O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A caminho da Luz — Emmanuel


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A Igreja e a Invasão dos Bárbaros

(Sumário)

1. Vitórias do Cristianismo.


1 Constantino,  †  no seu caminho de realizações, consegue levar a efeito a nova organização administrativa do Império, começada no governo de Diocleciano,  †  dividindo-se este em quatro Prefeituras, que foram as do Oriente, da Ilíria, da Itália e das Gálias, que, por sua vez, eram divididas em dioceses dirigidas por vigários e prefeitos.

2 Com a influência do vencedor da ponte Mílvius,  †  efetua-se o Concílio Ecumênico de Niceia  †  para combater o cisma de Ário,  †  padre de Alexandria, que negara a divindade do Cristo.

3 Os primeiros dogmas católicos saem, com força de lei, desse parlamento eclesiástico de 325.

4 Findo o reinado de Constantino, aparecem os seus filhos, que lhe não seguem as tradições. 5 Em seguida, Juliano,  †  descendente também do imperador, eleva-se ao poder tentando restaurar os deuses antigos, em detrimento da doutrina cristã, embora compreendesse a ineficácia do seu tentâmen.

6 Mas, por volta do ano 381, surge a figura de Teodósio,  †  que declara o Cristianismo religião oficial do Estado, decretando, simultaneamente, a extinção dos derradeiros traços do politeísmo romano. 7 É então que todos os povos reconhecem a grande força moral da doutrina do Crucificado, pelo advento da qual milhares de homens haviam dado a própria vida no campo do martírio e do sacrifício, vendo o imperador, em 390, ajoelhar-se humildemente aos pés de Ambrósio,  †  bispo de Milão, a penitenciar-se das crueldades com que reprimira a revolta dos tessalonicenses.


2. Primórdios do Catolicismo.


1 O Cristianismo, porém, já não aparecia com aquela mesma humildade de outros tempos. Suas cruzes e seus cálices deixavam entrever a cooperação do ouro e das pedrarias, longe das expressões de madeira pobre, da época gloriosa das virtudes apostólicas.

2 Seus concílios, como os de Niceia,  †  Constantinopla,  †  Éfeso  †  e Calcedônia,  †  não eram assembleias que imitassem as reuniões suaves e humildes da Galileia. 3 Sua união com o Estado era motivo para grandes espetáculos de riqueza e vaidade orgulhosa, em contraposição com os ensinos d’Aquele que não possuía uma pedra para repousar a cabeça dolorida.

4 As autoridades eclesiásticas compreendem que é preciso fanatizar o povo, impondo-lhe suas ideias e suas concepções, e, longe de educarem a alma das massas na doce lição do Nazareno, entram em acordo com a sua preferência pelas solenidades exteriores, pelo culto fácil do mundo externo, tão do gosto dos antigos romanos pouco inclinados às indagações transcendentes.


3. A Igreja de Roma.


1 A igreja de Roma, que antes da criação oficial do Papado considerava-se a eleita de Jesus, arvorando-se em detentora das ordenações de Pedro, não perdia ensejos de firmar a sua injustificável primazia junto às suas congêneres de Antioquia,  †  de Alexandria  †  e dos demais grandes centros de então: 2 herdando os costumes romanos e suas disposições multisseculares, procurou um acordo com as doutrinas consideradas pagãs, pela posteridade, modificando as tradições puramente cristãs, adaptando textos, improvisando novidades injustificáveis e organizando, finalmente, o Catolicismo sobre os escombros da doutrina deturpada. 3 Os bispos de Roma, abusando do fácil entendimento com as autoridades políticas do Estado, impunham suas inovações arbitrárias, contrariando as sublimes finalidades do ensinamento d’Aquele que preconizara a humildade e o amor como os grandes caminhos da redenção.

4 É desse modo que aparecem novos dogmas, novas modalidades doutrinárias, o culto dos ídolos nas igrejas, as espetaculosas festas do culto externo, copiando-se quase todos os costumes da Roma anticristã.


4. A destruição do Império.


1 A fraqueza e a impenitência dos homens não compreenderam que o Cristianismo fora chamado à tarefa do governo tão somente para educar o sentimento dos governantes, preparando-os para levar o esclarecimento e a fraternidade aos outros povos da Terra, então considerados bárbaros pela cultura do Império.

2 Não obstante todos os esforços em contrário, dos mensageiros de Jesus, Bonifácio III  †  cria o Papado em 607, contrapondo-se a todas as disposições de humildade que deveriam reger a vida da Igreja. 3 As forças do mal, aliadas à incúria e vaidade dos homens, haviam obtido um triunfo relativo e transitório.

4 Os gênios do Espaço, todavia, à claridade soberana da misericórdia do Senhor, reúnem-se no Infinito, adotando providências novas com respeito ao progresso dos homens.

