O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Entre duas vidas — Familiares diversos


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Esposa e mãe

1 Meu bem, louvado seja Deus que nos permite esta hora abençoada de reencontro, ao lado de nossos filhos.

2 Amparada por nossa abnegada Mariana e por outros amigos, aqui me encontro, na tentativa de escrever-lhe esta carta, que desejo mais longa.

3 Sinceramente, as lágrimas me sobem do íntimo, dificultando-me os movimentos. Nossos Benfeitores, porém, auxiliam-me, como é necessário, e procurarei expressar a você os meus sentimentos, na alegria e na saudade que me tomam o coração.

4 Venho pedir a você e aos nossos para que a fé realize, em nosso favor, a indispensável produção de fortaleza e esperança.

5 Sei que a paciência e a resignação permanecem conosco; entretanto, por mais firme a nossa confiança no Alto, a separação é sempre uma prova aflitiva e inquietante.

6 De minha parte, venho fazendo quanto me é possível. O possível para acomodar-me em espírito com as nossas realidades novas. A princípio, confesso que o choque final me feriu muito.

7 Não era somente o trabalho pelos nossos irmãos sofredores, a sombra que me dilacerava o espírito… Era também você, meu bem, nossos filhos, nossa casa, nossos planos…

8 Sem dúvida, sua companheira estava preparada à frente da grande viagem, mas o amor da esposa e o carinho materno me transformavam numa árvore, profundamente enraizada na Terra.

9 Quem pode sondar a misteriosa ternura do coração humano, nas despedidas da morte?

10 Saiba que só a vida vitoriosa me esperava, que o corpo físico havia cumprido a própria missão, que não seria justo prolongar os cuidados que a minha presença exigia; no entanto, se alguém me perguntasse algo, quanto aos últimos desejos, decerto que a minha resposta expressaria o anseio de ficar, de permanecer em nossa união sublime que, em verdade, foi sempre o melhor paraíso para a minha alma.

11 Contudo, compreendi, de imediato, que a conformação deveria ser a nossa atitude. Sob a dedicação afetuosa do nosso Romeu de Ângeles e de nossa Mariana, tanto quanto sob a proteção generosa de outros amigos, transferi-me sem resistência.

12 Até hoje, ainda me vejo na convalescença semelhante à dos enfermos que se recuperam, pouco a pouco, depois de grave moléstia. Ainda assim, gradativamente, venho retomando o meu bom humor e a minha alegria.

13 Sei, agora, mais que nunca, quão sublime é a Bondade de Jesus e, nessa confiança, procuro descansar a mente, quando as lembranças do mundo se agigantam dentro de mim.

14 Peço a você, meu bem, a você e especialmente aos nossos filhos Romeu e Hilda para que a nossa tarefa não seja interrompida.

15 Daquele santuário de amor em que situávamos nossas preces e nossos ideais, a benefício de nossos irmãos perturbados, retirei a paz de consciência que hoje me felicita.

16 Bem-aventuradas foram para mim todas aquelas horas, tão poucas, em comparação com as bênçãos que hoje recebo, nas quais procurávamos, de algum modo, aliviar a flagelação espiritual de quantos nos batiam às portas da fé, suplicando socorro.

17 E com vocês, espero continuar, tão logo me veja plenamente fortalecida, na tarefa começada por nosso grupo doméstico. Amparada nos valores mediúnicos de vocês três, conto com a felicidade de prosseguir trabalhando. Agora sinto como é bela a sementeira da caridade.

18 No mundo, a sombra do próprio mundo como que nos obscurece a visão. Mas as realidades eternas, efetivamente, nos reajustam e reconhecemos que o nosso verdadeiro lucro procede invariavelmente daquilo que sabemos espalhar no campo do bem.

19 Uma só lágrima que enxugamos nos olhos alheios, uma frase de consolo e de estímulo, uma prece que oferecemos ao próximo em dificuldade, uma gota de remédio ao doente ou uma simples conversação em que buscamos reerguer o ânimo abatido de quem jaz caído nos espinhos do sofrimento ou nas trevas do desânimo, falam de nós aqui, a benefício de nossa felicidade real, enriquecendo-nos a estrada de luz e de incentivos santos.

20 Meu bem, você não se deixe abater hora alguma. Reúna suas forças e esteja convencido de que prosseguimos sempre juntos.

21 Romeu, filho querido, você e Hilda encorajem-se. O serviço é grande e não podemos desertar.

22 A ventura, como a sonhamos, pode ser alicerçada na Terra, mas não pode ser encontrada aí no mundo em seus pontos mais altos. 23 E como é preciso merecê-la com Jesus, cuja bondade infinita nos segue, atualmente, em toda parte, confio em vocês dois, cada vez mais unidos, saberão vencer obstáculos e pedras da senda para que, intimamente associados, consigamos adquirir a vitória de nossa comunhão perfeita do amor divino.

