O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

Índice | Página inicial | Continuar

EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Programa II — Filosofia e Ciência Espíritas


Roteiro 8


Jesus

Objetivos:

» Realizar estudo sobre Jesus com base nos critérios históricos.

» Analisar o pensamento espírita referente a Jesus.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Os historiadores do cristianismo utilizam metodologia apropriada para analisar a figura ímpar do Cristo, denominada Jesus Histórico. Trata-se de estudo crítico que não considera a imagem construída pelos textos religiosos e teológicos que, em geral, revelam o Mestre Nazareno como o Filho de Deus ou o Messias prometido para a salvação da Humanidade.

  • Para a Doutrina Espírita, Jesus é o […] tipo mais perfeito que Deus já ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 625.



 

SUBSÍDIOS

1. JESUS HISTÓRICO


Os estudos sobre a vida e a obra de Jesus podem ser realizados a partir de duas fontes principais: os textos canônicos e os não canônicos. Os primeiros representam referências das normas eclesiásticas e dos dogmas definidos pelas igrejas cristãs, ao longo dos séculos. Os segundos são utilizados pelos historiadores como método histórico de análise crítica dos textos evangélicos, denominado Jesus histórico, (1) cuja finalidade é reconstruir o contexto histórico do primeiro século da cristandade.

Jesus histórico não considera os axiomas teológicos, religiosos ou determinismos bíblicos. Embora as reconstruções históricas variem, são concordantes em dois pontos: Jesus era um rabino judeu, que atraiu um pequeno grupo de galileus e, após um período de pregação, foi crucificado pelos romanos na Palestina, sob instigação dos sacerdotes judeus, durante a governo de Pôncio Pilatos.

A busca pelo Jesus histórico foi iniciada com os estudos do filósofo deísta alemão Hermann Samuel Reimarus (1694-1768)  †  que, junto com outros estudiosos, passaram a duvidar da historicidade relatada pelos textos sagrados, aceita sem controvérsias até o século XVIII, quando surgiu o movimento iluminista na Europa.

A despeito das opiniões nem sempre lisonjeiras desse e de outros autores sobre Jesus, surgem no século XIX estudos fundamentados em achados históricos e arqueológicos, através dos quais os pesquisadores passam a ter melhor compreensão da vida e da mensagem de Jesus.

Após a Primeira Guerra Mundial os alemães Martin Dibelius  †  e Rudolf Bultmann  †  compararam a mensagem original de Jesus com informações contidas em outros textos, provenientes da época da igreja primitiva, identificando pontos concordantes e discordantes. Esses estudiosos empregaram dois métodos para chegarem às conclusões finais, publicadas posteriormente:

  • Redação criticista — trata-se de uma investigação a respeito de como cada escritor do Evangelho compilou seu livro, seguida de comparação com outros escritos e, também, fontes orais.

  • Crítica formal — Os críticos concluíram que os Evangelhos (segundo Mateus, Marcos, Lucas e João) não foram escritos, originalmente, completos tal como os conhecemos atualmente. Representam coleções de fatos separados, de tradições orais, mitos ou parábolas, propositalmente agrupados para formar uma coletânea, artificialmente elaborada, destinada a divulgar práticas da igreja antiga. A crítica formal tenta reconstruir os episódios originais, separando o que é fato histórico do que é inclusão artificial.

Fato curioso é que, a despeito desse minucioso trabalho científico, há muitos cientistas que consideram Jesus um mito, alguém que nunca existiu. Não se trata, porém, de opinião unânime no meio acadêmico, pois, a despeito de existirem discordâncias quanto a datas de nascimento e morte, e da ocorrência dos fatos relatados no Evangelho, não significa, em absoluto, que o Cristo não tenha existido. De qualquer forma, no que diz respeito aos textos evangélicos, os


[…] dados cronológicos mais importantes da vida de Jesus encontram- se nas narrativas da infância (Mateus, 2; Lucas, 1.5; 2.1-40) e nas narrativas da paixão (Mateus, 26,27; Marcos, 14,15; Lucas, 21 — 23; João, 13 — 19). Outros dados relevantes podem ser encontrados nos evangelhos de Lucas e João (Lc 3.1,2 e 23; Jo 2.20). […]. (2)


Na Revista Reformador de junho de 2008 , coluna Cristianismo Redivivo, encontram-se maiores informações sobre essas contradições, que merecem ser conferidas.

