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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO III — ESPIRITISMO, O CONSOLADOR PROMETIDO POR JESUS
Módulo IV — A Humanidade Regenerada

Roteiro 4


A família: célula fundamental da organização social


Objetivos: Analisar os conceitos espíritas e não-espíritas de família.Explicar as implicações dos laços consangüíneos e espirituais na organização familiar.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • No sentido restrito, família é a organização social constituída por pessoas que possuem laços consangüíneos. Em termos gerais, o significado abrange o conjunto de pessoas unidas por convicções ou interesses, independentemente da existência de ligações ancestrais. [vide também: http://www.dicionariodoaurelio.com/Familia]

  • […] A família tem suas próprias leis, que consubstanciam as regras do bom comportamento dentro do impositivo do respeito ético, recíproco entre os seus membros, favorável à perfeita harmonia que deve vigir sob o mesmo teto em que se agasalham os que se consorciam. Joanna de Angelis: S.O.S família. Item: Família.

  • Os laços do sangue não estabelecem necessariamente os vínculos entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porque o Espírito já existia antes da formação do corpo. […]. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo XIV, item 8.



 

SUBSÍDIOS


No sentido restrito, família é uma organização social constituída por pessoas que possuem laços consangüíneos. No sentido amplo, abrange o conjunto de pessoas unidas por convicções ou interesses, independentemente da existência de ligações ancestrais. Em qualquer situação, porém, o a constituição da família traz a noção da existência de algo comum entre os elementos que a constitui: “[…] De todas as associações existentes na Terra — excetuando naturalmente a Humanidade — nenhuma talvez mais importante em sua função educadora e regenerativa […]” (1), assinala Emmanuel, que também acrescenta: (2)


[…] Arraigada nas vidas passadas de todos aqueles que a compõem, a família terrestre é formada, assim, de agentes diversos, porquanto nela se reencontram, comumente, afetos e desafetos, amigos e inimigos, para os ajustes e reajustes indispensáveis ante as leis do destino. Apesar disso, importa reconhecer que o clã familiar evolve incessantemente para mais amplos conceitos de vivência coletiva, sob os ditames do aperfeiçoamento geral, conquanto se erija sempre em educandário valioso da alma. Temos, dessa forma, no instituto doméstico uma organização de origem divina, em cujo seio encontramos os instrumentos necessários ao nosso próprio aprimoramento para a edificação do mundo melhor.


É por este motivo que Paulo de Tarso enfatiza: “Se alguém não cuida dos seus, e sobretudo dos da própria casa, renegou a fé e é pior do que um incrédulo.” (1 Timóteo, 5.8. Bíblia de Jerusalém )


As palavras do apóstolo têm como foco tanto a família consangüínea quanto a espiritual, constituída pelos laços da fraternidade. Contudo, independentemente de como o grupo familiar estar organizado deve ser considerado uma parte, uma célula da família universal, ou Humanidade. Com esta conceituação, os deveres e cuidados destinados à família consangüínea são tão importantes quanto os vinculados à família universal, mantida à custa da união social, como lembra Paulo de Tarso, “porque nenhum de nós vive para si” (Romanos, 14.7. Bíblia de Jerusalém)


Neste contexto, os “[…] laços sociais são necessários ao progresso e os de família tornam mais apertados os laços sociais: eis por que os laços de família são uma lei da Natureza. Quis Deus, dessa forma, que os homens aprendessem a amar-se como irmãos.” (3)


Queiramos ou não, é da Lei que nossa existência pertença às existências que nos rodeiam. Vivemos para nossos familiares, nossos amigos, nossos ideais… Ainda mesmo o usurário exclusivista, que se julga sem ninguém, está vivendo para o ouro ou para as utilidades que restituirá a outras vidas superiores ou inferiores para as quais a morte lhe arrebatará o tesouro. (4)


Ensina a Doutrina Espírita que há dois tipos de parentela: “[…] as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corpóreos. […]” (5) As primeiras permanecem unidas para sempre, nos planos físico e espiritual, as segundas podem desvincular ainda mesmo durante o período de uma encarnação.


Os laços do sangue não estabelecem necessariamente os vínculos entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porque o Espírito já existia antes da formação do corpo. […] Os Espíritos que encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são, na maioria das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se traduzem por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer que sejam completamente estranhos uns aos outros, divididos por antipatias igualmente anteriores, que se expressam na Terra por um mútuo antagonismo, a fim de lhes servir de provação. Os verdadeiros laços de família não são, pois, os da consangüinidade e sim os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Conseqüentemente, dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue […]. (6)


1. A família pelos laços consangüíneos


A família, considerada segundo os preceitos sócio-culturais de unidade básica da sociedade, é governada por uma série de valores nem sempre adequadamente conhecidos e vivenciados pelos seus membros, ou por aqueles que desejam constituir um grupamento dessa natureza.


