O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Evolução em dois mundos — André Luiz — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 1ª Parte


20


Corpo espiritual e religiões

(Sumário)

1. RESPONSABILIDADE E CONSCIÊNCIA. — À medida que a responsabilidade se lhe apossou do Espírito, iluminou-se a consciência do homem.

2 A centelha da razão convertera-se em chama divina.

3 A inteligência humana entendeu a grandeza do Universo e compreendeu a própria humildade, reconhecendo em suas entranhas a ideia inalienável de Deus.

4 Conduzindo-se, então, de modo racional, experimentou profundas transformações.

5 Percebe, nesse despertamento, que, além das operações vulgares da nutrição e da reprodução, da vigília e do repouso, estímulos interiores, inelutáveis, trabalham-lhe o âmago do ser, plasmando-lhe o caráter e o senso moral, 6 em que a intuição se amplia segundo as aquisições de conhecimento 7 e em que a afetividade se converte em amor, com capacidade de sacrifício, atingindo a renúncia completa.

8 Até à época recuada do paleolítico, interferiram as Inteligências Divinas para que se lhe estruturasse o veículo físico, dotando-a com preciosas reservas para o futuro imenso.

9 Envolvendo-a na luz da responsabilidade, conferiam-lhe o dever de conservar e aprimorar o patrimônio recebido, e, investindo-a na riqueza do pensamento contínuo, entregaram-lhe a obrigação de atender ao aperfeiçoamento de seu corpo espiritual.

10 Aceitar-se-á, razoavelmente, que até semelhante fase os tremendos conflitos da Natureza, em que se mesclavam a violência e a brutalidade, foram debitados à conta da evolução necessária para a discriminação de indivíduos e agrupamentos, espécies e raças.


2. ATIVIDADE RELIGIOSA. — Estabelecido, porém, o princípio de justiça e aflorando a mentação incessante, o homem começou a examinar em si mesmo o efeito das próprias ações, de modo a crescer, conscientemente, para a sua destinação de filho de Deus, herdeiro e colaborador da Sua Obra Divina.

2 Espicaça-se-lhe, então, a curiosidade construtiva. 3 Faminto de elucidações adequadas quanto ao próprio caminho, ergue as antenas mentais para as estrelas, recolhendo os valores do Espírito que lhe consubstanciam o patrimônio de revelações do Céu, através dos tempos.

4 Era necessário satisfazer ao acrisolamento do seu veículo sutil, na essência íntima, 5 assegurar-lhe o transformismo anímico, 6 revesti-lo de luminosidade e beleza 7 e apurar-lhe os princípios para que, além do angusto círculo humano, pudesse retratar a glória dos Planos superiores.

8 Para isso, o pensamento reclamava orientação educativa, de modo a despojar-se da espessa sedimentação de animalidade que lhe presidia os impulsos.

9 Exigia-se-lhe a depuração da atmosfera vital, imprescindível à assimilação da influência divina.

10 E a atividade religiosa nasceu por instituto mundial de higiene da alma, 11 traçando ao homem diretrizes à nutrição psíquica, 12 de vez que, pela própria perspiração, exterioriza os produtos que elabora na usina mental, em forma de eflúvios eletromagnéticos, 13 nos quais se lhe corporificam, em movimento, os reflexos dominantes, influenciando o ambiente e sendo por ele influenciado.

14 A ciência médica, rica de experimentação e de lógica, surgiria para corresponder às necessidades do corpo físico, 15 mas a tarefa religiosa viria ao encontro das civilizações, plena de inspiração e disciplina, patrocinando a orientação do corpo espiritual, em seu necessário refinamento.


3. ENXERTO REVITALIZADOR. — Nesse sentido, a Espiritualidade Sublime, amparando o homem, jamais lhe menosprezou a sede de consolo e esclarecimento.

2 Quando mais angustiosos se lhe esboçavam os problemas da dor, com a guerra íntima entre a razão e a animalidade, grande massa de Espíritos ilustrados, mas decaídos de outro sistema cósmico, renasceu no tronco genealógico das tribos terrestres, qual enxerto revitalizador, embora isso representasse para eles amarga penitência expiatória.

3 Constituiu-se desse modo a raça adâmica, instilando no homem renovadas noções de Deus e da vida. n

4 Levantam-se organizações religiosas primordiais.

5 Povos nômades e agrupamentos escravizados ao solo por extremado gregarismo adotaram as mais estranhas formas de fé, a se emoldurarem por barbárie natural, através de intercâmbio fragmentário com o Plano extrafísico.

6 Os Espíritos exilados, presos à rede organogênica em que se lhes tecia o cárcere, no carro biológico, ainda profundamente primitivista, muita vez revoltados e endurecidos, aliavam-se às tabas selvagens, em cultos sanguinários e indescritíveis, desvairando-se nos mais aviltantes espetáculos de crueldade, em nome dos deuses com que fantasiavam as entidades inferiores do seu convívio doméstico.

