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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Programa II — Filosofia e Ciência Espíritas


Roteiro 20


A Desencarnação

Objetivo:

» Analisar ideias espíritas e não espíritas a respeito da morte ou desencarnação.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • A […] morte constitui ainda acontecimento medonho, pavoroso, um medo universal, mesmo sabendo que podemos dominá-lo em todos os níveis. O que mudou foi nosso modo de conviver e lidar com a morte, com o morrer e com os pacientes moribundos. Elisabeth Kübler-Ross: Sobre a morte e o morrer, Capítulo 1.

  • Só o ser humano tem consciência da própria morte. Par se perceber finito, pergunta-se sobre o que poderá ocorrer após a morte. A crença na imortalidade, na vida depois da morte, simboliza bem a recusa da sua destruição e o anseio da eternidade. Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins: Filosofando, unidade IV quarta parte: A morte.

  • Com a desencarnação, o Espírito […] retorna ao mundo dos Espíritos, que havia deixado momentaneamente. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 149.

  • Na desencarnação, […] o perispírito se desprende molécula a molécula [do corpo], conforme se unira, e o Espírito é restituído à liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito. Allan Kardec: A Gênese, Capítulo 11, item 18.



 

SUBSÍDIOS

1. O QUE É MORRER OU DESENCARNAR

A morte, ou desencarnação, segundo a terminologia espírita, é o fenômeno biológico por meio do qual ocorre a cessação da vida orgânica no corpo físico. A desencarnação se dá, exatamente, quando o Espírito se separa do corpo ao qual estava ligado, caracterizando o momento em que “[…] retorna ao mundo dos Espíritos, que havia deixado momentaneamente.” (1) A sua individualidade mantém-se preservada no além-túmulo, e, graças ao seu perispírito, conserva, quase sempre, os traços fisionômicos que possuía na última encarnação. (2) No Plano espiritual, o desencarnado aprende, aos poucos, a se relacionar com outros desencarnados, iniciando nova etapa de sua existência.


Desencarnar é mudar de Plano, como alguém que se transferisse de uma cidade para outra […], sem que o fato lhe altere as enfermidades ou as virtudes com a simples modificação dos aspectos exteriores. Importa observar apenas a ampliação desses aspectos, comparando-se o Plano terrestre com a esfera de ação dos desencarnados. […] (3)


Em geral, as pessoas temem a morte, e, mesmo entre os espíritas, percebe-se que esse medo não está totalmente ausente. Analisando a questão, esclarece a doutora Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004),  †  renomada psiquiatra de fama mundial, em razão dos profundos conhecimentos adquiridos sobre a morte em sua prática médica junto a pacientes que se encontravam nas fases finais da existência:


Morrer é parte integrante da vida, tão natural e previsível quanto nascer. Mas ao passo que o nascimento é motivo de comemoração, a morte se tornou um temido e inexprimível assunto, evitado de todas as maneiras na sociedade moderna. Talvez porque nos chame atenção para nossa vulnerabilidade humana, apesar de todos os avanços tecnológicos. Podemos retardá-la, mas não podemos escapar a ela. […] E a morte ataca indiscriminadamente — ela não se importa com o status ou posição daqueles a quem escolhe; todos devem morrer, ricos ou pobres, famosos e desconhecidos. Até as boas ações não livram da morte seus praticantes; os bons morrem tão frequentemente quanto os maus. Talvez seja essa imprevisível e inevitável qualidade que faça a morte tão apavorante para muitas pessoas. Em especial, os que dão grande valor ao fato de controlar sua própria existência são os que mais se abalam com a ideia de que também estão sujeitos às forças da morte. (4)

2. CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS SOBRE A MORTE

As interpretações filosóficas sobre o assunto indicam que a morte pode ser analisada em três níveis:

a) Início de um ciclo de vida: “entendida assim por muitas doutrinas que admitem a imortalidade da alma. Para elas, a morte é o que Platão chamava de separação entre a alma e o corpo.” (5)


