O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Cartas de uma morta — Maria João de Deus


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Belezas de Saturno — A vertiginosa excursão

(Sumário)

Tema principal

1. Um dos planetas, cuja constituição mais me impressionava, quando me entretinha, raramente, com essas questões na Terra, era Saturno, imaginando como seriam prodigiosos os fenômenos da luz em sua superfície, em virtude de seu anel e satélites numerosos.

2 Revelando essas preocupações ao Espírito benévolo, que prosseguia dispensando-me carinhosa proteção, concedeu-me o seu valioso auxílio para que eu pudesse excursionar àquele orbe distante.

3 Bastou que fixássemos em nossa mente semelhante desejo para que me visse, ao lado de meu boníssimo companheiro, envolvido em uma atmosfera diferente da que me era habitual nas adjacências da Terra.


O sol azulado de Saturno


2. Vi-me, então, numa superfície profundamente diversificada, parecendo-me pisar um amontoado de massas mais ou menos análogas ao gelo, sentindo-me envolvida numa temperatura singular.

2 Avistei, muito distante, como um novelo de luz, levemente azulada, o sol; todavia, só pude saber que se tratava desse astro porque mo disse o meu esclarecido mentor e devotado guia, tal era a diferença que eu constatava: 3 a luz se espalhava por todas as coisas ; porém, o seu calor era menor, dando-me uma impressão de frescura e amenidade, arrancando do cenário majestoso, que eu presenciava, tonalidades de um rosa pálido e de um azul indefinível.

4 Vi então umas habitações de estilo gracioso, onde predominavam grandes colunatas artisticamente dispostas, decoradas com uma substância, para mim desconhecida, que mudava de cor, em lindíssimas nuanças, aos reflexos da luz solar.


Um mundo sem clorofila


3. Uma vegetação estranha coalhava o solo branco, às vezes brilhante; a clorofila, porém, que se conhece no planeta terráqueo, devia estar substituída por outro elemento, porque todas as folhagens e ramarias eram azuladas; todavia, os espécimes de flores, que eu tinha sob as vistas, eram de coloridos variegados, apresentando as mais singulares tonalidades quando refletiam a luz circunstante; flores extraordinárias pela sua originalidade e perfume ornamentavam todo o ambiente.


Os monstros feios e graciosos


4. Contemplando o espaço, vi, muito acima de nós, grandes massas multicores, que tomei por nuvens diversificadas, e, ao mesmo tempo, notei que seres estranhos evolucionavam nos ares, em grácios movimentos, apesar de me parecerem monstruosos. 2 Nada tinham de comum com os tipos da humanidade terrena, afigurando-se-me extraordinariamente feios com a sua organização animalesca, com suas membranas à guisa de asas, tão estranhas para mim, as quais lhes facultavam o poder de volitar à vontade.


O dia de dez horas


5. Ante a minha atitude de assombro, explicou-me o guia solicitamente:
— Vês, filha, estamos na superfície de Saturno, onde o dia se compõe de dez horas e onde as estações duram mais de sete anos consecutivos, segundo a contagem do tempo no planeta que deixaste; 2 aqui, a situação climatérica é eminentemente benéfica, em razão do equilíbrio da obliquidade da eclíptica, propiciando aos habitantes deste orbe venturoso elementos de duradoura saúde.


Novos aspectos da luz


6. O sol, aqui, apresenta novos aspectos, porquanto sua luz, em combinação com os elementos atmosféricos, caracteriza-se por composições que desconheces; e essa claridade terna e suave, que te provoca admiração, é conservada em suas vibrações pelos numerosos satélites que a refletem, multiplicando os raios luminosos e caloríficos.


Sem vícios, sem maus costumes e sem guerras


7. Espanta-te a contemplação dos seres que o povoam? É que te achas fora dos ambientes rotineiros, faltando-te a analogia para saberes comparar as coisas .

2 Essas criaturas, que te parecem animais egressos das plagas terrestres onde os zoófitos encontram os seus elementos de vida, são altamente dotadas de sabedoria, sensibilidade e inteligência. 3 Seus sentidos e percepções são muito superiores àqueles com que foram aquinhoados os homens terrenos e a preocupação máxima da sua existência é a intensificação do poder intelectual.

4 Souberam dominar todos os elementos da natureza e aplicar sabiamente as suas leis; com suas adaptações e continuados estudos fizeram deste mundo uma das regiões privilegiadas do universo, onde as almas desejosas de perfeição e beleza estacionam, preparando-se para um glorioso porvir.

5 Não vivem, como na Terra, uma existência saturada de vícios e de maus costumes; não se nutrem sacrificando vidas, mas conforme a natureza, aproveitando-se daquilo que ela lhes proporciona espontânea e naturalmente, alimentando-se com frugalidade.

6 Seus problemas comezinhos foram simplificados ao extremo e, desconhecendo a ambição que, na Terra, avassala os corações, criaram uma organização politica segundo a sua elevada evolução espiritual, regulando com a mais absoluta equidade todas as questões econômicas, o que lhes outorga uma invejável situação de equilíbrio indene da ação nefasta das guerras.


