19 Houve um certo homem levita, que habitava um lado do monte de Efraim, o qual se tinha casado com uma mulher de Belém de Judá.
2 Esta o deixou, e tornou para Belém para casa de seu pai, e ficou morando com ele quatro meses.
3 E seu marido a foi buscar, querendo reconciliar-se com ela, acariciá-la, e torná-la a levar consigo, trazendo para isto um criado e dois jumentos; a mulher o acolheu, e o introduziu em casa de seu pai. O seu sogro, quando soube isto e o viu, saiu a recebê-lo alegre,
4 E o abraçou. E o genro se deteve três dias em casa do sogro, comendo e bebendo com ele familiarmente.
5 Ao quarto dia porém levantando-se o levita antes de amanhecer, quis partir. O sogro o deteve, e lhe disse: Come primeiro um bocado de pão, e conforta o estômago, e depois partirás.
6 E assentaram-se ambos juntos, e comeram e beberam. Depois disse o pai da moça a seu genro: Peço-te que te deixes ficar aqui ainda hoje, e nos divirtamos de companhia.
7 Mas ele levantando-se, se pôs em ação de querer partir. E todavia o sogro com as suas instâncias o deteve, e fez ficar consigo.
8 Ao outro dia pela manhã preparava-se o levita para partir. E o sogro lhe tornou a dizer: Peço-te que comas primeiro um bocado, e cobrando forças, até que seja mais dia, depois partirás. Comeram pois juntamente.
9 E o mancebo se levantou para partir com sua mulher e com o criado. Mas o sogro lhe disse outra vez: Olha que o dia está mui perto do ocaso, e que chega a noite; fica comigo ainda hoje, e leva em alegria o dia, e amanhã partirás para ires para tua casa.
10 Não quis o genro estar por estes rogos; mas partiu logo, e chegou à vista de Jebus, que por outro nome se chamava Jerusalém, levando consigo dois jumentos carregados, e a sua mulher.
11 E já estavam perto de Jebus, e o dia se mudava em noite; e disse o criado a seu amo: Tomemos, te peço, o caminho da cidade dos Jebuseus, e fiquemos nela.
12 O amo lhe respondeu: Eu não entrarei numa cidade de gente estrangeira, que não é dos filhos de Israel, mas passarei até Gabáa;
13 E depois que lá chegarmos, descansaremos nela, ou ao menos na cidade de Rama.
14 Deixaram pois a Jebus, e continuando o seu caminho, se lhes pôs o sol ao pé de Gabáa, que é da tribo de Benjamim.
15 E entraram nela, para ali pousarem. E entrados que foram, se assentaram na praça da cidade, e não houve sequer um que os quisesse hospedar.
16 E eis que apareceu um homem velho, que voltava do campo e do seu trabalho ao anoitecer, o qual também era do monte de Efraim, e habitava como forasteiro em Gabáa. Porque os homens desta região eram filhos de Jemini.
17 E levantando os olhos, viu o velho ao levita assentado na praça da cidade com a sua pequena bagagem; e lhe disse: De onde vens tu? e para onde vais?
18 O qual lhe respondeu: Nós partimos de Belém de Judá, e vamos para nossa casa, que é ao lado do monte de Efraim, de onde tínhamos ido a Belém; e agora vamos a casa de Deus, e ninguém nos quer hospedar na sua morada,
19 Tendo nós palha e feno para sustento dos jumentos, e pão e vinho para mim e para esta tua serva, e para o criado, que está comigo; de nenhuma coisa necessitamos mais que de pousada.
20 O velho lhe respondeu: A paz seja contigo, eu te darei tudo o que for necessário; rogo-te somente que não fiques na praça.
21 E assim os introduziu em sua casa, e deu de comer aos jumentos; e depois que lavaram os seus pés, os fez assentar à mesa.
22 Ceando eles, e refazendo os seus corpos da fadiga do caminho com a comida e bebida, chegaram uns homens daquela cidade, filhos de Belial (isto é, sem jugo), e cercando a casa do velho, começaram a bater à porta, gritando ao dono da casa, e dizendo: Deita cá para fora esse homem, que entrou para tua casa, para abusarmos dele.
23 E o velho saiu fora a ter com eles, e disse: Não queirais, irmãos, não queirais cometer semelhante maldade; porque eu hospedei este homem em minha casa, e deixai-vos desta loucura.
24 Eu tenho uma filha donzela, e este homem tem sua mulher; eu vo-las tirarei cá para fora, para vos servirdes delas, e satisfazerdes o vosso apetite; somente vos peço, que não obreis com o homem tal maldade contra a natureza.
25 Não queriam os homens estar pelo que ele lhes dizia: o que vendo o levita, lhes trouxe sua mulher e a entregou aos seus ultrajes; e depois de terem abusado dela toda a noite a largaram ao amanhecer.
26 Mas a mulher, tanto que amanheceu, veio à porta da casa, onde estava seu senhor, e caiu ali.
27 Quando já era dia, levantou-se o marido, e abriu a porta para continuar o seu caminho; e eis que sua mulher estava estirada no limiar da porta com as mãos estendidas.
28 Cuidando ele que ela estava dormindo, disse-lhe: Levanta-te, e vamo-nos. Não respondendo ela nada, conhecendo que estava morta, pegou nela, e pô-la sobre o jumento, e voltou para sua casa.
29 Tanto que aí chegou, tomou um cutelo, e, dividindo o cadáver de sua mulher com os seus ossos em doze partes, pedaço a pedaço, os enviou a todos os limites de Israel.
30 E quando tal viram, exclamaram: Nunca tal coisa se viu em Israel, desde o dia que nossos pais saíram do Egito até hoje; dizei o que sentis, e resolvei de comum acordo o que se deve fazer neste caso.
Há imagens desse capítulo, visualizadas através do Google - Pesquisa de livros, nas seguintes bíblias: Padre Antonio Pereira de Figueiredo edição de 1828 | Padre João Ferreira A. d’Almeida, edição de 1850 | A bíblia em francês de Isaac-Louis Le Maistre de Sacy, da qual se serviu Allan Kardec na Codificação. Veja também: Hebrew - English Bible — JPS 1917 Edition; La Bible bilingue Hébreu - Français — “Bible du Rabbinat”, selon le texte original de 1899; Parallel Hebrew Old Testament by John Hurt.