Aquele que nos fere terá assumido, aos nossos olhos, a feição de inimigo terrível, no entanto, o Divino Mestre, que tomamos por guia de nosso pensamento e conduta, determina venhamos a perdoá-lo setenta vezes sete. ( † )
Por outro lado as ciências psicológicas da atualidade, absolutamente concordes com Jesus, asseveram que é preciso desinibir o coração de quaisquer ressentimentos e estabelecer o equilíbrio na governança de nossas potências mentais a fim de que a tranquilidade se nos expresse na existência em termos de saúde e harmonia.
Como, porém, realizar semelhante feito?
Entendendo-se que a compreensão não é fruto de afirmativas labiais, é forçoso reconhecer que o perdão exige operações profundas nas estruturas da consciência.
Se um problema desse nos aflora o cotidiano, — a nós, os que aspiramos a seguir o Cristo, — pensemos primeiramente em nosso opositor na condição de filho de Deus, tanto quanto nós, e situando-nos no lugar dele, imaginemos em como estimaríamos que a Lei de Deus nos tratasse, em circunstâncias análogas.
De imediato observaremos que Deus está em nosso assunto desagradável tanto quanto um pai amoroso e sábio se encontra moralmente na contenda dos filhos.
Então, à luz do sentimento novo que nos brotará do ser, examinaremos espontaneamente até que ponto teremos ditado o comportamento do adversário para conosco.
Muito difícil nos vejamos com alguma parte de culpa nos sucessos indesejáveis de que nos fizemos vítimas, mas ao influxo da Divina Providência, a cujo patrocínio recorremos, ser-nos-á possível recordar os nossos próprios impulsos menos felizes, as sugestões delituosas que teremos lançado a esmo, as pequenas acusações indébitas e as diminutas desconsiderações que perpetramos, às vezes, até impensadamente, sobre o companheiro que não mais resistiu à persistência de nossas [mesmas] provocações, caindo, por fim, na situação de inimigo perante nós outros.
Efetuado o autoexame, a visão do montante de nossas falhas não mais nos permitirá emitir qualquer censura em prejuízo de alguém.
Muito pelo contrário, proclamaremos, de pronto no mundo íntimo a urgente necessidade [de amparo] da Misericórdia Divina para o nosso adversário e para nós.
Então, [à frente de qualquer agressor,] não mais falaremos no singular diante daquele que nos fere: — “eu te perdoo”, e sim, perante qualquer ofensor com que sejamos defrontados no caminho da vida, diremos sinceramente a Deus em oração: — “Pai de Infinita Bondade, perdoai a nós dois.”
Emmanuel
[1] O título entre parênteses é o mesmo da mensagem original e seu conteúdo, diferindo bastante nas palavras marcadas e [entre colchetes], foi publicado em 1971 pela FEB e é a 15ª lição do livro “Rumo certo.” — Esse capítulo foi restaurado: Texto restaurado.