Mediunidade generalizada


8. Aqui ainda existe o colégio sacratíssimo da família, que se reúne sob os imperativos das afinidades naturais.

2 Chegados a uma certa idade, os saturninos ouvem os Espíritos, seus irmãos das outras Esferas do sistema, existindo entre eles a mais poderosa mediunidade generalizada. 3 Conhecem todas as combinações fluídicas requeridas ao seu bem estar, e a eletricidade, a mecânica, não têm para eles segredos; sabem utilizar-lhes as forças com plena consciência das suas possibilidades. 4 Estão ao par do que ocorre nos outros mundos e qualquer um dos habitantes de Saturno pode calcular com precisão matemática, de um momento para outro, a posição dos satélites dos outros planetas, respondendo com acerto qualquer arguição nesse sentido. 5 Conhecem a história e os fenômenos dos globos cometários que lhes são familiares, e sabem medir a paralaxe das estrelas mais próximas, conservando uma vasta ciência das coisas do céu.


A ciência unida à fé


9. Entre eles, a justiça e a verdade não são um mito e, há muito, a ciência está reunida à fé; 2 não amontoam as riquezas, que resplendem no solo em que pisam, onde se conservam matérias preciosíssimas, as quais somente são retiradas para ornamentação de seus lares ou dos templos da sabedoria, onde se verificam prodigiosas manifestações da onipotência divina.

3 A simplificação de sua existência, por meio das aplicações do seu extraordinário engenho e de suas nobilíssimas concepções acerca das finalidades da vida, minorou-lhes as fadigas e os trabalhos, que aqui não precisam ser tão intensos. 4 Podem-se dedicar com mais devoção ao que concerne à espiritualidade, conservando-se muito acima da ciência terrena nos problemas referentes à medicina; as moléstias incuráveis não são entre eles conhecidas e sagradas instituições recebem os que se avizinham da transição que denominais morte, na Terra. 5 Para eles a morte não existe, porque estão cientes de tudo o que ocorre ao Espírito liberto.

6 Não são, contudo, seres perfeitos como talvez presumas; são ainda falíveis, mas o que te procuro demonstrar é a sua incontestável superioridade sobre o orbe que abandonaste.


Assembleias aéreas


10. Vendo as grandes nuvens multicores, que esvoaçam no firmamento, expressei minha admiração, explicando-me o meu companheiro zeloso:
— Não são nuvens o que contemplas. São aparelhos gigantescos onde os saturninos se reúnem para estudos maravilhosos. Em cada um deles se agrupa uma assembleia de Espíritos sedentos de sabedoria. 2 A música, a poesia, todas as artes lhes merecem especial carinho, porquanto um único objetivo os irmana num mesmo ideal — a grandeza intelectual.


Saturno, dos mares rosados…


11. Nesse instante, reparei que o dia se findava no hemisfério em que nos achávamos, desaparecendo o globo azulado e longínquo do sol nos horizontes desse mundo prodigioso; seu brilho esmaecia e, quando um reflexo cerúleo se observava em todas as coisas , um cenário esplendoroso e inenarrável descerrou-se ao meu olhar atônito. 2 Nas imensidades do Éter infinito acendeu-se um lampadário maravilhoso; afigurava-se-me que uma aureola de chamas lindamente coloridas coroava esse orbe encantado, em meio das suas luas fulgurantes, que me pareciam vitórias-régias, resplandecendo num mar de claridades suavíssimas.

3 Locomovemo-nos em determinada direção e qual não foi o meu espanto em deparando com uma grande massa de substância fluida, um pouco semelhante à água levemente rosada, elucidando-me o meu prezado mentor tratar-se dos mares saturninos, apreciando eu as fontes encantadas e os lagos róseos como se fossem encravados em geleiras alvíssimas.

4 Observei então um quadro indescritível; bem no cume de um monte, que parecia de neve, um palácio de colunas preciosas emergia de uma alcatifa de flores.

5 Resplandeciam os anéis luminosos no firmamento e grande multidão ali se reunia em atitude de recolhimento e prece.

6 Vi então elevar-se aos céus constelados uma onda de luminosidade feérica e, da amplidão azul, onde evolucionavam os lindos satélites desse orbe de sabedoria e ventura, um jorro de sol desceu sobre aqueles seres silenciosos e recolhidos.
Era a correspondência visível entre dois Planos…

7 Nesse instante, porém, meu desvelado mentor me arrancou do êxtase em que me achava.
Saí então daquela atmosfera densa, n mas cheia de encantamentos e de maravilhas, trazendo eternamente comigo a visão celeste daquele orbe de harmonia e beleza que se afigurou, ao meu Espírito acanhado e imperfeito, como prodigiosa estância de perfeições do universo.


Maria João



[1] “Saí então daquela atmosfera densa”: Densa para o peso específico da matéria característica da natureza desse mundo, muito diferente da densidade da matéria característica da natureza terrestre. Quando esse orbe é observado por nós, não vemos nada do que foi descrito pela mãe do Chico, porque também não vemos os Espíritos quer nos rodeiam.

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de Deus


Texto extraído da 2ª edição desse livro - 1937. Revista e aumentada pelo autor.
Há uma imagem da 1ª edição - 1935.

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