O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A caminho da Luz — Emmanuel


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Renascença do Mundo

(Sumário)

1. Movimentos regeneradores.


1 Nos albores do século XIV, quando a Idade Medieval estava prestes a extinguir-se, grandes assembleias espirituais se reúnem nas proximidades do planeta, orientando os movimentos renovadores que, em virtude das determinações do Cristo, deveriam encaminhar o mundo para uma nova era.

2 Todo esse esforço de regeneração efetuava-se sob o seu olhar misericordioso e compassivo, derramando da sua luz sobre todos os corações. 3 Mensageiros devotados reencarnam-se no orbe, para desempenho de missões carinhosas e redentoras. 4 Na Península Ibérica, sob a orientação da personalidade de Henrique de Sagres,  †  incumbido de grandes e proveitosas realizações, fundam-se escolas de navegadores que se fazem ao grande oceano, em busca de terras desconhecidas. 5 Numerosos precursores da Reforma surgem por toda a parte, combatendo os abusos de natureza religiosa. 6 Antigos mestres de Atenas se corporificam na Itália, espalhando nos departamentos da pintura e da escultura as mais belas joias do gênio e do sentimento. 7 A Inglaterra e a França preparam-se para a grande missão democrática que o Cristo lhes conferira. 8 O comércio se desloca das águas estreitas do Mediterrâneo para as grandes correntes do Atlântico, procurando-se as estradas esquecidas para o Oriente. 9 Jesus dirige essa renascença de todas as atividades humanas, definindo a posição dos vários países europeus, e investindo cada um deles, de determinada responsabilidade na estrutura da evolução coletiva do planeta. 10 Para facilitar a obra extraordinária dessa imensa tarefa de renovação, os auxiliares do Divino Mestre conseguem ambientar na Europa antigas invenções e utilidades do Oriente, como a bússola para as experiências marítimas e o papel para a divulgação do pensamento.


2. Missão da América.


1 O Cristo localiza, então, na América as suas misericordiosas esperanças. O século XV alvorece com a descoberta do continente novo, sem que os europeus, de modo geral, compreendessem, na época, a importância de semelhante acontecimento. 2 As riquezas fabulosas da Índia deslumbram o espírito aventureiro daquele tempo, e as testas coroadas do Velho Mundo não entenderam a significação moral do continente americano.

3 Os operários de Jesus, porém, abstraídos da crítica ou do aplauso do mundo, cumprem os seus grandes deveres junto às terras novas. 4 Sob a determinação superior, organizam as linhas evolutivas das nacionalidades que aí teriam de florescer no porvir. 5 Nesse campo de lutas novas e regeneradoras, todos os espíritos de boa vontade poderiam trabalhar pelo advento da paz e da fraternidade do futuro humano, e foi por isso que, laborando para os séculos porvindouros, definiram o papel de cada região no continente, localizando o cérebro da nova civilização no local onde hoje se alinham os Estados Unidos da América do Norte, e o seu coração nas extensões da terra farta e acolhedora onde floresce o Brasil, na América do Sul. 6 Os primeiros guardam os poderes materiais; o segundo detém as primícias dos poderes espirituais, com vistas à civilização planetária do porvir.


3. O Plano Invisível e a colonização do Novo Mundo.


1 Após a descoberta da América, um grande esforço de seleção espiritual foi levado a efeito no seio das lutas europeias, no sentido de se criar no Novo Mundo um outro sentido de evolução.

2 Se os colonizadores da região americana, nos primeiros tempos, eram os degredados ou os proscritos das sociedades europeias, precisamos considerar que esses colonos não vinham tão somente das grandes capitais do antigo continente, na exclusiva observação do Plano Material. 3 Do Mundo Invisível, igualmente, partiram caravanas inúmeras de almas de boa vontade, que se corporificaram nas terras novas, como filhos daqueles degredados muitas vezes perseguidos pela iniquidade da justiça dos homens. 4 A esses Espíritos mais ou menos adiantados, aliaram-se numerosas entidades da Europa, cansadas das suas lutas inglórias de hegemonia e de ambição, buscando a redenção no esforço construtivo de uma nova pátria em bases sólidas da fraternidade e do amor, organizando-se desse modo, entre os povos americanos, códigos e sentimentos mais aperfeiçoados, dentro da compreensão da comunidade continental. 5 Se reconhecemos na América a projeção espiritual da Europa, temos de convir que se trata de uma Europa mais sábia e mais experiente, não só quanto aos problemas da concórdia internacional e da solidariedade humana, mas também em todas as questões que significam os verdadeiros bens da vida.


4. Apogeu da Renascença.


1 Essa renascença, iniciada do Alto, projetando na Terra as suas claridades renovadoras em todas as direções, chegou ao seu auge, no Plano material, em fins do século XV, até o século XVI.

