O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Pinga-fogo — Emmanuel — Entrevistas


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A humilde certeza

João de Scantimburgo — A escrita automática, tratada pela Metapsíquica e a Parapsicologia, é um dos atributos da mediunidade, como diz Allan Kardec. Os que não creem nos dotes preternaturais do médium são de opinião que o senhor registra no papel, por meio de escrita automática ou inconsciente, reminiscências de leituras. E ainda, não será o senhor dotado de tal sensibilidade que, identificado com os autores, por assim dizer psicografados, naturalmente os assimilou e os imita e redige à maneira deles? E, ainda, o que o senhor faz com os autores os que diz psicografados é, na opinião dos observadores que não são, não perfilham a mesma doutrina do senhor, um decalque ou imitação. Por que o senhor ficou em autores como Humberto de Campos, Antero de Quental, Augusto dos Anjos, Cruz e Souza, Guerra Junqueira e outros? Não terá o senhor repetido de Augusto dos Anjos os versos que leu e reteve de memória?

Chico Xavier — Antigamente eu me sentia, às vezes, ressentido dentro da minha ignorância com aqueles que não conseguiam crer na realidade mediúnica. Isso há quase uns 40 anos. Mas Emmanuel então me disse: “O seu ressentimento é pura vaidade, porque você não pode exigir que os outros venham a crer naquilo que você crê, você não pode pedir a outrem que pense pela cartilha dos seus próprios pensamentos. Você deve se preparar para ouvir as opiniões mais contrárias em torno da mediunidade porque cada um, cada espírito está na Terra com determinada tarefa, e, às vezes, o fato de alguém adquirir prematuramente uma convicção muito real da vida extraterrena, pode ser um agente, não vamos dizer de perturbação, mas pode ser um agente incômodo para a tarefa que aquela criatura deva ou deve desempenhar.” Então respeito a opinião de todos que pensam assim, mas eu não posso acreditar que assim seja, porque isso se tornou tão evidente na minha vida, se tornou de forma tão palpável para mim a convivência com as entidades espirituais durante tantos anos, desde os dias da infância que, para mim, a vida com os espíritos desencarnados já não é propriamente um fenômeno mediúnico, mas o estado de convivência conquanto eu diga isso compreendendo que a misericórdia vem deles e que a tolerância vem deles e que eu, às vezes, pergunto a mim mesmo como é que eles podem me tolerar. Mas cheguei a um estado de certeza, certeza íntima e naturalmente pessoal e intransferível, que se eu disser que estes livros pertencem a mim eu estou cometendo uma fraude pela qual eu vou responder de maneira muito grave depois da partida deste mundo. Eu não desejo carregar este problema porque estou perfeitamente tranquilo quanto à presença dos espíritos na mediunidade, nos livros e quanto mais a minha vida pessoal na presente reencarnação se alonga na Terra, mais eu compreendo que me sinto à distância deles, porque quanto mais a luz deles brilha, mais eu compreendo a minha inferioridade, a sombra a que eu devo me acolher para respeitar. Então eu não posso crer desse modo. E, certa feita, quando alguém fez essa indagação ao Espírito Emmanuel, ele então me disse: “Então seria o caso de uma pessoa que leu centenas de livros se transformar, por exemplo, num escritor automático de muitas obras, de muitas páginas, quando isso geralmente acontece com muito pouca gente, só com aqueles que têm uma inteligência muito apropriada.” Não é o meu caso, porque eu não pude ir além do curso primário, e além disso, em 1931 eu contraí uma enfermidade ocular que me acompanha até os dias presentes e, apesar de muitas vezes uma pessoa acusada de devorar livros, eu não consigo ler muito. Para que eu leia um livro é preciso que um amigo me faça indicação, porque eu vou ler não com sacrifício, mas com algum trabalho porque eu disponho apenas de atividade monocular. Isto é do domínio dos médicos que em Belo Horizonte e em Uberaba tratam da minha situação de doente dos olhos desde 1931.


Francisco C. Xavier

Emmanuel


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