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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE II
Módulo II — Ensinos diretos de Jesus

Roteiro 6


Palavras de vida eterna


Objetivos: Esclarecer por que os ensinamentos de Jesus são “palavras de vida eterna”. — Refletir sobre o efeito da palavra nos relacionamentos sociais.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • As palavras do Cristo são de vida eterna porque consagram […] a verdade. Constituem não só a salvaguarda da vida celeste, mas também o penhor da paz, da tranquilidade e da estabilidade nas coisas da vida terrestre. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo 18, item 9.

  • A palavra vibra no alicerce de todos os males e de todos os bens do mundo. Falando, o professor alça a mente dos aprendizes às culminâncias da educação, e, falando, o malfeitor arroja os companheiros para o fojo do crime. Sócrates falou e a visão filosófica foi alterada. Jesus falou e o Evangelho surgiu. O verbo é plasma da inteligência, fio da inspiração, óleo do trabalho e base da escritura. Emmanuel: Seara dos médiuns, item: Palavra.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • Desde então, muitos dos seus discípulos tornaram para trás e já não andavam com ele. Então, disse, Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna, e nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho de Deus. João, 6.66-69.

As palavras do Cristo são de vida eterna porque são verdadeiras. Atendem às necessidades e aos anseios de todos, os felizes e os infelizes, que viveram, vivem e viverão ao longo das eras. “Será eterno o seu código de moral, porque consagra as condições do bem que conduz o homem ao seu destino eterno.” (2)

É importante ficarmos atentos às palavras da vida eterna, tão úteis quanto necessárias ao nosso aprimoramento moral. Neste aspecto, aconselha Emmanuel:


Rodeiam-te as palavras, em todas as fases da luta e em todos os ângulos do caminho. Frases respeitáveis que se referem aos teus deveres. Verbo amigo trazido por dedicações que te reanimam e consolam. Opiniões acerca de assuntos que te não dizem respeito. Sugestões de variadas origens. Preleções valiosas. Discursos vazios que os teus ouvidos lançam ao vento. Palavras faladas… palavras escritas… […] “Palavras, palavras, palavras…” Esquece aquelas que te incitam à inutilidade, aproveita quantas te mostram as obrigações justas e te ensinam a engrandecer a existência, mas não olvides as frases que te acordam para a luz e para o bem; elas podem penetrar o nosso coração, através de um amigo, de uma carta, de uma página ou de um livro, mas, no fundo, procedem sempre de Jesus, o Divino Amigo das Criaturas. Retém contigo as palavras da vida eterna, porque são as santificadoras do espírito, na experiência de cada dia, e, sobretudo, o nosso seguro apoio mental nas horas difíceis das grandes renovações. (5)


2. Interpretação do texto evangélico

  • Desde então, muitos dos seus discípulos tornaram para trás e já não andavam com ele (Jo 6.66).

Durante a sua missão, o Cristo enfrentou muitos obstáculos, sendo duramente criticado e perseguido, sobretudo por representantes do clero. Nunca se abateu ou se revelou desiludido. Entretanto, abençoou e perdoou a todos, sem restrições.


A linguagem do Cristo sempre se afigurou a muitos aprendizes indecifrável e estranha. […] Muita gente escuta a Boa Nova, mas não lhe penetra os ensinamentos. Isso ocorre a muitos seguidores do Evangelho, porque se utilizam da força mental em outros setores. Creem vagamente no socorro celeste, nas horas de amargura, mostrando, porém, absoluto desinteresse ante o estudo e ante a aplicação das leis divinas. A preocupação da posse lhes absorve a existência. (4)


Como acontecia a alguns discípulos, à época do Cristo, nem sempre revelamos disposição para renunciar às infindáveis requisições do mundo e seguir Jesus. O apego a bens e a posições ainda exerce poderoso efeito sobre o nosso Espírito. A propósito, elucida o Espírito Lacordaire: “O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas materiais.” (1)

A natureza humana se revela contraditória quando, frente a frente com o conhecimento verdadeiro, o qual eleva e engrandece o Espírito, deixa-se consumir por dúvidas, enredando-se nas malhas de conflitos existenciais. De um lado fica evidente o desejo de seguir a bem, de envolver-se com ele, mas, em razão da escassez de fortaleza moral, a pessoa não consegue pôr em prática os ditames da vontade.

