participantes do estudo respondam, previamente, o questionário que se segue, a fim de tornar a reunião mais dinâmica e favorecer o aprofundamento do assunto.
1. O que é revelação?
2. Qual o significado de religião revelada?
3. Quais são os dois principais enfoques apresentados pelas religiões reveladas?
4. No sentido amplo (genérico) e no de fé religiosa, como o Espiritismo conceitua revelação?
5. De que forma Deus se manifesta aos homens? Fornecer exemplos.
6. Qual é a classificação filosófica de religião? Explicar.
7. Segundo essa classificação, qual é a posição do Espiritismo?
8. Qual a interpretação dada pelo filósofo alemão, Immanuel Kant, sobre religião?
9. Como a Ciência se posiciona perante a ideia de Deus e de suas manifestações?
10. É possível pensar na realização de uma aliança entre a Ciência e a religião? Justifique a resposta.
REFERÊNCIAS
1. ELWELL, Walter A. Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. Vol. III. Tradução de Gordon Chown. 3. ed. São Paulo: Edições Boa Nova, p. 299.
2. DOUGLAS, J.D (organizador). O novo dicionário da bíblia. Tradução João Bentes. 3 ed. rev. São Paulo: Vida Nova, 2006, p. 1162.
3. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Capítulo 1, Item 7, p. 25.
4. Idem - Item 2, p. 22.
5. Idem - Item 8, p. 25.
6. Idem - Item 3, p. 22.
7. Idem - Item 9, p. 26-27.
8. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia - Google Books. Tradução de Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 858.
9. KANT, Immanuel. A religião nos limites da simples razão - Google Books. Tradução de Ciro Mioranza. 2. ed. São Paulo: Escala, 2008. Primeira sessão, p. 177-179.
10. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Capítulo 19, item 7, p. 374.
11. Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Prolegômenos, p. 70.
12. Idem - O Evangelho segundo o Espiritismo. Op. Cit. Capítulo 1, item 8, p. 61.