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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE I
Módulo III — Ensinos por parábolas

Roteiro 5


A candeia


 

Objetivo: Interpretar a parábola da candeia (Lc 11. 33-36), à luz da Doutrina Espírita.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • É de causar admiração diga Jesus que a luz não deve ser colocada debaixo do alqueire, quando ele próprio constantemente oculta o sentido de suas palavras sob o véu da alegoria, que nem todos podem compreender. Ele se explica, dizendo a seus apóstolos: “Falo-lhes por parábolas, porque não estão em condições de compreender certas coisas. Eles veem, olham, ouvem, mas não entendem. Fora, pois, inútil tudo dizer lhes, por enquanto. Digo-o, porém, a vós, porque dado vos foi compreender estes mistérios.” Procedia, portanto, com o povo, como se faz com crianças cujas ideias ainda se não desenvolveram. Desse modo, indica o verdadeiro sentido da sentença: “Não se deve pôr a candeia debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que todos os que entrem a possam ver. Tal sentença não significa que se deva revelar inconsideradamente todas as coisas. Todo ensinamento deve ser proporcionado à inteligência daquele a quem se queira instruir, porquanto há pessoas a quem uma luz por demais viva deslumbraria, sem as esclarecer.” Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo 24, item 4.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • E ninguém, acendendo uma candeia, a põe em oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz. A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso. Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas. Se, pois, todo o teu corpo é luminoso, não tendo em trevas parte alguma, todo será luminoso, como quando a candeia te alumia com o seu resplendor. Lucas, 11.33-36.

A parábola da candeia revela o quanto é importante fazer a divulgação de verdades espirituais.


Descendo o Cristo das Esferas de luz da Espiritualidade Superior à Terra, teve por escopo orientar a Humanidade na direção do aperfeiçoamento. “Brilhe a vossa luz” — eis a palavra de ordem, enérgica e suave, de Jesus, a quantos lhe herdaram o patrimônio evangélico, trazido ao mundo ao preço do seu próprio sacrifício. A infinita ternura de sua angelical alma sugere-nos, incisiva e amorosamente, o esforço benéfico: “Brilhe a vossa luz”. O interesse do Senhor é o de que os seus discípulos, de ontem, de hoje e de qualquer tempo, sejam enobrecidos por meio de uma existência moralizada, esclarecida, fraterna.

O Evangelho aí está, como presente dos céus, para que o ser humano se replete com as suas bênçãos, se inunde de suas luzes, se revigore com as suas energias, se enriqueça com os seus ensinos eternos. O Espiritismo, em particular, como revivescência do Cristianismo, também aí está, ofertando-nos os oceânicos tesouros da Codificação. Pode-se perguntar: de que mais precisa o homem, para engrandecer-se, pela cultura e pelo sentimento, se lhe não faltam os elementos de renovação, plena, integral e positiva?!… (5)


2. Interpretação do texto evangélico

  • E ninguém, acendendo uma candeia, a põe em oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz (Lc 11.33).

Está claro, neste versículo, que pessoas conscientes sabem que todo o conhecimento destinado à melhoria moral e intelectual do ser humano não deva permanecer oculto, mas ser amplamente divulgado. A candeia simboliza instrumento de iluminação cuja chama, alimentada pelo óleo que a abastece, afasta a escuridão reinante. Do ponto de vista espiritual, a candeia assemelha-se à mente esclarecida e enobrecida de valores morais que afasta as trevas da ignorância existentes na Humanidade. Os Espíritos superiores não mantêm ocultos os conheci­mentos que possuem, mas disponibiliza-os a qualquer pessoa.

Mantêm-se na retaguarda espiritual quem acredita que conhecimentos superiores, destinados à melhoria humana, devam permanecer ocultos, em círculos fechados, inacessíveis às massas populares. Por força da lei do progresso a verdade chega, à medida que o ser humano evolui.


