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Sábado


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Sábado, [descanso.]  † 


O dia divinamente instituído de descanso, ordenado para todos os homens. Deus tendo completado o trabalho da criação em seis dias cessou o trabalho criativo no sétimo dia, e santificou o sétimo dia, consagrando-o; porque nele descansou de todo o trabalho que tinha feito de maneira criativa (Gen. 2. 1-3). A próxima referência para uma divisão de tempo em períodos de sete dias acontece na história do dilúvio, quando o Noé foi prevenido da iminência da tempestade uma semana antes de arrebentar a tormenta, e outra vez quando ele enviou os pássaros a intervalos de sete dias para por eles descobrir os níveis da água (Gen. 7. 4; 8. 10, 12). Mas não é somente aí, que há menção expressa da semana, mas também em toda cronologia do dilúvio, quando interpretada de acordo com seus próprios princípios, desde que a divisão hebdomadária de tempo já existia nessa época remota. Os acontecimentos são medidos por intervalos de semana tanto na narrativa hebreia como na história assíria. E mais, aí repete-se a evidência de que o sétimo dia foi considerado como uma estação de benevolência divina para o homem. De acordo com ambas histórias, e calculando o dia quando o dilúvio começou, o poder divino que causou a tempestade foi contido no término de uma sexta feira, e o primeiro dia que amanheceu luminoso e belo era um sétimo dia; dia no qual os ocupantes da arca tiveram permissão para desembarcar; e quando ofereceram sacrifícios de ação de graças, era igualmente um sétimo dia. Uma olhada na cronologia nos mostrará que muito provavelmente Noé despachou os pássaros no sétimo dia porque era um dia de favor divino. Dos dias de Noé até o êxodo não há nenhuma menção expressa nos registros hebreus de uma santificação do sétimo dia para o descanso no trabalho e por adoração religiosa; não há nenhuma razão por que deveria haver, desde que não havia nenhum acontecimento especial para enfatizar esse dia. E provavelmente naquela época o sábado era um pouco menos nitidamente destacado dos outros dias da semana, até mesmo entre o povo de Deus, que era mais atrasado; os pastores nômades tinham certos trabalhos que deviam ser executados, e os israelitas no Egito não eram donos de si, não podendo descansar no sétimo dia; mas quando a nação foi organizada no Sinai adotou um modo de vida diferente, o povo era capaz de moldar suas próprias leis, eles formavam uma comunidade independente, levavam vida de acampamento no deserto que depois resolveram trocar por uma vida de agricultores e comerciantes, resultando em que um descanso natural no sábado fazia agora maior diferença que tinha feito antes. Havia ainda, tanto na literatura hebreia como na babilônica relativamente ao período anterior ao êxodo, referências incidentais a um período de sete dias (Gen. 29. 27, 28);  isto deve ser entendido indubitavelmente no sentido em que nós usamos o termo semana, para calcular sete dias de qualquer data que nos agrade.  De qualquer modo, o tempo era frequentemente medido por períodos de sete dias; várias causas sem dúvida contribuíram para torná-lo costume geral, entre outras as fases da lua. Mas sobretudo, e além da conveniência de uma subdivisão lunar do mês lunar, havia a concepção, localizável na narrativa do dilúvio, de que o sétimo dia era um dia de descanso divino em favor do homem.


É discutível se o nome sábado foi usado para a ocorrência periódica do sétimo dia na Assíria e Babilônia. Um dia de propiciação aos deuses era chamado por um nome que pode ser pronunciado shabattu, sábado. Mas outras pronunciações são igualmente possíveis, e permitem um sentido que satisfaz a descrição dada ao dia. Não há nenhuma evidência que era um dia particular da semana nem um dia em que o trabalho foi suspenso. As tábuas copiadas no reinado de Assurbanipal, aproximadamente 650 A. C., afirmavam que o sétimo, o décimo quarto, o décimo nono, o vigésimo primeiro, e o vigésimo oitavo dias de cada mês eram considerados infaustos para certos atos específicos. Deve-se observar que estes dias desafortunados não estão ligados com as fases da lua; porque o décimo nono dia não faz quarto em meses de trinta dias, como eram esses em questão, só ocasionalmente ocorre quarto no sétimo dia. O dia do azar não só estava ligado ao número sete que periodicamente ocorria no sétimo dia infortunado, mas também no décimo nono, isso é no quadragésimo nono dia, ou seja, sete vezes sete dias calculado do primeiro dia do mês precedente. Esta repetição dos sétimos dias não eram dias de descanso nacional quando as tábuas estavam em vigência; só alguns atos específicos eram perigosos nesses dias. Os negócios e as labutas prosseguiam como de costume. O máximo que pode no momento ser reivindicado é que, se estas tábuas testificam mesmo o sábado, elas testemunham uma degradação da concepção mais nobre de uma idade anterior. Elas não eternizam o pensamento que foi revelado até mesmo na narrativa assíria do dilúvio; e tão pouco alcançam o padrão do quarto mandamento como promulgado séculos antes em Israel no Sinai, familiar em toda sua altura aos israelitas do tempo de Jeremias, que era um contemporâneo mais jovem de Assurbanipal. Nestas tábuas, assim como entre os hebreus, não era a lua que determinava o sábado; porque entre os hebreus não era só o sétimo dia que era sagrado, mas o dia que começa e que consagra o sétimo mês, e o sétimo ano inteiro, e a conclusão dos sete anos sétimo. E estas estações eram todas associadas à ideia de descanso, de adoração, de liberdade, de boa vontade para com o homem, e de favor divino. A primeira ocorrência do nome sábado nos registros hebreus está em Ex. 16. 23. Os israelitas não tinham alcançado o monte Sinai, e nem os dez mandamentos havia sido anunciado de seu cume, mas no deserto de Sim, quando o maná começou a ser dado uma quantia dupla caiu no sexto dia; e Moisés disse:  “Isto é o que o Senhor ordenou: Amanhã é o descanso do sábado consagrado ao Senhor. Fazei pois o que tendes que fazer, e cozei o que tendes que cozer, e tudo o que sobejar, guardai-o para amanhã”. Nenhum maná caiu no dia seguinte, e Moisés disse com respeito ao que tinha sido mantido: “Comei-o hoje, porque o sábado é do Senhor; nem hoje se achará no campo. Colhei-o nos seis dias, mas o dia sétimo é o sábado do Senhor; por isso não se achará nenhum” (23-26; cp.5).


Logo depois o mandamento que exigia a observância do sábado foi promulgado por Jeová no Sinai com outras nove leis, e depois escrito pelo dedo de Deus em tábuas de pedra (Ex. 31. 18; Deut. 9. 10 [veja Escrita direta]). Com as leis que lhe acompanhavam, tornou-se dever perpétuo. Começa, “Lembra-te de santificar o dia de sábado,” a palavra lembra-te foi apropriadamente usada, desde que o povo até então não o fazia, e pela primeira vez estavam aprendendo que o sábado sagrado existia. Ao repetir as leis quarenta anos mais tarde em Sitim, Moisés relembrou o fato que o Senhor seu Deus tinha mandado observar esse dia; e então, em vez de declarar a razão para a ordenação do sábado, ele disse que a libertação do seu povo por Jeová da servidão ou trabalho no Egito era a razão por que Israel especialmente tinha a obrigação de manter o dia de descanso instituído por Deus (Deut. 5. 15). O Sábado sagrado era para ser mantido por uma santa convocação para a adoração do Senhor (Lev. 23. 3; cp. Ez. 46. 3), e deveria ser uma exibição do sinal que Deus era seu santificador (Ex. 31. 13). A doutrina era clara, o dia foi ordenado por Deus; foi estabelecido como um dia de descanso físico e refrigério para o homem; e a obrigação de mantê-lo veio do próprio exemplo divino, associando-o a uma bênção, e com ordem explícita, e que a redenção do seu povo coloca-os na obrigação especial de pôr o dia à parte; que será observado pelo povo de Deus como um sábado consagrado a ele, inclusive com uma assembleia santa para adoração. Era um lembrete da complacência divina na contemplação do seu trabalho findo, e da redenção do seu povo da servidão egípcia por Jeová. No tabernáculo e no templo a preeminência da adoração no sábado sobre os outros dias da semana, era demonstrado pela oferta nele de dois cordeiros, enquanto um era sacrificado num dia costumeiro da semana (Num. 28. 9, 19). Os doze pães da proposição também deviam ser apresentados nesse dia (Lev. 24. 5-8; 1 Cron. 9. 32). A lei impunha que nenhum fogo era permitido ser aceso por um israelita em sua habitação no dia de sábado; e quem trabalhasse nesse dia era posto à morte; um que reunia lenha no deserto no sábado foi aliás apedrejado até a morte (Ex. 35. 3; Num. 15. 32-36). Isaías (Is. 56. 2-6; 58. 13) e Jeremias (Jr 17. 21-27) aconselharam enfaticamente observar o dia. Um salmo ou canção foi composto para o sábado no qual é expressa a delícia na adoração a Jeová, com o pensamento voltado aos trabalhos de Deus na criação (Salmo 92).