2 A invenção da imprensa facultava o mais alto progresso no mundo das ideias, criando as mais belas expressões para a vida intelectual. 3 A literatura apresenta uma vida nova e as artes atingem culminâncias que a posteridade não poderia alcançar. 4 Numerosos artífices da Grécia antiga, reencarnados na Itália, deixam traços indeléveis da sua passagem, nos mármores preciosos. 5 Há mesmo, em todos os departamentos das atividades artísticas, um pronunciado sabor da vida grega, anterior às disciplinas austeras do Catolicismo na idade medieval, cujas regras, aliás, atingiam rigorosamente apenas quem não fosse parte integrante do quadro das autoridades eclesiásticas.


5. Renascença religiosa.


1 A essas atividades reformadoras não poderia escapar a Igreja, desviada do caminho cristão. 2 O Plano Invisível determina, assim, a vinda ao mundo de numerosos missionários com o objetivo de levar a efeito a renascença da religião, de maneira a regenerar os seus relaxados centros de força. 3 É assim que, no século XVI, aparecem as figuras veneráveis de Lutero, Calvino, Erasmo, Melanchton e outros vultos notáveis da Reforma, na Europa Central e nos Países Baixos.

4 Por ocasião dos primeiros protestos contra o fausto desmedido dos príncipes da Igreja, ocupava a cadeira pontifícia Leão X, cuja vida mundana impressionava desagradavelmente os espíritos sinceramente religiosos. Sob a sua direção criara-se, em 1518, o célebre “Livro das Taxas da Sagrada Chancelaria e da Sagrada Penitenciaria Apostólica”, n onde se encontrava estipulado o preço de absolvição para todos os pecados, para todos os adultérios, inclusive os crimes mais hediondos. 5 Tais rebaixamentos da dignidade eclesiástica ambientaram as pregações de Lutero e de seus companheiros de apostolado. 6 De nada valeram as perseguições e ameaças ao eminente frade agostiniano. Alguns historiadores enxergaram na sua missão uma simples expressão de despeito dos seus companheiros de comunidade, em face da preferência de Leão X encarregando os Dominicanos da pregação das indulgências. 7 A verdade, contudo, é que o humilde filho de Eisleben  †  tornara-se órgão da repulsa geral contra os abusos da Igreja, no capítulo da imposição dogmática e da extorsão pecuniária. 8 Os postulados de Lutero constituíram, antes de tudo, uma modalidade de combate aos absurdos romanos, sem representarem o caminho ideal para as verdades religiosas. 9 Ao extremismo do abuso, respondia com o extremismo da intolerância, prejudicando a sua própria doutrina. 10 Mas o seu esforço se coroou de notável importância para os caminhos do porvir.


6. A Companhia de Jesus.


1 Uma onda de claridades novas felicitava todas as consciências, mas os Espíritos tenebrosos e pervertidos, que mostraram ao europeu outras modalidades da pólvora, além daquelas que os chineses haviam enxergado na beleza dos fogos de artifício, inspiraram ao cérebro obcecado e doentio de Inácio de Loiola a fundação do jesuitismo,  †  em 1534, com o fim de reprimir-se a liberdade das consciências.

2 A Igreja, estendendo mão forte a essa ideia, inaugurava um dos períodos mais tristes da história ocidental. 3 O Tribunal da Inquisição, com poderes de vida e morte nos países católicos, fez milhares e milhares de vítimas, ensombrando o caminho dos povos. 4 Espetáculos sangrentos e detestáveis verificaram-se em quase todas as grandes cidades da Europa, os autos-de-fé acenderam horrendas fogueiras do Santo-Ofício, por toda parte onde existissem cérebros que pensassem e corações que sentissem. 5 Instituiu-se a devassa de todas as organizações e a violação de todos os lares. 6 Na Espanha, queimava-se o infeliz na praça pública; na França, uma pesada noite fazia pesadelos coletivos em matéria de fé; na Irlanda, muitos “fiéis” faziam questão de levar ao altar de Jesus a vela feita da gordura dos protestantes.


7. Ação do jesuitismo.


1 A Companhia de Jesus, de nefasta memória, não procurava conhecer os meios, para cogitar tão somente dos fins imorais a que se propunha.

2 Sua ação desdobrou-se por largos anos de treva, nos domínios da civilização ocidental, contribuindo amplamente para o atraso moral em que se encontra o “homem científico” dos tempos modernos.

3 Suas hordas de predomínio, de cupidez e de ambição não martirizaram apenas o mundo secular. Também os padres sinceros sofreram largamente sob a sua preponderância nefasta. 4 Tanto assim que, quando o papa Clemente XIV tentou extingui-la, em 1773, com o seu breve “Dominus ac Redemptor”,  †  exclamava desolado: — “Assino minha sentença de morte, mas obedeço à minha consciência.” Com efeito, em setembro de 1774, o grande pontífice entregava a alma a Deus, no meio dos mais horrorosos padecimentos, vitimado por um veneno letal que lhe apodreceu lentamente o corpo.


Emmanuel



[1] [Taxes de la pénitencerie apostolique, d’après l’édition publiée à Paris en 1520 par Toussains Denis - Google Books.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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