Com essa separação de fato, inicia-se o novo ciclo de vida da alma: seja ele entendido como reencarnação da alma em novo corpo, seja uma vida incorpórea. Plotino  †  expressava essa concepção dizendo: “Se a vida e a alma existem depois da morte, a morte é um bem para a alma porque esta exerce melhor sua atividade sem o corpo”.  (5)


Em decorrência, afirmava o filósofo prussiano, Schopenhauer (1788-1860)  † , “a morte é comparável ao pôr-do-sol, que representa, ao mesmo tempo, o nascer do sol em outro lugar”. (6)

b) Fim de um ciclo de vida: assim compreendido por vários filósofos do passado e do presente. “Marco Aurélio considerava-a como repouso ou cessação das preocupações da vida; conceito que ocorre frequentemente nas considerações da sabedoria popular […].” (6)


A morte como o término de um ciclo de vida é, da mesma forma, um conceito religioso enquanto associado ao pecado original. Para Moisés, a morte representa o fim das tribulações humanas impostas à humanidade, em razão do pecado de Adão e Eva: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia que em que dela comeres, morrerás”. (Gênesis, 2.17) Interpretando o caráter legalista do judaísmo, o apóstolo Paulo afirmava: “Eis por que, como por meio de um só homem [Adão] o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte; assim, a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” (Epístola aos Romanos, 5.12) (7)


c) Possibilidade existencial: “implica que a morte não é um acontecimento particular, situável no início ou no término de um ciclo de vida do homem, mas uma possibilidade sempre presente na vida humana, capaz de determinar as características fundamentais desta.” (6)

Qualquer uma dessas possibilidades é condizente com o pensamento espírita de que a vida no mundo corpóreo é transitória e que todas as criaturas vivas que aí se encontram estão de passagem. A vida verdadeira ocorre no Plano espiritual. E não se trata de pensamento recente, ao contrário, é advogado por inúmeros filósofos, desde a mais remota Antiguidade.


No diálogo Fédon - Google Books - , Platão descreve os momentos finais da vida de Sócrates antes de sua execução, quando discute com os discípulos sobre a ligação do corpo e alma. Sendo o corpo um estorvo da alma, a serenidade do sábio diante da morte é reconhecimento de que a separação significa liberação do espírito. (7)


Mais recentemente, mas mantendo-se dentro dessa linha de raciocínio, assinala Martin Heidegger (1889-1976)  † , o erudito filósofo alemão, que a morte é “[…] aquilo que confere significado à vida.” (7) De fato, segundo a Doutrina Espírita só morre bem quem viveu bem, quem deu significado à sua existência.


[…] Para o homem cuja alma se desmaterializou e cujos pensamentos se elevam acima das coisas terrenas, o desprendimento quase se completa antes da morte real, isto é, enquanto o corpo ainda tem vida orgânica, o Espírito já penetra na vida espiritual, apenas ligado por elo frágil que se rompe com a última pancada do coração […]. (8)

3. CONCEPÇÕES CIENTÍFICAS E LEGAIS SOBRE A MORTE


3.1. Conceito científico de morte


Do ponto de vista da Medicina, a morte é a cessação de todas as funções vitais; a perda dos reflexos do tronco cerebral e medula espinhal, situação comprovada pelos gráficos lineares de eletroencefalogramas (EEG) realizados no período de 24 horas.

O estudo da morte pela Ciência é denominado Tanatologia  †  (do grego tanathos (morte) + logia (estudo). Por se tratar de matéria complexa, a morte para ser atestada deve estar associada ao critério mínimo de cessação total e irreversível da função cerebral, da função espontânea dos sistemas respiratório e circulatório.

Com o surgimento da prática médica de transplantes de órgãos, contudo, novos critérios para a determinação da morte foram impostos, justamente porque há necessidade de que os órgãos a serem transplantados estejam íntegros e viáveis. Passou-se, então, a valorizar o critério de morte encefálica.

Partindo-se do princípio de que a morte é um processo lento e gradual, é necessário fazer algumas distinções: morte clínica ou paralisação da função cardíaca e da respiratória; morte biológica ou destruição celular; e morte encefálica a qual resulta na paralisação das funções encefálicas (não só as do cérebro).

