O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

O Espírito da Verdade — Autores diversos — F. C. Xavier / Waldo Vieira


30


As estatuetas

Cap. X — Item 14.


1 O diálogo, à noite, entre as duas senhoras, continuava na copa:

— Você, minha filha, deve perdoar, esquecer… Lá diz o Evangelho que costumamos ver o argueiro no olho do vizinho, ( † ) sem ver a trave dentro do nosso…

— Mas, mamãe, foi um insulto! O moço parou à frente da janela, viu as minhas estatuetas e atirou a pedra!

2 E Dona Balbina, senhora espírita de generoso coração, prosseguia falando à filha, Dona Rogéria:

— Ele é um pobre rapaz obsidiado.

— História! É uma fera solta, isto sim!

3 — Mas Dona Margarida, a mãe dele, foi sempre amiga…

— Isso não vem ao caso… Cada qual é responsável pelos próprios atos. A senhora sabe que ele é maior.

4 — Precisamos perdoar para sermos perdoados…

— Ser bom é uma coisa, e outra coisa é ser tolo! Darei queixa à polícia… Somente não queria fazê-lo sem ouvi-la; contudo, Fábio e eu estamos decididos. Meu Fábio já anda cansado do volante… Pobre marido!… Dinheiro cavado em caminhão é duro de ganhar…

5 — Meu conselho, filha, é desculpar e desculpar…

— Mas o prejuízo é de dois mil cruzeiros, além da injúria!

6 — Mesmo assim, o perdão é o melhor remédio.

— Ah! que será do mundo, assim, sem corrigenda, sem justiça?

7 Nesse instante, alguém bate à porta.

Ambas atendem.

O portador comunica:

— Um desastre! O senhor Fábio trompou uma casa e a parede caiu!

8 Mãe e filha correm para o local, que se encontra entulhado de multidão, e veem a casa acidentada. É justamente a moradia de Dona Margarida, a mãe do rapaz que atirara a pedra.

9 O caminhão, num lance estouvado, derribara uma parede lateral e penetrara, fundo, inutilizando todo o mobiliário da sala de refeições.

10 Apagara-se a luz no quarteirão e as duas, sem que ninguém as reconhecesse, podiam escutar Dona Margarida, que sustentava uma vela acesa, diante do guarda de trânsito:

— Peço-lhe, — dizia ao fiscal, — não abrir processo algum. Não quero reclamações.

11 — Mas, Dona Margarida, — insistia o funcionário, — a senhora vai ter aqui um prejuízo para mais de quarenta contos!

— Não importa. Deus dará jeito. “Seu” Fábio e Dona Rogéria são meus amigos de muito tempo.

12 As duas senhoras, porém, não puderam continuar ouvindo, pois a voz irritada de Fábio elevou-se da multidão e era necessário socorrê-lo, porque o infeliz estava ébrio.


Hilário Silva


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir