O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Entre duas vidas — Familiares diversos


17


Esposo e pai redivivo

1 Querida Nenem. Deus nos abençoe, ao lado de nossos filhos, nesta hora em que, novamente juntos, realizamos o nosso velho sonho de uma viagem ao recanto em que comungamos nas mesmas preces.

2 Tenho lágrimas paralisando-me os braços, a me entravarem os movimentos. É a saudade convertida em esperança, o adeus transformado em bênção de reencontro.

3 A morte é apenas continuidade.

4 O túmulo é somente a porta da grande renovação.

5 Contudo, ninguém pode extirpar do coração as raízes do amor eterno, do amor que vence os abismos da morte, indicando-nos o caminho da verdadeira felicidade.

6 Não lhe escrevo esta carta com qualquer espírito de novidade ou surpresa, porque, de fato, estamos ainda juntos em nosso templo do lar, a bendita escola em que me preparei ante a vida espiritual.

7 Nosso núcleo de oração e trabalho, ainda e sempre, é o jardim de nossas almas em cujos canteiros abençoados cultivamos as flores de nossas mais belas aspirações.

8 É por isso que se algo lhe posso pedir, tanto quanto aos nossos filhinhos presentes, rogo-lhes fidelidade ao nosso antigo programa de comunhão espiritual.

9 Seja a vontade do Cristo a nossa vontade e que o arado evangélico não seja esquecido por nossas mãos.

10 Tanto quanto me é possível, tenho falado a vocês, por nossa Ruth e, como sempre espero a serenidade e a coragem de todos, a fim de que a Bênção do Senhor nos mantenha em sua luz.

11 Sobretudo a você, companheira querida, peço calma e confiança, na certeza de que o seu velho amor não vive em separação.

12 Seu exemplo de carinho ainda é o meu pão espiritual.

13 Sua figura de doce heroína, silenciosa e resignada, é a estrela de minhas horas.

14 Esposa querida e abnegada, mãe de meus filhos, enxugue o seu pranto de saudade e erga seus olhos para o céu. Nunca sofreremos o martírio da ausência, porque a nossa união foi entretecida em Jesus.

15 Não se deixe abater pelas aparências de solidão. Levante-se, cada dia, com o seu ânimo renovado.

16 Além da Terra, outros horizontes se nos desdobram às almas. Depois da noite do sepulcro, divina alvorada ressurge para nós deslumbrante de luz.

17 É verdade que ainda experimento a sombra da saudade. No entanto, com a sua fortaleza, estarei mais forte e com a sua paciência, saberei esperar com mais alegria.

18 Não se julgue desobrigada dos santos deveres que ainda lhe prendem na Terra o espírito afetuoso e sensível. Nossos filhos são tesouros de nossa vida, reclamando-lhe, ainda, a presença e a dedicação. Auxilie a todos com a sua ternura e devotamento incansáveis.

19 Hoje, minha querida Nenem, com mais segurança, simbolizo em você a árvore frondosa e sublime em que nós todos, nossos filhinhos e eu, tecemos o ninho de nosso amor.

20 Que Deus alimente a seiva de sua bondade constante, conservando-a enriquecida de pétalas da alegria, com que você nos sabe estimular e inspirar, são os meus votos do coração.

21 Não estou escrevendo sem o auxílio de nossos instrutores queridos. As lágrimas jubilosas não me permitiriam o necessário equilíbrio. Mas, tanto quanto me é possível, desejo expressar-lhes a minha devoção incessante, situando em cada frase o calor de minh’alma para que me ouçam, tal qual sou na intimidade de nossa comunhão afetiva.

22 Peço ao nosso Albertinho continuar valoroso em suas tarefas abençoadas, junto de nossa Aparecida e de todos os nossos, mantendo na consciência reta o culto de cada dia. Nosso filho, graças a Deus, tem sido nosso sustentáculo, e rogo ao Senhor no-lo mantenha resoluto no bem.

23 Diga à nossa Ruth que tudo faremos para cooperar, a fim de que ela e o Dionísio sejam sustentados pelo socorro do Alto nas provas redentoras da estrada humana. Espero que minha filha encontre na mediunidade, em nosso santuário de serviço e oração, o alimento da fé, na convicção de que ajudando somos ajudados, e de que acendendo claridade para os outros, não nos faltará luz ao caminho.

24 Abrace por mim a todos, sem esquecer-me de nossa Maria Emília, de nossa Tereza, de nossa Elza, e de nossa Lourdes. Trago todos em meu coração, no altar de meu invariável carinho.