Ezequiel queixa-se que os sábados foram em grande parte profanados ou maculados (Ez. 20. 12, 24; 22. 8, 26; 23. 38). No tempo de Neemias, os comerciantes, especialmente os de Tiro, traziam mercadorias continuamente a Jerusalém para venderem no dia sagrado, até que Neemias proibiu peremptoriamente que a prática continuasse, e tomou medidas fortes contra aqueles que tentassem negligenciar suas ordens (Ne. 10. 31; 13. 15-22). No início da guerra da independência sob a família Macabeu, os judeus eram de opinião que eles não tinham nenhum direito de se defender no sábado se fossem atacados por um inimigo. A campanha portanto começou com a matança de 1000 compatriotas judeus e suas famílias,  que não opuseram resistência. Os sobreviventes resolveram de futuro defender-se se fossem atacados diretamente no dia sagrado, mas não tomar parte em operações ofensivas (1 Mac. 2. 31-41). Até então eles estavam em desvantagem com o gentios, que não eram submetidos a tal restrição; estes últimos faziam o sítio e outras operações no sábado, sabendo que não seriam molestados, mas se abstinham de atacar diretamente os judeus. Pompeu levantou suas trincheiras e montou seus arietes contra Jerusalém no sábado sem qualquer interferência dos habitantes, mas atrasou o esforço para quebrar os muros até que o dia sagrado terminasse (Antig. 14. 4, 2 e 3). No tempo de nosso Senhor os fariseus aplicavam a lei aos atos mais triviais, e proibiam muitos trabalhos necessários e clementes. Denunciaram a Jesus porque curou pessoas doentes no sábado, enquanto que se um boi, ou um asno, ou uma ovelha caíssem num fosso nesse dia, eles não consideravam absolutamente ilegal tirá-lo sem demora. Eles também levavam seus animais aos bebedouros assim como nos dias ordinários da semana (Mat. 12. 9-13; Luc. 13. 10-17). Não era tão somente às curas no sábado que faziam objeção. Quando os discípulos de Jesus, famintos, passavam pelas lavouras de grãos no sábado, e arrancavam algumas espigas, esfregando-as em suas mãos afim de come-las, os fariseus denunciavam este ato como se estivessem em essência colhendo, debulhando e moendo. Nosso Senhor deu-lhes uma notável resposta: “O sábado foi feito para homem, e não homem para o sábado; de modo que o Filho do homem é Senhor mesmo do sábado” (Mc. 2. 23-28). O sábado foi instituído para benefício da humanidade, sua obrigação perdura desde que o homem tem as mesmas necessidades na criação, o Filho do homem não é escravo do sábado, mas seu senhor.


O dia de adoração na sinagoga era o sétimo dia da semana, sábado (Mat. 12. 9, 10; Atos 13. 14). A igreja cristã apostólica desde o início mantinha assembleias para adoração no primeiro dia da semana, que era o dia em que o Cristo venceu a morte para nossa justificação (Atos 2. 1, provavelmente; 20. 7). O apóstolo Paulo orientou aos cristãos da Galácia e de Corinto fazerem suas contribuições semanais para a caridade da igreja nesse dia  (1 Cor. 16. 1, 2). Ele foi designado o dia do Senhor (Apoc. 1. 10); veja Dia do Senhor. Este dia, como o antigo compromisso do sétimo dia, separa um dia inteiro em sete dias para ser um Dia do Senhor. É igualmente um lembrete da redenção do Senhor ao seu povo. É acompanhado pela mesma evidência de favor divino na forma de bênçãos físicas e espirituais.