Na busca pelo Jesus Histórico, alguns estudiosos fundamentam-se na chamada Fonte Q (de Quelle, nome alemão para fonte), uma coleção de Ditos de Jesus, que é uma tradição, oral ou escrita — não se sabe ao certo — amplamente difundida no mundo cristão da primeira metade do século I, e que serviu de base para a escritura dos evangelhos sinópticos, assim como para alguns apócrifos. Sendo assim, o documento Q, ou fonte Q, é hipoteticamente considerado como sendo o primeiro texto evangélico escrito, e que teria sido utilizado, mais tarde, por Mateus e Lucas, mas não por Marcos, na redação dos seus escritos, fato que justificaria as coincidências presentes no evangelho de Lucas e de Mateus, e as diferenças com o de Marcos.

Na década de 1970, o controvertido teólogo irlandês e ex-sacerdote católico (abandonou a batina em 1969), John Dominic Crossan  † , (3) considerado um dos maiores críticos da Bíblia e autor do livro Jesus Histórico ou Jesus seminar, analisou a historicidade de Jesus com base na chamada referência Q e no evangelho de Tomé, tido como apócrifo.

A metodologia utilizada por esse autor (4) estava assentada em dois critérios:

  • Exame de fontes arqueológicas, históricas e textuais do primeiro século, aplicando as descobertas à análise sociológica e à antropológica, com a finalidade de melhor compreender Jesus e sua missão.

  • Dar ênfase ao judaísmo de Jesus, contextualizando suas origens e ensinos aos acontecimentos do primeiro século do cristianismo.

Em suma, munidos dos novos instrumentos da pesquisa hodierna, tais como história antiga, crítica literária, crítica textual, filologia, papirologia, arqueologia, geografia, religião comparada, os atuais pesquisadores tentam reconstruir o ambiente sociocultural de Jesus, de modo a experimentar o efeito que as palavras do Mestre produziram nos ouvintes da sua época. Nesse esforço, procura-se evitar juízos preconcebidos, premissas rígidas, preconceitos étnicos, deixando que a mensagem se estabeleça ainda que contrariamente às expectativas dos crentes atuais. No entanto, ao montar o quebra-cabeça da história do Cristianismo Primitivo com as escassas peças disponíveis, nem sempre é possível ao pesquisador humano dispensar certa dose de imaginação. (5)


O historiador John P. Méier,  †  professor da Universidade Católica de Washington-EUA, um dos mais respeitáveis pesquisadores de assuntos bíblicos da atualidade, considera com muita propriedade, que não


[…] podemos conhecer Jesus “real” através da pesquisa histórica, quer isto signifique sua realidade total ou apenas um quadro biográfico razoavelmente completo. No entanto, podemos conhecer o “Jesus histórico”: Por Jesus da história, refiro-me ao Jesus que podemos “resgatar” e examinar utilizando os instrumentos científicos da moderna pesquisa histórica. (4) (6)

2. JESUS À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA


Os romances históricos de Emmanuel trazem informações notáveis sobre Jesus e sobre os três primeiros séculos do Cristianismo. Importa considerar, como afirma o confrade Haroldo Dutra Dias, “[…] nesses romances, alguns dados de pesquisa histórica puramente humana são confirmados, todavia, muitas retificações são feitas. Exige-se do leitor exame cuidadoso, sob pena de serem divulgadas informações incorretas, apenas porque determinado pesquisador encarnado as defenda em suas obras.” (6)

A propósito, Emmanuel esclarece, em relação aos textos do Novo Testamento:


Muitas escolas literárias se formaram nos últimos séculos, dentro da crítica histórica, para o estudo e elucidação desses documentos. A palavra “apócrifo” generalizou-se como espantalho em todo o mundo. Histórias numerosas foram escritas. Hipóteses incontáveis foram aventadas, mas os sábios materialistas, no estudo das ideias religiosas, não puderam sentir que a intuição está acima da razão e, ainda uma vez, falharam, em sua maioria, na exposição dos princípios e na apresentação das grandes figuras do Cristianismo. A grandeza da doutrina não reside na circunstância de o Evangelho ser de Marcos ou de Mateus, de Lucas ou de João; está na beleza imortal que se irradia de suas lições divinas, atravessando as idades e atraindo os corações. Não há vantagem nas longas discussões quanto à autenticidade de uma carta de Inácio de Antioquia ou de Paulo de Tarso, quando o raciocínio absoluto não possui elementos para a prova concludente e necessária. […] Todavia, a autoridade literária não poderá apresentar a equação matemática do assunto. É que, portas adentro do coração, só a essência deve prevalecer para as almas e, em se tratando das conquistas sublimadas da fé, a intuição tem de marchar à frente da razão, preludiando generosos e definitivos conhecimentos. (7)

