
1 «Ó Lua branca, suave e triste,
- A Mãe pedia, fitando o céu -
Dize-me, Lua, se acaso viste
Nos firmamentos o filho meu.
2 A Morte ingrata, fria e impiedosa,
Deixou vazio meu doce lar,
Deixou minhalma triste e chorosa,
Roubou-me o sonho - deu-me o penar
3 Se tu soubesses, Lua serena,
Como era grácil, que encantador
Meu anjo belo como a açucena,
Cheio de vida, cheio de amor!… »
4 Disse-lhe a Lua — «Eu sei do encanto
Dum filho amado que a gente tem;
E das ausências conheço o pranto,
Oh! se o conheço, conheço-o bem!…»
5 - «Então, responde-me sem demora,
Continuava, sempre a chorar:
Em qual estrela cheia de aurora.
Foi o meu anjo se agasalhar?…»
6 - «Mas não o avistas — responde-lhe ela —
Naquela estrela que tremeluz?
Abre teus olhos… É bem aquela
Que anda cantando no céu de luz.»
7 E a Mãe aflita, martirizada,
Fitou a estrela que lhe sorriu,
Sentiu-lhe os raios, extasiada,
E dos seus cantos, feliz, ouviu:
8 - «Ilha pacífica, da esperança,
Sou eu no mar do éter infindo;
Do sofrimento mato a lembrança
E abro o futuro, ditoso e lindo.
9 Do Senhor tenho doce trabalho,
Missão que é toda só de alegrias:
Flores reparto cheias de orvalho,
Flores que afastam as agonias.»
10 - «Quase te odeio, luz de alvorada,
Ó linda estrela que adorna o céu,
Gritou-lhe a pobre desconsolada,
Porque tu guardas o filho meu.»
11 - «Se tu me odeias, se me detestas,
Contudo eu te amo e pergunto: quem
Não tem saudades das minhas festas?
O teu anjinho teve-as também.
12 Em mim a noite não tem guarida,
Aqui terminam os dissabores;
Aqui em tudo floresce a vida,
Vida risonha, cheia de flores!…»
13 A mãe saudosa, banhada em pranto,
Notou de logo seu filho lindo,
Todo vestido dum brilho santo,
Num belo raio de luz, sorrindo…
14 Disse-lhe o filho - «Tive deveras
Muita saudade, mãezinha amada,
Senti a falta das primaveras,
Senti a falta desta alvorada!…
15 Não resisti… Tanta era a saudade!
Voltei do exílio, fugi da dor,
Aqui é tudo felicidade,
Paz e ventura, carícia e amor!
16 Ó mãe, perdoa, se mais não pude
Ficar contigo na escuridão,
A Terra amarga, tristonha e rude,
Envenenava meu coração.
17 Aqui, na estrela, também há fontes,
Jardins e luzes e fantasias,
Sóis rebrilhando nos horizontes,
Sonhos, castelos e melodias.
18 Daqui te vejo, daqui eu velo
Pelo sossego dos dias teus;
Faço-te um ninho ditoso e belo,
Muito pertinho do amor de Deus!…»
19 Aí os olhos da desditosa
Nada mais viram do Eterno Lar.
Viu-se mais calma, menos saudosa,
E, estranhamente, pôs-se a chorar… |