O Sábado sagrado da terra era um ano no qual a terra de Canaã tinha um descanso solene. Convergia uma vez a cada sete anos. Nele a terra não era semeada ou colhida, nem o vinhedo podado, nem suas frutas recolhidas. A produção espontânea do campo e do pomar era franqueada a todos. No ano sabático também o credor devia liberar o devedor hebreu de sua obrigação e o escravo hebreu era liberto (Ex. 23. 10, 11; Lev. 25. 3-7; Deut. 15. 1-18; Ne. 10. 31). Na conclusão de sete dos tais anos sabáticos, isso é, no fim de quarenta e nove anos, a trombeta era soprada para proclamar a liberdade por toda a terra, e o ano do jubileu dava início (Lev. 25. 8-10). Notificações históricas seguras da observância do ano de licença sabático são observadas no tempo do Neemias (Ne. 10. 31), o 150º ano da era Selêucida ou 164-163 A. C. (1 Mac. 6. 49, 53; cp. Antig. 12. 9, 5), o ano 178º Selêucida ou 136-135 A. C. (Antig. 13. 8, 1; Guerras 1. 2, 4); o decreto emitido por César isentando os judeus do tributo durante o ano sabático (Antig. 14. 10, 6; cp. Tácito, Hist. v. 4), o ano 38-37 A. C. (Antig. 14. 16, 2; 15. 1, 2), e o ano anterior à queda de Jerusalém, A. C. 68-69 (Talmude). Veja também Antig. 11. 8, 5. Se os Israelitas desobedecessem as leis de Deus, eles seriam levados em cativeiro, a terra ficaria desolada, repousará ela, e descansará nos sábados da sua soledade; pois que não repousou nos vossos anos sabáticos, quando moráveis nela (Lev. 26. 34-43). Jeremias profetizou que o povo seria punido por sua idolatria pela desolação de sua terra com o cativeiro na Babilônia por setenta anos (Jer. 25. 7-11). O cronista também relaciona o cativeiro com a desobediência do povo e a profanação do templo; e acrescenta que foram servos dos babilônios por setenta anos, como Jeremias tinha predito que eles deveriam ser, até que a terra houvesse desfrutado seus anos sabáticos; porque durante o tempo da sua desolação ela esteve num sábado continuado, por três contagens e dez anos (2 Cron. 36. 14, 16, 20, 21). Não deve ser inferido destas palavras que o povo havia ignorado o ano sabático exatamente setenta vezes, nem que os anos sabáticos negligenciados eram contínuos; e não é declarado que o ano sabático foi negligenciado. Sem dúvida às vezes havia sido negligenciado, pois as pessoas desobedientes e idólatras tão pouco obedeceriam um mandato quando a obediência aparentemente envolvesse perda pecuniária.


Evidentemente qualquer período de tempo que o descanso era mantido como num sábado podia ser chamado de sábado.  Não só o eram o sétimo dia e os sétimos sábados do ano, mas também o dia da expiação no décimo dia do mês sétimo (Lev. 23. 32).


A jornada de um dia de sábado era de extensão adequadamente limitada, era estimada pelos escribas para o dia de sábado. A expressão ocorre em Atos 1. 12, onde ficou declarado ser a distância entre o monte das Oliveiras e Jerusalém, ou de Jerusalém a algum lugar na montanha donde Betânia era visível (Lucas 24. 50). Se a medida é feita do portão oriental de Jerusalém (o método Judeu de cálculo) ao local da igreja da Ascensão, ao longo do cume do monte das Oliveiras, como o voo do corvo, serão aproximadamente 2250 pés ingleses; mas na viagem real será consideravelmente mais. De acordo com Josefo, o monte estava distante 6 ou 7 estádios da cidade (Antig. 20. 8, 6; Guerras 5. 2, 3). O regulamento da jornada do dia de sábado originou-se na proibição de deixar o acampamento no sábado (Ex. 16. 29). Foi calculado em 2000 côvados, na interpretação parcialmente errônea de Num. 35. 5, de acordo com o qual o distrito que pertence a uma cidade Levítica se estende por 2000 côvados do muro em qualquer lado; essa crença deriva-se em parte de Js. 3. 4, onde o acampamento dos israelitas ficava a 2000 côvados do tabernáculo, o qual naturalmente eles poderiam ir no sábado. Um homem poderia viajar no sábado dentro da cidade em que residia até onde seus limites permitiam, a cidade nunca era tão grande. — (Dicionário da Bíblia de John D. Davis©


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