7 Alguns deles, no entanto, movidos de compunção entraram em fervoroso arrependimento das culpas contraídas no mundo aprimorado de que provinham, e não obstante os embaraços que se lhes antepunham aos sonhos de recuperação, começaram instintivamente a formar núcleos isolados para o cultivo de meditações superiores, em sagrados tentames de elevação.


4. RELIGIÃO EGIPCIANA. — Depois de longos e porfiados milênios de luta espiritual, surgem no mundo, como grupos por eles organizados, a China pré-histórica e a Índia védica, o antigo Egito e civilizações outras que se perderam no abismo das eras, nos quais a religião assume aspecto enobrecido como ciência moral de aperfeiçoamento, para mais alta ascensão da mente humana à Consciência Cósmica.

2 Dentre todos, desempenha o Egito missão especial, organizando escolas de iniciação mais profunda.

3 Em obediência aos requisitos da crença popular, herdeira intransigente das fixações mitológicas, mantém o sacerdócio cultos diversos a deuses vários, nas manifestações esotéricas dos templos descerrados ao povo.

4 O lar e a escola, a agricultura e o comércio, as indústrias e as artes possuem gênios especiais que os presidem, em nome da convicção vulgar, mas, na intimidade do santuário, o monoteísmo dirige a implantação da fé.

5 A unidade de Deus é o alicerce de toda a religião egipciana, em sua feição superior.

6 Para ela, os atributos divinos são a vontade sábia e poderosa, a liberdade, a grandeza, a magnanimidade incansável, o amor infinito e a imortalidade.

7 Em síntese, acredita que Deus plasmou os seus próprios membros, que são os deuses conhecidos. 8 Cada um desses deuses secundários pode ser tomado como sendo análogo ao Deus Único, e cada um deles pode formar um tipo novo do qual se irradiam por sua vez, e pelo mesmo processo, outros tipos de deuses inferiores.

9 Claro está que essa argumentação teológica, distanciada de mais altos roteiros da evolução, imaginava erroneamente potências espirituais centralizadas no Criador Excelso, quando só Deus tem a faculdade de verdadeiramente criar, 10 mas o conceito expressa, em sentido lato, a solidariedade constante e inevitável que existe em todas as vidas de que se constitui a família do Supremo Senhor em todo o Universo.


5. MISSÃO DE MOISÉS. — Os padres tebanos conheciam, de maneira precisa, a evidência do corpo espiritual que pode exteriorizar-se de cada criatura para ações úteis ou criminosas.

2 Cultivam a mediunidade em grau avançado, 3 atendem a complexas aplicações do magnetismo, 4 traçam disciplinas à vida íntima 5 e comunicam-se com os desencarnados de modo iniludível, consagrando-lhes reverência especial.

6 Nesse campo de conhecimento mais nobre, reencarna-se Moisés como missionário da renovação, para dar à mente do povo a concepção do Deus Único, transferindo-a dos recintos iniciáticos para a praça pública. 7 Entretanto, porque a evolução dos princípios religiosos implica sempre em levantamento dos costumes, com a elevação da alma, 8 o desbravador enfrenta batalhas terríveis do pensamento acomodado aos circuitos da tradição em que as classes se exploram mutuamente, agravando assim os próprios compromissos, para afinal receber os fundamentos da Lei, no Sinai. n

9 Desde essa hora, o conhecimento religioso, baseado na Justiça Cósmica, generaliza-se no ânimo das nações, 10 porquanto, através da mensagem de Moisés, informa-se o homem comum de que, perante Deus, o Senhor do Universo e da Vida, é obrigado a respeitar o direito dos semelhantes para que seja igualmente respeitado, reconhecendo que ele e o próximo são irmãos entre si, filhos de um Pai Único.

11 A religião passa, desse modo, a atuar, em sentido direto, no acrisolamento do corpo espiritual para a Vida Maior, através da educação dos hábitos humanos a se depurarem no cadinho dos séculos, preparando a chegada do Cristo, o Governador Espiritual da Terra.

12 As ideias da justiça e da solidariedade, dos deveres coletivos e individuais com a higiene do corpo e da mente atingem ampla divulgação.


6. OS DEZ MANDAMENTOS. — Os dez mandamentos, recebidos mediunicamente pelo profeta, brilham ainda hoje por alicerce de luz na edificação do direito, dentro da ordem social.

A palavra da Esfera Superior gravava a lei de causa e efeito para o homem, advertindo-o solenemente:

1 — Consagra amor supremo ao Pai de Bondade Eterna, n’Ele reconhecendo a tua divina origem.