Nunca é demais lembrar a informação que os Espíritos da Codificação transmitiram a respeito de Jesus, relatada em O Livro dos Espíritos:

  • Questão 625. Qual o tipo mais perfeito que Deus já ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?

  • Resposta: “Jesus.”

  • Comentário de Allan Kardec:

  • Para o homem, Jesus representa o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque, sendo Jesus o ser mais puro que já apareceu na Terra, o Espírito Divino o animava. (8)

Ainda que persistam opiniões contraditórias sobre o que Jesus fez, ou não; ainda que sua mensagem não tenha sido suficientemente compreendida, importa destacar, como ensina Emmanuel, que a sua vinda entre nós marcou o início da “[…] era definitiva da maioridade espiritual da Humanidade terrestre, de vez que Jesus, com a sua exemplificação divina, entregaria o código da fraternidade e do amor a todos os corações.” (9)

Com o intuito de fornecer outros subsídios ao estudo, apresentamos, em seguida, citações de Espíritos esclarecidos, como ilustração do assunto, a fim de que se conheça melhor a posição da Doutrina Espírita em relação a Jesus, o Cristo de Deus.

Meimei: “A palavra do Cristo é a luz acesa para encontrarmos na sombra terrestre, em cada minuto da vida, o ensejo divino de nossa construção espiritual.” (10)

Ewerton Quadros (primeiro presidente da FEB):


Em todas as circunstâncias, reconheçamo-nos defrontados pelo Mestre, no exercício da fraternidade dinâmica. Indubitavelmente, asseverou Ele não ter vindo para destruir a lei e sim para dar-lhe cumprimento. E executou-a, substancializando-lhe os enunciados na ação construtiva com que lhe ampliou todos os preceitos em luzes de ensino e afirmação de trabalho. […] Ao revés, ajustou-se à comunidade, em penhor de soerguimentos e sustentação do homem integral, amparando-lhe corpo e alma. Explicou a verdade, tanto aos rabinos quanto aos pescadores de vida singela. Pregou a divina mensagem no tope dos montes, alimentando estômagos famintos e clareando cérebros sequiosos de luz. Socorreu mulheres infelizes e crianças abandonadas; leu nas sinagogas; curou cegos; restaurou doentes; ergueu paralíticos; recuperou obsidiados, doutrinando espíritos perturbados e sofredores; encorajou os tristes e banqueteou-se com pessoas apontadas ao escárnio social. Sem qualquer laivo de culto à personalidade, viveu no seio da multidão. (11)

Emmanuel: “A lição do Cristo é também comparável à fonte e ao pão, ao fator equilibrante e ao medicamento, que são fundamentalmente os mesmos, em toda parte. No trato, pois, de nós ou dos outros, é forçoso não olvidar que o próprio Senhor nos avisou de que as suas palavras são espírito e vida.” (12)

Irmão X (Humberto de Campos):


Mestre Redivivo, que ainda agora enches de terrível assombro quantos estimariam que não tivesses vivido entre os homens, fixa Teu complacente olhar sobre nós e aparta-nos da treva de todos os que se acomodam com a saliva da injúria! E revigora-nos a consolação e a esperança, porque sabemos, Senhor, que como outrora, ante os discípulos assustados, estarás com os Teus aprendizes fiéis, em todo instante da angústia, exclamando, imperturbável: — “Tende bom ânimo! Eu estou aqui.” (13)

Bezerra de Menezes: “todos os talentos da Bondade do Senhor se nos acumulam agora nas mãos, em torrentes de oportunidades e trabalho, recursos diversos e potencialidades virtuais.” (14)

Eurípedes Barsanulfo:


A seara do Senhor no solo infatigável do tempo guarda riquezas inexploradas e filões opulentos. Aquele que grafa uma página edificante, semeia um bom exemplo, educa uma criança, fornece um apontamento confortador, entretece uma palestra nobre ou estende uma dádiva, recolherá, cem por um, todos os grãos de amor que lançou na sementeira do Eterno Bem, laborando com a Vida para a Alegria Sem Fim. (15)