Recordamos que o encéfalo é o centro do sistema nervoso dos vertebrados, inclusive do homem. Está localizado na cabeça, protegido pelo crânio, e possui os seguintes órgãos: cérebro, cerebelo, ponte ou protuberância e bulbo. Em continuação ao encéfalo, temos a medula nervosa ou espinhal. O conjunto, encéfalo e medula cérebro-espinhal, constitui o Sistema Nervoso Central.

A morte clínica é pouco valorizada nos dias atuais, em razão dos avanços tecnológicos na Medicina que, conjugados aos processos de reanimação, permitem manter a vida vegetativa do enfermo, mesmo que já exista morte encefálica.

A manutenção do estado vegetativo do paciente, por meio de medicamentos e equipamentos, conduz a outros tipos de discussão, sobretudo a relacionada à eutanásia.


3.2. Eutanásia


É a forma de apressar a morte de pessoa portadora de doença incurável, por meio de procedimentos que não produzam sofrimento. Trata-se de um ato médico com o consentimento do doente, ou da família deste. A eutanásia é um assunto muito discutido nos planos ético e da ciência jurídica.

Nessa questão, é relevante distinguir eutanásia de «suicídio assistido”, na medida em que na primeira, é uma terceira pessoa que executa (o médico), e no segundo é o próprio doente que provoca a sua morte, ainda que para isso disponha da ajuda de terceiros.

Do ponto de vista religioso a eutanásia é tida como uma usurpação do direito à vida humana, que é concedida por Deus. No sentido ético, a eutanásia contraria o Juramento de Hipócrates  †  — que é o de preservar a vida por todos os meios ao alcance do médico — , partindo-se do fundamento de que a vida é um dom sagrado. Pela perspectiva jurídica, no nosso país e em outros que não aprovam a eutanásia, esta é considerada homicídio.

A distanásia  †  é conceito oposto ao de eutanásia, pois defende a ideia de que todas as possibilidades devem ser utilizadas para prolongar a vida do ser humano, ainda que a cura não seja uma possibilidade e o sofrimento do enfermo se prolongue.


3.3 Tipos de eutanásia


A eutanásia pode ser classificada, basicamente, em duas formas, assim expressas:


Como tipo de ação

  • Eutanásia ativa: o ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do paciente, [considerado] por fins misericordiosos.

  • Eutanásia passiva ou indireta: a morte do paciente ocorre, dentro de uma situação de terminalidade, ou porque não se inicia uma ação médica ou pela interrupção de uma medida extraordinária, com o objetivo de minorar o sofrimento [não se aplica medicamentos, não se utiliza aparelhos, encaminha-se o doente terminal à família para que a morte ocorra naturalmente].

  • Eutanásia de duplo efeito: quando a morte é acelerada como uma consequência indireta das ações médicas que são executadas visando o alívio do sofrimento de um paciente terminal.

Como um consentimento do paciente

  • Eutanásia voluntária: quando a morte é provocada atendendo a uma vontade prévia do paciente.

  • Eutanásia involuntária: quando a morte é contra a vontade do paciente. . Eutanásia não voluntária: quando a morte é provocada sem que o paciente tenha manifestado sua posição em relação a ela, mas, em geral, há aprovação familiar. (Informações disponíveis em: http://www.bioetica.ufrgs.br/eutanasi.htm)

3.4. Ortotanásia


O termo ortotanásia,  †  em linguagem médica, significa morte no tempo correto ou morte natural, e é um procedimento que visa à humanização da morte, sem a utilização de meios para abreviá-la e também sem tomar atitudes desproporcionais para mantê-la. O termo para a Medicina tem sido diferente do usado na área jurídica, que o utiliza como sinônimo de eutanásia passiva, gerando equívocos.

