O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Eles voltaram — Familiares diversos


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Filho retorna ao chamado da oração

Vitimado em acidente automobilístico, faleceu em Barretos, SP, a 6 de janeiro de 1979, o jovem Klecius da Cunha Rodrigues, deixando seus pais desconsolados. Filho de Aníbal Rodrigues e Ruth da Cunha Rodrigues, Klecinho — assim carinhosamente chamado na intimidade estava com apenas 23 anos.

Porém, dez meses depois, mais exatamente a 2 de novembro, ele voltaria a manter um contato afetuoso com seus pais, através da via mediúnica, dando provas indiscutíveis da imortalidade da alma. Mesmo sem o veículo físico, o seu amor ainda resplendia, com mais força, vencendo barreiras e iluminando os corações de seus entes queridos…

A carta de Klecinho, endereçada aos seus pais, foi psicografada por Chico Xavier em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas.

“A carta trouxe-nos a certeza da vida no Além”

Os progenitores de Klecinho, muito felizes com a missiva do filho inesquecível, providenciaram a sua divulgação num impresso bem confeccionado, que nos chegou às mãos. Através de amigos localizamos o endereço da família, residente em Barretos, e graças à gentileza e boa vontade do Sr. Aníbal, podemos agora apresentar ao leitor a seguinte entrevista feita com ele, por carta:

1. — Sr. Aníbal, como e onde foi o acidente?

R. — O acidente deu-se na estrada Barretos-Guaíra, às 0:30 horas, quando meu filho, acompanhado de seu amigo Luiz Benedito (Ditinho), se dirigiam a Guaíra para participarem de um baile de formatura. O Volkswagen dirigido por Klecius chocou-se com um Opala, também de Barretos, com sete pessoas. Apenas meu filho faleceu e as causas do acidente não foram bem esclarecidas.


2. — Como conheceram o médium?

R. — O nosso conhecimento junto ao médium Chico Xavier deu-se em razão da busca de conforto espiritual, e acima de tudo pelo desejo de obtermos notícias do nosso pranteado filho Klecius. Estivemos por cinco vezes em Uberaba, entrando em contato direto com Chico por três vezes, até a chegada da mensagem psicografada, que nos trouxe alento, paz e, o mais importante, a certeza da vida no Além.


3. — O médium deu-lhes alguma informação do Plano Espiritual, antes do recebimento da carta?

R. — Em nosso encontro com Xavier, na tarde de 2 de novembro de 1979, algumas horas antes da psicografia da carta, ele perguntou-me quem era Maria Rodrigues, tendo-lhe respondido que se tratava de minha avó, falecida em Portugal, há muitos anos. Disse-me ele que ela ali se encontrava, em Espírito, dizendo que Klecius já estava integrado na Vida Espiritual. A seguir, Chico perguntou-me se eu conheci alguém de nome Werneck, tendo-lhe respondido afirmativamente, pois fomos amigos em Bebedouro. Mantendo o diálogo, informou-me o médium que também ele ali se encontrava, em Espírito, confirmando a mesma notícia de meu filho. Agradeci e expliquei ao Chico que Oscar Werneck, falecido há muitos anos, foi presidente da Companhia de Estrada de Ferro São Paulo-Goiás.

Ao entrevistar-se com minha esposa, o médium perguntou-lhe se ela se recordava de seus parentes José e Ana Cunha, ali presentes, em Espírito. Ruth, minha esposa, respondeu afirmativamente, lembrando-se de seus primos. Eles residiam em Jundiaí, SP, sendo que José morreu em acidente ferroviário, em data que não mais recordamos; e Ana, em 24 de agosto de 1954.


4. — Em suas palavras finais, o amigo gostaria de prestar mais algum esclarecimento?

R. — Acredito ser necessário esclarecer um trecho da mensagem de Klecius, que chama a atenção, logo de início. É o seguinte: “Estou presente ao chamado da oração, com que se transformaram numa corrente de amor, buscando-me para falar-lhes.” Ora, ao chegarmos a Uberaba, a 2 de novembro de 1979, minha esposa, em reunião comigo, meus filhos Kleber e Kledson, minha nora Maria Cristina e com Maritza, namorada de Klecius, conclamou-nos a fazer “uma corrente de orações”, pedindo permissão ao Alto para que nosso filho desencarnado pudesse comunicar-se pelo médium Chico Xavier, naquela noite.

Podemos — aqui incluindo minha família — hoje dizer, embora saudosos do nosso querido Klecinho, que estamos convictos de sua integração e felicidade no Plano Espiritual, igualmente certos de que um dia estaremos todos juntos, sob as bênçãos de Deus.


“SAUDADE PARA NÓS DEVE SER FÉ NOVA EM DEUS”


1 Querido papai Aníbal e querida mãezinha, abençoem-me.

2 Estou presente, ao chamado da oração, com que se transformaram numa corrente de amor, buscando-me para falar-lhes.

3 O golpe foi grave demais e creiam que quando o choque se verificou eu não tive a menor ideia de sofrimento.

4 Senti um desejo enorme de falar, que uma sensação de esmorecimento abafava. 5 E nessa sonolência caí numa espécie de letargia em que passei a sonhar com as realidades que estavam acontecendo.

