O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

Índice | Página inicial | Continuar

ESDE — Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita — Programa Complementar

Módulo III — O Fenômeno da Intercomunicação Mediúnica

Roteiro 1


O fenômeno mediúnico através dos tempos


Objetivo Geral: Dar condições de entendimento do fenômeno mediúnico sob a ótica espírita.

Objetivos Específicos: Indicar as principais características da manifestação do fenômeno mediúnico, ao longo do tempo. — Apresentar uma visão histórica representativa da expansão do fenômeno mediúnico.



CONTEÚDO BÁSICO


  • As características da manifestação do fenômeno mediúnico nem sempre foram as mesmas, de um modo geral alteraram-se ao longo do tempo, acompanhando o progresso do Espírito Encarnado. A respeito dos primórdios da prática mediúnica, esclarece o Espírito André Luiz que a […] intuição foi […] o sistema inicial de intercâmbio, facilitando a comunhão das criaturas, mesmo a distância, para transfundi-las no trabalho sutil da telementação, nesse ou naquele domínio do sentimento e da ideia, por intermédio de remoinhos mensuráveis de força mental […]. André Luiz: Evolução em Dois Mundos. Capítulo XVII, item: Mediunidade Inicial.

  • As primeiras manifestações mediúnicas apresentam-se sob a forma do animismo tribal, com a personalização das forças da natureza. Mais tarde, fundem-se a experiência e a imaginação do ser humano, dando nascimento à mitologia popular. Em seguida, aparece a primeira expressão religiosa antropomórfica da humanidade: o culto dos ancestrais. Herculano Pires: O Espírito e o Tempo. 1ª Parte. Capítulo II, item Racionalização Anímica.

  • Rompendo a fase do mediunismo primitivo, seguem-se os períodos do mediunismo oracular e do mediunismo bíblico. A culminância do fenômeno mediúnico, porém, só é atingida com a Doutrina Espírita. Herculano Pires: O Espírito e o Tempo. 1ª Parte. Capítulo I, item Mediunismo e Espiritismo.

  • Os anais de todas as nações mostram que, desde épocas remotíssimas da História, a evocação dos Espíritos era praticada por certos homens que tinham feito disso uma especialidade. Gabriel Delanne. O Fenômeno Espírita. Parte Primeira. Capítulo I.

  • É visível a expansão do fenômeno mediúnico entre os principais povos em todas as épocas da humanidade. Da antiga Índia aos tempos atuais, o fenômeno mediúnico intensifica-se e populariza, o que propiciou, no século XIX, o advento da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec.




SUGESTÕES DIDÁTICAS


Introdução:

  • Apresentar, no início da reunião, um cartaz com as palavras: “Fenômeno mediúnico através do tempo.”

  • Fazer uma apresentação geral do tema, por meio da técnica expositiva, tendo como base o item 1 dos Subsídios.


Desenvolvimento:

  • Em seguida, pedir aos participantes que formem um grande círculo, preparando-se para a técnica de discussão circular, do item 2 dos Subsídios.

  • Orientar o grupo no sentido de que, cada um deverá ler um parágrafo em voz alta, sendo acompanhado por todos.

  • Após a leitura de cada parágrafo, promover um debate, incentivando os participantes a relatarem os pontos mais significativos.

  • Prosseguir com a técnica até o final do roteiro.


Conclusão:

  • Fazer o fechamento, destacando os principais pontos do assunto estudado, dirimindo possíveis dúvidas.


Avaliação:

  • O estudo será considerado satisfatório se, os participantes demonstrarem interesse e entendimento sobre o tema.


Técnica(s):

  • Exposição; discussão circular.


Recurso(s):

  • Cartaz ou transparências; Subsídios deste roteiro.