[…] A família tem suas próprias leis, que consubstanciam as regras do bom comporta mento dentro do impositivo do respeito ético, recíproco entre os seus membros, favorável à perfeita harmonia que deve vigir sob o mesmo teto em que se agasalham os que se consorciam. […] O lar, no entanto, não pode ser configurado como a edificação material, capaz de oferecer segurança e paz aos que aí se resguardam. A casa são a argamassa, os tijolos, a cobertura, os alicerces e os móveis, enquanto o lar são a renúncia e a dedicação, o silêncio e o zelo que se permitem àqueles que se vinculam pela eleição afetiva ou através do impositivo consangüíneo, decorrente da união. […] Quando a família periclita, por esta ou aquela razão, sem dúvida a sociedade está a um passo do malogro… […]. (7)


Nestas condições, “[…] a família é mais do que o resultado genético… São os ideais, os sonhos, os anelos, as lutas e árduas tarefas, os sofrimentos e as aspirações, as tradições morais elevadas que se cimentam nos liames da concessão divina […]”. (8)

Ainda que os elementos de um núcleo familiar sejam heterogêneos em termos de ascendência espiritual — fato que é comum — ; ainda que exista pouca afinidade entre os seus membros e, até mesmo, certa aversão ou inimizade, devemos admitir que há uma razão superior que permite a diferentes Espíritos renascerem juntos, numa família.


A casualidade não se encontra nos laços da parentela. Princípios sutis da Lei funcionam nas ligações consanguíneas. Impelidos pelas causas do passado a reunir-nos no presente, é indispensável pagar com alegria os débitos que nos imanam a alguns corações, a fim de que venhamos a solver nossas dívidas para com a Humanidade. Inútil é a fuga dos credores que respiram conosco sob o mesmo teto, porque o tempo nos aguardará implacável, constrangendo-nos à liquidação de todos os compromissos. […] Sem dúvida, a equipe familiar no mundo nem sempre é um jardim de flores. Por vezes, é um espinheiro de preocupações e de angústias, reclamando-nos sacrifício. Contudo, embora necessitemos de firmeza nas atitudes para temperar a afetividade que nos é própria, jamais conseguiremos sanar as feridas do nosso ambiente particular com o chicote da violência ou com o emplastro do desleixo. […] Os parentes são obras de amor que o Pai Compassivo nos deu a realizar. Ajudemo-los, através da cooperação e do carinho, atendendo aos desígnios da verdadeira fraternidade. Somente adestrando paciência e compreensão, tolerância e bondade, na praia estreita do lar, é que nos habilitaremos a servir com vitória, no mar alto das grandes experiências. (9)


Importa, pois, fazer distinção entre família espiritual e a parentela corporal:


[…] Nem sempre os laços de sangue reúnem as almas essencialmente afins. Freqüente mente, pelas imposições da consangüinidade, grandes inimigos são obrigados ao abraço diuturno, sob o mesmo teto. É razoável sugerir-se uma divisão entre os conceitos de “família” e “parentela”. O primeiro constituiria o símbolo dos laços eternos do amor, o segundo significaria o cadinho de lutas, por vezes acerbas, em que devemos diluir as imperfeições dos sentimentos, fundindo-os na liga divina do amor para a eternidade. A família não seria a parentela, mas a parentela converter-se-ia, mais tarde, nas santas expressões da família. […]. (10)


2. A família pelos laços espirituais


A Allan Kardec ensina que os laços espirituais são os que, efetivamente, mantêm as criaturas unidas, uma vez que vão além das condições biológicas, definidas pela herança genética.


[…] No espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias unidos pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Felizes por se encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos outros. A encarnação apenas os separa momentaneamente, porque, ao regressarem à erraticidade, reúnem-se novamente como amigos que voltam de uma viagem. Muitas vezes, até, uns seguem a outros na encarnação, vindo aqui reunir-se numa mesma família, ou num mesmo círculo, a fim de trabalharem juntos pelo seu mútuo adiantamento. Se uns encarnam e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento. Os que estão livres velam pelos que se acham em cativeiro. Os mais adiantados se esforçam por fazer que os retardatários progridam. Após cada existência, deram mais um passo no caminho da perfeição. […]. (11)


Nos processos primários da evolução humana, as vinculações familiares são muito tênues, praticamente inexistentes. No passo evolutivo seguinte começa, efetivamente, surgir os laços familiares, como os que constituem as diferentes organizações tribais e clãs. Nesta posição, o inimigo ou amigo do grupamento está nitidamente delineada, ainda que em momentos específicos se estabeleçam ligações transitórias, motivadas por diversas necessidades e interesses comuns, com outros grupos.

