O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vida nossa vida — Familiares diversos


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Orlando Antônio Lazzaro

Paulistano do Brás, filho de Orlando Lazzaro e de Maria Rojas Marquez Lazzaro, Orlando nasceu a 12 de junho de 1954. Completava ainda sua escolaridade secundária no Ginásio Estadual Augusto Bailot de Arthur Alvim, na capital paulista, quando desencarnou, por afogamento, no dia 16 de abril de 1972, aos 17 de idade.

A respeito da carta mediúnica do filho, a mãezinha, disse-nos o seguinte:




DEPOIMENTO


“Significou para mim a mesma alegria de ter tido um filho. Foi o presente maior que recebi, depois do nascimento de meus filhos.

“Tranquilizou-me, deu-me coragem, pois eu queria acabar com minha vida naquela época. Depois do seu recebimento, a vida foi bem diferente. Tive ânimo para dar conforto a outras mães e já me sinto bem mais preparada.

“A mensagem do meu filho foi de um conforto fora de série; foi a coisa mais linda que Deus me poderia ter dado.

“Agora, faço muito mais caridade que antes e já não penso em suicídio.”




I

MENSAGEM


1 Querida mãezinha, rogo a sua bênção. Estou fraco e quase sem coragem.

2 Suas lágrimas, seu sofrimento, seus apelos, suas tribulações por minha causa, querida mãe, ainda me tolhem os passos.

3 Conto os dias n de sombra e tristeza…
Setecentos e oitenta e seis faz hoje… Será isso mesmo? Se a memória falha, é porque o coração está ainda muito aflito!…
Auxilie-me a libertação.

4 Mamãe, eu desejaria mostrar-lhes o que vem a ser a prisão das lágrimas depois que a gente deixa o corpo na Terra para uma pessoa inexperiente, assim qual seu filho!… Mas não posso.

5 Creio que tenho dor suficiente para contar como é isso, entretanto, não tenho palavras que expliquem essa dor. Sei, porém, que o seu coração se renovará para renovar-me.

6 Lembre seus cuidados para ver se eu dormia, para verificar se havia tomado o meu lanche pela manhã, se estava livre de alguma dor de cabeça e se eu estava com notas melhores no estudo…
Lembre tudo isso, querida mãezinha, e não pense mais naquele quadro — a lagoa e nós ou a lagoa e eu…

7 Tudo sucedeu como devia suceder. Os companheiros não conseguiriam socorrer-me ou salvar-me do fim…

8 Não foi afogamento. n Senti um esmorecimento no corpo todo e não vi cousa alguma, a não ser que acordava com tantas medidas perto de mim. Eu estava, porém, dormindo e acordado. O corpo dormia perto e eu mesmo, sem nada compreender, estava rente a ele.

9 Por fim, era tanta perturbação em minha cabeça que tentava entender sem possibilidades para isso, que caí num desmaio…

10 É tudo o que posso dizer, até que esbarrei no hospital em que me vi para depois voltar a casa a fim de tentar consolá-la…

11 Meu avô Romano, n meu grande avô Rojas e outros amigos responsabilizaram-se por seu filho e fiquei em nosso lar, buscando remediar o sofrimento, mas até agora tudo tem sido em vão.

12 A senhora me procura, mas não me ouve na faixa de consolação e fé, na qual precisamos promover o nosso encontro; meus retratos lhe trazem a revisão da prova em que nos vimos e o abraço de meus companheiros lhe impõe martírio que não consigo reproduzir com as palavras de que disponho.

13 Mãezinha, não chore mais. Pense em Gilmere, n em nosso Ogilvie e em meu pai, tanto quanto em nós todos que necessitamos de sua dedicação. Não creia que forçar as portas da morte seja facilitar o reencontro. O sofrimento com aflição complica os nossos problemas.

14 E, ao dizer isso, não posso desconhecer seu carinho e seu sacrifício, sua abnegação e sua renúncia. A senhora, mãezinha, vive e vive cada vez mais por nós. Deixe que seu filho possa viver agora para compreendê-la melhor e ajudá-la com segurança.

15 Ainda não pude libertar-me daquelas recordações de Aracaré… n Quando penso que estou livre, noto o seu sofrimento e não sei se continuo com a morte num lago de pranto — o pranto que nós dois temos chorado incessantemente.

16 A vida recomeça, mamãe querida. Existe um mundo novo para nós, tanto quanto surge um novo dia para depois de cada noite. Transformemos as saudades em orações e tarefas nobres.

17 Ajude-me. Ouvi as suas preces ao promover esta viagem. Escutei seus votos, seus rogos e tanto pedi estes minutos que os recebi para confortá-la.

18 Peço-lhe! Já que as energias de seu filho são ainda poucas, não espere muitas palavras em meu pedido. Auxilie-me! Deixe que a luz fique conosco sem mais sombras. Oremos juntos, mas em pensamentos de paz e de esperança.

19 Agradeço a simpatia e a cooperação de nossos vizinhos e estou grato aos corações que lhe estimularam a vinda até aqui.

20 Mãezinha querida, meu pai ainda sofre e se procura resguardar a saudade que experimenta é para não agravar os seus sofrimentos. Agradeço a ele e beijo-lhes as mãos.

21 Não consigo escrever mais. A névoa de nossas lágrimas volta a mim quando a lembrança é mais forte e eu, mãezinha, estou sorrindo e chorando, porque posso escrever-lhe…

22 Prometo. Farei tudo para estar ao seu lado. O nosso amor em família é uma luz de Deus. Abrace por mim aos irmãos e aos amigos sempre lembrados e, se lhe posso dar alguma cousa, entrego-lhe o meu coração de filho que, a todo dia se ilumina mais e sempre mais, ao pensar que pertence ao seu maternal coração.

23 Ao seu lado, mãezinha querida, com você e por você, hoje e sempre, a gratidão e o amor de seu filho reconhecido,


Orlando

22 de junho de 1974.  




ESCLARECIMENTOS


1 - [Conto os dias:] A mensagem foi recebida pouco mais de dois anos depois da partida do jovem.

2 - [Não foi afogamento:] Segundo relato da genitora, provavelmente Orlando teve uma crise epilética, quando nadava, o que provocou o seu afogamento. Pouco depois do acidente, ela mesma constatou que o filho não tomara medicação anticonvulsivante naquele dia.

3 - Romano Lazzaro, avô paterno, desencarnado em 1960, com 72 anos e Pedro Rojas Gil, avô materno, falecido na Espanha há mais de seis décadas.

4 - [Gilmere:] A irmã, Gilmere Lazzaro dos Santos e o irmão, Ogilvie Lazzaro.

5 - [Aracaré:] Local onde desencarnou, no município de Itaquaquecetuba, próximo da capital paulista.


Caio Ramacciotti


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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