 

SUBSÍDIOS


1. Principais características da manifestação do fenômeno mediúnico ao longo do tempo

Consoante os esclarecimentos do Espírito André Luiz, articulando, […] ao redor de si mesma, as radiações das sinergias funcionais das agregações celulares do campo físico ou do psicossomático [perispirítico], a alma encarnada ou desencarnada está envolvida na própria aura ou túnica de forças eletromagnéticas, em cuja tessitura circulam as irradiações que lhe são peculiares. Evidenciam-se essas irradiações, de maneira condensada, até um ponto determinado de saturação, contendo as essências e imagens que lhe configuram os desejos no mundo íntimo, em processo espontâneo de autoexteriorização, ponto esse do qual a sua onda mental se alonga adiante, atuando sobre todos os que com ela se afinem e recolhendo naturalmente a atuação de todos os que se lhe revelem simpáticos. (33) (Edm)

Desse modo, pode-se dizer que a aura é […] a nossa plataforma onipresente em toda comunicação com as rotas alheias, antecâmara do Espírito, em todas as nossas atividades de intercâmbio com a vida que nos rodeia, através da qual somos vistos e examinados pelas Inteligências Superiores, sentidos e reconhecidos pelos nossos afins, e temidos e hostilizados ou amados e auxiliados pelos irmãos que caminham em posição inferior à nossa. Isso porque exteriorizamos, de maneira invariável, o reflexo de nós mesmos, nos contactos de pensamento a pensamento, sem necessidade das palavras para as simpatias ou repulsões fundamentais. É por essa couraça, […] espécie de carapaça fluídica, em que cada consciência constrói o seu ninho ideal, que começaram todos os serviços da mediunidade na Terra, considerando-se a mediunidade como atributo do homem encarnado para corresponder se com os homens liberados do corpo físico. Essa obra de permuta, no entanto, foi iniciada no mundo sem qualquer direção consciente, porque, pela natural apresentação da própria aura, os homens melhores atraíram para si os Espíritos humanos melhorados, cujo coração generoso se voltava, compadecido, para a esfera terrena, auxiliando os companheiros da retaguarda, e os homens rebeldes à Lei Divina aliciaram a companhia de entidades da mesma classe, transformando-se em pontos de contacto entre o bem e o mal ou entre a Luz e a Sombra que se digladiam na própria Terra.

Pelas ondas de pensamento a se enovelarem umas sobre as outras, segundo a combinação de frequência e trajeto, natureza e objetivo, encontraram-se as mentes semelhantes entre si, formando núcleos de progresso em que homens nobres assimilaram as correntes mentais dos Espíritos Superiores, para gerar trabalho edificante e educativo, ou originando processos vários de simbiose em que almas estacionárias se enquistaram mutuamente, desafiando debalde os imperativos da evolução e estabelecendo obsessões lamentáveis, a se elas tecerem sempre novas, nas teias do crime ou na etiologia complexa das enfermidades mentais. A intuição foi, por esse motivo, o sistema inicial de intercâmbio, facilitando a comunhão das criaturas, mesmo a distância, para transfundi-las no trabalho sutil da telementação, nesse ou naquele domínio do sentimento e da ideia, por intermédio de remoinhos mensuráveis de força mental, assim como na atualidade o remoinho eletrônico infunde em aparelhos especiais a voz ou a figura de pessoas ausentes, em comunicação recíproca na radiotelefonia e na televisão. (28)

Essas considerações, em torno da aura e da intuição, trazem uma explicação científica para a revelação histórica de que as […] crenças na imortalidade da alma e nas comunicações entre os vivos [encarnados] e os mortos [desencarnados] eram gerais entre os povos da antiguidade. (5) Tais crenças, portanto, tiveram origem no exercício natural e empírico da mediunidade (mediunismo primitivo) (24) — no qual a intuição, como foi visto, constituiu o sistema inicial de intercâmbio.

As primeiras manifestações mediúnicas apresentam-se sob a forma do animismo tribal, com a personalização das forças da natureza. É o que se denomina fetichismo. Os fetiches básicos do homem primitivo eram a Terra-Mãe e o Céu-Pai. (25) O fenômeno mediúnico é, desse modo, conhecido […] desde as primeiras idades do mundo […]. (2) Desse fato originou-se a crença na pluralidade dos deuses, uma vez que […] chamando deus a tudo o que era sobre-humano, os homens tinham por deuses os Espíritos. (2)