O Movimento Médico-Espírita, segundo o Adendo à Carta de Princípios Bioéticos da Associação Médico-Espírita do Brasil — AME-Brasil, estabelecido no VI Congresso Nacional das Associações Médico-Espíritas do Brasil, reafirma, dentre outros, ser:

a) Contra a eutanásia e a distanásia, referendando a escolha de atitudes terapêuticas que permitam a morte natural com menos sofrimento e total apoio para o paciente e a família.

b) Contra quaisquer formas de violação do direito à vida, que se inicia, do ponto de vista físico, com a fecundação e cessa na desencarnação. (Informações disponíveis em: www.amebrasil.org.br/html/adendo.htm. Consulta realizada em 10/08/2011).


3.5 Procedimentos legais relativos à morte


A comprovação do falecimento é especificada em legislação própria, muito semelhante na maioria dos países, inclusive na brasileira.


As normas vigentes na sociedade moderna determinam que a morte seja atestada por meio de procedimentos técnicos e legais, uma vez que a morte pode ter consequências para outras pessoas ou para a Natureza. No caso do ser humano, faz-se a confirmação por meio do “Atestado de Falecimento”, assinado por um médico. Procedimentos semelhantes, de base científica, são igualmente utilizados para comprovar a morte de seres não-humanos. (9)


Se a pessoa falecida recebia atendimento médico, o profissional de medicina responsável pelo doente emite o atestado de óbito  †  que, após o registro no cartório civil, dá inicio à cerimônia fúnebre, esta sim, variável em diferentes culturas. Contudo, caso o falecimento tenha acontecido na ausência de acompanhamento médico, deve-se fazer ocorrência na delegacia policial, mais próxima da residência do falecido. A delegacia fará o recolhimento do corpo e providenciará o atestado de óbito.

Na morte registrada no hospital, antes que se completem 24 horas de internação do paciente, o médico responsável pelo doente encaminha o corpo à necropsia, após assinar o atestado de óbito. Caso o falecimento tenha ocorrido depois das 24 horas de hospitalização, o médico responsável assina o atestado de óbito, no próprio hospital, sem necessidade de necropsia.

Nos casos de morte violenta (homicídio ou suicídio), é necessário fazer boletim de ocorrência policial, independentemente do acompanhamento médico.

As cerimônias fúnebres são caracterizadas pelos procedimentos comuns, de velório e sepultamento ou cremação do corpo. No caso específico da cremação, a lei exige declaração de intenção, previamente assinada pela pessoa que morreu, ou autorização de parente mais próximo, sendo que ambas declarações, atestado de óbito e declaração de intenção, devem ser registradas em cartório.

O cerimonial fúnebre faz parte das tradições religiosas, expressando diferentes ritos. Neste sentido, os serviços de saúde, sobretudo os hospitalares, não devem impedir ou dificultar a manifestação de fé do enfermo terminal, ou dos familiares próximos, considerando que


independentemente das diferentes interpretações das diversas correntes religiosas, todas elas consideram bastante valioso o apoio espiritual dado ao paciente em processo de morrer. Para reforçar essa dimensão do cuidado a Associação Médica Mundial na Declaração sobre os Direitos dos Pacientes revisada na 56ª Assembleia, realizada em outubro de 2005, em Santiago, Chile, diz textualmente: o paciente tem o direito de receber ou recusar o conforto espiritual incluindo a ajuda de um ministro de religião da sua escolha. (10)


Atualmente, a maioria das mortes ocorre no hospital. A despeito dos cuidados e recursos tecnológicos oferecidos ao enfermo e ao agonizante, contraditoriamente, esta “[…] é uma das razões fundamentais que tornam a morte tão dura”, (11) assinala Elisabeth Kübler-Ross, pois o hospital é um ambiente impessoal, por natureza, “[…] uma instituição despersonalizante que não é, por definição, estabelecido para suprir as necessidades de pessoas cujas condições psicológicas estão além da capacidade hospitalar de socorro; […] não há nada neste sistema que supra a carência do espírito humano quando o corpo necessita de cuidados.” (11)

Em consequência, dá-se muita ênfase à humanização da prestação dos serviços de saúde nos dias atuais que, no caso do agonizante, é encaminhado à convivência familiar, a fim de receber carinho e afeto nos seus últimos momentos no corpo físico, se já foram esgotados todos os recursos médico-hospitalares.

