1 Efêmero é esse orgulho, homem, que guardas,
Nesse mundo de angústias e de dores,
Onde soluçam seres inferiores
Entre milhões de células bastardas.
2 É o teu dia de dor, grande e profundo,
Sob o eterno mistério indevassado,
És o triste fantasma encarcerado
Nas leis organogênicas do mundo.
3 O corpo que é o teu gozo alto e triunfante,
Que embelezas na Terra e em que presumes
Uma taça de angélicos perfumes,
É um vaso tenebroso e repugnante.
4 Vive nas luzes, onde não se esbarra
A ventura que sonhas e desejas,
Pois sobre o mundo a boca com que beijas
É a mesma que vomita, cospe e escarra.
Augusto dos Anjos |