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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE I
Módulo II — Ensinos diretos de Jesus

Roteiro 5


Verdade e libertação


Objetivo: Explicar, à luz da Doutrina Espírita, o ensinamento de Jesus: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8.32).



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele. Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. João, 8.31,32.

  • A verdade absoluta é patrimônio unicamente de Espíritos da categoria mais elevada e a Humanidade terrena não poderia pretender possuí-la, porque não lhe é dado saber tudo. Ela somente pode aspirar a uma verdade relativa e proporcionada ao seu adiantamento. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo 15, item 9.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto Evangélico

  • Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. João, 8.31,32.

A palavra do Mestre é clara e segura. Não seremos libertados pelos aspectos da verdade ou pelas verdades provisórias de que sejamos detentores no círculo das afirmações apaixonadas a que nos inclinemos. (8)


Sendo assim, elucida Kardec:


Que homem se pode vangloriar de a possuir integral, quando o âmbito dos conhecimentos incessantemente se alarga e todos os dias se retificam ideias? A verdade absoluta é patrimônio unicamente de Espíritos de categoria mais elevada e a Humanidade terrena não poderia pretender possuí-la, porque não lhe é dado saber tudo. Ela somente pode aspirar a uma verdade relativa [parcial] e proporcionada ao seu adiantamento. (2)


2. Interpretação do texto evangélico

  • Jesus dizia, pois aos judeus que criam nele… (Jo 8.31)

A palavra “judeu” (do hebraico yehudi) apresenta conotação especial. Antes da diáspora, os judeus eram denominados representantes da tribo de Judá. Após a dispersão por todo o globo, o termo “judeu” passou a ser usado por todos os descendentes dessa etnia, no seu aspecto religioso ou identificados com ele, independente de raça ou nacionalidade.

Inicialmente, o vocábulo refletia não apenas o aspecto de nacionalidade, mas também o interlocutor que possuía certos valores espirituais fornecidos pelo conhecimento da lei moisaica.

Em situação oposta, conviviam os judeus com os “gentios”, isto é, qualquer pessoa que não professava o Judaísmo.

Do ponto de vista histórico, sabemos que havia reações dos judeus aos gentios, a despeito das conexões políticas, comerciais e até mesmo relativas à práticas religiosas existentes entre eles: alguns gentios tornavam-se prosélitos (convertidos), atraídos pelas práticas do judaísmo. (5)

Não obstante as dúvidas quanto aos ensinamentos do Cristo, os judeus, referidos nessa passagem evangélica, demonstram possuir algum conhecimento espiritual e, de certa forma, depositavam fé no Mestre porque “criam nele”. Eram judeus que já não se encontravam presos à lei civil ou disciplinar de Moisés, mas à Lei de Deus formulada nos Dez Mandamentos. (1) Estavam, pois, abertos, a novos aprendizados.

  • Se vós permanecerdes na minha palavra… (Jo 8.31)

Merece destaque, aqui, a expressão “se permanecerdes na minha palavra”, indicativa da condição de “prosseguir existindo”, de “continuar sendo” ou de “persistir”. Neste último sentido, a perseverança surge como sendo um preceito de conduta, útil à reestruturação da vida, pois em todo processo de aprimoramento espiritual não se comportam improvisações e desgastes de qualquer natureza. Ao contrário, é durante a luta renovadora que somos convocados a fazer escolhas mais acertadas, administrar o tempo, ampliar sentimentos, desenvolver virtudes, cultivar, sobretudo, a solidariedade e prestar-se à prática da caridade, fugindo dos extremos do intelectualismo e das emoções.

Sabemos, entretanto, que há um número significativo de pessoas que se encontra sob o embalo das oscilações espirituais, vacilando entre o “crer e o fazer”. São criaturas que, ainda que vinculadas ao Espiritismo, não conseguem administrar certas paixões inferiores por não terem o necessário domínio sobre si mesmas.

A maioria dos Espíritos, caracterizada pela heterogeneidade de caracteres e temperamentos, das aspirações e propósitos, impede a compreensão integral da realidade cotidiana. Assim, há “[…] que esperar pela passagem das horas. Nos círculos do tempo, a semente, com o esforço do homem, provê o celeiro; e o carvão, com o auxílio da natureza, se converte em diamante.” (10)

Somente conseguiremos renovar nosso psiquismo e imprimir valores edificantes à nossa alma se apreendermos o verdadeiro significado de “permanecermos na palavra do Cristo”. Receberemos, então, o atestado de maturidade e,spiritual, prosseguindo sem cansaço, mas com inteligência e devoção, jamais duvidando das promessas de Jesus.

Entendamos que a disciplina que deve nortear as mudanças comportamentais, para melhor, é apenas um estágio de transição e de adaptação, uma vez que a disciplina antecede a espontaneidade.

É valido também considerar que não se trata, aqui, de uma simples movimentação de elementos informativos, mas de ênfase na mudança de hábitos, caracterizada por uma prática persistente. Somente “permanecendo” no plano aplicativo dos ensinos é que efetivamente progredimos.