Com o desenvolvimento mental do ser humano, fundem-se a experiência e a imaginação, dando nascimento à mitologia popular, com as suas divindades repletas de magia (os deuses do Olimpo grego, por exemplo). Em seguida, e ainda nessa fase primitiva das manifestações mediúnicas, aparece a primeira expressão religiosa antropomórfica da humanidade: o culto dos ancestrais (manes, deuses-lares, deuses locais). (26) Na verdade, os povos antigos transformaram os Espíritos em […] divindades especiais. As Musas [deusas mitológicas] não eram senão a personificação alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes, como os deuses Lares e Penates simbolizavam os Espíritos protetores da família. (1)

Rompendo a fase do mediunismo primitivo, seguem-se os períodos do mediunismo oracular e do mediunismo bíblico. (25) Os oráculos predominam no início do processo civilizatório. Deles partem orientações diversas que abrangem as relações sociais, políticas e religiosas dos grandes povos da antiguidade. (26) No mediunismo bíblico, entretanto, o fenômeno mediúnico adquire nova dimensão, afastando-se do politeísmo até então reinante, para representar a manifestação do Deus Universal e Supremo. (27)

O fenômeno mediúnico continua a sua trajetória evolutiva e só atinge a culminância com a Doutrina Espírita, que define a mediunidade como condição natural do ser humano e a enfoca sob os aspectos racional e científico. (25)


2. Visão histórica representativa da expansão do fenômeno mediúnico entre os principais povos

Os anais de todas as nações mostram que, desde épocas remotíssimas da História, a evocação dos Espíritos era praticada por certos homens que tinham feito disso uma especialidade. O mais antigo código religioso que se conhece, os Vedas, aparecido [na Índia] milhares de anos antes de Jesus-Cristo, afirma a existência dos Espíritos. Eis como o grande legislador Manu se exprime a respeito: “Os Espíritos dos antepassados, no estado invisível, acompanham certos brâmanes [sacerdotes que oficiavam o sacrifício do Veda] convidados para as cerimônias em comemoração dos mortos, sob uma forma aérea; seguem-nos e tomam lugar ao seu lado quando eles se assentam” (6) Assim é que desde […] tempos imemoriais, os padres iniciados nos mistérios [doutrina secreta] preparam indivíduos chamados faquires para a evocação dos Espíritos e para a obtenção dos mais notáveis fenômenos do magnetismo. (7) Também desde a mais remota antiguidade […] o povo da China entrega-se à evocação dos Espíritos dos Avoengos. O missionário Huc refere grande número de experiências, cujo fim era a comunicação dos vivos com os mortos […]. Com o tempo e em consequência das guerras que forçaram parte da população hindu a emigrar, o segredo das evocações espalhou-se em toda a Ásia, encontrando-se ainda entre os egípcios e entre os hebreus a tradição que veio da Índia. (8)

Com efeito, todos […] os historiadores estão de acordo em atribuir aos padres do antigo Egito poderes que pareciam sobrenaturais e misteriosos. Os magos dos faraós realizavam estes prodígios que são referidos na Bíblia; mas, deixando de parte o que pode haver de legendário nessas narrações, é bem certo que eles evocavam os mortos, pois Moisés, seu discípulo, proibiu formalmente que os hebreus se entregassem a essas práticas: “Que entre nós ninguém use de sortilégio e de encantamentos, nem interrogue os mortos para saber a verdade.” A despeito dessa proibição, vemos Saul ir consultar a pitonisa de Endor e, por seu intermédio, comunicar se com a sombra de Samuel. […] Apesar da proibição de Moisés, houve sempre investigadores que foram tentados por essas evocações misteriosas; instituíam uma doutrina secreta a que chamavam Cabala, mas cercando-se de precauções e fazendo o adepto jurar inviolável segredo para o vulgo. “Qualquer pessoa que — diz o Talmud [livro que contém a doutrina da lei moisaica] — , sendo instruída nesse segredo (a evocação dos mortos), o guarda com vigilância em um coração puro pode contar com o amor de Deus e o favor dos homens; seu nome inspira respeito, sua ciência não teme o olvido, e torna-se ele herdeiro de dois mundos: aquele em que vivemos agora e o mundo futuro”. (9)

Ainda com respeito ao povo hebreu, deve-se ressaltar que o […] profetismo em Israel, durante vinte consecutivos séculos, é um dos fenômenos transcendentais mais notáveis da História. […] A verdade é que os profetas israelitas são médiuns inspirados […]. (14) A origem do profetismo em Israel é assinalada por imponente manifestação. Um dia, Moisés escolhe 70 anciães e os coloca ao redor do tabernáculo. Jeová revela sua presença em uma nuvem, imediatamente as poderosas faculdades de Moisés se transmitem aos outros e “eles profetizaram”. (15)

