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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE II
Módulo II — Ensinos diretos de Jesus

Roteiro 5


Impositivo da renovação


 

Objetivo: Explicar, à luz da Doutrina Espírita, o significado deste ensinamento de Jesus: “Ninguém deita remendo de pano novo em veste velha. […] Nem se deita vinho novo em odres velhos”. (Mateus, 9.16,17)



IDEIAS PRINCIPAIS

  • As ideias materialistas assim como a interpretação literal do Evangelho, representam o remendo novo em veste velha ou o vinho novo em odres velhos, que podem conduzir o ser humano a uma existência desoladora, sem expectativa de mudanças para melhor. Neste aspecto, a Humanidade se defronta com uma ciência arrogante, uma […] filosofia e religião nebulosa, impalpáveis, dubitativas quando não ferozes e dogmáticas; o resultado aí temos nesta ebulição de ódios, de lutas e reivindicações, que dão ao nosso mundo na hora atual o aspecto de campo de batalhas sem prólogos nem epílogos. Editorial de Reformador, setembro de 1927.

  • Há indivíduos que se aferram à rotina, aos preconceitos sociais, às conveniências mundanas, ou por comodismo ou por orgulho. Quais odres velhos que não suportam vinho novo, tais pessoas são inacessíveis às ideias novas. Eliseu Rigonatti: O evangelho dos humildes, Capítulo IX.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • Ninguém deita remendo de pano novo em veste velha, porque semelhante remendo rompe a veste, e faz-se maior a rotura. Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás, rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam. Mateus, 9.16,17.

Está implícita nessa mensagem de Jesus uma proposta de renovação espiritual, relativa à aquisição de virtudes, base do processo de melhoria do ser humano. “A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso.” (2)

A superioridade moral caracteriza o homem de bem, elemento da sociedade justa e pacífica do futuro. As principais qualidades do homem de bem são as seguintes:


O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim,se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem. Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. […] Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais. […] Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma […]. Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. […] O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus. […] Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade […]. Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas […]. É indulgente para as fraquezas alheias […]. Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. (…] Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. […] Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem […]. Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais […]. Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus […j. Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus. (1)


2. Interpretação do texto evangélico

  • Ninguém deita remendo de pano novo em veste velha, porque semelhante remendo rompe a veste, e faz-se maior a rotura (Mt 9.16).

O significado literal desta imagem elaborada por Jesus é de fácil compreensão: é trabalho inglório remendar roupa velha, desgastada pelo tempo de uso, com remendo novo. Tal tentativa ampliará a rotura, isto é, o rasgão ou ruptura. Essa mensagem evangélica reflete profundas advertências para todos que querem afastar-se dos comportamentos infelizes e pretendem operar no bem, seguindo os ensinamentos do Cristo. Neste sentido, o Evangelho, para ser integralmente entendido e vivenciado, requer rompimento com os antigos padrões comportamentais, assimilados ao longo das experiências reencarnatórias, aqui representados pelos símbolos “veste velha” e “odres velhos”.

Quem deseja implementar mudanças de comportamento, priorizando a própria melhoria espiritual, deve estar consciente que a transformação precisa ocorrer sob novas bases. É ilusão querer colocar remendo nas imperfeições, maquiando-as, ainda que existam predisposições favoráveis. Quem age assim, falseia a verdade e se colocará, cedo ou tarde, numa posição constrangedora, quando num momento de descontrole os maus comportamentos assomarem à superfície da personalidade. Faz-se, pois, necessário que se associe à vontade de mudança, uma ação persistente.


