1. Meu filho, desejaria que eu dirigisse uma palavra aos sofredores, fechando a segunda edição do nosso volume, dedicado às orfãzinhas.
2 Mas não posso dizer-lhes mais do que já lhes disse no conjunto de minhas páginas despretensiosas e humildes. Contei a todos os que sofrem, com palavras simples, as minhas impressões de Além-Túmulo, tentando dirigir-me, em particular, a todos os sofredores, para os quais o vento do infortúnio é mais frio.
3 Muitos Espíritos passaram, despreocupadamente, os olhos pelas páginas em que procurei gravar as emoções de minhalma, não obstante as dificuldades insuperáveis para me fazer compreendida; outros lamentaram a ausência de característicos científicos em meus comunicados, ansiosos de elementos de análise, para a satisfação do rigorismo das críticas minuciosas. 4 Estas cartas, todavia, não foram grafadas para as teorias científicas que florescem no século, à beira da estrada do Espiritismo Evangélico. Consagrando o meu respeito e a minha veneração aos estudos dos sábios terrenos, eu não saberia corresponder aos seus desejos de conhecimento superior, dentro da minha insignificância individual.
5 Escrevi-as, pensando nas mães sofredoras, cujo coração dilacerado não tem outra luz, no caminho escuro da Terra, que as esperanças e as súplicas postas no Céu; vejo-lhes, daqui, as amargas dificuldades e os acerbos desgostos e sinto-lhes, comovida, a tortura dos peitos aflitos, clamando pela misericórdia infinita de Jesus.
6 Grafei-as, ponderando as expectativas ansiosas dos homens desolados que as dores cercam e humilham, nos carreiros aspérrimos do dever e das obrigações mais penosas.
7 Sim! A falange onde me encontro para executar as mais santas determinações espirituais, sabe de muitas misérias ocultas e de muitas lágrimas desconhecidas… Nem sempre os grandes infortúnios se circunscrevem às casas públicas do sofrimento. Sob as sedas faustosas e sob o som de músicas festivas, buscamos cicatrizar muitas úlceras cancerosas e paralisar os soluços em muitos corações que se purificam na Terra.
9 Não desdenhamos as atividades preciosas dos Espíritos insatisfeitos que alargam atualmente os horizontes científicos do século, com o concurso do Além-Túmulo. Mas consideramos a expressão evangélica e moralizadora do Espiritismo como seu objetivo primordial.
10 A Europa, desde os fins do século passado, não se encontra repleta de fenômenos supranormais, servida pelas constituições medianímicas mais poderosas? Grandes mestres não têm oferecido ao continente inteiro o fruto de seus exames e de suas pesquisas, no caminho largo das ciências terrestres?
Entretanto, há muitos anos sucessivos, a confusão ali se estabeleceu nas almas, envenenando as fontes culturais do Velho Mundo.
11 Nos terríveis enganos políticos da Igreja Católica Romana, a Europa inteira se prepara, aguardando, inquieta, a guerra cruel dos extremismos.
12 Entre a ciência humana e a sabedoria espiritual existiu sempre considerável distância. A primeira é filha do labor inquieto e transitório dos homens. A segunda é filha das grandes e abençoadas revelações das almas. Na primeira, sobram as dúvidas amargosas e as hipóteses falíveis.
Na segunda, vibram as esperanças grandes e eternas do coração no iluminado ideal da vida superior.
13 Dentro das ciências terrestres prevaleceram, em todos os tempos, as descrenças inquietantes e angustiosas; os trabalhos dissolventes de crítica dos campos adversários objetivam sempre a destruição de patrimônios sagrados do ser. 14 Ainda agora, muitos jornalistas e estudiosos eminentes, falando, às vezes, de Crookes e Lombroso, procuram desmerecê-los, acusando-os, como possuídos de declínio de compreensão, no trato com os fenômenos espíritas. E, nesse movimento de acusações. perde-se um tempo precioso, a par de muitas energias que poderiam se empregar na construção do edifício da felicidade humana.
15 Fenômenos? O homem nunca encontrará outro maior que o da vida de Jesus, localizada na História. Mensagens elucidativas! Poderia haver alguma maior que a da palavra permanente do seu Evangelho?
16 É para vós, ó Espíritos sofredores da Terra, que o Espiritismo trouxe uma aleluia de esperanças e glorificações. Heróis obscuros e ignorados do mundo. Alguém sabe dos vossos sacrifícios, de vossas renúncias e dedicações que o planeta terreno não pode conhecer! 17 Chorai vossas lágrimas remissoras de olhos postos no Céu, onde se guardam todos os vossos prantos e onde são conhecidas todas as vossas preces e aspirações. 18 Aprendei nas experiências penosas da Terra a soletrar o abecedário do amor, da piedade e da resignação; porque se viveis a dolorosa angústia das almas infortunadas e incompreendidas no mundo, há no Céu quem vos estenda as suas mãos carinhosas e compassivas. 19 Trabalhai, sofrei e confiai na misericórdia divina, pois não foram pronunciadas para os Espíritos satisfeitos e felizes aquelas divinas palavras: — “Bem-aventurados os aflitos da Terra, pois que a eles pertencem as alegrias do Céu.”
Maria João de Deus