  • Verdadeiramente, sereis meus discípulos (Jo 8.31).

O advérbio “verdadeiramente” nos conduz a novas reflexões. Está ligado ao sentido expresso pelo substantivo “verdade”, ou pelo adjetivo “verdadeiro”, como autenticidade, de conformidade com os fatos ou com a realidade. Obviamente, é oposto de tudo o que é fictício ou enganoso.

A palavra sábia de Jesus é luz para o nosso Espírito que, se vivenciada, nos confere a posição de aprendizes e, ao mesmo tempo, de usufrutuários dos seus abençoados ensinos.


O discípulo da Boa Nova, que realmente comunga com o Mestre, antes de tudo compreende as obrigações que lhe estão afetas e rende sincero culto à lei de liberdade, ciente de que ele mesmo recolherá nas leiras do mundo o que houver semeado. (6)


Os discípulos de Jesus se esforçam para realizar algo de bom e útil na vida, segundo as suas possibilidades. Serão sempre reconhecidos por muito se amarem.

Jesus elegeu doze apóstolos entre os seus discípulos porque apresentavam recursos e posturas diferenciadas, não obstante a existência de extraordinária unidade quanto ao exercício do amor e do trabalho em seu nome.

Neste sentido, “verdadeiramente sereis meus discípulos” é mensagem inspiradora de todos os que se revelam sensibilizados pelos ensinamentos do Evangelho. São aprendizes que não temem a luta renovadora, incorporando oportunidades de melhoria espiritual, consoante o espírito renovador proposto pelo Evangelho. Guardadas as devidas proporções, esses discípulos serão chamados de novos apóstolos do Cristianismo.

“Sereis meus discípulos” deixa de ser uma escolha pessoal do Mestre, mas do próprio indivíduo, que, frente às orientações da consciência, se entrega ao trabalho digno, caracterizado por serviços ao semelhante. O verdadeiro discípulo do Cristo percebe, então, que a despeito das próprias imperfeições, é necessário ser bom.


A construção do bem comum é obra de todos. Todos necessitamos trabalhar no sentido de aprender e construir, auxiliando os companheiros esclarecidos para que se tornem cada vez mais fiéis à execução dos compromissos nobilitantes que abraçam: os valorosos para não descerem ao desânimo; os retos para que não se transviem; os fracos para que se robusteçam; os tristes para que se consolem; os caídos para que se reergam; os desequilibrados para que se recomponham; os grandes devedores para que descubram a trilha da solução aos problemas em que se oneram. Todos nós, Espíritos em evolução no Planeta, somos ainda imperfeitos, mas úteis. (9)

  • E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8.32).

Conhecer, segundo a sentença evangélica, não se traduz como mera informação, mas assimilação de conhecimentos que favoreçam o combate às imperfeições.


Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade. (3)


Neste sentido nos esclarecem os Orientadores da Codificação Espírita:


À medida que avançam, compreendem o que os distanciavam da perfeição. Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda. (4)


Em relação à sentença “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, explica Emmanuel:


Muitos, em política, filosofia, ciência e religião, se afeiçoam a certos ângulos da verdade e transformam a própria vida numa trincheira de luta desesperada, a pretexto de defendê-la, quando não passam de prisioneiros do ponto de vista.

Muitos aceitam a verdade, estendem-lhe as lições, advogam-lhe a causa e proclamam-lhe os méritos, entretanto, a verdade libertadora é aquela que conhecemos na atividade incessante do Eterno Bem.

Penetrá-la é compreender as obrigações que nos competem.

Discerni-la é renovar o próprio entendimento e converter a existência num campo de responsabilidade para com o melhor.

Só existe verdadeira liberdade na submissão ao dever fielmente cumprido.

Conhecer, portanto, a verdade é perceber o sentido da vida.

E perceber o sentido da vida é crescer em serviço e burilamento constantes.

Observa, desse modo, a tua posição diante da Luz…

Quem apenas vislumbra a glória ofuscante da realidade, fala muito e age menos.

Quem, todavia, lhe penetra a grandeza indefinível, age mais e fala menos. (8)



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Debater o sentido de “verdade” desenvolvido no texto, promovendo uma troca de ideias a respeito das ideias dos conteúdos expressos pelo Espírito Emmanuel (veja referências bibliográficas 7 a 10).



Referências:

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo 1, item 2, p. 53.

2. Idem - Capítulo 15, item 9, p. 250.

3. Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, questão 115, p. 95-96.

4. Idem - Questão 118, p. 96.

5. DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Volume 1. As pessoas e os lugares. Organizado por Bruce M. Metzger e Michael D. Coogan. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002, p. 101.

6. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 8 (Obreiros atentos), p, 31.

7. Idem - Capítulo 173 (Ante a luz da verdade), p. 417.

8. Idem, ibidem - p. 417-418.

9. Idem - Rumo certo. Pelo Espírito Emmanuel. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 28 (Imperfeitos, mas úteis), p. 104-105.

10. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 175 (A verdade), p. 387.


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