À medida que o ser humano ascende na escala evolutiva, absorve valores espirituais que lhe permite estender o seu olhar para além do seu núcleo familiar. Consegue, então, localizar Espíritos afins situados fora da sua família. Com este reconhecimento inicia-se, então, as ligações fraternas com diferentes grupos, os quais, no futuro, se organizarão em aldeias, cidades e nações.

Em processo evolutivo mais adiantado, os diferentes povos unem-se a outros, inicialmente por meio de acordos econômico e políticos, formando blocos de nações. A partir dessa união surge, como inevitável, as miscigenações biológicas e culturais e, pouco a pouco, os blocos de nações formam conglomerados e, a partir destes, organiza-se a família universal. É mais ou menos por esta linha que é desenvolvida a noção de família universal, ou de Humanidade destinada a se unir não apenas por interesses econômicos, políticos ou sociais, mas pelos laços da afetividade.

Neste sentido, Bezerra de Menezes considera com muito bom senso:


[…] Entretanto, a nós outros, os espíritas, compete a obrigação de enxergar mais longe e reconhecer mais amplos os deveres que nos prendem à experiência comunitária. Não somente suportar os conflitos de casa com denodo e serenidade, abraçando os entes queridos com a certeza de que os amamos, livre de nós, se assim o desejam, para serem mais cativos aos desígnios de Deus. Não apenas isso. Entender também nos grupos em que nos movimentamos a nossa família maior. E amar, auxiliar, apoiar construtiva- mente e servir sempre a todos os que nos compartilhem o trabalho e a esperança!… a independência existe unicamente na base da interdependência. As Leis Divinas criaram com tamanha sabedoria os mecanismos da evolução que todos nós, de algum modo, dependemos uns dos outros. Não se renasce na Terra, sem o concurso dos pais ou dos valores genéticos que forneçam. Não se adquire cultura sem professores ou recursos que eles decidam a formar. Não se obtém alimento sem esforço próprio, nem sob o amparo do esforço alheio. […] há famílias de ordem material e aquelas outras de ordem espiritual — afirma-nos o Evangelho, na Doutrina Espírita. […] Família e família ! Família do coração entre algumas paredes e família maior do Espírito a espraiar-se em todos os domínios da Humanidade! […]. (12)


Na seguinte passagem evangélica, às vezes interpretada equivocadamente, Jesus demonstra que a organização familiar fundamentada na união espiritual é a verdadeira, por persistir por toda a eternidade.


Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo. Havia uma multidão sentada entorno dele. Disseram-lhe: Eis que tua mãe, teus irmãos e tuas irmãs estão lá fora e te procuram. Ele perguntou: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, repassando com o olhar os que estavam sentados ao seu redor, disse: Eis a minha mãe e os meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe. (Marcos, 3.31-35. Bíblia de Jerusalém)


ORIENTAÇÕES AO MONITOR:

  • Introduzir o assunto por meio de breve exposição que trata dos conceitos espíritas e não espíritas de família.

  • Em seguida, dividir a turma em dois grupos para leitura dos subsídios deste Roteiro. Cada grupo deve discutir e elaborar uma breve apresentação sobre os seguintes temas:

    1) família pelos laços corporais;

    2) família pelos laços espirituais.

  • Após a apresentação dos grupos, favorecer a reflexão sobre as principais implicações dos laços consangüíneos e dos espirituais na organização familiar.

  • Fazer o fechamento do estudo com base nas idéias desenvolvidas no texto em anexo, do Espírito Emmanuel (Em família)



 

ANEXO


Em família

(Emmanuel)




Referências:

1. XAVIER, Francisco Cândido. Vida e sexo. Pelo Espírito Emmanuel. 26 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Capítulo 2, p. 17.

2. Idem, ibidem - p. 19.

3. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, questão 774, p. 470.

4. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 34 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 154, p. 375-376.

5. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Capítulo XIV, item 8, p. 291.

6. Idem, ibidem - p. 290-291.

7. FRANCO, Divaldo Pereira. S.O.S. Família. Por diversos Espíritos. 2 ed. Salvador: LEAL, 1994. Item: Família (mensagem do Espírito Joanna de Ângelis), p. 17-18.

8. Idem, ibidem - p. 18.

9. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Op. Cit. Capítulo 156, p. 381-382.

10. Idem - Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Capítulo 62, p. 139-140.

11. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Op. Cit. Capítulo IV, item 18, p. 100-101.

12. XAVIER, Francisco Cândido. Bezerra, Chico e você. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. 5. ed. São Bernardo do Campo: GEEM, 1980. Capítulo 44, p. 64-67.


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