O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Crianças no Além — Marcos


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Do acidente à psicografia da mensagem

UMA NOVA REALIDADE

A adaptação diante da realidade nova se fazia à custa de lágrimas incontroláveis. De chofre, a família alegre, feliz, estava destruída. Sobravam os pais que, em desespero, se arrastavam na busca dos filhos ausentes: do Marcos, do João Batista e da Sheilinha, a suave gueixa da casa.

Roberto pouco falava; era, de hábito, calado e com o duro golpe, mais se fechou em si mesmo; continuava firme no trabalho, pois os compromissos exigiam que seu “Mercedinho” riscasse o Vale do Paraíba, para as entregas comerciais inadiáveis.

D. Elite, entre calmantes e crises de desespero, foi empurrando o tempo, na saudade dos filhos; ao lar, não voltara mais, morando com a genitora, alimentando a ideia única, implacável de rever os filhos, pois não podia acreditar que tivessem morrido.

Que poemas não terão nascido, nessas horas de dor, dos corações simples de Ukuru e Elite, ao mergulharem nas recordações dos três anjos que partiram. Certamente tão belos quanto o Salmo 23 de David ( † ) — o Salmo da despedida — que, uma semana antes de morrer, como que prevendo a desencarnação iminente, o filhinho João Batista pediu para que todos cantassem, durante uma reunião que D. Elite fizera em seu lar com companheiros de crença religiosa. O cântico de David, entre outras reverências ao Senhor, diz: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque estás comigo…”

Embora na época se achasse ligada a outro campo de fé, um mês depois do 9 de fevereiro, por sugestão de D. Consuelo Andrade Carvalho, sua vizinha, D. Elite estava em Uberaba. Queria conhecer Francisco Cândido Xavier.

Misturou-se com a multidão que ali se encontrava para abraçar o Chico e, embora rapidamente, teve a oportunidade de mostrar-lhe uma fotografia das três crianças, pedindo ao Chico que a confortasse.

— “Quem sou eu para confortá-la? Eu não sou ninguém…” respondeu Chico Xavier.

O diálogo com o médium se resumiu nesse rápido intercâmbio, suficiente, contudo, pelo respeito do Chico aos sofrimentos de D. Elite, para que ela voltasse um pouco melhor para casa.

Retornou a Uberaba mais quatro vezes, durante o ano de 1975, sempre sem entrar em detalhes com o Chico, pois os entendimentos se resumiam em saudações rápidas. Na última visita, no dia 12 de dezembro, eis que o Marcos traz a exuberante mensagem de quase oitenta laudas psicografadas.

Após o recebimento da mensagem, embora a dor ainda persista, os pais acham-se mais confortados. Vez por outra um sorriso já se desenha no rosto de D. Elite; e, nos olhos do Roberto, observam-se lampejos de alento, cada vez menos fugazes.

É a renovação, com a decidida certeza da sobrevivência do Espírito, reconstruindo no casal a estrutura abalada pelos golpes da separação provisória. É a convicção plena de que seus três filhos não morreram, convicção, aliás, solidificada pela mensagem que veremos adiante, onde as revelações surgem pelas mãos de Chico Xavier que desconhecia detalhes do acidente e ignorava os nomes citados pelo Marcos, alguns dos quais até D. Elite e Roberto tiveram dificuldade em identificar.


Caio Ramacciotti


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