O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Chico Xavier, a aurora de uma vida entre o Céu e a Terra — Autores diversos subscritos por F. Xavier.


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Questão religiosa

| 16 de fevereiro de 1931.

1 Sempre compreendi que o neo-espiritualismo, sem dogmatismos inconsequentes, será o ponto único para onde convergirão todas as religiões, irmanando-as, unindo-as pelos mais inquebrantáveis laços de fraternidade, fazendo desaparecer de entre elas os dissídios ocasionados pelo fanatismo sectário, esclarecendo a elas todas com esta radiosa verdade: Deus é amor!

2 Daí procede o meu respeito por todas as organizações doutrinárias e sistemas filosóficos, acatando as suas veneráveis instituições, preferindo buscar na documentação da sua vida somente o belo, o puro e o bom nas excelsas realizações da verdade, abstendo-me de ver na sua história os fragmentos de treva ali impressos pela insânia, pois que errar é da humanidade e somente o desenrolar dos séculos, no transcurso intérmino dos tempos, conduzirá o homem à culminância do progresso. 3 Porém, quando em meio do acervo de todas as ideias religiosas, uma se levanta, solerte e arrogante, inflada de orgulho e soberba, acicatada pela ambição de dominar e manietar o pensamento alheio, proclamando uma superioridade que não se lhe reconhece e ainda estribando-se na humildade de Jesus para dar amplitude aos seus sentimentos inconfessáveis. 4 É lícito que todos os Espíritos amantes da luz e da liberdade protestem solenemente para que a emancipação do pensamento religioso não seja um mito, para que a vida não recue a um passado de atrocidades inumeráveis.

5 Refiro-me às pretensões da Igreja Romana, arregimentando os seus adeptos para alcançar um decreto que obrigue o ensino da sua grei nos estabelecimentos de educação no Brasil, e, quem sabe, talvez a oficialização do seu credo em nossa pátria. 6 Nunca é demais reafirmar que não lhe assiste esse direito. Condenam-na os seus próprios atos: Roma prega a renúncia ao mundo quando o seu apego às coisas terrestres é inultrapassável; aconselha a pobreza voluntária quando a sua opulência deslumbra o mundo, quando os seus palácios episcopais e presbitérios são oásis encantados, onde o luxo se revela nas mínimas particularidades; ensina a prática da caridade quando os seus ministros são negadores dessa virtude, que Paulo classificava como a maior de todas; exorta à humildade quando o seu orgulho inaudito revolta os corações bem-formados; aconselha a fraternidade quando a intolerância é um dos seus maiores característicos; manda perdoar, instalando tribunais de condenação e insinuando a criação da pena de morte.

7 Uma digressão na História comprova-nos o quanto a Igreja Romana tem entravado o progresso da humanidade.

8 Ainda hoje, essa organização religiosa sustenta as mesmas peias dogmáticas que sustentaram muitos do romanismo, indignos do nome de sucessores de São Pedro. Enumerá-los e dizer algo da sua passagem pela Terra é tarefa que o pudor ordena silenciar, tal a extensão das suas faltas e misérias incontáveis. E, no entanto, Pio IX, ( † ) em pleno século XIX, proclamou o dogma da infalibilidade do papa, ( † ) homem cheio de fraquezas e imperfeições, inerentes à natureza humana.

9 Nos arraiais dessa mesma Igreja vicejaram almas puríssimas, que consubstanciavam em si todas as virtudes, verdadeiros enviados de Deus, cujas pegadas não foram seguidas. A veneranda e luminosa figura de Francisco de Assis ( † ) resplendeu no século XIII, o que não obstou a fundação da Inquisição, ( † ) que ensanguentou, durante séculos, as páginas da história universal, deixando um cortejo de lúgubres recordações. A mais esclarecida argumentação será paupérrima para discorrer sobre esse abantesma atrofiador da evolução dos povos.

10 Que digam os inquisidores gerais, as pobres vítimas dos cárceres sombrios do Santo Ofício ( † ) e todos aqueles que se aproveitaram do nome sagrado de Deus para as suas tremendas vinditas!

11 O romanismo sempre temeu a luz e, por esse motivo, nunca amou o progresso, nem marchou na vanguarda da evolução dos povos. Como que cioso da perda da sua autoridade espiritual, ocasionada pelos seus próprios exemplos, ele procura afoitamente centuplicar os seus esforços para armar-se e novamente bradar: “Crê ou morre!”

12 Mas a verdade, emergindo radiosa do livro da história da Terra, há de apontar-lhe a sua trajetória, não permitindo que ela venha tolher os surtos do progresso, que maniete o pensamento alheio, que roube a luz da liberdade, que reacenda nas praças públicas as suas fogueiras sanguinárias.

13 Não será permitido que domine sobre a mentalidade atual, que tripudie sobre o Evangelho do Cristo. Quem aproveita situações fáceis para humilhar coletividades inteiras, quem tem por arma a intriga, quem mais ama o interesse que a verdade, quem, finalmente, dizendo-se da parte de Deus não dá a Deus o que de Deus é.


F. Xavier


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