Esta é causa da maioria dos processos de fuga, os que produzem recuos perante os desafios da vida. As pessoas ficam, então, desorientadas e se deixam levar por temores infrutíferos, agindo da forma assinalada pelo registro do apóstolo João: “e tornam para trás”. Outros indivíduos são até corajosos, mas preferem manter-se no nível do conhecimento teórico, sem maiores implicações ou compromissos com a mudança de comportamento.

Faz-se necessário perseverar no desenvolvimento do senso moral a fim de que o desejo de melhoria espiritual se transforme em ações efetivas, porque, neste contexto, o conhecimento nem sempre é suficiente.

“Já não andavam com Ele” retrata, em alguns Espíritos, o efeito do entusiasmo passageiro, das decisões apressadas, não filtradas pelo bom senso, e que é o oposto da fé raciocinada. Não andar com Jesus significa também abandonar o trabalho digno, forjado na luta redentora. Vemos, assim, que no cotidiano somos sempre defrontados com desafios que nos apontam para o valor de aprimorar a capacidade de andar com o Cristo, até para demonstrar a nossa fidelidade ao Pai Celestial.


Na causa de Deus, a fidelidade deve ser uma das primeiras virtudes. Onde o filho e o pai que não desejam estabelecer, como ideal de união, a confiança integral e recíproca? Nós não podemos duvidar da fidelidade do Nosso Pai para conosco. Sua dedicação nos cerca os Espíritos, desde o primeiro dia. Ainda não o conhecíamos e já ele nos amava. E, acaso, poderemos desdenhar a possibilidade da retribuição? Não seria repudiarmos o título de filhos amorosos, o fato de nos deixarmos absorver no afastamento, favorecendo a negação? […] Tudo na vida tem o preço que lhe corresponde. Se vacilais receosos ante as bênçãos do sacrifício e as alegrias do trabalho, meditai nos tributos que a fidelidade ao mundo exige. O prazer não costuma cobrar do homem um imposto alto e doloroso? Quanto pagarão, em flagelações íntimas, o vaidoso e o avarento? Qual o preço que o mundo reclama ao gozador e ao mentiroso? (3)


“Andar com Jesus” é, portanto, decisão séria, pessoal, intransferível. Se erguida sobre o alicerce do discernimento, aprendemos a conciliar as expectativas da vida no plano físico com as necessidades de melhoria espiritual.

  • Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? (Jo 6.67,68).

Estas palavras de Jesus: “Quereis vós também retirar-vos?” devem ser meditadas com mais profundidade. Elas nos fazem ver que perante as grandes decisões que repercutem em nossa existência, somos convocados a agir como espíritas. A despeito da pergunta ser dirigida aos apóstolos, que possuíam melhor entendimento e maior capacidade de servir, aplica-se a nós, também, já esclarecidos à luz dos princípios espíritas.

Independentemente dos desafios que iremos deparar, dos testemunhos ou renúncias que exemplificaremos, não devemos sucumbir ao desespero e fugir aos deveres. Não é por acaso que o Espiritismo está presente na nossa vida. É por esta razão que Jesus afirmou, em outra oportunidade: “E a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” (Lc 12.48). Diante do sofrimento, sobretudo, jamais devemos nos afastar do Cristo, mas estreitar mais os laços afetivos com ele.


À medida que o Mestre revelava novas características de sua doutrina de amor, os seguidores, então numerosos, penetravam mais vastos círculos no domínio da responsabilidade. Muitos deles, em razão disso, receosos do dever que lhes caberia, afastaram-se, discretos, do cenáculo acolhedor de Cafarnaum. O Cristo, entretanto, consciente das obrigações de ordem divina, longe de violar os princípios da liberdade, reuniu a pequena assembleia que restava e interrogou aos discípulos:

— Também vós quereis retirar-vos?

Foi nessa circunstância que Pedro emitiu a resposta sábia, para sempre gravada no edifício cristão. Realmente, quem começa o serviço de espiritualidade superior com Jesus jamais sentirá emoções idênticas, a distância d’Ele. […] Quem comunga efetivamente no banquete da revelação cristã, em tempo algum olvidará o Mestre amoroso que lhe endereçou o convite. Por este motivo, Simão Pedro perguntou com muita propriedade:

Senhor, para quem iremos nós? (8)


Partindo do princípio de que a Doutrina Espírita é o Consolador prometido, o Cristianismo redivivo, não podemos alegar ignorância a respeito dos seus princípios quando as dificuldades da caminhada evolutiva se revelam mais ásperas. Ao contrário, esse é o momento exato para revelarmos a firmeza da nossa fé, sem temer os obstáculos que atracam no porto da nossa existência sob a forma de provações. Armados do escudo da coragem, da perseverança e da confiança irrestrita no Cristo, sairemos vitoriosos.

