O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Estamos no Além — Familiares diversos


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Violência e perdão

Enquanto a família Jorge, de Ribeirão Preto, SP, ultimava os preparativos para a festa da passagem de 1979 para 80, ninguém poderia esperar que, naquela noite de tanta alegria, o jovem José Eduardo partiria para o Além, vítima da agressão de assaltantes.

Ano Novo, nova vida…

Sim, três meses após o infausto acontecimento, ele regressou, através da psicografia de Chico Xavier, confortando e esclarecendo sua família, mostrando-se refeito da desencarnação inesperada e tranquilo em nova vida, a Vida Espiritual.

Ao ler sua mensagem, conclui-se facilmente que a tranquilidade manifesta é o reflexo perfeito do entendimento e aceitação das Leis Divinas, quando ele afirma: “Se passei pela provação que me retirou do corpo, isso é sinal de que a Providência Divina me concedeu a oportunidade de sanar meus débitos”; e consequente, também, da elevada compreensão ante a agressividade dos seus algozes, perdoando-os incondicionalmente, ao dizer:

“Deus há de amparar os irmãos que me impuseram a perda do corpo, tanto quanto vem amparando a nós todos.”

A seguir, a primeira carta de José Eduardo:


PRIMEIRA CARTA n


1 Querida mãezinha Lourdes, n reúno o seu coração querido com o papai Nagib, neste instante em que lhes dirijo esta carta ligeira.

2 Peço-lhes me auxiliarem a esquecer o que me aconteceu. Somos cristãos e pessoas de fé em Deus. 3 Se passei pela provação que me retirou do corpo, isso é sinal de que a Providência Divina me concedeu a oportunidade de sanar os meus débitos referentes ao caso em que me vi envolvido.

4 Quando deixei o Nagib n a me esperar, enquanto conduzia a jovem que me dissera estar em dificuldade para socorrer a mamãe, supostamente hospitalizada, longe estava de imaginar que eu não a conduzia, e sim era conduzido à prova e que, pela influência de irmãos infelizes, perdi o corpo no assalto que não desejo recordar.

5 Creia, mamãe, que eu estava pensando em Ano Novo e no bem que se deve fazer aos que lutam mais do que nós mesmos. Essas ideias foram, para mim, iguais a preces que me livraram do medo e da angústia.  6 Não senti qualquer dor. Sei apenas que despertei no colo da vovó Rosa, n que me falava em Jesus. 7 De começo, tive o impulso de me queixar. Ela, porém, me pedia recordar Jesus-Cristo. 8 O que teria feito Ele, Nosso Senhor, para ser assaltado publicamente, apedrejado e levado à cruz? Essas generosas recordações me fizeram lembrar os seus próprios ensinos, quando a senhora nos auxiliava a pronunciar, de joelhos, o nome de Deus. 9 Ao invés de amargura e revolta, compadeci-me dos irmãos que, certamente, eram tangidos pela necessidade de atacar seus semelhantes, e agradeci a Deus haver nascido numa casa em que a nossa mesa sempre foi farta e na qual o carinho dos pais queridos era transformado, constantemente, em utilidades e benefícios em nosso favor.

10 Pediria ao papai Nagib pensar desse modo, a fim de que a paz se faça com todos. Tenho os irmãos aguardando o futuro e não desejo que eles venham a recordar a minha ausência com qualquer selo de crueldade de nossa parte. 11 Deus há de amparar os irmãos que me impuseram a perda do corpo, tanto quanto vem amparando a nós todos. Roguemos, mamãe, ao Céu para que não haja crime no mundo em nome de necessidades que não deviam existir.

12 Graças a Deus estou tranquilo, e peço aos Mensageiros do Bem socorrerem aos companheiros que estavam fora de si mesmo, quando não conseguiram poupar-me a existência. Tudo obedece às Leis de Deus e as leis de Deus nos pedem amor e auxílio de uns para com os outros.

13 Queridos pais, abençoem-me e guardem, com os meus irmãos, o coração reconhecido do filho, que tanto lhes deve e nunca os esquecerá,


José Eduardo Jorge. n


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Psicografia de Francisco C. Xavier, em reunião pública do GEP, Uberaba, 5/4/1980.


2 — Mãezinha e papai — Maria de Lourdes Benetti Jorge e Nagib Jorge.


3 — Deixei o Nagib — Refere-se ao irmão Nagib Jorge Filho.


4 — Vovó Rosa — Rosa Zapparoli Benetti, avó materna, desencarnada na cidade de Brodósqui, SP, em 1934.


5 — José Eduardo Jorge — (Ribeirão Preto, 1957-1979) Sempre foi alegre e comunicativo. Dedicado estudante, havia sido aprovado na 3ª série da Faculdade de Engenharia de Barretos, SP.


SEGUNDA CARTA n


Estou satisfeito. A tristeza passaria a morar conosco, se fôssemos nós aqueles companheiros credores de nossas preces.

1 Querida mamãe, estou a reuni-la, com o papai em pensamento, para um abraço com o meu pedido de bênção.

2 Mãezinha Lourdes, o que restou da aventura do Ano Novo é a nossa consciência tranquila para com Deus. Estamos quites.  3 Se fui a vítima de irmãos infelizes, que me sitiaram a revólveres, e se a própria menina a quem cedi carona no carro, acreditando ofertar-lhe uma alegria de véspera de Ano Novo, me liquidou o corpo, após descer e reunir-se ao grupo dos irmãos que a esperavam, isso quer dizer que a minha dívida terá sido perante alguma irmã nossa, no passado, a respeito do qual ainda não tenho memória para vasculhar.

4 Estou satisfeito. A tristeza passaria a morar conosco, se fôssemos nós aqueles companheiros credores de nossas preces. A propósito, agradeço as suas orações em favor dos irmãos para quem, de meu lado, peço igualmente a proteção de Jesus. Estamos contentes.

5 Viemos — a vovó Azora, n a vovó Rosa e o tio Bocha n — numa caravana de paz, aprendendo com os nossos Benfeitores o que se deve fazer para que venhamos a fazer o bem e, por isso, não há motivo para lágrimas.

6 Peço dizer ao Nagib, à Heloísa Helena e ao Antônio Francisco n que não os esqueço, e que formulo votos pela felicidade e paz de todos.

7 Mãezinha Lourdes, informo à nossa querida Ivone n que o tio Crispim veio também conosco e deixa-lhe uma braçada muito grande de saudades.

8 Tudo segue bem, porque, com a bondade de Deus, queremos unicamente o bem.

9 Querida mãe Lourdes, com meu pai e com todos de casa, peço-lhe receber o coração reconhecido de seu filho, sempre mais seu diante de Deus,


José Eduardo Jorge


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


6 — Psicografia de Francisco C. Xavier, GEP, Uberaba, 24/10/1980.


7 — Vovó Azora — Azora Jorge, avó paterna, falecida há 19 anos.


8 — Tio Bocha — Miguel Jorge, tio paterno, falecido há 8 anos.


9 — Heloísa Helena e Antônio Francisco — Irmãos.


10 — Ivone — Ivone Benetti Tavares, tia materna, casada com João Crispim Tavares, falecido há mais de 10 anos.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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