6 Quanto tempo gastei nisso eu não sei. Lembro-me somente de que, ao retornar ao meu próprio discernimento, não mais me achava na estrada de Guaíra e sim num leito amplo em que me acreditei internado para tratamento de qualquer estrago havido no corpo. 7 O meu avô Augusto Cândido n e outros amigos começaram a conversar comigo de leve. 8 Tantas diferenças, porém, registrei ao primeiro relance de olhos pelo ambiente, que não tive dúvidas, não mais me achava em nosso doce convívio.

9 O coração apertou, como se uma dor aguda me fulminasse devagarinho, mas tive a assistência de abnegados companheiros que não mais me conservaram distante da verdade.

10 O Dr. Urbano n e Dr. Paraíso Cavalcante, n de Barretos e Bebedouro, me prestaram emocionante apoio e, aos poucos me recupero, a ponto de já conseguir escrever-lhes como desejava.

11 Tenho muitas saudades para oferecer à querida Maritza n e aos meus irmãos Kledson e Kleber, pedindo a eles me auxiliarem com o suporte de pensamentos positivos, que me tranquilizem aqui.

12 Rogo à Maritza perdão se a deixei com tantas promessas não cumpridas. Não sei o que dizer nesta hora. Sei que o meu amor por você, querida Maritza, não diminuiu de extensão e tamanho, e que se pudesse regressar ao corpo físico, seria meu desejo de imediato unirmos para toda a vida; entretanto, já observei bastante para compreender a minha necessidade de desprendimento.

13 Compreendo que de ora em diante devo amar a você como se adora uma criança querida, para quem nos achamos no dever de auxiliar com a necessária proteção ou querer a você qual se me visse à frente de uma flor de Deus, criada pela sabedoria divina para brilhar em outros recantos diferentes daqueles que passaram a ser minha escola e moradia, mas, mesmo assim, posso continuar a segui-la em pensamento, rogando a Deus pela sua felicidade. 14 Por agora os nossos impulsos estão entranhados um no outro, mas você me auxiliará com as suas preces, não para que a esqueça, porque isso é impossível, mas para que eu compreenda a obrigação de transformá-la em minhas lembranças por irmã e companheira do coração.

15 Não pense em desânimo e tristeza; Deus me abençoará para que seja esperança em seus sonhos de menina e moça, e para que eu colabore com o seu esforço a fim de que nos amparemos um ao outro, nestas horas de sublimação. 16 Tantas vezes nos unimos para vivermos juntos; n entretanto, presentemente, é necessário nos unamos em oração para continuarmos juntos, sem o imperativo da posse. Conseguiremos isso, enfim.

17 Deus me concederá pulso firme e saberei cooperar a fim de que o futuro nos traga um companheiro digno de você, para fazer-nos felizes.

18 E me incluo nessa aliança, porque a sua alegria continua sendo aquela que sou capaz de sentir.

19 Sempre que possível, conviva com a mãezinha Ruth e com todos que deixei para você. Você é parcela de nossa família e não nos separemos; e o tempo nos dirá que a Bondade de Deus nunca nos abandona.

20 Quem escreve qual eu faço de uma vida para outra, tem um mundo de ideias e notícias para transmitir; entretanto, a verdade é que o tempo é o mesmo para os nossos entes queridos que ficaram e não nos é lícito abusar.

21 Quero dizer ao papai e aos meus irmãos que o Benedito n é sempre um amigo correto e sincero a quem devo muita bondade.

22 O resto é saudade, mas saudade não deve ser regada de pranto, ainda mesmo quando nasça das profundezas de nossa alma; saudade para nós deve ser fé nova em Deus e confiança em nós mesmos para conquistas de tempos novos.

23 Com essa saudade gravo aqui as minhas palavras finais desta carta.

24 Pai querido e querida mãezinha, irmãos de quem não me esqueço e querida Maritza, com todos corações queridos que palpitam por dentro de minha amizade e de minha gratidão, recebam o meu abraço. E com o meu abraço fica a minha oração, pedindo a Deus nos mantenha reunidos na paz e na felicidade de sempre.

25 Muito amor e reconhecimento do


Klecius n


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — O meu avô Augusto Cândido — Avô materno, falecido em Bebedouro, SP, a 6/9/1946.


2 — Dr. Urbano — Dr. Urbano de Brito, médico, não íntimo da família. Faleceu em Barretos, SP, a 31/12/1947.


3 — Dr. Paraízo Cavalcante — Dr. Francisco Duarte Paraízo Cavalcante, médico conhecido da família, residia em Bebedouro, onde desencarnou em 21/11/1954.


4 — Maritza — namorada de Klecius, por quem nutria um grande amor.


5 — Kledson e Kleber — irmãos de Klecius.


6 — Tantas vezes nos unimos para vivermos juntos — Aqui ele faz uma clara referência a existências anteriores, quando, em passado longínquo, os namorados do presente se uniram pelos laços do matrimônio. Assim, à luz da reencarnação, é fácil entender o porquê das grandes afeições, muitas vezes afloradas em período curto de convivência, pois foram cultivadas e, naturalmente, aprimoradas, ao longo do tempo, em vidas sucessivas.


7 — Benedito — Luiz Benedito Batista Prado, amigo de Klecius, encontrava-se no carro acidentado, do qual saiu ileso.


8 — Kleclus — Klecius da Cunha Rodrigues nasceu em Bebedouro, SP, a 21/1/1956. Dotado de uma personalidade bondosa e alegre, deixou um grande círculo de amigos, principalmente em Barretos, SP, onde mais viveu.


Hércio Arantes


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