O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vida nossa vida — Familiares diversos


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Eduardo Zibordi Camargo

Dudu era o segundo filho do casal Flávio Camargo e Elza Zibordi Camargo, quando desencarnou, aos sete anos incompletos.

Hoje, além de Flávia, a família se enriqueceu com o nascimento de Daniel e de Álvaro, este não citado pelo Dudu nas duas mensagens que aqui apresentamos, pois, quando da sua recepção, ainda não havia reencarnado.

Natural de Santa Rita do Passa Quatro, Dudu nasceu a 25 de junho de 1966 e faleceu em São Paulo, no Hospital Samaritano, a 6 de fevereiro de 1973.

A agonia, a dor, e também a esperança e a alegria do reencontro com o filhinho querido, podemos sentir, com muita evidência, nas palavras de seu pai, o Dr. Flávio Camargo:


DEPOIMENTO


“Após a desencarnação de nosso filho DUDU, no Hospital Samaritano, dias depois da intervenção cirúrgica feita pelo Dr. Matos Pimenta, ficamos em situação de grande inquietação e desequilíbrio, fazendo íntima e constantemente a pergunta: — Por que isso acontece? Por que merecemos tal castigo? Por que tanta dor e tamanha tristeza?

Até essa ocasião, éramos católicos e mesmo participávamos de cursos para jovens — TLC — proferindo palestras e encontros.

Algum tempo havia escoado, quando através dos amigos, Brasil Paulista da Silva Prado e sua esposa, D. Nair (casal espírita de nossa cidade), fomos levados até Uberaba, MG, para uma visita a Chico Xavier.

Assim foi nosso encontro com o Chico: recebidos pela singular figura do médium mineiro, este, minutos após nos ver, proferiu as seguintes palavras, ditas sem que sequer soubesse de nossa desdita:

— “Meus filhos, esses casos de cirurgia de “tumor cerebral” são resgates que pedimos e quase sempre significam final de provas, levadas a efeito em virtude de erros que cometemos em vidas anteriores.”

Ficamos atônitos!

Disse mais:

— “Não se entristeçam, pois a separação é apenas material, ele (o Dudu) vive e estará sempre com vocês, pois a Vida Espiritual é eterna e, um dia, vocês estarão novamente reunidos.”

Um grande bálsamo consolador havia jorrado em nossos corações, dando ânimo e força para continuarmos nossa jornada.

Tudo se consolidou ainda mais, após o recebimento de duas missivas, através do correio mediúnico. Lutamos ainda, é verdade, com a dor da saudade, porém, convictos da temporalidade desta situação, e de que tudo faz parte de um plano maravilhoso que visa nossa evolução espiritual, rumo à felicidade que todos desejamos.” — Flávio Camargo.


PRIMEIRA MENSAGEM DE EDUARDO ZIBORDI CAMARGO


1 Minha querida mãezinha, meu querido papai. Estou há dois meses preparando estas notícias, com o auxílio de meu avô Degardo. n

2 Agora, estou pensando e as mãos dele estão sobre as minhas, dando forma ao que desejo dizer. Diz ele que é meu avô Hildegardo e diz que me auxilia, mas quem dá forma às palavras sou eu mesmo.

3 Ainda estou assim diferente, às vezes querendo dormir muito, mas estou mais alegre, porque vocês voltaram a fazer de nossa casa o jardim de paz e felicidade que sempre foi.

4 Logo que cheguei aqui, chorava muito, porque ouvia vocês e todos em casa me chamando.

5 Acordei num quarto muito claro e muito agradável, desde que me vi por fora do Hospital, mas sentia muito frio, apesar do ambiente de conforto.

6 Pensei que estava em casa de alguma pessoa nossa ao sair do sono longo em que me vi de um instante para outro e gritei por papai, por você, mãezinha, gritei muito, até que a enfermeira perto de mim trouxe um amigo que me falou ser também meu avô — o meu avô que está aqui comigo. Ele me abraçou e me disse para descansar…

7 Prometeu que o meu tratamento iria trazer melhoras e que eu não gritasse para não machucar a cabeça. n Aqueles olhos eram os nossos olhos. Falavam do carinho e do conhecimento de nossa casa.

8 Meu avô sentou comigo e me disse que estaria ao meu lado, pedindo para que eu tivesse calma e confiança para dormir.

9 Chorei baixo para atender, mas estava triste… Vocês não apareciam e eu queria vocês comigo.

10 Depois desse encontro, dormi e depois acordei com frio. Depois eu soube que eram as saudades e as lágrimas em casa.

11 Estava ligado a vocês todos e, à medida que ficava obediente ao meu avô e à enfermeira, descobri que ouvia as palavras de vocês dentro de mim.

12 Você, mãezinha, me chamava tanto e você, meu querido papai, conversava tanto comigo que me assustei… Aí é que fiquei sabendo que o frio era a nossa ligação de tristeza. E quanto mais frio experimentava, mais voltava a dor na cabeça.