As informações sobre a continuidade da vida, a imortalidade do Espírito e as possibilidades de reencontrar entes queridos, já falecidos, podem e devem ser repassadas ao doente terminal, mesmo sendo ele materialista. Entretanto, é preciso usar de muito tato e saber identificar o momento mais propício, evitando sobrecargas de preocupações ao moribundo.


O trabalho com o paciente moribundo requer certa maturidade que só vem com a experiência. Temos de examinar detalhadamente nossa posição diante da morte e do morrer, antes de nos sentarmos tranquilos e sem ansiedade ao lado de um paciente em fase terminal. […] O terapeuta — médico, capelão ou quem quer que assuma este papel — tentará, através de palavras ou ações, fazer com que o paciente sinta que não vai sair correndo se forem mencionados os termos câncer ou morrer. O paciente entenderá essa dica e se abrirá, ou fará com que o entrevistador perceba que a mensagem o agrada, embora não seja o momento certo. O paciente deixará que essa pessoa perceba quando ele estiver disposto a transmitir seus anseios, e o terapeuta o assegurará de que voltará no momento oportuno. […]. (12)

4. A TRANSIÇÃO ENTRE A VIDA CORPORAL E A ESPIRITUAL


A morte é um fenômeno natural, experimentado pelos Espíritos vezes sem conta, e resultante da falência dos órgãos. Entretanto, conforme o gênero de morte, o desligamento da alma do corpo pode ser mais ou menos lento, situação que provoca, em muitos casos, sofrimento ou desconforto.


Por ser exclusivamente material, o corpo sofre as vicissitudes da matéria. Depois de funcionar por algum tempo, ele se desorganiza e se decompõe. O princípio vital [que animava o corpo], não mais encontrando elemento para a sua atividade, se extingue e o corpo morre. O Espírito, para quem o corpo privado de vida se torna inútil, deixa-o, como se deixa uma casa em ruínas ou uma roupa imprestável. (13)


O fenômeno da desencarnação é oposto ao da encarnação. Nesta, o perispírito está “enraizado”, molécula a molécula, no corpo físico, semelhante às raízes de uma planta na terra. (14) Na desencarnação, “[…] o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira, e o Espírito é restituído à liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito. […].” (15)

O desligamento perispiritual não ocorre de forma abrupta, mesmo em se tratando do suicídio, mas nem sempre é possível demarcar, com precisão, o momento exato da separação do Espírito do corpo. Segundo os Espíritos orientadores, “[…] a alma se desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo a que se restituiu subitamente a liberdade. Aqueles dois estados [desencarnação e desligamento do corpo] se tocam e se confundem, de modo que o Espírito se desprende pouco a pouco dos laços que o prendiam: eles se desatam, não se quebram.” (16)


[…] A observação comprova que, no instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo-se dizer que o momento da morte é também o da libertação; em outros, sobretudo naqueles cuja vida foi toda material e sensual. o desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica a existência, no corpo, da menor vitalidade, nem a possibilidade de um retorno à vida, mas simples afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que sempre guarda relação direta com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. […]. (17)


Segundo Elisabeth Kübler-Ross, já citada, quando a pessoa sabe que sofre de uma doença incurável, e que se encontra muito próxima da desencarnação, é comum ela passar por cinco fases: a) negação e isolamento (invocando erro de diagnóstico, faz mudança de médico, apela à religião); b) raiva ou irritação (sentimento de frustração e injustiça, revolta ou rebeldia contra a situação); c) barganha ou negociação (a Deus ou a outra força superior); d) depressão e, finalmente, e) aceitação (adquirindo paz interior pela resignação). (18)

Tais condições foram observadas na maioria dos pacientes, entretanto há uma minoria que não segue todas as fases citadas. Os indivíduos esclarecidos sobre a continuidade da vida, eliminam algumas fases, aceitando a morte iminente com certa facilidade. Os materialistas ou os que trazem a consciência presa a remorsos nem sempre aceitam resignadamente o fim da existência.

