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EPM — Estudo e Prática da Mediunidade

PROGRAMA II — MÓDULO DE ESTUDO Nº V
FUNDAMENTAÇÃO ESPÍRITA — ATENDIMENTO AOS ESPÍRITOS COMUNICANTES

Roteiro 4


Esclarecimento aos Espíritos que sofrem (2)


Objetivo específico: Esclarecer a respeito do atendimento aos Espíritos que sofrem e se comunicam na reunião mediúnica.



SUBSÍDIOS


Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz bem, é de Deus; mas quem faz mal, não tem visto a Deus. João (3 João, 11)


A prática mediúnica demonstra que a gradação do sofrimento humano está inserida numa escala que se perde de vista, difícil de ser quantificada, mas facilmente identificada pelas diferentes manifestações mediúnicas. Atender Espíritos que sofrem, à luz dos preceitos evangélicos e espíritas, é tarefa de todos os participantes da reunião mediúnica. A figura do dialogador se destaca, porém, por ser ele o encarregado de emitir a palavra fraterna, em nome do grupo.


Nesta hora, o doutrinador será o polo centralizador desse conjunto de emoções positivas, estabelecendo uma corrente magnética que envolve o comunicante e que ajuda, concomitantemente, ao que esclarece. Este, recebendo ainda o influxo amoroso do Mentor da reunião, terá condições de dirigir a conversação para o rumo mais acertado e que atinja o cerne da problemática que o Espírito apresenta. (5)


Os Espíritos que, quando encarnados, tiveram uma vida desregrada ou de vícios, passam por terríveis sofrimentos após a desencarnação. «A sensação dos vermes e da decomposição do corpo não é privativa dos suicidas: sobrevém igualmente aos que viveram mais da matéria do que do espírito.» (1)

Neste Roteiro, destacaremos alguns pontos considerados importantes no atendimento aos sofredores, em geral. No próximo Roteiro, analisaremos as condições de auxílio que devem ser direcionadas aos Espíritos que revelem graves sofrimentos espirituais.


1. ATENDIMENTO A ESPÍRITOS SOFREDORES EM GERAL


Os Espíritos que sofrem apresentam «[…] as deficiências e angústias de que são portadores, exigindo a conjugação de bondade e segurança, humildade e vigilância do companheiro que lhes dirige a palavra.» (6)


Natural venhamos a compreender no visitante dessa qualidade um doente, para quem cada frase precisa ser medicamento e bálsamo. Claro que não será possível concordar com todas as exigências que formule; no entanto, não é justo reclamar-lhe entendimento normal de que se acha talvez longe de possuir. Entendamos cada Espírito sofredor qual se fosse um familiar extremamente querido, e acertaremos porta intima, através da qual lhe falaremos ao coração. (7)


Há Espírito que só se revela sensível ao diálogo quando o doutrinador identifica a que sexo pertença e passa a tratá-lo como homem ou mulher. Isto acontece porque ainda se encontra preso às sensações da última experiência reencarnatória, de forma que o sexo e as características do corpo físico que teve ainda exercem notável influência em seu psiquismo e em suas emoções.

É fato comprovado que os sofredores sentem necessidade intrínseca de desabafar, por trazerem mágoas e decepções no âmago do ser. A regra é, pois, ouvi-los com gentileza e atenção. Esse desabafo configura uma espécie de catarse, que produz grande alívio. É importante considerar, porém, que o desabafo só deve ser permitido «[…] desde que a integridade dos médiuns e a dignidade do recinto sejam respeitadas, considerando, porém, que as manifestações devem obedecer às disciplinas de tempo.» (8)

Há outro ponto que merece ser considerado pelos doutrinadores: «[…] o esclarecimento aos desencarnados sofredores é semelhante à psicoterapia e que a reunião é tratamento em grupo, cabendo-lhes, quando e quanto possível, a aplicação dos métodos evangélicos.» (9)

É comum os Espíritos revelarem sensações e necessidades, próprias de quem ainda possui um corpo físico: fome, frio, sono, dores, sintomas de doenças etc. O doutrinador não deve ignorar ou negar essas informações, afirmando que elas não existem, que se trata de uma ilusão. Demonstra falta de tato quem assim age. Os médiuns psicofônicos lhes captam as angústias e as suas carências, somatizando-as momentaneamente. Os videntes visualizam as suas vestimentas e as possíveis alterações perispirituais. A respeito, aconselha o amigo espiritual, José Xavier:


No trato com os nossos irmãos desequilibrados, é preciso afinar a nossa boa vontade à condição em que se encontram, para falar-lhes com o proveito devido. Vocês não desconhecem que cada criatura humana vive com as ideias a que se afeiçoa. Quantos no mundo se julgam triunfantes na viciação ou no crime, quando não passam de viajores em declive para a queda espetacular! E quantos companheiros, aparentemente vencidos, são candidatos à verdadeira vitória!…Mesmo entre vocês, não é difícil observar mendigos esfarrapados que, por dentro, se acreditam fidalgos, e pessoas bem-nascidas, conservando a humildade real no coração, entre o amor ao próximo e a submissão a Deus!… Aqui, na esfera em que a experiência terrestre continua a mesma, os problemas dessa ordem apenas se alongam. Temos milhares de irmãos escravizados à recordação do que foram no passado, mas, ignorando a transição da morte, vivem por muito tempo estagnados em tremenda ilusão!… […] Sentem-se vivos, tão vivos, como na época em que se embebedaram de mentira, fascinação e poder. O tempo e a vida correm para diante, por fora deles, por dentro, imobilizaram a própria alma na fixação mental de imagens e interesses, que não mais existem senão no mundo estreito desses infelizes irmãos. Querem apreço, consideração, apoio, carinho… Não pedimos a vocês estimular-lhes a fantasia, contudo, lembramos a necessidade de nossa tolerância, para que lhes possamos contornar, com êxito, as complicações e labirintos, doando-lhes, ao mesmo tempo, ideias novas com que empreendam a própria recuperação. (10)


