O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Chico Xavier: O Primeiro Livro — Autores diversos

Parte III — Chico Xavier: Psicografia

41


A um padre

(Versos a um agressor do Espiritismo)


  1 Ó padre lutador, procurai santamente

  Apregoar ao mundo herético e descrente

  Os dogmas ancestrais da vossa velha Igreja!


  2 A árvore do progresso, esplêndida, viceja.

  A Ciência caminha a passos de gigante

  Para se unir à Fé, operosa e triunfante.

  É preciso instalar a Inquisição de novo,

  Contendo a aspiração indômita do povo,

  De saber a verdade acerca do Destino.


  3 Proclamai, proclamai o dogma divino!

  Fazei bulas, torcei as leis, trazei Loiolas,

  Ensinai catecismo em todas as escolas;

  Ponde sobre a esperança o inferno que flameja,

  Cheio de excomunhões e de mastins da Igreja!

  Ensinai que Deus é o bramânico sátrapa

  Que enviou para o mundo os bergantins do papa,

  Afirmai que um sacrista é um ministro do Eterno.

  Comei Jesus no pão refogado em falerno;

  Formai sob a batina as gerações vindoiras,

  Tomai em vossas mãos das crísticas tesoiras,

  Cortai a asa de luz de toda liberdade,

  Afogai na descrença a pobre Humanidade,

  Multiplicai no mundo as vossas benzeduras,

  Multiplicai na Igreja os ritos e as tonsuras!


  4 Teologicamente, anatematizai

  Todo aquele que em Deus sentir o amor de um Pai,

  Ponde em cada recanto um novo Torquemada,

  E um trapo de batina ao pé de cada estrada;

  Fazei autos-de-fé, pregai probabilismos

  Dentro das ilações e dos anacronismos,

  Endeusai sobre o trono a fortuna dos Cresos,

  Esquecei sobre a lama os pobres indefesos.


  5 Transformai todo templo em balcão de bentinhos,

  Com representações em todos os caminhos;

  Interpretai Jesus no prisma do interesse,

  Traficai com o altar, vendei o ensino e a prece,

  Anatematizai todas as heresias;

  Aprovai, aplaudi as grandes simonias,

  Porque, em verdade, são como crimes sagrados

  E a estola de um sacrista é isenta de pecados.


  6 Incensai Harpagões, absolvei magnatas,

  Entre encomendações, discursos, sermonatas;

  Lembrai a Inquisição e a história do papado,

  Retende na memória os erros do passado.


  7 Lede com desassombro o intrépido Barônio,

  Sem o medo pueril do inferno e do demônio,

  E vinde proclamar ao mundo fariseu

  Que somente na Igreja há sendas para o Céu;

  Só a Igreja possui a santa autoridade,

  Dentro das presunções da infalibilidade.


  8 Sobre o luxo gritai no púlpito florido,

  Gritai que o mundo está perverso e corrompido.

  Escrevei com furor contra as guerras tigrinas,

  A abençoar fuzis, metralhas, carabinas,

  A discórdia infundi! Nutri regionalismos.

  Incentivai com ardor os rubros fanatismos.


  9 Se puderdes, irmão, armai nova fogueira

  A quem asseverar que o Papado é uma feira

  Onde Deus é um cifrão e onde se negocia

  A bênção de Jesus, e a bênção de Maria;

  Onde a verdade está sob as cavilações

  Dos círculos hostis de torpes convenções!

  Praticai e afirmai ainda mais do que isto.

  Tendes a autoridade e a mansidão do Cristo…


  10 Mas, ouvi minha voz impávida e serena!…

  Fazendo-vos ouvir, tomando a vossa pena,

  Jamais vos esqueçais de que a verdade é de ouro.

  Afastarmo-nos dela é andar no sorvedouro

  Da calúnia que fere o coração mais rude,

  Da mentira que, enfim, não alcança a virtude,

  Que traz, porém, consigo o vírus que envenena!…


  11 Quem perpetra a inverdade a si mesmo condena.


  12 A luta da verdade, a luta das ideias,

  É feita nos clarões das grandes epopeias,

  Abrindo o coração ao nobre sacrifício;

  Cada gesto leal é sublime interstício

  Por onde a luz penetra em jorros cristalinos,

  Clareando o porvir ignoto dos destinos.


  13 Criar uma ficção e excomungar de oitiva,

  É próprio das paixões e próprio da inventiva.

  Nunca vos entregueis a tanto despautério,

  Jamais enxovalheis o vosso ministério.


  14 Acostumai-vos, pois, ao sol que tudo aclara;

  Deixai a insensatez dos clérigos, da tiara,

  Abandonai a treva e vinde para a luz!

  Aprendei muito mais do exemplo de Jesus.


  15 Olvidai convenções, congregações, papado,

  Que a Verdade jamais se vende no mercado.


Guerra Junqueiro



Recebida em 16-03-1934.

Essa mensagem foi também publicada pela FEB e é o 5ª poema do 30º capítulo do livro “Parnaso de Além-Túmulo


Abrir