MENSAGEM
1 Querida mamãe Rodolfina.
Abençoe seu filho que ainda sofre.
2 Venho com a vovó Ana até aqui, na posição de um enfermo que se retira momentaneamente da casa de tratamento e socorro na qual foi asilado, a fim de pedir o seu perdão.
3 Mamãe, eu vivi cego nos tempos últimos!
Enxergava nos outros o que estava dentro de mim.
Fitava na vida a minha própria imagem e, por isso mesmo, enlouqueci.
4 Seu filho não conseguiu enxergar os seus sacrifícios para que ele fosse gente. É por isso que sem a treva que me inibia a visão, sou trazido até aqui para reafirmar-lhe que eu nunca poderia encontrar mãe mais dedicada e mais amorosa do que a que Deus me deu em seu coração de paz e carinho.
5 Mamãe, as chamadas injustiças sociais que alegava em minhas convicções erradas não eram outra bênção senão aquela de que eu mais necessitava a fim de melhorar os sentimentos que eu trazia…
6 Penso que o seu carinho me perdoará como sempre. Sofro as consequências de meu gesto infeliz, mas no miolo dessa angústia, está o remorso de haver menosprezado a melhor mãezinha que o Céu me poderia confiar.
7 Agora, tudo passa de novo em minha lembrança, como se eu assistisse a um filme incessante por dentro de mim mesmo.
Seu esforço e sua luta…
8 Você com Deus a trabalhar por nós, você calando aflições para não incomodar-nos, você a se privar na mesa do que fosse melhor para que seu filho se alimentasse como um príncipe, você a derramar suor e lágrimas para que eu estudasse e, na cegueira que me tomou o coração, a revolta injustificável contra a vida não me permitiu oferecer-lhe migalha de qualquer agradecimento…
9 Pudesse eu tornar atrás, ainda que fosse para arrastar-me pelo resto da vida em seus passos e me sentiria a mais feliz das criaturas de Deus, porque estaria acompanhando o anjo que o Céu nos deu e à família em forma de mulher para ser minha mãe!
10 Nem pude ver os seus exemplos de amor para com a vovó Benedita a quem a sua dedicação tudo oferta em assistência e ternura…
11 Mãezinha, considere-me por um rapaz que se perturbou, acreditando raciocinar sobre sociedade e justiça. O meu gesto foi um punhal em seus sentimentos, mas, pode crer que a ferida está sangrando muito mais em mim mesmo…
12 Pedi à vovó Ana me trouxesse até você, quando escutei as suas palavras decidindo-se a tentar algum intercâmbio com o seu rapaz ingrato e infeliz. Eu não descansaria enquanto não lhe mostrasse a minha dor, pedindo-lhe esquecimento de minha falta.
13 Enquanto escrevo e choro começo a sentir-me aliviado e espero que, com a bênção de Deus e com o tempo, consiga ser o filho que os seus braços sempre aguardaram inutilmente. Mamãe, por que me vi ferido por mim mesmo, de modo tão cruel ao feri-la? E pode guardar a certeza que nunca a vi tão bela e tão alta quanto agora em que a fé brilha em seu sofrimento de que fui o causador…
14 Perdoe-me mãezinha querida, e saiba que a amo cada vez mais.
15 Conte à Vera Lúcia o que me acontece em matéria de arrependimento para que a irmãzinha no lar nunca se lembre de imitar o que fiz.
16 A vida e a justiça procedem de Deus e somente agora consigo ver a realidade. Foi preciso que a morte me abrisse no peito uma torrente de lágrimas para que o pranto me lavasse os olhos que a rebeldia obscurecera.
Oh! Deus, cujo infinito amor nunca falha.
17 Deus, mamãe, abençoará nossa dor e fará com que seu filho se recupere da enfermidade espiritual que me atacou em forma de rebelião contra tudo o que o mundo nos oferece de melhor.
18 Confio em Deus e trago ao seu colo esse pequeno raio de fé para dizer-lhe que estou melhorando…
19 A provação que eu mesmo procurei tentando aniquilar a própria vida, é a força que me retira das sombras para o regresso à claridade.
20 Mãe querida, abençoe-me.
Não sofra se choro e nem se aflija se ainda lhe revelo o lado amargo do gesto que cometi… Isso é também recurso em meu benefício.
21 Abençoe-me e auxilie-me com as suas lembranças em prece e, desejando que o seu coração permaneça forte e tranquilo na caminhada do bem para o Alto em que sempre a vi e continuo a vê-la.
22 Tome entre as suas mãos a cabeça ainda amargurada de seu filho que lhe pede perdão de joelhos e diga-me querida mãezinha, que o seu coração me acolhe de novo e me perdoará como sempre.
23 Um beijo molhado de lágrimas do seu filho, sempre seu filho do coração.
João Alves. n
COMENTÁRIOS
“O meu gesto foi um punhal em seus sentimentos mas pode crer que a ferida está sangrando muito mais em mim mesmo…”
Reconhecer-se no compromisso dos atos praticados, traz para a consciência de todo ser humano, a certeza de que somos juízes de nós mesmos. Que o benefício do amor e o seu valor, como sustentáculo nos problemas que nos cercam, ficaram muitas vezes esquecidos.
Amor é a palavra sublime que nos eleva às paragens de Deus, é ainda, o passaporte para o intercâmbio com Jesus nos caminhos que nos obrigamos a percorrer no serviço da caridade.
PESSOAS E FATOS
João Alves de Sousa Reis Filho.
Nascimento: 4.2.1955.
Desencarnação: 14.5.1979.
Pais: João Alves de Sousa Reis e Rodolfina Alves de Lima. Rua Guilherme Vaz Pinto, 68. São Paulo - SP.
Irmã: Vera Lúcia de Sousa.
Avós: Ana Moreira de Sousa, paterna, desencarnada há 47 anos. Benedita, materna, encarnada, conta atualmente com 100 anos.
Rubens S. Germinhasi