  • Tu tens as palavras da vida eterna, e nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho de Deus. (Jo 6.68,69).

Não podemos esquecer do valor da palavra no processo da comunicação e do relacionamento humano. Ainda que o exemplo arrasta, a palavra, em si, é neutra. Está sempre sujeita à intenção de quem a pronuncia: harmonizar ou degradar. É força poderosa porque plasma as ideias transmitidas pelo pensamento.


A palavra é vigoroso fio da sugestão. É por ela que recolhemos ensinamento dos grandes orientadores da Humanidade, na tradição oral, mas igualmente com ela recebemos toda espécie de informações no plano evolutivo em que se nos apresenta a luta diária. Por isso mesmo, se é importante saber como falas, é mais importante saber como ouves, porquanto, segundo ouvimos, nossa frase semeará bálsamo ou veneno, paz ou discórdia, treva ou luz. (7)


É, pois, medida de prudência jamais descuidar da palavra na nossa conduta, mesmo posicionados como aprendizes do Evangelho. “Se buscamos o Cristo, decerto é necessário refleti-lo. É imprescindível, assim, saibamos agir como se lhe fossemos representantes fiéis, no caminho em que estagiamos.” (6)


Mais uma vez o venerável apóstolo revela a sua superioridade espiritual, e, igualmente, fé incomparável no Senhor, o Messias, quando expressa de forma singela, mas verdadeira: “Tu tens as palavras da vida eterna e nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o filho de Deus.”


Dentre as expressões verbalistas articuladas ou silenciosas, junto das quais a tua mente se desenvolve, encontrarás, porém, as palavras da vida eterna. Guarda teu coração à escuta. Nascem do amor insondável do Cristo, como a água pura do seio imenso da Terra. Muitas vezes te manténs despercebido e não lhes assinalas o aviso, o cântico, a lição e a beleza. Vigia no mundo, isolado de ti mesmo, para que lhes não percas o sabor e a claridade. Exortam-te a considerar a grandeza de Deus e a viver de conformidade com as Suas Leis. Referem-se ao Planeta como sendo nosso lar e à Humanidade como sendo a nossa família. Revelam no amor o laço que nos une a todos. Indicam no trabalho o nosso roteiro de evolução e aperfeiçoamento. Descerram os horizontes divinos da vida e ensinam-nos a levantar os olhos para o mais alto e para o mais além. (5)


As palavras da vida eterna simbolizam o Evangelho de Jesus, legado abençoado que aponta diretrizes seguras que devem nortear o nosso aprendizado na escalada evolutiva.


Jesus indicou a estrada e seguiu-a; pregou a fé e viveu-a; induziu discípulos e companheiros à coragem e demonstrou-a em si mesmo; difundiu a lição do amor, entregando-se amorosamente a cada um, expôs a necessidade do sacrifício pessoal e sacrificou-se; exaltou a beleza do verbo dar e deu sem recompensa; engrandeceu a confiança no Pai e foi fiel até o fim. (9)



 

ANEXO


Citação de Marcos 5.19



ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Pedir aos participantes escalados para realizar a atividade extraclasse (veja Anexo), solicitada na reunião anterior, que apresentem a síntese da página estudada. Em sequência, fazer breve exposição sobre o texto de João, objeto de estudo deste Roteiro. Após a explanação, debater o tema em plenária, fazendo correlações com o resumo apresentado no início da reunião.



Referências:

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 126. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 16, item 14, p. 299.

2. Idem - A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 50. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 17, item 26, p. 432.

3. XAVIER, Francisco Cândido. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos (Irmão X). 35. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 6 (Fidelidade a Deus), p. 44-45.

4. Idem - Fonte viva. Capítulo 48 (Diante do Senhor), p. 117.

5. Idem - Capítulo 59 (Palavras da vida eterna), p. 147-149.

6. Idem - Palavras de vida eterna. Pelo Espírito Emmanuel. 33. ed. Uberaba: Comunhão Espírita Cristã, 2005. Capítulo 22 (Na palavra e na ação), p. 57.

7. Idem - Capítulo 52 (Palavra falada), p. 121.

8. Idem - Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 151 (Ninguém se retira), p. 317-318.

9. Idem - Reportagens de além-túmulo. Pelo Espírito Humberto de Campos (Irmão X). 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 34 (A conselheira invigilante), p. 244.


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