Como espíritas, é sempre importante correlacionar as conclusões de estudiosos com os postulados da Doutrina Espírita, a fim de que possamos ter uma ideia mais completa do assunto. Nesse sentido, sob o título Jesus histórico, muito além do mito, a União das Sociedades Espíritas-USE, Regional Ribeirão Preto – SP., desenvolveu interessante trabalho comparativo que pode ser visualizado no site: http://www.userp.org.br/downloads/jesus_historico.ppt


ORIENTAÇÕES AO MONITOR


1. Realizar breve palestra sobre Jesus Histórico, utilizando recursos audiovisuais, a fim de dinamizar a exposição.

2. Incentivar a participação dos ouvintes, analisando mais detidamente o assunto.

3. Em seguida, pedir à turma que forme duplas com a finalidade de ler e apresentar, em plenário, a importância de Jesus para a Doutrina Espírita. Os pequenos grupos podem ser formados de acordo com esta distribuição de assuntos:

Grupo 1. Quem é Jesus, segundo os Espíritos orientadores da Codificação Espírita?

Grupo 2. O que, efetivamente, marca a era do advento do Cristo?

Grupo 3. O que a palavra do Cristo representa para Meimei?

Grupo 4. Que missão realizou Jesus, segundo Ewerton Quadros?

Grupo 5. Qual é a lição do Cristo, segundo Emmanuel?

Grupo 6. O que Humberto de Campos suplica a Jesus?

Grupo 7. Como se manifesta a bondade de Jesus, segundo Bezerra de Menezes?

Grupo 8. Que características são destacadas por Eurípedes Barsanulfo relativas à seara de Jesus?

4. Após ouvir as apresentações das duplas, enfatizar a importância de Jesus com base no texto inserido em anexo.


ANEXO – TEXTO PARA FECHAMENTO DO ESTUDO

Ante o divino semeador — Emmanuel



REFERÊNCIAS

1. Origem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus_hist%C3%B3rico

2. DIAS, Haroldo Dutra. História da era apostólica: Nascimento de Jesus. In: Reformador : Cristianismo redivivo. Rio de Janeiro: FEB, junho de 2008. Ano 126. Nº 2.151, p. 30.

3. Origem: http://www.mackenzie.br

4. MEIER, John P. Um judeu marginal: repensando o Jesus histórico - Google Books. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1995, p. 35.

5. DIAS, Haroldo Dutra. História da era apostólica: Jesus — governador espiritual do orbe. In: Reformador : Cristianismo redivivo. Rio de Janeiro: FEB, março de 2008. Ano 126. Nº 2.148, p. 109.

6. Idem - História da era apostólica: novas perguntas. In: Reformador : Cristianismo redivivo. Rio de Janeiro: FEB, janeiro de 2008. Ano 126. Nº 2.146, p. 36.

7. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 37 ed. 2009. Capítulo 14, p. 149-150.

8. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010, questão 625, p. 405.

9. XAVIER, Francisco Cândido. Antologia mediúnica do natal. 5. ed. 2008. Capítulo 14 (Encontro divino — Rodrigues de Abreu), p. 149. Por diversos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB. Capítulo 69 (A vinda de Jesus — mensagem de Emmanuel, p. 190.

10. Idem - Vozes do grande além. Por diversos Espíritos. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Capítulo17 (A palavra de Jesus — mensagem de Meimei), p. 77.

11. Idem - Ideal espírita. Por diversos Espíritos. 5. ed. Uberaba: CEC, 1991. Capítulo 46 (A religião de Jesus — mensagem de Ewerton Quadros), p. 116-117.

12. Idem - Palavras de vida eterna. Pelo Espírito Emmanuel. 33. ed. Uberaba: CEC, 2005. Capítulo 118, p. 253.

13. Idem -  Antologia mediúnica do natal. Op. Cit. Capítulo 25, p.77.

14. Idem -  Bezerra, Chico e você. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. 1ª ed. São Bernardo do Campo: GEEM, 1973. Capítulo 39, p. 58.

15. Idem - Ideal espírita. Op. Cit. Capítulo 4 (Cem por um — mensagem do Espírito Eurípedes Barsanulfo), p. 24.


Abrir