O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Cartas de uma morta — Maria João de Deus


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Nas regiões da luz

3-6-1936.

(Sumário)

Tema principal

1. Desejo prosseguir, nesta noite, meu filho, sobre as dissertações com respeito aos panoramas, em cujo seio se desenvolvem as nossas atividades espirituais. 2 Assim como as almas encarceradas na Terra, têm às vezes, quando se tornam dignas de semelhantes conhecimentos, visões perfeitas e transcendentes, com relação à vida real dos Planos da espiritualidade pura, assim, também alguns de nós, quando demonstramos resignação aos ditames do Alto e boa-vontade na execução da tarefa que nos é designada, conseguimos a companhia de amigos, cheios de sabedoria, que nos arrebatam temporariamente da Esfera a que pertencemos, conduzindo-nos à visão grandiosa de outras manifestações mais elevadas da vida superior, no seio dos espaços infinitos. Foi assim que consegui a viagem a Saturno, já descrita.

3 Apenas, dentro da incipiência de nossa evolução, ignorantes, na nossa condição de entidades que a existência da Terra perfeitamente caracteriza, contemplamos esses mundos grandiosos, cenários sublimes de exteriorizações aperfeiçoadas da vida, mas sem compreender os fenômenos do seu desdobramento nesses meios, para nós totalmente desconhecidos e ignorados.


Uma expedição de estudos


2. Ainda há pouco tempo, eu e mais dois companheiros, fomos escolhidos para uma expedição de estudos, especializados com respeito à luz e, sem que eu esperasse, um elevado mentor nos conduziu bondosamente a um Plano cuja beleza nunca suspeitei existir. 2 Quando nos afastamos da Esfera que nos serve de habitação nunca nos sentimos, de forma imediata, muito à nossa vontade. É o mesmo que acontece ao homem terreno quando arrebatado inopinadamente do seu meio.

3 Há, sempre, nos que se mudam, no tocante às condições ambienciais, uma sensação de estranheza. Felizmente, semelhantes emoções pouco nos dominam em razão de termos ampliado as nossas faculdades de ação, educando a vontade e disciplinando os sentimentos. 4 Como dizia, porém, atravessamos abismos de luz e hiatos dos espaços, cheios de frio e de treva, não obstante o nosso mentor e guia asseverar que o espaço nunca está vazio, havendo sempre em todos os seus recantos, manifestações de vida que nem sempre nos é dado conhecer. 5 Em certa altitude, contemplamos o orbe terreno que não era mais que uma “estrela” da imensidade, brilhando com uma luz avermelhada, refletindo a claridade do sol que por sua vez se nos afigurava uma lâmpada um tanto maior que as de uso comum, até que o centro radioso do nosso sistema e seus companheiros que rodopiam na imensidade, nas suas condições de planetas opacos, não eram mais que pirilampos perdidos ao longe, no silêncio aparente do infinito. Mas, o espetáculo ao nosso lado era sedutor e deslumbrante.


Três sóis de cores diversas


3. Penetramos numa atmosfera rosada, cheia de luz, mas de uma claridade doce que se irradiava espalhando sons dentro da mais harmoniosa das cadências que os meus ouvidos escutaram nas condições de minha nova vida. 2 Sobre as nossas frontes, contemplávamos então um sol magnífico, cor-de-rosa, quase enrubescido, dando ao ambiente, em que nos movíamos, as mais estranhas das colorações. Todavia, não ficou aí a novidade. 3 Daí a momentos percebemos que uma estrela esverdeada brilhava no infinito dos céus, misturando as suas claridades esmeraldinas com as tonalidades róseas que se estampavam em todas as coisas e, de repente, enquanto uma dessas estrelas se encontrava no zênite e a outra prestes a desaparecer nos horizontes desse planeta maravilhoso, um outro sol surgia, amarelado, cor das laranjas amadurecidas, tonalizando como um elemento novo as paisagens. 4 As mais ousadas concepções dos pintores terrenos ficariam aquém das sublimes realidades por nós observadas, referentes aos efeitos sublimes da luz, nesse sistema de encantamentos. 5 O elemento sólido do orbe que pisávamos, num dos mundos privilegiados que giram em torno desses três sois de cores diversas, era formado de substâncias que não me é possível descrever. Mas, lá, observei a existência de oceanos e florestas, jardins, minerais, animais e muitas outras coisas que equivalem aos objetos e manifestações da vida sobre a Terra.


Planos aperfeiçoados de luz


4. Vi os seres pensantes desse orbe maravilhoso, todavia, são muito superiores aos homens e cuidam somente de trabalhos elevados e de ordem divina, cuja vitalidade essencial não posso transladar para a linguagem terrena, tão imperfeita ainda para reproduzir aquilo que constitui algo de inacessível ao entendimento dos homens atuais. 2 Ali, estudamos, eu e os amigos que me acompanhavam, sob os esclarecimentos do amigo que nos ensinava, muitas novidades atinentes aos estudos da luz e das suas vibrações no seio do éter, base primordial de todas as construções e organizações da matéria, em todos os mundos. 3 Devo dizer-te, contudo, que os felizes habitantes desse mundo, alumiado pelos três sois e onde não se conhece as palavras noite, sombra ou escuridão, puderam ver-nos e entender-nos, mas nós não conseguimos penetrar nos seus problemas, nem na elevação e na superioridade de seus labores, devido ao nosso estado moral. 4 Apenas o nosso Mestre podia conversar com eles, mas devo acrescentar que pelo que pude observar são criaturas altamente dotadas de sensibilidade e aguçada inteligência. 5 Uma grande bondade se irradia dos seus pensamentos, porque sentimo-nos maravilhosamente bem dispostos, enquanto estivemos em contato direto com o seu ambiente. 6 As suas moradias são caracterizadas por uma arquitetura eminentemente interessante, quase todas as casas possuem torres como se fossem agulhas, tão elevadas que são e, ali, a luz tem aplicações que eu própria não consegui compreender, tal a transcendentalidade dos seus trabalhos, isto é, das atividades, onde são empregadas as suas vibrações. 7 Fiquei sabendo porém que a luz dos astros, em sua substância intrínseca, contém potencialidades profundas de natureza elétrica. Mesmo na Terra, chegarão os homens a compreender, futuramente, essas coisas quando souberem dissecar e entender o espectro solar. 8 Mas já é tarde. Tenho outros afazeres e voltarei mais tarde. Deus te abençoe e conceda a cada um a sua santa paz.


Maria João de Deus


Texto extraído da 2ª edição desse livro - 1937. Revista e aumentada pelo autor.

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