Roteiro 5
Interpretação de textos evangélicos
Objetivo: Realizar exercícios de interpretação de textos evangélicos, à luz do entendimento espírita.
IDEIAS PRINCIPAIS
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A interpretação espírita do Novo Testamento tem como base O Evangelho segundo o Espiritismo que traça uma diretriz segura, em espírito e verdade, para o estudo da Boa Nova.
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A parábola do semeador (Mc 4.3-9), ensinada por Jesus, foi também por ele interpretada (Mc 4.14-20), atendendo ao pedido dos apóstolos. Marcos 4.10-13.
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A parábola da figueira que secou (Mc 11.12-14; 20-23) foi interpretada por Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo 19, item 9.
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O Espírito Emmanuel é um estudioso do Evangelho de Jesus, sendo que em seus livros encontramos tanto interpretações gerais quanto análises detalhadas.
SUBSÍDIOS
1. Saber localizar o texto no livro bíblico
É necessário saber localizar na Bíblia os textos que se deseja interpretar. Neste sentido, é importante recordar que os livros do Velho Testamento e do Novo Testamento estão divididos em capítulos e versículos. Os capítulos são textos maiores, que se encontram subdivididos em versículos, numerados sequencialmente, a fim de facilitar sua consulta e estudo. É variável o número de capítulos de um livro ou de versículos nos capítulos. O Evangelho de Mateus, por exemplo, está dividido em 28 capítulos, sendo que o capítulo 3 tem 17 versículos e o capítulo 26 tem 75.
No programa Ensinos e Parábolas de Jesus estaremos utilizando textos da Bíblia da tradução de João Ferreira de Almeida, edição revista e corrigida, de 1995, publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil.
Sabemos que A Bíblia está dividida em duas partes: Velho Testamento (V.T.) e Novo Testamento (N.T.). O Velho Testamento contém livros que tratam das leis, das profecias, da história e da sabedoria. O Novo Testamento possui: a) quatro interpretações do Evangelho de Jesus, segundo Mateus (Mt), Marcos (Mc), Lucas (Lc) e João (Jo); b) os Atos ou Atos dos Apóstolos (redigidos por Lucas); c) Epístolas ou Cartas: catorze de Paulo, uma de Tiago, duas de Pedro, três de João e uma de Judas Tadeu; d) Apocalipse ou Revelação de João Evangelista.
Normalmente a indicação de um trecho do Evangelho é feita, por extenso ou abreviada, na seguinte ordem: nome do livro, número do capítulo e do versículo. Assim: Marcos, 10.4 ou Mc 10.4 que expressa: Evangelho de Marcos, capítulo 10, versículo 4.
Algumas traduções inserem referências após o título do capítulo, indicando que este assunto está repetido em outro livro do Evangelho, exemplo: A Vocação de Mateus, ou O chamado de Mateus (Mt 9. 9-13), é também relatada em Marcos, 2.13,14 e em Lucas, 5.27,28.
Outras versões, como a Bíblia de Jerusalém, possuem um sistema de referências mais detalhado: a) relacionam assuntos ou ideias existentes em um mesmo livro; b) explicam o significado de palavras ou expressões.
A referência de ideias existentes num mesmo livro é feita mediante a inscrição de pequenos números no desenvolvimento da narrativa — colocados à margem direita ou esquerda da página. Veja o exemplo:
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Em Mt 6.1 está escrito, na Bíblia de Jerusalém, assim: 6.1 Guardai-vos de praticar a vossa justiçab diante dos homens para serdes vistos por eles. Se o fizerdes, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. 23.5; Lc 16.14,15; Jo 5.44.
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Interpretação: Os números 23.5 — colocados à direita [no final do parágrafo] — indicam que há ideias semelhantes no capítulo 23, versículo 5 deste mesmo livro (Evangelho de Mateus). As referências de Lc 16.14,15 e Jo 5.44, também citadas à margem direita, indicam que o mesmo assunto é encontrado, respectivamente, no Evangelho de Lucas, Capítulo 16, vers. 14,15, e no Evangelho de João, Capítulo 5, vers. 44. Observamos, igualmente, neste exemplo (Mt 6.1), que ao final da palavra justiça há uma letra “b” sobrescrita. Em nota de rodapé, a Bíblia de Jerusalém explica o sentido desta palavra: b) Lit.: “fazer a vossa justiça” (var.: “dar esmola”), isto é, praticar as boas obras que tornam o homem justo diante de Deus. Na opinião dos judeus, as principais eram a esmola (vv. 2-4), a oração (vv. 5,6) e o jejum (vv. 16-18).
Em outros textos, do Velho ou do Novo Testamentos, encontramos um numeral que antecede a ordem cronológica de um escrito. Este número indica que há mais de um texto redigido por um mesmo autor. Veja os exemplos.
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1 Coríntios, 3.1-11 (1 Co 3.1-11) significa: primeira epístola de Paulo aos coríntios, capítulo três, versículos um a onze.
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3 João, 1-15 (3 Jo 1-15). A leitura é: terceira epístola de João, versículos um a quinze. Observa-se que esta epístola não tem capítulos.
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Atos dos Apóstolos, 6.1-7 (At 6.1-7). Leitura: Atos dos Apóstolos, capítulo seis, versículos um a sete. A numeração de Atos é semelhante à forma existente nas quatro versões do Evangelho: são 28 capítulos, subdivididos em versículos.
