Aos meus amigos da Terra
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1 Amigos, tolerai o meu assunto,
(Sempre vivi do sofrimento alheio)
Relevai, que as promessas de um defunto
São coisa inda invulgar no vosso meio.
2 Apesar do meu cérebro bestunto,
O elo que nos unia, conservei-o,
Como a quase saudade do presunto,
Que nutre um corpo empanturrado e feio.
3 Espero-vos aqui com as minhas festas,
Nas quais, porém, o vinho não explode,
Nem há cheiro de carnes ou cebolas.
4 Evitai as comidas indigestas,
Pois na hora do «salva-se quem pode»,
Muita gente nem fica de ceroulas…
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