O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Lázaro redivivo — Irmão X


39


Serviço de investigação

1 O investigador policial, a propósito de problemas intrincados, é sempre uma pessoa que deve educar os olhos para identificar o mal. Nos crimes obscuros, nos furtos misteriosos, põe-se a campo, em busca dos verdadeiros culpados. Às vezes, socorre-se da injustiça, até que o delinquente apareça à luz meridiana, confessando a própria falta. Seus esforços quase sempre são louváveis; entretanto, como a justiça do mundo, em muitas ocasiões, é simbolizada por uma deusa cega, a ternura fraternal não é característica de suas funções. 2 É lógico reconhecer que a sociedade humana não lhe dispensa o concurso. O “homem-lobo” ainda predomina entre as criaturas, depredando e assaltando, arruinando e destruindo. Compreendemos, desse modo, quanto é imprescindível a fiscalização no instituto da ordem social. O investigador, porém, a título de exercer fielmente a missão que se lhe conferiu, timbra em afastar-se da piedade. É preciso arrancar confissões, corrigir o mal, retificar o desvio e apagar, de vez, a possibilidade de novos crimes. São atribuições ingratas, mas naturais e humanas, em face dos desequilíbrios provocados pela perversidade deliberada. 3 Em sã consciência, o profissional da segurança pública não pode ser criticado, desde que não procure estancar o sangue, derramando mais sangue, nem reprimir a violência impulsiva com a violência organizada. O médico também faz amputações difíceis e dolorosas e aplica o ferro candente a feridas de mau caráter. E as chagas sociais exigem ânimo forte dos cirurgiões da polícia técnica. Não se pode curar os golpes fundos da maldade voluntária com perfume de rosas sem espinhos. Muita vez, é indispensável cortar e ferir, isolar e cauterizar.

4 Esse é um setor de benemerência da criminologia. Referimo-nos a minúcias psicológicas do investigador, para demonstrar a elevação de sua tarefa na zona que lhe é própria, valendo-nos, ainda, do ensinamento para algumas observações, no serviço da espiritualidade superior.

5 Quantas vezes os companheiros de luta improvisam investigações, a pretexto de caridade? Reúnem-se, forçadamente, em torno de médiuns, como detetives arguciosos, procurando a pretensa maldade. Não lhes criticamos a observação construtiva, mas lastimamos as péssimas condições de espírito com que recorrem à experimentação.

6 Não seria mais útil o adiamento da tentativa? E não será mais prudente, no capítulo do obséquio, que os amigos da doutrina e os médiuns de boa intenção se abstenham de colaborar nesses intentos prematuros?

7 É um erro procurar os desencarnados esclarecidos à luz da Revelação Divina, mantendo no coração propósitos apenas compreensíveis nos investigadores policiais, que se valem deles, obrigatoriamente, no trato com os criminosos contumazes.

8 Todos os que organizam sessões mediúnicas, com o objetivo de satisfazer aos catadores de delinquentes, não se acautelam contra os perigos a que se conduzem, porque no Plano invisível existem também entidades perversas, que não perdem ensejo de participar de condenáveis aventuras; e o trabalho dos Espíritos Superiores, nessas ocasiões, resume-se, quase, a preservar os pesquisadores tirânicos da influência de perigosos malfeitores desencarnados, que respondem às preocupações de ordem inferior que os assaltam.

9 A reunião mediúnica é também uma visita das almas encarnadas ao Plano espiritual. Elevam-se os companheiros terrestres, através do pensamento, para que nos encontremos em “algum lugar”. 10 Se o cooperador humano conta com excelentes relações na Esfera invisível, delas recebendo contribuições efetivas de socorro e iluminação, como submeter os seus benfeitores distantes à investigação de pessoas, respeitáveis embora pelo trabalho que realizam na Terra, mas absolutamente despreparadas quanto às responsabilidades do espírito? 11 Entregaria o homem de bem, ao primeiro desconhecido que lhe visitasse a casa, as intimidades do santuário doméstico, a pretexto de exemplificar a caridade evangélica? Como esquecer comezinhos deveres de segurança do bem, se o próprio Cristo recomendou aos seguidores que não lançassem pérolas a esmo?

12 É possível que muitos amigos nossos, ainda encarnados, obedecendo a impulsos de excessiva afetividade, atirem a qualquer aventureiro adornado de títulos exteriores as joias da confiança e do otimismo que lhes foram doadas pelas inteligências que habitam o Plano Divino. Mas nós outros, de olhos abertos e vigilantes, diante do campo infinito da Vida, não podemos fazer o mesmo.

13 A caridade é a virtude sublime que salva, aprimora, enaltece e aperfeiçoa, mas a imprudência, dissimulada por palavras lisonjeiras, não lhe pode arrebatar a auréola fulgurante.

14 É razoável que os estudantes do Espiritismo evangélico não desprezem a análise construtiva. É impossível viver às cegas num terreno tão claro, onde a liberdade para discernir, como deusa da razão vitoriosa, não permite a soberania das trevas interiores. Mas que ninguém converta ambiente de legítima fraternidade em gabinetes policiais, onde os Espíritos Elevados devem comparecer como delinquentes submissos. 15 Procure-se a companhia desses Benfeitores, tendo o espírito de alegria, serenidade e amor, com que se buscam as afeições generosas e dignas da Terra. Os que não puderam proceder assim, adiem o cometimento, ainda que estejam diante da insistência apressada dos melhores amigos, porque o pensamento do homem, onde quer que se encontre, emite raios de atração, buscando receptores adequados, e quem se reúne, procurando malfeitores e criminosos, há de encontrá-los, tanto aí como aqui.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir