O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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No Centro de Mensageiros

(Sumário)

1. No dia seguinte, após ouvir longas ponderações de Narcisa, demandei o Centro de Mensageiros, no Ministério da Comunicação. Acompanhava-me o prestimoso Tobias, não obstante os imensos trabalhos que lhe ocupavam o círculo pessoal.

2 Deslumbrado, atingi a série de majestosos edifícios de que se compõe a sede da instituição. Julguei encontrar algumas universidades reunidas, tal a enorme extensão deles. Pátios amplos, povoados de arvoredo e jardins, convidavam a sublimes meditações.

3 Tobias arrancou-me do encantamento, exclamando:

— O Centro é muito vasto. Atividades complexas são desempenhadas neste departamento de nossa colônia espiritual. Não creia esteja resumida a instituição nos edifícios sob nossos olhos. Temos, nesta parte, tão somente a administração central e alguns pavilhões destinados ao ensino e à preparação em geral.


2. — Mas esta organização imensa restringe-se ao movimento de transmissão de mensagens? Perguntei, curioso.

2 O companheiro sorriu significativamente e esclareceu:

— Não suponha se encontre aqui localizado o serviço de correio, simplesmente. O Centro prepara entidades a fim de que se transformem em cartas vivas de socorro e auxílio aos que sofrem no Umbral, na Crosta e nas Trevas. 3 Acreditaria, porventura, que tanto trabalho se destinasse apenas a mera movimentação de noticiário? Amplie suas vistas. Este serviço é a cópia de quantos se vêm fazendo nas mais diversas cidades espirituais dos Planos superiores. 4 Preparam-se aqui numerosos companheiros para a difusão de esperanças e consolos, instruções e avisos, nos diversos setores da evolução planetária. 5 Não me refiro tão só a emissários invisíveis. Organizamos turmas compactas de aprendizes para a reencarnação. Médiuns e doutrinadores saem daqui às centenas, anualmente. Tarefeiros do conforto espiritual encaminham-se para os círculos carnais, em quantidade considerável, habilitados pelo nosso Centro de Mensageiros.


3. — Que me diz? — Interroguei, surpreso. — Segundo seus informes, os trabalhos de esclarecimento espiritual devem estar muitíssimo adiantados no mundo!…

2 Fixou Tobias expressão singular, sorriu tranquilamente e explicou:

— Você não ponderou, todavia, meu caro André, que essa preparação não constitui, ainda, a realização propriamente dita. 3 Saem milhares de mensageiros aptos para o serviço, mas são muito raros os que triunfam. Alguns conseguem execução parcial da tarefa, outros muitos fracassam de todo. 4 O serviço legítimo não é fantasia. É esforço sem o qual a obra não pode aparecer nem prevalecer. 5 Longas fileiras de médiuns e doutrinadores para o mundo carnal partem daqui, com as necessárias instruções, porque os benfeitores da Espiritualidade Superior, para intensificarem a redenção humana, precisam de renúncia e de altruísmo. 6 Quando os mensageiros se esquecem do espírito missionário e da dedicação aos semelhantes, costumam transformar-se em instrumentos inúteis. 7 Há médiuns e mediunidade, doutrinadores e doutrina, como existem a enxada e os trabalhadores. Pode a enxada ser excelente, mas, se falta espírito de serviço no cultivador, o ganho da enxada será inevitavelmente a ferrugem. Assim acontece com as faculdades psíquicas e com os grandes conhecimentos. 8 A expressão mediúnica pode ser riquíssima; entretanto, se o dono não consegue olhar além dos interesses próprios, fracassará fatalmente na tarefa que lhe foi conferida. 9 Acredite, meu caro, que todo trabalho construtivo tem as batalhas que lhe dizem respeito. 10 São muito escassos os servidores que toleram as dificuldades e reveses das linhas de frente. Esmagadora percentagem permanece a distância do fogo forte. Trabalhadores sem conta recuam quando a tarefa abre oportunidades mais valiosas.


4. Algo impressionado, considerei.

— Isto me surpreende sobremaneira. Não supunha fossem preparados, aqui, determinados mensageiros para a vida carnal.

2 — Ah! Meu amigo, — falou Tobias sorridente, — poderia você admitir que as obras do bem estivessem circunscritas a simples operações automáticas? Nossa visão, na Terra, costuma viciar-se no círculo dos cultos externos, na atividade religiosa. 3 Cremos, por lá, resolver todos os problemas pela atitude suplicante. Entretanto, a genuflexão não soluciona questões fundamentais do Espírito, nem a mera adoração à Divindade constitui a máxima edificação. 4 Em verdade, todo ato de humildade e amor é respeitável e santo, e, incontestavelmente, o Senhor nos concederá suas bênçãos; no entanto, é imprescindível considerar que a manutenção e limpeza do vaso, para recolhe-las, é dever que nos assiste. 5 Não preparamos, pois, neste Centro, simples postalistas, mas Espíritos que se transformem em cartas vivas de Jesus para a Humanidade encarnada. Pelo menos, este é o programa de nossa administração espiritual…

6 Calei, emocionado, ponderando a grandeza dos ensinamentos. Meu companheiro, após longa pausa, prosseguiu observando:

— Raros triunfam, porque quase todos estamos ainda ligados a extenso pretérito de erros criminosos, que nos deformaram a personalidade. 7 Em cada novo ciclo de empreendimentos carnais, acreditamos muito mais em nossas tendências inferiores do passado, que nas possibilidades divinas do presente, complicando sempre o futuro. 8 É desse modo que prosseguimos, por lá, agarrados ao mal e esquecidos do bem, chegando, por vezes, ao disparate de interpretar dificuldades como punições, quando todo obstáculo traduz oportunidade verdadeiramente preciosa aos que já tenham “olhos de ver”. ( † )


5. A essa altura, alcançamos enorme recinto.

Centenas de entidades penetravam no vasto edifício, cujas escadarias galgamos em animada conversação.

2 Os aspectos do maravilhoso átrio impressionavam pela imponente beleza. Espécies de flores, até então desconhecidas para mim, adornavam colunatas, espalhando cores vivas e delicioso perfume.

3 Quebrando-me o enlevo, Tobias explicou:

— As diversas turmas de aprendizes encaminham-se às aulas. Procuremos Aniceto no departamento de instrutores.

4 Atravessamos galerias vastíssimas, sempre defrontados por verdadeiras multidões de entidades que buscavam as aulas, em palestras vibrantes.

5 Em pequeno grupo que parecia manter conversação muito discreta, encontramos o generoso amigo da véspera, que nos abraçou sorridente e calmo.

— Muito bem! — Disse, alegre e bondoso, — esperava o novo aluno, desde a manhãzinha.

6 E em virtude de Tobias alegar muita pressa, o nobre instrutor explicou:

— Doravante, André ficará aos meus cuidados. Volte tranquilo.

Despedi-me do companheiro, comovidamente.

7 Notando-me o natural acanhamento, Aniceto determinou a um auxiliar de serviço:

— Chame o Vicente em meu nome.

E, voltando-se para mim, esclareceu:

— Até agora, Vicente é o meu único aprendiz médico. Vocês ficarão juntos, em vista da afinidade profissional.

8 Não haviam decorrido três minutos e tínhamos Vicente diante de nós.

— Vicente, — falou Aniceto sem afetação, — André Luiz é nosso novo colaborador. Foi também médico nas Esferas carnais. Creio, pois, que ambos se encontrarão à vontade, partilhando a mesma experiência.

9 O interpelado abraçou-me, demonstrando extrema generosidade, e, após encorajar-me com belas palavras de estímulo, perguntou ao nosso orientador:

— Quando deveremos procurá-lo para os estudos de hoje?

10 Aniceto pensou um instante e respondeu:

— Esclareça ao novo candidato os nossos regulamentos e venham juntos para as instruções, após o meio-dia.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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