Há indivíduos que se aferram à rotina, aos preconceitos sociais, às conveniências mundanas, ou por comodismo ou por orgulho. Quais odres velhos que não suportam vinho novo, tais pessoas são inacessíveis ás ideias novas. Com pessoas dessa categoria, o trabalhador de boa vontade do Evangelho e do Espiritismo nada tem a fazer. É deixá-la entregues aos cuidados do Pai Celestial, que por meio das reencarnações em ambientes diversos, lhes modificará a atitude mental, transformando-as em odres novos, aptos a receberem o generoso vinho novo das ideias novas e progressista. (5)


Providências parciais, ou remendos na própria personalidade, sempre resultam frustrações, desilusões, que acabarão por trair e fazer sofrer o indivíduo quando este se vê frente a frente com a própria realidade. Assim, é importante fazer análise mais apurada destas incisivas exortações de Jesus: “ninguém deita remendo de pano novo em vestido velho”. “Nem se deita vinho novo em odres velhos”. Esta recomendação não se aplica à simples costura de roupas ou à produção de vinhos, menos ainda aos processos de renovação espiritual.

Um bom exemplo de transformação definitiva no bem, livre de autopiedade ou autocondescendência, encontra-se em Marcos,10.42, que registra a seguinte cura de um cego:


Depois, foram para Jericó. E, saindo ele de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto ao caminho, mendigando. E, ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar e a dizer: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! E Jesus, parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama. E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se e foi ter com Jesus. E Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre, que eu tenha vista. E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho.


A citação demonstra, em linhas gerais, o seguinte: Bartimeu não se limitou apenas ao desejo da própria cura, mas fez alarde de forma enfática, no momento em que identificou aquele que o curaria (“E, ouvindo que era Jesus de Nazaré”). Encontrando Jesus, ouviu o que ele pregava e partiu para a ação: foi em busca da cura (“E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se e foi ter com Jesus”). Ao suplicar auxílio de forma insistente foi notado tanto pelos que se sentiram constrangidos com a mudança revelada pelo mendigo, daí repreendê-lo, quanto pelo próprio Cristo que, acalmando-o, fez o cego testemunhar a vontade de curar-se. Por este motivo pergunta ao mendigo: “Que queres que te faça?”.


  • Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás, rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam (Mt 9.17).

A análise espírita dos dois versículos, tanto o dezesseis, estudado no item anterior, quanto este, o dezessete, extrapola o sentido simbólico claramente expresso, pois, obviamente, Jesus estava dando muito mais do que lições de costura ou indicação sobre preferíveis processos de preparação de vinho.

O vinho foi amplamente trabalhado por Jesus em suas mensagens. Assim, importa considerar que o vinho novo indica fermentação recente da uva, devendo ser colocado em recipientes adequados porque, durante o processo, há produção e expansão de gases que multiplicam o volume do líquido fermentado. Antigamente a fermentação e o transporte de vinho eram feitos em recipientes denominados odres, espécie de saco feito de pele de animais. A expansão dos gases, decorrentes da fermentação, exigia que os odres fossem novos para não se romperem. Por outro lado, a fabricação cuidadosa do vinho evita a deterioração provocada por certos micróbios, em geral presentes nos vinhos velhos, quando muito manuseados.

Tais vinhos, assim como as vestes velhas, indicam que a Humanidade se defronta com uma ciência materialista, uma filosofia obscura que discute os efeitos não as causas dos atos humanos, e, também, uma religião distanciada da vida, dogmática e inacessível. (3)


O resultado aí temos nesta ebulição de ódios, de lutas e reivindicações, que dão ao nosso mundo na hora atual o aspecto de campo de batalhas sem prólogos nem epílogos. Os sistemas políticos, impotentes para sintonizar aspirações e anseios coletivos, oscilam entre anarquia e despotismo; as legislações se ressentem do exclusivismo de interesses emergentes e flutuantes, sem balizas de equidade e justiça na consciência das massas. Todas as medidas e alvitres postos em equação, redundam improfícuos e ruem fragorosamente na prática, porque de fato não têm a vivê-los e justificá-los mais que uma finalidade unilateral, por só decalcadas nas conveniências fortuitas de uma existência falaz e transitória. (3)


A produção de vinho, de forma correta, indica na mensagem um simbolismo que pode ser assim esclarecido: a maceração da uva é necessária para que surja o substrato ou essência do vinho. Da mesma forma, é preciso que o Espírito se entregue à “maceração” das provas existenciais através dos inevitáveis sacrifícios, afim de que surja a essência do homem de bem, liberto das imperfeições.


