O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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Antes da reunião

(Sumário)

1. Os preparativos espirituais para a reunião eram ativos e complexos.

2 Chegamos de regresso à residência de Dona Isabel, quando faltavam poucos minutos para as dezoito horas e já o salão estava repleto de trabalhadores em movimento.

3 Observando, com estranheza, determinadas operações, fiz algumas perguntas ao nosso orientador, que me esclareceu com bondade:

— Realizar uma sessão de trabalhos espirituais eficientes não é coisa tão simples. 4 Quando encontramos companheiros encarnados, entregues ao serviço com devotamento e bom ânimo, isentos de preocupação com experiências malsãs e inquietações injustificáveis, mobilizamos grandes recursos a favor do êxito necessário. 5 Claro que não podemos endossar atividades infantis, nesse terreno. Quem não deseje cuidar de semelhantes obrigações, com a seriedade devida, poderá esperar fatalmente pelos Espíritos menos sérios, porquanto a morte física não significa renovação para quem não procurou renovar-se. Onde se reúnam almas levianas, aí estará igualmente a leviandade. 6 No caso de Isabel porém, há que lhe auxiliar o esforço edificante. Em todos os setores evolutivos, é natural que o trabalhador sincero e eficiente receba recursos sempre mais vastos. Onde se encontre a atividade do bem, permanecerá a colaboração espiritual de ordem superior.

Calara-se o bondoso amigo.


2. Continuei reparando as laboriosas atividades de alguns irmãos que dividiam a sala, de modo singular, utilizando longas faixas fluídicas. Aniceto veio em socorro da minha perplexidade, explicando, atencioso:

— Estes amigos estão promovendo a obra de preservação e vigilância. 2 Serão trazidas aos trabalhos de hoje algumas dezenas de sofredores e torna-se imprescindível limitar-lhes a zona de influenciação neste templo familiar. Para isso, nossos companheiros preparam as divisões magnéticas, necessárias.

3 Observei, admirado, que eles magnetizavam o próprio ar.

Nosso instrutor, porém, informou, gentil:

— Não se impressione, André. Em nossos serviços, o magnetismo é força preponderante. Somos compelidos a movimentá-lo em grande escala.

4 E, sorrindo, concluiu:

— Já os sacerdotes do antigo Egito não ignoravam que, para atingir determinados efeitos é indispensável impregnar a atmosfera de elementos espirituais, saturando-a de valores positivos da nossa vontade. 5 Para disseminar as luzes evangélicas aos desencarnados, são precisas providências variadas e complexas, sem o que, tudo redundaria em aumento de perturbações. Este núcleo é pequenino, considerado do ponto de vista material, mas apresenta grande significação a nós outros. É preciso vigiar, não o esqueçamos.

6 Enquanto as atividades de preparação espiritual seguiam intensas, Dona Isabel e Joaninha, noutra ordem de serviço, chegaram ao salão, dispondo arranjos diferentes. Usaram, largamente, a vassoura e o espanador. Revestiram a mesa de toalha muito alva e trouxeram pequenos recipientes de água pura.

7 A uma ordem de um dos superiores daquele templo doméstico, espalharam-se os vigilantes, em derredor da moradia singela. Nos menores detalhes, estava a nobre supervisão dos benfeitores. Em tudo a ordem, o serviço e a simplicidade.


3. Logo após alguns minutos além das dezoito horas, começaram a chegar os necessitados da Esfera invisível ao homem comum.

2 Se fosse concedida à criatura vulgar uma vista de olhos, ainda que ligeira, sobre uma assembleia de Espíritos desencarnados, em perturbação e sofrimento, muito se lhes modificariam as atitudes na vida normal. 3 Nessa afirmativa, devemos incluir, igualmente, a maioria dos próprios espiritistas, que frequentam as reuniões doutrinárias, alheios ao esforço autoeducativo, guardando da espiritualidade uma vaga ideia, na preocupação de atender ao egoísmo habitual. 4 O quadro de retificações individuais, após a morte do corpo, é tão extenso e variado que não encontramos palavras para definir a imensa surpresa.

5 Aqueles rostos esqueléticos causavam compaixão. Chegavam ao recinto aquelas entidades perturbadas, em pequenos magotes, seguidas de orientadores fraternais. Pareciam cadáveres erguidos do leito de morte. Alguns se locomoviam com grande dificuldade. Tínhamos diante dos olhos uma autêntica reunião de “coxos e estropiados”, segundo o símbolo evangélico. ( † )

6 — Em maioria, — esclareceu Aniceto, — são irmãos abatidos e amargurados, que desejam a renovação sem saber como iniciar a tarefa. Aqui, poderemos observar apenas sofredores dessa natureza, porque o santuário familiar de Isidoro e Isabel não está preparado para receber entidades deliberadamente perversas. Cada agrupamento tem seus fins.


4. Com efeito, os recém-chegados estampavam profunda angústia na expressão fisionômica. As senhoras em pranto eram numerosas. O quadro consternava. Algumas entidades mantinham as mãos no ventre, calcando regiões feridas. Não eram poucas as que traziam ataduras e faixas.

2 — Muitos, — disse-nos o mentor generoso, — não concordam ainda com as realidades da morte corporal. E toda essa gente, de modo geral, está prisioneira da ideia de enfermidade. 3 Existem pessoas, e vocês as terão conhecido largamente, como médicos, que cultivam as moléstias com verdadeira volúpia. Apaixonam-se pelos diagnósticos exatos, acompanham no corpo, com indefinível ardor, a manifestação dos indícios mórbidos, estudam a teoria da doença de que são portadoras, como jamais analisam um dever justo no quadro das diárias obrigações, e quando não dispõem das informações nos livros, estimam a longa atenção dos médicos, os minuciosos cuidados da enfermagem e as compridas dissertações sobre a enfermidade de que se constituem voluntárias prisioneiras. 4 Sobrevindo a desencarnação, é muito difícil o acordo entre elas e a verdade, porquanto prosseguem mantendo a ideia dominante. Às vezes, no fundo, são boas almas, dedicadas aos parentes do sangue e aproveitáveis na esfera restrita de entendimento a que se recolhem, mas, no entanto, carregadas de viciação mental por muitos séculos consecutivos.

5 E num gesto diferente, nosso instrutor considerou:

— Demoramo-nos todos a escapar da velha concha do individualismo. A visão da universalidade custa preço alto e nem sempre estamos dispostos a pagá-lo. 6 Não queremos renunciar ao gosto antigo, fugimos aos sacrifícios louváveis. Nessas circunstâncias, o mundo que prevalece para a alma desencarnada, por longo tempo, é o reino pessoal de nossas criações inferiores. 7 Ora, desse modo, quem cultivou a enfermidade com adoração, submeteu-se-lhe ao império. 8 É lógico que devemos, quando encarnados, prestar toda a assistência ao corpo físico, que funciona, para nós, como vaso sagrado, mas remediar a saúde e viciar a mente são duas atitudes essencialmente antagônicas entre si.

9 A palestra era magnificamente educativa; entretanto, o número crescente de entidades necessitadas chamava-nos à cooperação. Muitas choravam baixinho, outras gemiam em voz mais alta.

10 Depois de longa pausa, Aniceto advertiu:

— Vamos ao serviço. Para nós, cooperadores espirituais, os trabalhos já começaram. A prece e o esforço dos companheiros encarnados representarão o termo desta reunião de assistência e iluminação em Jesus Cristo.


André Luiz



[Os capítulos do n.º 43 ao 48, dizem respeito às observações e estudos efetuados por André Luiz em uma reunião de trabalhos espirituais na  residência de Dona Isabel.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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