Na Grécia, a crença nas evocações era geral. Todos os templos possuíam mulheres chamadas pitonisas encarregadas de proferir oráculos, evocando os deuses [Espíritos]; mas, às vezes, o consultante queria, ele próprio, ver e falar à sombra desejada, e, como na Judeia, conseguia-se pô-lo em comunicação com o ser ao qual desejava interrogar. (10) Por outro lado, discípulos […] de Sócrates referem-se, com admiração e respeito, ao amigo invisível que o acompanhava constantemente. (31)

Na Itália sucede o mesmo que na Índia, no Egito e entre os hebreus. O privilégio de evocar os Espíritos, primitivamente reservado aos membros da classe sacerdotal, espalhou-se pouco a pouco entre o povo e, se crermos em Tertuliano, o Espiritismo era exercido entre os antigos pelos mesmos meios que, hoje, entre nós. (9) Aliás, Tertuliano trata, em termos explícitos, das mesas girantes e falantes. (3)

“Se é dado — diz ele — aos magos fazer aparecer fantasmas, evocar as almas dos mortos, poder forçar a boca das crianças a proferir oráculos; se eles realizam grande número de milagres, se explicam sonhos, se têm às suas ordens Espíritos mensageiros e demônios, em virtude dos quais as mesas que profetizam são um fato vulgar, com que redobrado zelo esses Espíritos poderosos não se esforçarão por fazer em próprio proveito o que eles fazem em serviço de outrem?” Em apoio das afirmações de Tertuliano, pode-se citar uma passagem de Amiano Marcelino sobre Patrício e Hilário, levados perante o tribunal romano por crime de magia, acusação esta de que eles se defenderam referindo “que tinham fabricado, com pedaços de loureiro, uma mesinha (mensulam) sobre a qual colocaram uma bacia circular feita de vários metais, tendo um alfabeto gravado nas bordas. Em seguida, um homem vestido de linho, depois de ter recitado uma fórmula e feito uma evocação ao deus da profecia, tinha suspendido por cima da bacia um anel preso a um fio de linho muito fino e consagrado por meios misteriosos. O anel, saltando sucessivamente, mas sem confusão, sobre várias letras gravadas, e parando sobre cada uma, formava versos perfeitamente regulares, em resposta às questões propostas”. (10)

Em Roma, no templo de Minerva, Pausânias, ali condenado a morrer de fome, passou a viver, em Espírito, monoideizado na revolta em que se alucinava, aparecendo e desaparecendo aos olhos de circunstantes assombrados, durante largo tempo. Sabe-se que Nero, nos últimos dias de seu reinado, viu-se fora do corpo carnal, junto de Agripina e de Otávia, sua genitora e sua esposa, ambas assassinadas por sua ordem, a lhe pressagiarem a queda no abismo. Os Espíritos vingativos em torno de Calígula eram tantos que, depois de lhe enterrarem os restos nos jardins de Lâmia, eram ali vistos, frequentemente, até que se lhe exumaram os despojos para a incineração. (30)

Na Gália, o processo de intercâmbio com o plano espiritual era intenso. A comemoração dos mortos é de iniciativa gaulesa. No dia primeiro de novembro celebrava-se a festa dos Espíritos, não nos cemitérios — os gauleses não honravam os cadáveres — , mas sim em cada habitação, onde os bardos [poetas] e os videntes evocavam as almas dos defuntos. No entender deles, os bosques e as charnecas eram povoados por Espíritos errantes. Os Duz e os Korrigans eram almas em procura de novas encarnações. (11)