24 Meus filhos, abençoem a dor. É por ela que nos renovamos para o trabalho de redenção que nos cabe realizar. Juntos, devotar-nos-emos à paz de todos.

25 Nosso Rubens, os meninos, todos receberão de nossa perseverança a força precisa de que carecem para a compreensão mais clara da vida.

26 Em todos os problemas e dificuldades, reunir-nos-emos na faixa de luz da oração.

27 Nossa oportunidade de melhoria para o futuro é preciosa e grande demais para que venhamos a perdê-la, por simples receio da luta.

28 Creio que o nosso Romeu, realmente, abraçará, por agora, tarefas diferentes, mas nós, com o auxílio dele, embora distante, e com a cooperação de outros companheiros, continuaremos o bom combate.

29 Guardem nosso velho otimismo. Nada de pranto, de aflição, de tristeza. Somos chamados à honra de servir aos nossos semelhantes necessitados e, com Jesus por sol de nossas aspirações e atitudes, venceremos no grande caminho.

30 Não escrevo mais por hoje, em vista de não me ser possível continuar. Nossa querida Mariana lembra-me o ponto final e devo obedecer.

31 Hilda, rogo a você, minha filha, coragem e confiança. Romeu, meu filhinho, não desanime. Estarei com vocês, tanto quanto me seja possível.

32 Meu bem, sou muito grata ao devotamento do nosso bom amigo Dr. Plínio, em meu favor, e agradeço a ele quanto fez por nós.

33 Minha gratidão ao nosso Gerson, que nos partilha as preces desta hora de carinho e comunhão.

34 Mais tarde conversaremos. Mais tarde, reconheceremos juntos a felicidade de receber a bênção do Senhor que nos reaproxima, trazendo-nos do passado ao esforço do presente, para a construção de nosso abençoado futuro.

35 Meu bem, confie em Deus e receba o meu coração reconhecido por todo o seu amor e por toda a sua abnegação junto de mim.

36 Com o meu beijo de carinho e agradecimento em seu coração e em suas mãos, ao seu lado e em nossa nova luta, sou e serei sempre


Elvira


(Pedro Leopoldo, 2 de julho de 1954)


PRODUÇÃO DE FORTALEZA E ESPERANÇA


Antes de quaisquer considerações em torno do conteúdo doutrinário da própria mensagem, vejamos algo de sua história com as palavras do Sr. Carmelo Grisi.

“Chegando a Belo Horizonte, — diz ele — procuramos saber se Chico Xavier se encontrava em Pedro Leopoldo e se havia possibilidade de nos atender pessoalmente. Como a resposta ao nosso telefonema fora afirmativa, dirigimo-nos, sem perda de tempo, à Fazenda Modelo, próxima à cidade de Pedro Leopoldo, onde Chico já nos esperava. Do alpendre da fazenda, veio ao nosso encontro e disse-me:

— Carmelo, D. Elvira se acha aqui, em companhia de três entidades amigas, pois que ela ainda está em convalescença. A primeira entidade chama-se Camilo Matos, vocês o conhecem?

— Sim, de nome. Trata-se de um militante da Doutrina Espírita, que residiu em Ribeirão Preto.

— A segunda entidade, prosseguiu Chico, é D. Gracinda Batista e a terceira D. Mariana, vocês a conhecem?

— Sim, respondeu Carmelo Grisi, a primeira só de nome, e a segunda é minha tia Mariana Agreli.

— Não, retrucou Chico, os Espíritos estão me dizendo que a terceira entidade tem o nome de Mariana Aurora Ferreira. Vimos então que se tratava de uma velha amiga e companheira da irmã Elvira, em São José do Rio Preto.”


D. Elvira Abrigatto Grisi nasceu em Jaboticabal, Estado de São Paulo, no dia 17 de julho de 1901, e desencarnou em São Paulo, Capital, a 12 de fevereiro de 1954.

Num curto espaço de tempo, residiu na cidade de Nova Granada, Estado de São Paulo, passando o resto de sua vida terrena a residir na cidade de São José do Rio Preto, no mesmo Estado. Militou no trabalho espírita, no setor da Desobsessão, durante trinta e oito anos ininterruptos.

Fato digno de se notar na mensagem recebida pelo médium Xavier, ao final da reunião pública do Centro Espírita Luiz Gonzaga, na noite de 2 de julho de 1954, cinco meses somente após a desencarnação, é que a autora espiritual se refere a dois Romeus, sendo o primeiro deles o seu Espírito Guia, durante o jornadear terreno, Romeu de Ângeles, confirmando as questões n.os 489 a 521 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, a respeito dos Espíritos protetores, familiares ou simpáticos.

Expressiva, sem dúvida, esta advertência aos filhos que ficaram no mundo:

“A ventura, como a sonhamos, pode ser alicerçada na Terra, mas não pode ser encontrada aí no mundo em seus pontos mais altos”, enfatizando: “Meus filhos, abençoem a dor. E por ela que nos renovamos para o trabalho de redenção que nos cabe realizar”.


Elias Barbosa


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