Se, pois, em sua previdente sabedoria, a Providência só gradualmente revela as verdades, é claro que as desvenda à proporção que a Humanidade se vai mostrando amadurecida para as receber. Ela as mantém de reserva e não sob o alqueire. Os homens, porém, que entram a possuí-las, quase sempre as ocultam do vulgo com o intento de o dominarem. São esses os que, verdadeiramente, colocam a luz debaixo do alqueire. […] Não podem existir mistérios absolutos e Jesus está com a razão quando diz que nada há secreto que não venha a ser conhecido. Tudo o que se acha oculto será descoberto um dia e o que o homem ainda não pode compreender lhe será sucessivamente desvendado, em mundos mais adiantados, quando se houver purificado. Aqui na Terra, ele ainda se encontra em pleno nevoeiro. (1)


A palavra alqueire, citada no texto, é antiga medida de capacidade (13,8 litros para cereais e 8 litros para óleo e líquidos) que servia também para guardar a reserva do óleo destinada a abastecer a candeia. Segundo Jesus, a candeia acesa deve ser colocada no velador, utensílio formado de uma haste de madeira apoiada numa base, tendo na parte superior uma espécie de disco onde se coloca o candeeiro, candeia ou uma vela. Colocando a candeia no velador a luz se espalha de maneira uniforme, facilitando a visão das pessoas. Tais ensinamentos do Mestre “[…] dão-nos a entender, claramente, que as leis divinas devem ser expostas por aqueles que tiveram a felicidade de conhecê-las, pois sem esse conhecimento paralisar-se-ia a marcha da evolução humana. (3)

Sabemos que nem todos estão predispostos a acolher a luz. Por isso, quem mais sabe ou quem mais possui valores morais deve, com naturalidade, irradiar pensamentos, palavras, ações, atitudes e gestos que atinjam os circunstantes de modo agradável e edificante, como chama abençoada.


Manda a prudência, entretanto, que se gradue a transmissão de todo e qualquer ensinamento à capacidade de assimilação daquele a quem se quer instruir, de vez que uma luz intensa demais o deslumbraria, ao invés de o esclarecer. Cada ideia nova, cada progresso, tem que vir na época conveniente. Seria uma insensatez pregar elevados códigos morais a quem ainda se encontrasse em estado de selvageria, tanto quanto querer ministrar regras de álgebra a quem mal dominasse a tabuada. (4)


Esta é a razão de Jesus colocar parte dos seus ensinos, os mais complexos, sob o véu do símbolo.


O Espiritismo, hoje, projeta luz sobre uma imensidade de pontos obscuros; não a lança, porém, inconsideradamente. Com admirável prudência se conduzem os Espíritos, ao darem suas instruções. Só gradual e sucessivamente consideraram as diversas partes já conhecidas da Doutrina, deixando as outras partes para serem reveladas à medida que se for tornando oportuno fazê-las sair da obscuridade. Se a houvessem apresentado completa desde o primeiro momento, somente a reduzido número de pessoas se teria ela mostrado acessível; houvera mesmo assustado as que não se achassem preparadas para recebê-la, do que resultaria ficar prejudicada a sua propagação. Se, pois, os Espíritos ainda não dizem tudo ostensivamente, não é porque haja na Doutrina mistérios em que só alguns privilegiados possam penetrar, nem porque eles coloquem a lâmpada debaixo do alqueire; é porque cada coisa tem de vir no momento oportuno. Eles dão a cada ideia tempo para amadurecer e propagar-se, antes que apresente outra, e aos acontecimentos o de preparara aceitação dessa outra. (2)

  • A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso. Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas. Se, pois, todo o teu corpo é luminoso, não tendo em trevas parte alguma, todo será luminoso, como quando a candeia te alumia com o seu resplendor. (Lc 11.34-36)

O benfeitor Emmanuel assim se expressa a respeito da candeia do corpo:


Atentemos para o símbolo da candeia. A claridade na lâmpada consome força ou combustível. Sem o sacrifício da energia ou do óleo não há luz. Para nós, aqui, o material de manutenção é a possibilidade, o recurso, a vida. Nossa existência é uma candeia viva. É um erro lamentável despender nossas forças, sem proveito para ninguém, sob a medida de nosso egoísmo, de nossa vaidade ou de nossa limitação pessoal. Coloquemos nossas possibilidades ao dispor dos semelhantes. Ninguém deve amealhar as vantagens da experiência terrestre somente para si. Cada Espírito provisoriamente encarnado, no círculo humano, goza de imensas prerrogativas, quanto à difusão do bem, se persevera na observância do Amor Universal.