Todavia, onde a mediunidade atinge culminâncias é justamente no Cristianismo nascituro. Toda a passagem do Mestre inesquecível, entre os homens, é um cântico de luz e amor, externando-lhe a condição de Medianeiro da Sabedoria Divina. E, continuando-lhe o ministério, os apóstolos que se lhe mantiveram leais converteram-se em médiuns notáveis, no dia de Pentecostes, quando, associadas as suas forças, por se acharem “todos reunidos”, os emissários espirituais do Senhor, através deles, produziram fenômenos físicos em grande cópia, como sinais luminosos e vozes diretas, inclusive fatos de psicofonia e xenoglossia, em que os ensinamentos do Evangelho foram ditados em várias línguas, simultaneamente, para os israelitas de procedências diversas. Desde então, os eventos mediúnicos para eles se tornaram habituais. Espíritos materializados libertavam-nos da prisão injusta. O magnetismo curativo era vastamente praticado pelo olhar e pela imposição das mãos. Espíritos sofredores eram retirados de pobres obsessos, aos quais vampirizavam. Um homem objetivo e teimoso, quanto Saulo de Tarso, desenvolve a clarividência, de um momento para outro, vê o próprio Cristo, às portas de Damasco, e lhe recolhe as instruções. E porque Saulo, embora corajoso, experimente enorme abalo moral, Jesus, condoído, procura Ananias, médium clarividente na aludida cidade, e pede-lhe socorro para o companheiro que encetava a tarefa. Não somente na casa dos apóstolos em Jerusalém mensageiros espirituais prestam contínua assistência aos semeadores do Evangelho; igualmente no lar dos cristãos, em Antioquia, a mediunidade opera serviços valiosos e incessantes, Dentre os médiuns aí reunidos, um deles, de nome Ágabo, incorpora um Espírito benfeitor que realiza importante premonição. E nessa mesma igreja, vários instrumentos medianímicos aglutinados favorecem a produção da voz direta, consignando expressiva incumbência a Paulo e Barnabé. (31)

Os fatos mediúnicos continuam a produzir-se no decorrer dos tempos. A Igreja Católica, mais do que qualquer outra, tinha necessidade de combater essas práticas, para si detestáveis, e, portanto, durante a Idade Média, milhares de vítimas foram queimadas sem piedade, sob o nome de feiticeiros e mágicos, por terem evocados os Espíritos. (10)

Nada obstante, nessa mesma época, destacam-se […] duas grandes figuras históricas: Cristóvão Colombo, o descobridor de um novo mundo […], e Joana d’Arc, que obedece às suas vozes. Em sua aventurosa missão, Colombo era guiado por um gênio invisível. Tratavam-no de um visionário. Nas horas das maiores dificuldades, ele escutava uma voz desconhecida murmurar-lhe ao ouvido: “Deus quer que teu nome ressoe gloriosamente através do mundo; ser-te-ão dadas as chaves de todos esses portos desconhecidos do oceano que se conservam atualmente fechados por formidáveis cadeias”. A vida de Joana d’Arc está na memória de todos. Sabe-se que, em todos os lugares, seres invisíveis inspiravam e dirigiam a heroica virgem de Domrémy. Todos os êxitos de sua gloriosa epopeia são previamente anunciados. Surgem aparições diante dela; vozes celestes ciciam-lhe ao ouvido. Nela, a inspiração flui como o borbotar de uma torrente impetuosa. Em meio dos combates, nos conselhos, como diante de seus juízes, por toda parte, essa criança de 18 anos comanda ou responde com segurança, consciente do sublime papel que desempenha, jamais variando na fé nem nas palavras, inquebrantável mesmo diante das súplicas, mesmo em face da morte […]. (16)

Além desses dois exemplos, resplandece a figura de Francisco de Assis, exalçando a mediunidade […] em luminosos acontecimentos […] (32). A esses nomes gloriosos temos o direito de acrescentar os dos grandes poetas. Depois da música é a poesia um dos focos mais puros da inspiração; provoca o êxtase intelectual, que permite entrar em comunicação com as esferas superiores. […] Todos os grandes poetas heroicos principiam seus cantos por uma invocação aos deuses ou à musa; e os Espíritos inspiradores atendem à deprecação. Murmuram ao ouvido do poeta mil coisas sublimes, mil coisas que só ele entende, entre os filhos dos homens. (17)

