1 Vi a dor caminhando em negra estrada,
Qual megera da sombra, em noite escura,
E perguntei, rolado de amargura;
“Por que nasceste, bruxa desvairada?”
2 “Por que ostentas a espada estranha e dura,
Sobre o seio da vida atormentada,
Reduzindo à miséria, cinza e nada
Todo o sonho da paz e da ventura?”
3 Mas a Dor respondeu; “Cala-te, amigo!
Na torturada senda em que prossigo,
O veneno do mal morre infecundo.
4 “Sem meu gládio que salva, pouco a pouco
O homem padeceria cego e louco
Em tenebrosos cárceres do mundo!”
Anthero de Quental |