O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Deus conosco — Emmanuel


À guisa de prefácio

1 Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, concedendo-lhes muita paz e alegria aos corações. Sem dúvida, meu caro Rômulo, não me seria lícito o alheamento às suas emoções de estudioso à face da “volta espiritual” ao passado, através dos recursos milagrosos do livro.


2 O Padre Nóbrega, indiscutivelmente, nos merece a melhor atenção e carinho. Aí na Esfera da carne é muito difícil ao educador a fundamentação de princípios para transmitir à mente infanto-juvenil as tradições respeitáveis de quantos nos prepararam o ninho coletivo na formação da Pátria. n Quantas vezes, em minha condição de professor, fui defrontado por esses problemas torturantes dos hiatos históricos, que impossibilitavam a partitura verbal dos grandes amigos da nacionalidade no pretérito distante! 3 Aqui, no entanto, restabelecemos o espírito de sequência e confiando-nos às tarefas pedagógicas, libertos de muitas das convenções asfixiantes que aí nos esterilizam os melhores propósitos de ensinar com fidelidade, podemos operar verdadeira transformação em nossos métodos de serviço, ligando as existências (quando é possível) de muitos personagens importantes do mundo numa só linha de evolução e realização, quando nos é dado reunir na Terra diversas contas diferentes.


4 Devidamente entendidos, é agradável comentar o esforço de Emmanuel na vanguarda do serviço de evangelização, pelo Espiritismo, nos domínios da língua portuguesa. Vemos agora que a obra de qualquer natureza, quando merece a aprovação das autoridades superiores, cresce com o seu fundador. Nesse sentido, é importante meditar nos pontos de contato entre a vida de Manoel da Nóbrega e a de Públio Lentulus [Vide próximo capítulo].


5 Pelo amor profundo, devotado por ele à inesquecível figura de Paulo, poderá você concluir das razões que levaram o esforçado jesuíta a dar o nome do grande apóstolo à cidade que lhe mereceu especiais cuidados no lançamento, a ponto de esperar o aniversário da conversão do doutor de Tarso, em janeiro, para iniciar os primórdios da grande metrópole brasileira, colocando-a sob a proteção do amigo da gentilidade. n


6 É que também Paulo, na vida espiritual, jamais descansou. Quando o senador romano desencarnou, extremamente desiludido em Pompeia,  †  foi contemplado com os favores do sublime convertido. Paulo sempre se consagrou às grandes inteligências afastadas do Cristo, compreendendo-lhes as íntimas aflições e o menosprezo injusto de que se sentem objeto no mundo, ante os religiosos de todos os matizes, quase sempre especializados em regras de intolerância.


7 Amparado pelo apóstolo dos gentios, conseguiu Públio Lentulus transitar nas avenidas obscuras da carne, em existências várias, até encontrar uma posição em que pudesse servir ao divino Mestre com o valor e com o heroísmo daquela que lhe fora companheira no início da Era Cristã. n


8 E assim temos em Manoel da Nóbrega o homem de raciocínio elevado, entregue a si mesmo em plena selva, onde tudo se achava por fazer.


9 Noutro tempo, os livros prontos e as tribunas construídas, os direitos de família preestabelecidos e o dinheiro fácil, a sociedade constituída e o pedestal do poder para brilhar. Aqui, porém, eram a improvisação necessária e o deserto, as inibições do corpo deficiente, que lhe apagavam a voz de tribuno, e a insolência dos selvagens, recordando as feras do circo, à frente dos quais devia imolar-se, consumindo as próprias forças para doar-lhes uma vida nova.


10 Surgiam, ainda, a devassidão e o crime, a ignorância e a audácia, os perigos e ameaças mil, que o hábil político transformado em missionário deveria vencer, exibindo não mais a toga do poder e as armas dos seus guardas pessoais, mas sim o sinal da cruz, sem mais ninguém que não fosse a sua pertinácia nos compromissos assumidos.


11 Entretanto, superou os óbices de toda espécie, lutou, sofreu e venceu, não para estagnar-se, mas para prosseguir, séculos adentro, reesculpindo, com os poderes da ideia cristianizada, um povo diferente e um novo mundo dentro do mundo.


12 Você tem razão emocionando-se ante o contato revelador. Não é por acaso que isto acontece. Um trabalhador nunca opera só na continuidade dos serviços. Nóbrega podia ter vivido isolado no seu tempo, contudo, desde cedo agregaram-se a ele multidões de amigos, exaustos de mando, de poder e dominação, e a teia dos destinos foi convertendo em trabalho para a coletividade tudo o que era cristalização: do “eu” em luz quanto era sombra, em libertação espiritual o que era cárcere físico.


13 Da rocha emerge o diamante no curso dos milênios. Também a luz divina fluirá de nós outros um dia, quando a escória estiver abandonada no carvão que servirá de berço a outros diamantes no curso longo e paciente das eras.


14 O serviço do nosso amigo está longe de acabar. “É preciso criar espírito para o gigante”, costuma dizer. O gigante é a terra em que hoje nos situamos e o espírito é a luz com que devemos continuar erguendo os padrões de fraternidade mais alta e de mais avançado serviço com Jesus no Brasil todo.


15 Prossigamos, marchando à frente. Anos e dias correrão. Estejamos certos da brevidade de tudo o que se movimenta sobre a Terra para agirmos com segurança e paciência. Para construir é preciso lutar. E para colher é indispensável haver semeado. (…)


16 Boa noite para vocês, com meus votos de muita tranquilidade para todos. Com um forte abraço de carinho e saudade, sou o papai muito amigo e reconhecido de sempre,


Arthur Joviano

3 de agosto de 1949.    


* * *


[Pedro Leopoldo, 02 de setembro de 1957.] n



[1] Nota da Organizadora: em referindo-se à reencarnação de Emmanuel como o Padre Manoel da Nóbrega, jesuíta em missão evangelizadora no Brasil, no século XVI, assunto tratado mais adiante, à página 37, no capítulo intitulado “As vidas sucessivas de Emmanuel”.


[2] Nota da Organizadora: Arthur Joviano refere-se à cidade de São Paulo de Piratininga, hoje São Paulo fundada em 25 de janeiro de 1556, pelos jesuítas Manuel de Paiva, Manoel da Nóbrega, José de Anchieta, entre outros [Houve engano no ano de fundação da cidade de São Paulo,  †  ocorrida por ocasião da celebração da 1ª missa nos altiplanos de Piratininga no dia 25/01/1554. Vide mensagem: São Paulo de Piratininga].


[3] Nota da Organizadora: em referindo-se a Lívia Lentulus, esposa de Públio, cuja história inesquecível é narrada por Emmanuel no Há 2000 anos…, romance psicografado por Francisco Cândido Xavier em 1939.


[4] Nota do Compilador: Todos os prefácios nos livros de Francisco Cândido Xavier foram recebidos na conclusão do livro, indicação segura de sua data de edição, embora, muitas vezes, houvessem sido publicados posteriormente, como é o caso do presente volume. A data colocada entre colchetes é a mesma da mensagem mais tardia deste livro impresso em 2007, que é a lição nº 395 intitulada “No campo de provas”. Lembramos ainda que a mensagem acima de Arthur Joviano, sem as referências familiares, foi colocada aqui, como seu título indica “À guisa de prefácio”.


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