O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Astronautas do Além — Autores diversos — F. C. Xavier / J. Herculano Pires


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Brevidade da vida

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.


A página de trovas do nosso amigo espiritual Luciano dos Reis foi recebida no encerramento de nossa reunião pública. Ante o reinício do tempo, no ano novo, [1973] as conversações que nos precederam as tarefas versaram sobre a brevidade da existência humana.

Companheiros diversos se reportavam ao pesar por certas oportunidades perdidas, enquanto outros lançavam indagações sobre a significação do tempo em nossa vida.

No começo dos trabalhos O Livro dos Espíritos nos ofereceu a questão 992, ( † ) dando motivos a justas reflexões.


TROVA DO TEMPO.

1 Ensino que a vida insiste

Em compor e recompor:

— O tempo que faz o ódio

É o mesmo que faz o amor.


   2 A criatura sem tempo,

  Que não gasta o tempo em vão,

  Em tempo algum acha tempo

  Para ouvir a tentação.


3 Há quem não roube dinheiro,

Nem vantagem parecida,

Mas furta o valor do tempo

Necessário à luz da vida.


   4 Filosofia do tempo

  Em qualquer tempo e lugar:

  — Infeliz do coração

  Que não consegue esperar.


5 O tempo recorda, a gleba

Onde a mata se agiganta,

Recebe qualquer semente,

Dá tudo do que se planta.


   6 Bondade, apoio, serviço,

  Resgate, atenção, dever…

  Nota que o tempo não para,

  Não há momento a perder.


7 Ação é a mente por fora

Que nos põe a vida em tela,

Os outros nos fotografam,

Depois o tempo revela.


   8 Para encontrar a justiça

  Reflete no Eterno Bem…

  Deus dá tempo igual a todos,

  Não menospreza ninguém. 


Luciano dos Reis


TEMPO DE VIVER.


Desde que o homem começou a pensar, a tomar consciência de si mesmo e do mundo, o problema do tempo o preocupou. Muitos equacionaram esse problema, mas ninguém o resolveu. O primeiro aforismo de Hipócrates aparece em latim na forma clássica de Ars longa, vita brevis que Camões repete neste verso: “Para tão curta vida, tão longa arte!” O simpósio espírita semanal de Uberaba teria também de enfrentar esse problema, mas agora dispondo da solução espírita.

O Eclesiastes ( † ) afirma que Deus fez tempo para tudo. Em A Gênese de Allan Kardec, ( † ) temos uma definição do tempo que nos mostra a sua relatividade. Esta concepção da relatividade do tempo se acentua na doutrina das vidas sucessivas, das existências palingenésicas que são solidárias entre si. Para cada existência, um determinado tempo — o tempo necessário à execução das tarefas que o Espírito traz como sua incumbência inalienável na reencarnação.

Assim, o aforismo Ars longa, vita brevis corresponde apenas a uma visão limitada das coisas. Deus nos concede tempo para tudo, mas não nos exíguos limites de uma encarnação. Camões via a extensão infinita da arte, em que poderia criar sem cessar, mas se angustiava com o tempo exíguo de que dispunha. Não obstante, além dos limites existenciais ele poderia dispor do ilimitado da vida que se amplia na duração em termos de imortalidade. Assim como o dia é curto para a execução de um trabalho, mas podemos prolongá-lo com o dia seguinte, assim acontece na sucessão das encarnações.

As Filosofias da Existência nos reclamam atenção para o aqui e o agora, mas o existencialismo espírita, valorizando essas categorias no momento que passa, não se esquece de que já dispusemos do ontem e disporemos do amanhã. No tempo anterior, no ontem, condicionamos o aqui e o agora à execução de determinadas tarefas e Deus nos concede hoje o tempo para isso. Se aproveitarmos bem o tempo concedido, ele não nos parecerá insuficiente. Se o esbanjarmos condicionaremos o amanhã a novas angústias de tempo.

E assim que podemos entender os versos finais de Luciano dos Reis: ( † ) “Deus dá tempo igual a todos, não menospreza ninguém”. Reclamamos do tempo o que devíamos reclamar de nós mesmos, pois o que nos falta neste momento corresponde exatamente ao que esperdiçamos ainda há pouco. Se aproveitarmos com inteligência e cuidado cada minuto que passa, veremos que Deus nos concedeu tempo para tudo o que temos realmente de fazer nesta vida.


Irmão Saulo


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