2. Interpretação do Novo Testamento
A interpretação espírita do Novo Testamento tem como base O Evangelho segundo o Espiritismo que traça uma diretriz segura, em espírito e verdade.
A mensagem de Jesus é entendida como valiosa ação de “higienização” do nosso campo mental, constituindo-se em divino recurso para a construção dos nossos legítimos sentimentos de realização no Bem. Apresenta-se, também, como trabalho reeducador que deve estar presente nos nossos processos de libertação espiritual.
A mensagem evangélica não comporta, pois, apenas leituras ou comentários de superfície. O Evangelho de Jesus necessita ser apreendido, assimilado e acima de tudo vivido. A propósito, assim se expressa Emmanuel:
A lição do Mestre, além disso, não constitui tão somente um impositivo para os misteres da adoração. O Evangelho não se reduz a breviário para o genuflexório. É roteiro imprescindível para a legislação e administração, para o serviço e para a obediência. O Cristo não estabelece linhas divisórias entre o templo e a oficina. Toda a Terra é seu altar de oração e seu campo de trabalho. (2)
3. Exemplos de interpretação de textos evangélicos
A Parábola do Semeador (Mc 4.3-9), foi ensinada e interpretada por Jesus, atendendo pedido dos apóstolos (Mc 4. 10-13).
Apresentamos, em seguida, os dois textos evangélicos: a parábola e a sua interpretação.
Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear, e aconteceu que, semeando ele, uma parte da semente caiu junto do caminho, e vieram as aves do céu, e a comeram; E outra caiu sobre pedregais, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque não tinha terra profunda; Mas, saindo o sol queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou-se. E outra caiu entre espinhos e, crescendo os espinhos, a sufocaram e não deu fruto. E outra caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu; e um produziu trinta, outro sessenta, e outro cem (Marcos, 4.3-9).
E, quando se achou só, os que estavam junto dele com os doze interrogaram-no acerca da parábola. E ele disse-lhes: A vós vos é dado saber os mistérios do Reino de Deus, mas aos que estão de fora todas essas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam, para que se não convertam, e lhes sejam perdoados os pecados. E disse-lhes: Não percebeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas as parábolas? O que semeia, semeia a palavra; e os que estão junto ao caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; mas, tendo eles a ouvido, vem logo Satanás e tira a palavra que foi semeada no coração deles. E da mesma sorte os que recebem a semente sobre pedregais, que, ouvindo a palavra, logo com prazer a recebem; mas não têm raiz em si mesmos; antes, são temporãos; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam. E os outros são os que recebem a semente entre espinhos, os quais ouvem a palavra; mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas, e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera. E os que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, e a recebem, e dão fruto, um, a trinta, outro, a sessenta, e outro, a cem, por um (Marcos 4.10-20).
Já a Parábola da figueira que secou (Mc 11.12-14; 20-23) foi interpretada por Allan Kardec, em o O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 19, item 9.
E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. Vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isso. E eles, passando pela manhã, viram que a figueira se tinha secado desde as raízes. E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira que tu amaldiçoaste se secou. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Tende fé em Deus, porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. (Mc 11.12-20)
Allan Kardec interpreta esta parábola da seguinte forma:
A figueira que secou é o símbolo dos que apenas aparentam propensão para o bem, mas que, em realidade, nada de bom produzem; dos oradores que mais brilho tem do que solidez, cujas palavras trazem superficial verniz, de sorte que agradam aos ouvidos, sem que, entretanto, revelem, quando perscrutadas, algo de substancial para os corações. […] Simboliza também todos aqueles que, tendo meios de ser úteis, não o são; todas as utopias, todos os sistemas ocos, todas as doutrinas carentes de base sólida. O que as mais das vezes falta é a verdadeira fé, a fé produtiva, a fé que abala as fibras do coração, a fé, numa palavra, que transporta montanhas. São árvores cobertas de folhas, porém, baldas de frutos. Por isso é que Jesus as condena à esterilidade, porquanto dia virá em que se acharão secas até à raiz. (1)
O ensinamento evangélico sobre o lançamento da rede pelo lado direito do barco (Jo 21.6) é interpretado por Emmanuel no livro Caminho, verdade e vida.
E ele lhes disse: Lançai a rede à direita do barco e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes (João, 21.6).
Emmanuel interpreta, em linhas gerais este ensino, conforme as seguintes explicações contidas no seu livro Caminho, verdade e vida.
Figuradamente, o Espírito humano é um pescador dos valores evolutivos, na escola regeneradora da Terra. A posição de cada qual é o barco. Em cada novo dia, o homem se levanta com a sua rede de interesses. Estaremos lançando a nossa rede para a banda direita? Fundam-se os nossos pensamentos e atos sobre a verdadeira justiça? Convém consultara vida interior, em esforço diário, porque o Cristo, nesse ensinamento, recomendava, de modo geral, aos seus discípulos: Dedicai vossa atenção aos caminhos retos e achareis o necessário. (3)
ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Favorecer a participação efetiva do grupo durante a apresentação dos exemplos, desenvolvendo, assim, a capacidade de interpretar textos evangélicos. Exercitar a interpretação da mensagem cristã por meio de outros exemplos retirados do livro Caminho, verdade e vida, de autoria de Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, publicação da FEB.
Referências:
1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 19, item 9, p. 303.
2. XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Introdução, p. 15.
3. Idem - Capítulo 21 (Caminhos retos), p. 58.