25 A todos, ao nosso filho querido, às nossas filhas abençoadas, e aos nossos netos inesquecíveis os nossos votos de paz e felicidade, com a bênção de Jesus, hoje e sempre:

26 Agradeço à nossa Édera e ao nosso Gualter a ternura de todos os instantes, reunindo todos vocês em meu grande abraço.

27 E agora, minha companheira querida, que os amigos me recomendam o ponto final nesta missiva de reconhecimento e de amor, peço-lhe guardar minh’alma em sua alma e meu coração em seu coração, com a certeza inapagável de que estamos unidos hoje como ontem, misturando nossas alegrias e nossas lágrimas na súplica de bênçãos ao Céu.

28 É tudo o que, por agora, lhe pode dizer aqui o companheiro reconhecido, invariavelmente ao seu lado,

Alberto


(Pedro Leopoldo, 16 de agosto de 1957)


NÃO ADIANTA MORRER


Das quatro mensagens de Alberto Ferrante que se encontram em nosso poder, todas psicografadas pelo médium Chico Xavier, graças à gentileza de D. Nenem e de Albertinho, escolhemos a que intitulamos “Esposo e Pai Redivivo”, recebida em Pedro Leopoldo, Minas, a 16-8-1957, não tanto pelo seu aspecto cronológico, mas sobretudo pelo tema do amor que prossegue após a morte, dificultando-nos, muita vez, o processo de comunicação verbal, ao nos referirmos ao cônjuge que fica, surgindo a dificuldade em nomeá-lo por esposo (a) ou viúvo (a) da entidade comunicante. Acontece que “a morte é apenas continuidade” e “ninguém pode extirpar do coração as raízes do amor eterno, do amor que vence os abismos da morte, indicando-nos o caminho da verdadeira felicidade”.

Servindo-nos dos dados biográficos fornecidos pelo Grêmio Espírita de Franca, publicados num folheto, em setembro de 1955, atentemos para o seguinte:

Alberto Ferrante, famoso pintor, nasceu em Franca, Estado de São Paulo, no dia 15 de novembro de 1901 e aí desencarnou a 23 de junho de 1955, filho de Jacinto Ferrante e de D. Maria Oliveira Lima. Casado com a Sra. Ana Silva Ferrante, D. Nenem, deixou os seguintes filhos, alguns deles citados na mensagem: Ruth, casada com o Sr. Dionísio P. dos Santos; Édera, casada com o Sr. Gualter de Almeida Cardoso; Alberto, casado com D. Aparecida Liporoni Ferrante; Maria Emília, casada com o Sr. Walter de Oliveira Lima; Lourdes, casada com o Sr. Olívio Rodrigues; Elza Odete, casada com o Sr. Fábio Vieira Andrade; e Tereza, casada com o Sr. Ciríaco Garcia Lopes. Até à época da desencarnação, deixou vinte netos.

Alberto Ferrante — diz o folheto citado — desde criança, manifestou sua tendência para o belo. Sua vocação era a pintura. Integrou-se nessa arte de alma e coração, mesmo sem mestre, e sem cursos especiais.

Foi um dos fundadores da Escola Francana de Pintura, reconhecida no Brasil todo pelas criações de bom gosto.

Fazia parte dos críticos da Escola Francana de Belas Artes. Deixou inúmeros quadros, onde seu talento se revela em admiráveis emoções artísticas. Dedicou-se às paisagens, natureza morta, murais e pinturas sacras.

Sua maior expansão, no entanto, ficou firmada nas paisagens do pôr do sol…

Diversos templos católicos, das cidades de Arceburgo, São Tomás de Aquino, Ibiraci, Delfinópolis, São José do Rio Preto, Botelho e outras, foram pintadas por Alberto Ferrante e isso representa patrimônio de arte inestimável.”


Concluindo, fomos informados de que Alberto Ferrante era espírita convicto e homem de virtudes exemplares, e a Câmara Municipal de Franca, por unanimidade, prestou-lhe justa homenagem, dando seu nome a uma rua da Vila Chico Júlio, no Distrito da Estação.

Numa época de tanta violência, em que muitos chegam a duvidar do futuro do Homem na Terra, tal a onda de ódio que parece invadir todo o planeta, é sem dúvida confortador ouvir de alguém que demandou o túmulo dizer à sua esposa que se transformou em viúva: “peço-lhe guardar minh’alma em sua alma e meu coração em seu coração, com a certeza inapagável de que estamos unidos hoje como ontem, misturando nossas alegrias e nossas lágrimas na súplica de bênçãos ao Céu”.


Elias Barbosa


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