Nos momentos finais da desencarnação, o Espírito não tem, em geral, consciência de si mesmo, mas, entra no estado de agonia porque ainda existem resquícios da vida orgânica. Conforme a vida que levou, e o gênero de morte, a agonia pode prolongar-se ou retardar-se, produzindo, ou não, sofrimento.

Ensinam os orientadores espirituais que a separação da alma, no exato instante da morte, não é, comumente, dolorosa, porque o Espírito encontra-se no estado de inconsciência, como se estivesse dormindo ou em coma.


O último suspiro quase nunca é doloroso, porque, ordinariamente, ocorre em momento de inconsciência, mas a alma sobre antes dele a desagregação da matéria, durante as convulsões da agonia e, depois, as angústias da perturbação. É bom destacar logo que esse estado não é geral, porquanto, como já dissemos, a intensidade e duração do sofrimento estão na razão direta da afinidade existente entre corpo e perispírito. Assim, quanto maior for essa afinidade, tanto mais penosos e prolongados serão os esforços da alma para desprender-se. Há pessoas nas quais a coesão é tão fraca que o desprendimento se opera por si mesmo, com a maior naturalidade. O Espírito se separa do corpo como um fruto maduro que se desprende do seu caule. É o caso das mortes calmas e de despertar pacífico. (19)


Caracteriza-se como perturbação espiritual o momento de transição que ocorre entre a vida corporal e a espiritual, durante a desencarnação. Allan Kardec apresenta o significado desse estado, nas explicações que se seguem.


[…] Nesse instante a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensações. E como se estivesse num estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca testemunha conscientemente o derradeiro suspiro. Dizemos quase nunca porque há casos em que a alma pode contemplar conscientemente o desprendimento […]. A perturbação pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte; sua duração é indeterminada, variando de algumas horas a alguns anos. À proporção que se liberta, a alma encontra-se numa situação comparável á de um homem que desperta de profundo sono; as ideias são confusas, vagas, incertas; vê como que através de um nevoeiro, aclarando-se a vista pouco a pouco e lhe despertando a memória e o conhecimento de si mesma. Esse despertar, contudo, é bem diverso, conforme os indivíduos; nuns é calmo e cheio de sensações deliciosas; noutros é repleto de terrores e de ansiedades, qual se fora horrível pesadelo. (20)


O estado de perturbação varia de Espírito para Espírito: “[…] Para aqueles cuja alma está depurada, a situação dura pouco, porque neles já havia um desprendimento antecipado, cujo termo a morte mais súbita não fez mais que apressar. Em outros, a situação se prolonga por anos inteiros […].” (21)

De qualquer forma, independentemente da causa geradora da desencarnação, das condições morais e intelectuais do desencarnante, das suas convicções e ações praticadas, a


alma desencarnada procura naturalmente as atividades que lhe eram prediletas nos círculos da vida material, obedecendo aos laços afins, tal qual se verifica nas sociedades do vosso mundo. As vossas cidades não se encontram repletas de associações, de grêmios, de classes inteiras que se reúnem e se sindicalizam para determinados fins, conjugando idênticos interesses de vários indivíduos? Aí, não se abraçam os agiotas, os políticos, os comerciantes, os sacerdotes, objetivando cada grupo a defesa dos seus interesses próprios? […] Daí a necessidade de encararmos todas as nossas atividades no mundo como a tarefa de preparação para a vida espiritual, sendo indispensável à nossa felicidade, além do sepulcro, que tenhamos um coração sempre puro. (22)


ORIENTAÇÕES AO MONITOR


1. Utilizando a dinâmica do Foro de Debates (veja anexo), o coordenador do foro (monitor) apresenta os convidados à turma, indicando o assunto que cada um irá expor, no prazo máximo de 45 minutos (cerca de 10-15 min. por convidado).

2. O secretário do foro é também apresentado, tendo a função de receber dos demais colegas dúvidas, perguntas e observações, fazendo pré-seleção e repassando-as ao coordenador do foro.

