| 1 Respondo a sua pergunta
Caro Juca Penaforte,
Quanto ao que penso no Além
Do que aceitamos por sorte.
2 Sorte, meu caro, na essência,
É aquela força tenaz
Que surge e vive conosco
Daquilo que a gente faz.
3 Repetimos comumente:
— “Sorte má, sorte feliz…”
Sem ver que o dono da sorte
Encontrou o que mais quis.
4 A vida é um campo infinito,
O tempo é terreno igual,
Nosso atos são sementes
Produzindo bem ou mal.
5 Um pensamento, um projeto,
Algum gesto pequenino…
Depois… palavras e ações
Apresentando um destino.
6 Quanto queira, estude a sorte
Por predição ou baralho,
Mas ouça: fazer a sorte
Nunca dispensa o trabalho.
7 Quanto à sorte generosa,
Como se quer entender,
A direção que se tome
É a nota que vai dizer.
8 Não fique aguardando o tempo,
Todo tempo vai-se embora,
Na criação que se faça,
O tempo chama-se agora.
9 Pessoa parada sempre
Deixando o tempo passar
Sem gastar-se por servir
Que não se queixe do azar.
10 Recorde: só via ouro
O nosso amigo Aristeu,
Acabando-se a fortuna,
Teve a luta que escolheu.
11 Largou-se de todo encargo
O nosso amigo João Massa,
Depois não soube viver
Senão em sono e cachaça.
12 Lembre Donana… Era ativa
Mas sempre em grito e querela
Por fim, morreu solitária,
O povo fugia dela.
13 Abrahão era obreiro firme
Mas áspero e respondão…
O resultado foi este:
Ninguém gostava de Abrahão.
14 Lilia quando empregada,
Cultivava a rebeldia,
Vimos nós em pouco tempo
Dez demissões de Lilia.
15 Por reclamar e ferir
O nosso Adalberto Fava
Nunca teve boa sorte
Nas empresas que criava.
16 Vitorino o costureiro,
Pôs tanto aperto no ensino,
Que não se viu mais ninguém
Nas aulas do Vitorino.
17 João da Extrema quis casar-se,
Mas dava tanto problema
Que não houve moça alguma
Que quisesse João da Extrema.
18 Dona Rita, grande dama,
Sempre nervosa e esquisita…
Anote: ninguém parava
Na casa de Dona Rita.
19 É isso aí, caro amigo,
Digamos em alta voz:
Deus nos cria o tempo e a vida,
A sorte fazemos nós.
20 Em todo lugar do mundo,
Serviço é o melhor troféu,
Não busque o favor da sorte ,
Que a sorte não cai do Céu.
Cornélio Pires |