É necessário que se dê o renascimento do Espírito pela modificação das ideias, e do corpo, sem o que não se verá o Reino de Deus. A esta operação Paulo chamou “a substituição do homem novo pelo despojamento do homem velho”; e acrescentou: “os que são de Cristo se tornam novas criaturas.” (6)


Os ensinamentos espíritas além de oferecerem a chave para o entendimento da mensagem cristã, em sua pureza e sentido originais, esclarecem a criatura humana a respeito das consequências dos seus atos impensados e, também, como corrigi-los. O espírita deve estar consciente de que não é suficiente aceitar a doutrina que lhe ensina de onde vem, o que faz aqui e para onde vai.


A essa noção precisa ele acrescentar a de uma ética superior, a de uma lei moral absoluta — divina diremos — que legitime as vicissitudes e incertezas da própria vida, de modo a poder harmonizá-la com a dos semelhantes em justificados lances de justiça e liberdade. Assim e só assim ele compreenderá que o benefício próprio está no alheio benefício; que a postergação dos direitos de outrem vale pela postergação dos seus direitos e que, se na luta pela vida corpórea e no ambiente psíquico, em suma, a reação é sempre igual à ação, o mesmo se dá para o ambiente espiritual, no plano universal. (3)


A aceitação do Evangelho de Jesus sem dogmas, sem interpretação literal, representa o vinho novo, livre de impurezas, que é colocado em odres novos, não contaminados, é proposta do Espiritismo, na sua feição de Cristianismo redivivo.


Essa mentalidade assim formada poderá, então e só então resistir aos embates e seduções do mundo e, onde quer que no mundo lhe seja dado irradiar influências estas serão benéficas por colimarem princípios e não pessoas, ideias e não interesses efêmeros, visando não já uma família restrita, uma classe, uma sociedade, um povo, mas a Humanidade no que esta tem de mais grandioso e se não afere não por um ciclo de gerações, mas de Eternidade. (4)



 

ANEXO I


ATIVIDADE EXTRACLASSE

  • Resumo de tema indicado.

  • Apresentação do resumo, em plenário.


AUTOR | OBRA ESPÍRITA E TEMA

XAVIER, Francisco C. Pelo Espírito Emmanuel | Seara dos médiuns, editora FEB. Item: Palavra, p. 89-91.

XAVIER, Francisco C. Pelo Espírito Humberto de Campos (Irmão X) | Reportagens de além-túmulo,  editora FEB. Capítulo 34 (A conselheira invigilante), p. 239-244.

 VINICIUS (Pedro Camargo) | Nas pegadas do mestre, editora FEB. Item: A palavra da vida, p. 84-85.



 

ANEXO II


Citação de Lucas 17.1



ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Dividir a turma em pequenos grupos para o estudo do texto evangélico. Realizar, em seguida, um debate em que se analise os equívocos das ideias materialistas e da interpretação literal do Evangelho, tendo como base os ensinamentos espíritas desenvolvidos neste Roteiro.

Como atividade extraclasse (veja Anexo I), escalar três participantes para que façam a leitura dos temas a seguir indicados, cuja síntese será apresentada na próxima aula.



Referências:

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 126. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 17, item 3, p. 307-309.

2. Idem - Item 8, p. 315.

3. FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Reformador Ano 45, n.º 17, setembro de 1927. Editorial, p. 382.

4. Idem, ibidem - p. 382-383.

5. RIGONATTI, Eliseu. O evangelho dos humildes. 15. ed. São Paulo: Pensamento, 2003. Capítulo IX, item: O jejum, p. 77.

6. SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e ensinos de Jesus. 20. ed. Matão: O Clarim, 2000. Item: Odres novos — vinho novo. Odres velhos — panos novos e vestidos velhos, p. 238-239.


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