3. Após as explanações, o coordenador do foro encaminha aos convidados as indagações e considerações dos participantes, para serem respondidas ou comentadas.

4. Ao final, o monitor faz uma síntese do assunto estudado no foro, destacando os ensinamentos espíritas.


OBSERVAÇÃO: informar à turma que o assunto da próxima reunião (Sobrevivência e Imortalidade da Alma) será desenvolvido por um convidado que, após a exposição, estará à disposição dos participantes para responder perguntas. Solicitar ao grupo leitura atenta do Roteiro, a fim de que ocorram indagações mais consistentes.

 

ANEXO — FORO DE DEBATES


Para facilitar o desenvolvimento do assunto, a dinâmica do Foro de Debates deve ser executada adequadamente; para tanto, sugerimos o seguinte:

  • Coordenação do Foro: monitor ou alguém com experiência neste gênero de atividade.

  • Secretário do foro: um dos participantes é indicado para ser o auxiliar do coordenador. O secretário registra as principais ideias debatidas (faz uma síntese), que é lida em voz alta após cada exposição; recebe as perguntas/contribuições dos demais participantes do foro, encaminhando-as ao coordenador, após prévia seleção.

  • Expositores do foro: pessoas que têm domínio do assunto podem ser convidados de fora do grupo, um especialista, monitores da casa espírita ou mesmo integrantes do grupo de estudo. Cada expositor explana um tema específico, por, no máximo, 15 minutos e responde as perguntas do coordenador, que foram formuladas pelo auditório, no momento apropriado.

  • Participantes do foro (ou auditório): são os membros usuais do grupo de estudo que encaminham perguntas/considerações ao secretário do foro, para serem respondidas pelos expositores, após seleção prévia (evita repetições e assuntos não relacionados ao estudo).

  • No final, o coordenador faz a integração do assunto, destacando pontos essenciais do estudo.



REFERÊNCIAS

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Questão 149, p. 157.

2. Idem: Questões 150 e 150-a, p. 158.

3. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador: Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, questão 147, p. 118.

4. KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Morte: estágio final da evolução - Google Books. Tradução de Ana Maria Coelho. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. Capítulo 2, p. 32.

5. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia - Google Books. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 683.

6. Idem: p. 684.

7. ARANHA, Maria Lúcia Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. Introdução à filosofia - Google Books. 3. ed. revista, São Paulo: Moderna, 3003. Unidade V (Ética), quarta parte: A morte, p. 347.

8. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Segunda Parte, Capítulo 1, item 9, p. 224.

9. MOURA, Marta Antunes. O que é morte? Reformador. Rio de Janeiro: FEB, março de 2006. Ano 124. Nº 2.124, p. 34.

10. GUTIERREZ, Beatriz Aparecida Ozello e CIAMPONE, Maria Helena Trench. O processo de morrer e a morte no enfoque dos profissionais de enfermagem de UTIs. Revista da Escola de Enfermagem da USP. vol.41 nº 4 São Paulo Dec. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0080-62342007000400017&script=sci_arttext

11. KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Morte: estágio final da evolução. Op. Cit, p. 33-34.

12. Idem: Sobre a morte e o morrer: o que os doentes terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus parentes - Google Books. Tradução Paulo Menezes. 9. ed. São Paulo: WMF-Martins Fontes, 2008. Capítulo XII (Terapia com doentes em fase terminal), p. 275-276.

13. KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Capítulo 11, item 13, p. 268.

14. Idem: Item 18, p. 271.

15. Idem: p. 272.

16. Idem: O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Questão 155, p. 160.

17. Idem: Questão 155-comentário, p. 161.

18. KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus parentes. Op. Cit. Capítulos III a VIII, p. 43-162.

19. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Op. Cit. Segunda Parte, Capítulo 1, item 7, p. 223.

20. Idem: Item 6, p. 271.

21.  Idem: Item 12, p. 226.

22. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Op. Cit. Questão 148, p. 119-120.


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