Aliás, pode-se dizer que os […] homens de gênio, de todas as espécies, artistas, sábios, literatos, são sem dúvida Espíritos adiantados, capazes de compreender por si mesmos e de conceber grandes coisas. Ora, precisamente porque os julgam capazes, é que os Espíritos, quando querem executar certos trabalhos, lhe sugerem as ideias necessárias e assim é que eles, as mais das vezes, são médiuns sem o saberem. Têm, no entanto, vaga intuição de uma assistência estranha, visto que todo aquele que apela para a inspiração, mais não faz do que uma evocação. Se não esperasse ser atendido, por que exclamaria, tão frequentemente: meu bom gênio, vem em meu auxílio? (4)

Assim é que, por exemplo, Dante Alighieri […] é um médium incomparável. Sua “Divina Comédia” é uma peregrinação através dos mundos invisíveis. […] É pelos olhos da sua Beatriz, morta, que Alighieri vê “o esplendor da viva luz eterna”, que iluminou toda a sua vida. Em meio daquela sombria Idade Média, sua vida e sua obra resplandecem como os cimos alpestres quando se coloram dos últimos clarões do dia e já o resto da terra está mergulhada na sombra. (18) Desse modo, a mediunidade, que refulgia entre os primeiros cristãos, não se oculta; ao contrário, continua a produzir fenômenos grandiosos. Citaremos, mais adiante, outros exemplos não só de poetas-médiuns como também de músicos inspirados.

Prossegue a expansão do fenômeno mediúnico quando vemos, já na Idade Moderna, […] Lutero transitando entre visões; Teresa d’Ávila em admiráveis desdobramentos; José de Copertino levitando ante a espantada observação do papa Urbano VIII […]. (33)

Tasso compõe aos 18 anos seu poema cavalheiresco “Renaud”, sob a inspiração de Ariosto, e mais tarde, em 1575, sua obra capital, a “Jerusalém Libertada”, vasta epopeia, que afirma haver-lhe sido igualmente inspirada. Shakespeare, Milton […] foram também inspirados. (18) As obras principais de Shakespeare, dentre as quais Hamlet e Macbeth, […] contêm cenas célebres em que se movem aparições. Os espectros do pai de Hamlet e de Banquo, presos ao mundo material pelo jugo do passado, se tornam visíveis e impelem os vivos ao crime. Milton fazia sua filhas tocarem harpa antes de compor seus cantos do “Paraíso Perdido”, porque, dizia ele, a harmonia atrai os gênios inspiradores. […] Goethe se abeberou amplamente nas fontes do invisível. […] O “Fausto” é uma obra mediúnica e simbólica de primeira ordem. […]. (19)

O famoso músico Mozart é também um grande médium inspirado. Numa […] de suas cartas a um amigo íntimo, nos inicia nos mistérios da inspiração musical. “Dizes que desejarias saber qual o meu modo de compor e que método sigo. Não te posso verdadeiramente dizer a esse respeito senão o que se segue, porque eu mesmo nada sei e não mo posso explicar. Quando estou em boas disposições e inteiramente só, durante o meu passeio, os pensamentos musicais me vêm com abundância. Ignoro donde procedem esses pensamentos e como me chegam; nisso não tem a minha vontade a menor intervenção.” No declínio de sua vida, quando já sobre ele se estendia a sombra da morte, em um momento de calma, de perfeita serenidade, ele chamou um de seus amigos que se achavam no quarto: “Escuta — disse ele — estou ouvindo música.” O amigo lhe respondeu: “Não ouço nada.” Mozart, porém, tomado de arroubo, continua a perceber as harmonias celestes. E seu pálido semblante se ilumina. (13) Finalmente, dentre os grandes médiuns dessa época, destaca-se a significativa presença do sueco Emmanuel Swedenborg, um dos mais importantes precursores do Espiritismo.

No período que abrange o fim da Idade Moderna e início da Idade Contemporânea, emerge, com todo o vigor, a figura inolvidável de Beethoven. Este músico famoso, […] referindo-se à fonte de que lhe provinha a concepção de suas obras-primas, dizia […]: “Sinto-me obrigado a deixar transbordar de todos os lados as ondas de harmonia provenientes do foco da inspiração. Procuro acompanhá-las e delas me apodero apaixonadamente; de novo me escapam e desaparecem entre a multidão de distrações que me cercam. Daí a pouco, torno a apreender com ardor a inspiração; arrebatado, vou multiplicando todas as modulações, e venho por fim a me apropriar do primeiro pensamento musical.” (12)