5 Todos os recursos haviam sido prodigalizados a Roma, a fim de que as suas expressões políticas e intelectuais se estendessem pelo orbe, abraçando todas as gentes no mesmo amplexo de amor e de unidade; sua alma coletiva, no entanto, havia deturpado todas as possibilidades sagradas de edificação e renegado todos os grandes ensinamentos. 6 Advertências penosas não lhe faltaram do Alto, como nos acontecimentos inesquecíveis e dolorosos do Vesúvio,  †  nas cidades da Campânia.  †  Séculos de luta e de ensinamento se haviam escoado, sem que a alma do império se compenetrasse dos seus deveres necessários.

7 É então que Jesus determina a destruição do império organizado e poderoso. Suas águias orgulhosas haviam singrado todos os mares, o Mediterrâneo era propriedade sua, todos os povos se lhe curvavam para a homenagem e para a obediência, mas uma força invisível arrancou-lhe todos os diademas, roubou-lhe as energias e reduziu suas glórias a um punhado de cinzas.

8 Até hoje, o espírito que investiga o passado inquire o motivo desses sinistros arrasamentos; mas a verdade é que todos os fundamentos da Terra residem em Jesus-Cristo.


5. A invasão dos bárbaros.


1 Essas determinações do Cristo, verificadas após o reinado de Constantino, foram seguidas das primeiras grandes invasões com os visigodos que, fugindo dos hunos, transpõem o Danúbio e estabelecendo-se no Oriente, penetrando depois na Grécia e na Itália, espalhando flagelos e devastações. 2 Debalde surgem as vitórias de Estilicão,  †  porque, em 410, atingem elas as portas de Roma, que fica entregue ao saque e às mais duras humilhações.

3 Em 405, é Radagásio  †  que parte à frente de duzentos mil soldados, em demanda da cidade imperial, sendo vencido, porém roubando as mais fortes economias romanas.

4 As provas expiatórias do Império prosseguem numa avalancha de dores amargas. Aparecem as correntes bárbaras dos alanos,  †  dos vândalos,  †  dos suevos,  †  dos burgúndios.  †  5 Em 450, os hunos comandados por Átila  †  atacam as Gálias, perseguindo populações pacíficas e indefesas. A unidade imperial perde a sua tradição, para sempre. 6 Com as suas vitórias, funda Clóvis  †  a monarquia dos francos. 7 Os bretões,  †  oprimidos pela invasão e privados do auxílio dos exércitos romanos, apelam para os saxônios que povoavam o sul da Jutlândia,  †  organizando a Heptarquia Anglo-Saxônia.  † 

8 O que Roma deveria fazer com a educação e o amparo perseverantes, aqueles povos rudes e fortes vinham reclamar por si mesmos.

9 A grande cidade dos Césares poderia ter evitado a catástrofe do desmembramento, se levasse a sua cultura a todos os corações, em vez de haver estacionado tantos séculos à mesa farta dos prazeres e das continuadas libações.


6. Razões da Idade Média.


1 A queda do Império Romano determinara no mundo extraordinárias modificações. 2 Muitas almas heroicas e valorosas, que se haviam purificado nas lutas depuradoras, não obstante o ambiente pantanoso dos vícios e das paixões desenfreadas, ascenderam definitivamente a Planos Espirituais mais elevados, apenas voltando às atmosferas do planeta para o cumprimento de enobrecedoras e santificantes missões.

3 A desorganização geral com os movimentos revolucionárias dos outros povos do globo terrestre, que embalde esperaram o socorro moral do governo dos imperadores, dera origem a um longo estacionamento nos processos evolutivos. 4 É aí, nessa época de transições que agora atinge as suas culminâncias, que vamos encontrar as razões da Idade Média, ou o período escuro da história da Humanidade. 5 Só esse ascendente místico da civilização pôde explicar o porquê das organizações feudais, depois de tão grandes conquistas da mentalidade humana, nos grandes problemas da unidade e da centralização política do mundo. 6 É que um novo ciclo de civilização começava sob a amorosa proteção do Divino Mestre, e as últimas expressões espirituais do grande Império retiravam-se para o silêncio dos santuários e dos retiros espirituais, para chorar na solidão dos conventos, sobre o cadáver da grande civilização que não soubera cumprir o seu glorioso destino.


7. Mestres do amor e da virtude.


1 Almas sublimadas e corajosas reencarnam-se, então, sob a égide de Jesus e para a grande tarefa de orientar as forças políticas da igreja romana, agora organizada à maneira das construções efêmeras do mundo. 2 O Papado era a obra do orgulho e da iniquidade; mas o Cristo não desampara os mais infelizes e os mais desgraçados, e foi assim que surgiram, no seio mesmo da Igreja, alguns mestres do amor e da virtude, ensinando o caminho claro da evolução aos povos invasores, trazendo-os ao pensamento cristão e destinando-os aos tempos luminosos do porvir.


Emmanuel


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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