Prega, pois, as revelações do Alto, fazendo-as mais formosas e brilhantes em teus lábios; insta com parentes e amigos para que aceitem as verdades imperecíveis; mas, não olvides que a candeia viva da iluminação espiritual é a perfeita imagem de ti mesmo. Transforma as tuas energias em bondade e compreensão redentoras para toda gente, gastando, para isso, o óleo de tua boa vontade, na renúncia e no sacrifício, e tua vida, em Cristo, passará realmente a brilhar. (7)


O Espírito que já amealhou recursos no bem retira dos aconteci­mentos cotidianos, preciosas lições, inacessíveis ao cidadão comum. Isso acontece porque ele tem desenvolvida a visão interior, resultante das inúmeras experiências acumuladas ao longo das reencarnações. O seu centro coronário refulge à distância, consoantes os valores intelectuais e morais incorporados ao seu Espírito.

No que diz respeito ao centro coronário, esclarece André Luiz:


Temos particularmente no centro coronário o ponto de interação entre as forças determinantes do Espírito e as forças fisiopsicossomáticas organizadas. Dele parte, desse modo, a corrente de energia vitalizante formada de estímulos espirituais com ação difusível sobre a matéria mental que o envolve, transmitindo aos demais centros da alma os reflexos vivos de nossos sentimentos, ideias e ações, tanto quanto esses mesmos centros, interdependentes entre si, imprimem semelhantes reflexos nos órgãos e demais implementos de nossa constituição particular, plasmando em nós próprios os efeitos agradáveis ou desagradáveis de nossa influência e conduta. (6)


Jesus destaca, porém, a importância de termos todo “o corpo luminoso não tendo em trevas parte alguma”. Ou seja, é preciso saber que há “[…] ciência e há sabedoria, inteligência e conhecimento, intelectualidade e luz espiritual.” (8)

A pessoa que não sabe fazer essa distinção está sujeita a muitos reveses na existência.


Geralmente, todo homem de raciocínio fácil é interpretado à conta de mais sábio, no entanto, há que distinguir. O homem não possui ainda qualidades para registrar a verdadeira luz. Daí a necessidade de prudência e vigilância. Em todos os lugares, há industriosos e entendidos, conhecedores e psicólogos. Muitas vezes, porém, não passam de oportunistas prontos para o golpe do interesse inferior Quantos escrevem livros abomináveis, espalhando veneno nos corações? Quantos se aproveitam do rótulo da própria caridade visando extrair vantagens à ambição? Não bastam o engenho e a habilidade. Não satisfaz a simples visão psicológica. É preciso luz divina. (9)


Perante o desejo de auxiliar o próximo, devemos aprender a irradiar o bem de forma contínua, independentemente da pessoa ou situação, libertando-nos das manifestações nebulosas do personalismo.


Nem sempre a luz reside onde a opinião comum pretende observá-la. Sagacidade não chega a ser elevação, e o poder expressivo apenas é respeitável e sagrado quando se torna ação construtiva com a luz divina. Raciocina, pois, sobre a própria vida. Vê, com clareza, se a pretensa claridade que há em ti não é sombra de cegueira espiritual. (10)


Na medida em que há perseverança na luta educativa, as sugestões negativas do mal não atingem a criatura humana. Caminhando em direção ao bem, o Espírito se liberta pouco a pouco das paixões inferiores, revelando um corpo luminoso de virtudes. Perseverante. Por outro lado, mantendo-se envolvido pela túnica da humildade, da benevolência, do perdão e da fé, aprende a incorporar a luz em si mesmo.



ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Pedir aos participantes que analisem o texto do evangelista Lucas, citado neste Roteiro, tendo como base as ideias desenvolvidas nos Subsídios. Contar, ao final da reunião, a história “Parábola Simples”, escrita pelo Irmão X (Humberto de Campos), existente no livro Contos e apólogos, Capítulo 10, psicografia de Francisco Cândido Xavier e editado pela FEB. Correlacionar as ideias desenvolvidas no conto com as existentes no texto evangélico estudado.



Referências:

1. KARDEC. Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de janeiro: FEB, 2005. Capítulo 24, item 5, p. 347.

2. Idem, ibidem - Item 7, p. 348.

3. CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas evangélicas. 8. ed. Rio de janeiro: FEB, 2004. item: Parábola da candeia, p. 58.

4. Idem, ibidem - p. 59.

5. PERALVA, Martins. Estudando o Evangelho. 8. ed. Rio de janeiro: FEB, 2005. Capítulo 3 (Renovação), p. 30-31.

6. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. 23. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Primeira parte, Capítulo 2 (Corpo espiritual), item: Centro coronário, p. 32.

7. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 81 (A candeia viva), p. 213-214.

8. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 33 (Vê, pois), p. 85.

9. Idem, ibidem - p. 85-86.

10. Idem, ibidem - p. 86.


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