2 Precata-te contra os enganos do antropomorfismo, porque padronizar os atributos divinos absolutos pelos acanhados atributos humanos é cair em perigosas armadilhas da vaidade e do orgulho.

3 Abstém-te de envolver o Julgamento Divino na estreiteza de teus julgamentos.

4 Recorda o impositivo da meditação em teu favor e em benefício daqueles que te atendem na esfera de trabalho, para que possas assimilar com segurança os valores da experiência.

5 Lembra-te de que a dívida para com teus pais terrestres é sempre insolvável por sua natureza sublime.

6 Responsabilizar-te-ás pelas vidas que deliberadamente extinguires.

7 Foge de obscurecer ou conturbar o sentimento alheio porque o cálculo delituoso emite ondas de força desorientada que voltarão sobre ti mesmo.

8 Evita a apropriação indébita para que não agraves as próprias dívidas.

9 Desterra de teus lábios toda palavra dolosa a fim de que se não transforme, um dia, em tropeço para os teus pés.

10 Acautela-te contra a inveja e o despeito, a inconformação e o ciúme, aprendendo a conquistar alegria e tranquilidade, ao preço do esforço próprio, porque os teus pensamentos te precedem os passos, plasmando-te, hoje, o caminho de amanhã.


7. JESUS E A RELIGIÃO. — Com Jesus, no entanto, a religião, como sistema educativo, alcança eminência inimaginável.

2 Nem templos de pedra, nem rituais.

3 Nem hierarquias efêmeras, nem avanço ao poder humano.

4 O Mestre desaferrolha as arcas do conhecimento enobrecido e distribui-lhe os tesouros. 5 Dirige-se aos homens simples de coração, curvados para a gleba do sofrimento e ergue-lhes a cabeça trêmula para o Céu. 6 Aproxima-se de quantos desconhecem a sublimidade dos próprios destinos e assopra-lhes a verdade, vazada em amor, para que o sol da esperança lhes renasça no ser. 7 Abraça os deserdados e fala-lhes da Providência Infinita. 8 Reúne, em torno de sua glória que a humildade escondia, os velhos e os doentes, os cansados e os tristes, os pobres e os oprimidos, as mães sofredoras e as crianças abandonadas e entrega-lhes as bem-aventuranças celestes. 9 Ensina que a felicidade não pode nascer das posses efêmeras que se transferem de mão em mão, e sim da caridade e do entendimento, da modéstia e do trabalho, da tolerância e do perdão. 10 Afirma-lhes que a Casa de Deus está constituída por muitas moradas, nos mundos que enxameiam o firmamento, 11 e que o homem deve nascer de novo para progredir na direção da Sabedoria Divina. 12 Proclama que a morte não existe e que a Criação é beleza e segurança, alegria e vitória em plena imortalidade.

13 Pelas revelações com que vence a superstição e o crime, a violência e a perversidade, paga na cruz o imposto de extremo sacrifício aos preconceitos humanos que lhe não perdoam a soberana grandeza, 14 mas, reaparecendo redivivo para a mesma Humanidade que o escarnecera e crucificara, desvenda-lhe, em novo cântico de humildade, a excelsitude da vida eterna.


8. REVIVESCÊNCIA DO CRISTIANISMO. — Erige-se, desde então, o Evangelho em código de harmonia, inspirando o devotamento ao bem de todos até o sacrifício voluntário, a fraternidade viva, o serviço infatigável aos semelhantes e o perdão sem limites.

2 Iniciam-se em todo o Orbe imensas alterações. 3 A crueldade metódica cede lugar à compaixão. 4 Os troféus sanguinolentos da guerra desertam dos santuários. 5 A escravidão de homens livres é sacudida nos fundamentos para que se anule de vez. 6 Levanta-se a mulher da condição de alimária para a dignidade humana. 7 A filosofia e a ciência admitem a caridade no governo dos povos. 8 O ideal da solidariedade pura começa a fulgir sobre a fronte do mundo.

9 Moisés instalara o princípio da justiça, coordenando a vida e influenciando-a de fora para dentro.

10 Jesus inaugurou na Terra o princípio do amor, a exteriorizar-se do coração, de dentro para fora, traçando-lhe a rota para Deus.

11 E eis que o Cristianismo grandioso e simples ressurge agora no Espiritismo, induzindo-nos à sublimação da vida íntima, para que nossa alma se liberte da sombra que a densifica, encaminhando-se, renovada, para as culminâncias da Luz.


André Luiz


Pedro Leopoldo, 13/4/1958.



[1] Para mais amplo esclarecimento do assunto, aconselhamos ao leitor breve consulta ao capítulo III do livro “A Caminho da Luz”, de autoria do Espírito Emmanuel e recebido mediunicamente por Francisco Cândido Xavier. — (Nota da Editora.)


[2] Vide: Lei e Dez Mandamentos.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir