O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Chico Xavier em Goiânia — Entrevistas — Emmanuel


Poetas goianos no Além

Por oportuna e profunda, apresentamos nas páginas seguintes a crítica literária do imortal Bernardo Elis aos sonetos psicografados por Chico Xavier na Assembleia Legislativa Goiana. Consagrado escritor, poeta e crítico goiano, Bernardo Elis recentemente conquistou uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.


Os três sonetos recebidos mediunicamente por Francisco Xavier na noite de 7.05.1974, em Goiânia, podem, na verdade, ser subscritos por seus autores.

“Retorno”, de Félix de Bulhões; “Minha Birra”, de Joaquim Bonifácio de Siqueira e “Falando a Goyaz”, de A. Americano do Brasil, inegavelmente, trazem a marca do estilo de cada um de seus autores, uns de maneira mais pronunciada, outros menos. Nenhum, porém, de forma totalmente diferente. Examinemos cada um.

“Retorno”, de Félix de Bulhões. Embora não houvesse escrito muitos sonetos, pois o romancista não era de muito soneto, nos poucos que escreveu Félix de Bulhões usou tanto o decassílabo, como nesta produção, como também usou versos de doze sílabas. No presente caso temos, pois, um soneto decassílabo, observadas corretamente as normas tradicionais, exceto no tocante às rimas que me parecem pobres, mas os românticos se permitiam bastante liberalidade nesse particular.

Só tenho uma objeção a fazer ao soneto mediúnico de Félix de Bulhões. É que ele é muito mais um soneto Simbolista do que um soneto da fase romântica, especialmente da fase romântica a que se filiava Bulhões condoreira e hugoana.

Por sinal, o soneto atribuído a Félix de Bulhões é um belo poema simbolista, que seria assinado com agrado por grandes nomes da escola de Cruz e Souza.

Dizendo isso, não descreio que Félix de Bulhões possa ter mudado de escola literária no Além, evoluindo, pois já faz 87 anos que ele desencarnou.


“Minha Birra”, de Joaquim Bonifácio de Siqueira, é o mais autêntico, podendo-se dizer que é um pastiche de seu famoso soneto “Em um sereno”, bastante conhecido, que diz:

“Senhores, não sou de barro,

e muito menos de ferro!

Sou homem, por isso eu erro

e muitas vezes me desgarro”.


Tanto no soneto “Em um sereno”, como nesse psicografado, é usado o verso de sete sílabas, com rimas em arro, urra, erro, irra e orra. Tanto num como noutro há o espírito jocoso, mais manifesto no “Em um sereno”.

Há apenas que observar o seguinte:

“Em um sereno” existe melhor técnica, pois as rimas, todas terminadas em o (o que não acontece no psicografado), seguem a ordem das vogais, a saber arro, erro, irro, orro e urro.

Como se disse, os dois sonetos só diferem na chave.


“Falando a Goyaz”, de A. Americano do Brasil, não foge à regra de refletir o estilo do autor. Americano do Brasil praticou preferencialmente o metro alexandrino, como está no soneto mediúnico, nos quais as censuras entre os hemistíquios são bem cuidadas.

No soneto mediúnico, as rimas são ricas e os versos são bem ao estilo de Americano do Brasil — duros, pouco poéticos, nos quais a emoção cede à informação, isto é, há predomínio do racional sobre o emocional. Americano é sempre professoral, oratório, erudito, usando versos longos de doze sílabas para espraiar sua verborreia.

Mesmo no Além, Americano do Brasil continua tão mau poeta quanto o foi em vida terrena. Mas espero que ele não se ofenda com essa minha franqueza, pois ainda há muito tempo para progredir.

Félix de Bulhões já está lá há quase noventa anos, Americano faz apenas 40, metade do tempo. E diante da eternidade, que são quarenta anos!


Bernardo Élis


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