Os trabalhadores da mediunidade devem ficar atentos a certos Espíritos mentirosos e levianos que se manifestam nas reuniões. Semeiam a discórdia e a desunião entre os participantes da reunião. São hábeis manipuladores de ideias e de sentimentos. São «Espíritos enganadores, hipócritas, orgulhosos e pseudo-sábios, que passaram da Terra para a erraticidade e tomam nomes venerados para, sob a máscara de que se cobrem, facilitarem a aceitação das mais singulares e absurdas ideias.» (2) Esses Espíritos são mais frequentes às reuniões mediúnicas do que se imagina.

Os Espíritos Superiores nos aconselham: «Estudai comparai aprofundai. Incessantemente vos dizemos que o conhecimento da verdade só a esse preço se obtém. Como quereríeis chegar à verdade, quando tudo interpretais segundo as vossa acanhadas ideias? […]» (4) Não é fácil lidar com eles. Os médiuns e os doutrinadores devem observá-los atentamente, aprendendo a discernir o erro da mentira. Somente assim é possível neutralizar as suas ações.


São eles que espalham o fermento dos antagonismos entre os grupos, que os impelem a isolarem-se uns dos outros e a olharem-se com prevenção. Isso por si só bastaria para os desmascarar, pois, procedendo assim, são os primeiros a dar o mais formal desmentido às suas pretensões. Cegos, portanto, são os homens que se deixam cair em tão grosseiro embuste. Mas, há muitos outros meios de serem reconhecidos. Espíritos da categoria em que eles dizem achar-se têm de ser muito bons, como também eminentemente racionais. Pois bem: passai-lhes os sistemas pelo crivo da razão e do bom-senso e vede o que restará. […] Repeli sem condescendência todos esses Espíritos que se apresentam como conselheiros exclusivos, pregando a separação e o insulamento. São quase sempre Espíritos vaidosos e medíocres, que procuram impor-se a homens fracos e crédulos, prodigalizando-lhes exagerados louvores, a fim de os fascinar e de tê-los dominados. […] Em geral, desconfiai das comunicações que trazem um caráter de misticismo e de singularidade, ou que prescrevem cerimônias e atos extravagantes. Há sempre, nestes casos, motivos de suspeição. (3)


A exortação do evangelista João, (3Jo) registrada na introdução deste Roteiro, reflete como deve ser a postura dos participantes do grupo mediúnico, em especial, a do doutrinador, perante os Espíritos que revelam graves sofrimentos espirituais em suas comunicações mediúnicas. Atentemos para os seguintes comentários do benfeitor Emmanuel.


A sociedade humana não deveria operar a divisão de si própria, como sendo um campo em que se separam bons e maus, mas sim viver qual grande família em que se integram os espíritos que começam a compreender o Pai e os que ainda não conseguiram pressenti-lo. Claro que as palavras “maldade” e “perversidade” ainda comparecerão, por vastíssimos anos, no dicionário terrestre, definindo certas atitudes mentais inferiores; todavia, é forçoso convir que a questão do mal vai obtendo novas interpretações na inteligência humana. O evangelista apresenta conceito justo. João não nos diz que o perverso está exilado de nosso Pai, nem que se conserva ausente da Criação. Apenas afirma que “não tem visto a Deus”. […] Muita gente acredita que o “homem caído” é alguém que deve ser aniquilado. Jesus, no entanto, não adotou essa diretriz. Dirigindo-se, amorosamente, ao pecador, sabia-se, antes de tudo, defrontado por enfermo infeliz, a quem não se poderia subtrair as características de eternidade. Lute-se contra o crime, mas ampare-se a criatura que se lhe enredou nas malhas tenebrosas […]. (11)



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução de Manuel Justiniano Quintão. 60. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda Parte. Capítulo 5 (Suicidas), item: O suicida da samaritana, p. 319.

2. Idem - O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 126. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 21, item 7, p. 363.

3. Idem - Capítulo 21, item 10, p. 368-370.

4. Idem - O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 79. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte. Capítulo 27, item 299, n.º4, p. 418-419.

5. SCHUBERT, Suely C. Obsessão/desobsessão. Profilaxia e terapêutica espíritas. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Terceira parte, Capítulo 6 (O doutrinador), p. 142.

6. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 32 (Manifestação de enfermo Espiritual - 1), p. 125.

7. Idem, ibidem - p. 125-126.

8. Idem - Capítulo 34 (Manifestação de enfermo espiritual - 3), p. 133.

9. Idem, ibidem - p. 134.

10.  XAVIER, Francisco Cândido. Instruções psicofônicas. Por diversos Espíritos. Organizado por Arnaldo Rocha. 9. ed. Rio de Janeiro. FEB, 2006. Capítulo 4 (No intercâmbio - mensagem do Espírito José Xavier), p. 31-33.

11. Idem - Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 122 (Pecado e pecador), p. 259-260.


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