13 Pedi para ver o doutor Pimenta, querendo falar com ele. Até aí, eu não sabia que meu avô Degardo estava comigo em outra vida. Os médicos que me vinham ver em silêncio, dois deles, sorriram com meu pedido e prometeram trazer o doutor Pimenta. n

14 E entre melhoras e pioras, minha situação foi passando, até que pude ir em casa, em nossa casa mesmo. A tristeza estava conosco, mas a luz da confiança começou a brilhar.

15 Já sabia que estávamos separados e busquei conformar-me. Comecei a aprender que a minha impaciência levava sofrimento para vocês e procurei conformar-me.

16 Revi todos. Beijei tanto vovó Henriqueta n e vovó Lourdes, abracei Flavinha e com vocês dois revi tudo, mas ninguém me via nem ouvia.

17 Custei muito a compreender as cousas, mas estou forte. Agora nossa casa ficou alegre outra vez.

18 O Daniel é um garoto muito amigo e já temos uma confiança maior no futuro. Flavinha e o nosso querido irmão estão conosco, renovando a nossa esperança.

19 Estou bem. Só tenho muitas saudades, mas vamos trabalhar pelas outras crianças. Mãezinha, fique feliz. Papai fique alegre. Muita gente não acredita que vivemos em outra vida, mas eu não sei porquê.

20 Não se preocupem e cultivemos carinho e amor por todos. Ontem completamos um aniversário de separação. Será isto mesmo? Penso que sim, porque não mais vi vocês depois de haver dormido com a bênção que me deram até que pudesse rever vocês, há tempos.

21 Parece tanto tempo, quando nos separamos e ficamos longe uns dos outros, no entanto, quando estamos mais juntos, como acontece aqui, tudo parece que foi ontem. 22 A alegria da união apaga o poder do tempo e o amor vence a morte. Esta palavra “morte”, eu ouço quando volto ao nosso ambiente, mas onde estou ninguém fala ou pensa nisso.

23 Nossa escola é um parque marcado de fontes e de flores. Céu azul e muita beleza em tudo. Paz e ensinamentos. Graças a Deus, estamos amparados.

24 Há muitos companheiros que choram ainda muito, eu não. Eu não choro mais, porque vocês, também, não choram mais. Temos mães que não são nossas, mas que são carinhosas e protetoras.

25 Nós, os meninos maiores e mais corajosos, já conseguimos trabalhar ajudando a distrair os pequeninos.

26 Mãezinha, paizinho, agradeço a todos o bem que me fazem com as preces e as lembranças. Deus recompense a vocês por toda a felicidade que me enviam com os pensamentos de paz e de esperança.

27 Aqui, comigo, o meu avô e o meu tio abraçam vocês.

28 Agora, devo terminar. Comecei a lembrar e comecei a sentir muito quanto passou. Podem ficar tranquilos. Estou melhorando sempre. 29 E estou crescendo para estar com mais utilidade junto de vocês. E estou aprendendo também a trabalhar pelos menores do que eu, na idade em que voltei para cá.

30 Estou contente por escrever a vocês e coloco o meu coração no coração de vocês dois.

31 Muitos beijos do filhinho sempre mais de vocês e cada vez mais com vocês.

32 Sempre com o carinho e com muito amor do


Dudu

2 de fevereiro de 1974.    


SEGUNDA MENSAGEM DE EDUARDO ZIBORDI CAMARGO


1 Pais queridos, meus queridos paizinhos. Começo esta carta, pedindo a bênção de Deus para nós todos.

2 Se o amor fosse tinta e se a saudade fosse uma pena, creio ser esse o meio que me expressaria o coração. Amor e saudade formando um fio pelo qual todos os meus sentimentos conseguissem sair de mim para você, papai, para você, mãezinha, para a Flávia e Daniel, para todos os nossos, enfim…

3 Não se preocupem com o que digo. Que filho não sentirá falta do lar onde se acolheu para nascer, assim como o pássaro que voa e voa, mas sempre sem perder o rumo do ninho?

4 Nossos Benfeitores aqui sabem tudo isso. Meu querido avô, aqui comigo, compreende. Que a nossa mansão de paz e de instrução é linda, não vacilo em reconhecer, que os protetores são apoios de luz e carinho, sou o primeiro a observar; que as flores que nos cercam lembram estrelas que fulgem no solo é a pura verdade e que a nossa união é uma festa constante, é o que vejo em toda parte.

5 Entretanto, quanto mais amadureço na compreensão e quanto mais recebo dos que nos protegem e nos abençoam, em nome de Deus, mais me recordo dos meus pais e dos irmãos com os entes queridos e, quanto posso, regresso à casa e às nossas preces para respirar em nosso ambiente, como quem anseia encontrar a função de sustentar a chama de nossa fé… E ao fazer isso, mãezinha, encontrei igualmente os que se acham na ventania cujas lâmpadas de esperança se apagaram na tempestade.

6 Ninguém me mandou ver isso. Sou eu mesmo, o Dudu de você e de meu pai que, com saudade de vocês, procurei por meus paizinhos queridos e encontrei os outros que também se desorientam nos caminhos da Terra, por falta de fé e por ausência de amor, embora o amor de Deus, à maneira do Sol, nos cerque em todos os lugares.

7 Encontrei os pais desolados que buscam os filhos nas pedras do mundo, derramando lágrimas sobre as cinzas e achei os filhos que perderam os pais e caminham na Terra sem direção.


8 Conheci outros, além deles:

   9 os doentes que esperam a morte em meio da solidão;

   10 os que cruzam as estradas sem equilíbrio para saber onde o lugar de tratamento e repouso;

   11 os cansados de sofrimento que pensam fugir da vida pela porta das trevas;

   12 os que passaram por lutas cruéis e escaparam delas, mutilados e abatidos, sem coragem de retornar à estrada que lhes era própria;

   13 os que tombaram nas grades da corrigenda e choram por falta do lar de que se esqueceram;

   14 os que possuindo, às vezes, os melhores recursos da Terra se sentem desvalidos de paz;

   15 os que se amedrontaram diante da escola que Deus nos concede no mundo e querem anular as próprias forças, através de venenos suaves que lhes corroem o corpo e conturbam a alma;

   16 e abracei centenas de pequeninos que suspiram por leve bênção de afeto, a fim de sobreviverem…


17 Quando conheci tudo isso, foi como se meu coração rebentasse numa fonte de anseios… Anseios de trabalhar, de fazer qualquer cousa que ajude, que alivie…

18 E foi com vocês, meus paizinhos queridos e com os amigos que nos assistem, que pude descobrir os instrumentos de ação.

19 Vocês me ouviram e estou quase completamente feliz se não fosse a saudade que deve, por enquanto, estar entre nós por aguilhão que nos mantenha em serviço.

20 Trabalhemos pelo bem de quantos nos compartilham as experiências na Terra. Mãezinha, não esmoreça. Suas faculdades mediúnicas são talentos de Jesus.

21 Uma frase de reconforto, uma página de bom ânimo, um bilhete de esperança, essa ou aquela mensagem, mesmo de poucas palavras, que nasça de suas mãos, são pétalas de amor do jardim de Jesus para benefício do mundo.

22 A nossa família, papai, cresceu muito e crescerá muito mais, com o amparo da Divina Providência. Não nos cansemos de agradecer aos Céus o privilégio de trabalhar para servir.

23 Lembro-me de nós dois no carro, na estrada da preparação de ontem para as tarefas de hoje e reconheço que presentemente seguimos no carro do Cristo na viagem de volta ao Reino…

24 O Reino de Deus, porém, meu pai, é o Reino do Amor e da Felicidade para todas as criaturas. Nosso lugar no carro há de ficar maior e seu filhinho estará com você e com minha mãe para receber os que seguirão conosco. Não receemos dificuldades, porque Jesus providenciará em nosso favor.

25 Estejamos no serviço dele e o Senhor promoverá a solução de todos os nossos problemas, porque auxiliando aos outros estamos protegendo a nós mesmos. Assim será sempre.

26 Agradeço aos irmãos queridos aqui presentes conosco a bondade com que nos auxiliam. Brasil, Nair, Margarida n — três tesouros de fraternidade e carinho que nos garantem tantas bênçãos e tantas alegrias e os outros que ficaram em Santa Rita, são todos eles nossas alavancas de cooperação e segurança.

27 Ouçamos as vozes dos que nos conduzem para a luz bendita da união e trabalhemos, continuando a servir…

28 Queria escrever muito, mas vovô me diz que as lágrimas também falam, por isso não consigo continuar…

29 Choro, meus pais queridos, porque estar com vocês é realmente ser feliz. Sou feliz com o pranto da alegria. Estava com muitas saudades de escrever assim uma carta longa…

30 Mas, chego ao fim de meus recursos para as notícias de hoje e noto que não falei tanto de carinho e gratidão quanto desejava. A prece, porém, é o meu refúgio de solução e oro pedindo a Jesus nos mantenha em sua Paz.

31 Paizinho querido e querida mãezinha, a irmã n que nos protege as tarefas mediúnicas, em Santa Rita está conosco e se faz lembrada, deixando-lhes um abraço. E eu, com o meu reconhecimento a todos, com o vovô, deixo aqui todo o meu coração.

32 Sempre o filho reconhecido, no carinho de sempre,


Dudu

14 de outubro de 1974.    


ESCLARECIMENTOS


1 — Avô Degardo: Hildegardo Zibordi, bisavô falecido em 1956.


2 — Machucar a cabeça: Dudu desencarnou após cirurgia para retirada de tumor cerebral.


3 — Doutor Pimenta: Prof. Dr. Aloysio Matos Pimenta, neurocirurgião de São Paulo que operou o Dudu.


4 — Vovó Henriqueta: Henriqueta Giaretta Camargo, avó paterna e Lurdes Zibordi, avó materna. — Flavinha, sua irmã, Flávia Zibordi Camargo.


5 — Brasil, Nair, Margarida: Brasil Paulista da Silva Prado, sua esposa, Nair de Souza Prado e Margarida Magnabosco, amigos de Santa Rita do Passa Quatro. D. Margarida deixou o Plano Físico a 07 de janeiro de 1976.


6 — Irmã Cecília, Guia Espiritual da genitora do Dudu.


Caio Ramacciotti


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