Ainda na fase inicial da Idade Contemporânea, pode-se citar Honoré de Balzac. Este grande escritor francês, em várias de suas obras, tocou em todos os problemas da vida invisível, do ocultismo e do magnetismo. Todas essas questões lhe eram familiares. Tratava-se com a competência do verdadeiro mestre, numa época em que ainda eram pouquíssimos conhecidas. Era não somente um profundo observador, mas também um vidente na mais elevada acepção do termo. (20) O célebre músico Chopin, por sua vez, […] tinha visões que, à vezes, o aterravam. Suas mais belas composições — sua “Marcha Fúnebre”, seus “Noturnos” — foram escritas em completa obscuridade. (21 )

Em meados do século dezenove — em plena Idade Contemporânea — acontece uma popularização inesperada dos fenômenos mediúnicos, os quais se expandem rapidamente por todo o mundo. Essa expansão é tão marcante que levou o famoso escritor inglês Arthur Conan Doyle a afirmar que os fenômenos em questão possuíam todas as características de uma invasão organizada. (22) Essa fase de popularização do fenômeno mediúnico propiciou o advento da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec. Dentre os fatos que antecederam imediatamente a Codificação, os mais significativos foram, sem dúvida, os ocorridos em Hydesville, nos Estados Unidos, e os denominados mesas girantes, que se propagaram especialmente pela Europa. (Veja o roteiro I do módulo II do Programa Fundamental).

Finalmente, pode-se dizer que, após o advento da Doutrina Espírita, o fenômeno mediúnico continua a expandir-se. Médiuns notáveis têm possibilitado o intercâmbio entre os dois planos da vida. Apenas a título exemplificativo citaremos: Eusapia Paladino, na Itália; Florence Cook e Sra. D’Espérance, na Inglaterra; Sra. Piper, nos Estados Unidos; Amália Domigo Y Soler, na Espanha, e os excelentes médiuns brasileiros Ana Prado, Zilda Gama, Yvone Pereira e, especialmente, Francisco Cândido Xavier.



 

ANEXO


Súplica de Filho

(Luís Roberto)



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Questão 521, p. 266.

2. Idem - Questão 668, p. 323.

3. Idem - O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 74. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Segunda parte. Capítulo II, item 60, p. 83.

4. Id. - Capítulo XV, item 183, p. 225.

5. DELANNE, Gabriel. O Fenômeno Espírita. Tradução de Francisco Raymundo Ewerton Quadros. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Parte primeira. Capítulo I, p. 17.

6. Idem, ibidem - p. 17-18.

7. Idem, ibidem - p. 18.

8. Idem, ibidem - p. 19.

9. Idem, ibidem - p. 19-20.

10. Idem, ibidem - p. 20-21.

11. DENIS, Leon. Depois da Morte. Tradução de João Lourenço de Souza. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo VI, (A Gália), p. 63.

12. Idem - No Invisível. Tradução de Leopoldo Cirne. 23. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo XIV, (Visão e Audição Psíquicas no Estado de Vigília), p. 173.

13. Idem, ibidem - p. 173-174.

14. Id. - Capítulo XXVI, (A Mediunidade Gloriosa), p. 386.

15. Idem, ibidem - p. 387.

16. Idem, ibidem - p. 396-397.

17. Idem, ibidem - p. 397.

18. Idem, ibidem - p. 398.

19. Idem, ibidem - p. 398-399.

20. Idem, ibidem - p. 403.

21. Idem, ibidem - p. 407.

22. DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. Tradução de Júlio Abreu Filho. São Paulo: Editora Pensamento Ltda., 1992/1995. Capítulo I, p. 33.

23. PIRES, J. Herculano. O Espírito e o Tempo. 7. ed. Sobradinho, DF: EDICEL, 1995. 1ª parte. Capítulo I, p. 16.

24. Idem, ibidem - p. 16-17.

25. [Obs. As referências bibliográficas deste roteiro terminam com o número 24; os indicadores com número superior, não puderam ser relacionados, com exceção do abaixo citado (28) que pode ser recuperado]


28. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos. Pelo Espírito André Luiz. 23. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Primeira parte, Capítulo 17 (Mediunidade inicial)


Abrir