O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vozes da Outra Margem — Familiares diversos


CAPÍTULO 7

Irmão regressa curado e desfaz dúvidas

Desde a infância, Mauro Augusto Rocha, caçula de uma irmandade de seis filhos, mostrou-se doentio, exigindo maior assistência de seus pais.

Ao entrar na escola, com 7 anos, não foi bem sucedido, revelando pequena capacidade de vontade e atenção, conseguindo frequentar apenas os dois primeiros anos, com pequeno aproveitamento.

Quando estava com 8 anos, seus pais, alertados pela professora, que via nele certa “alteração psíquica”, levaram-no à consulta com vários médicos. E todos foram unânimes no diagnóstico: tratava-se, realmente, de uma doença mental, uma forma de esquizofrenia.

Apesar do tratamento realizado, por anos e anos, Mauro chegou à maioridade ainda mostrando-se fora da normalidade: com algumas manias, com mínimo contato social, permanecendo sempre em casa, e sem profissão. Após o passamento de seu pai, continuou a residir com a progenitora, em Goiânia, GO, hoje uma velhinha lúcida de 80 anos, pois nunca se interessou em casar-se.

Em face desse comportamento estranho, nem sempre foi bem compreendido pelos familiares, o que acarretava atritos ocasionais. Após um desses episódios, a 20 de maio de 1985, Mauro, profundamente magoado, deixou sua casa no dia seguinte, cedo, dizendo que passaria a residir com seu irmão João, em Pires do Rio, GO, distante 150 Km de Goiânia, apesar da insistência de sua mãe para que não a deixasse.

Às 13 horas desse mesmo dia foi encontrado caído, à beira da estrada, bem vestido e com os pertences mínimos que transportava, nas proximidades da cidade de Santa Cruz de Goiás, a 20 Km de Pires do Rio. Avisada a polícia, ela providenciou sua remoção a um hospital de Pires do Rio, onde chegou muito pálido e cansado, conversando com dificuldade, sem esclarecer como havia chegado até o local onde foi localizado.

Essa dúvida da família não foi elucidada, pois Mauro, piorando progressivamente, desencarnou na madrugada do dia seguinte, 22 de maio, aos 33 anos.

Como ele chegou até aquele local, apresentando-se tão enfermo? Era, de fato (dúvida de alguns familiares), doente mental?

Essas dúvidas só foram esclarecidas quase nove meses após o acontecimento, quando ele mesmo, pela psicografia de Chico Xavier, retornou do Mais Além, redigindo longa e minuciosa carta, em reunião pública do GEP, na noite de 15 de fevereiro de 1986. Os detalhes das questões abordadas, íntimas da família, foram tão precisos que provocaram forte emoção no destinatário, seu irmão João, que ao final da leitura da mesma, pelo médium, exclamou em voz alta: “O Espiritismo é uma verdade!”

A seguir, as palavras de Mauro:




CARTA DE MAURO AUGUSTO


1 Desejo falar aqui ao meu irmão João Nogueira Rocha e ao nosso querido sobrinho Cairo Nascente.

2 Agradeço a oportunidade que me concedeu para explicar-me, prezado João, depois que o meu coração não mais suportou o corpo complicado e doente.

3 Venho aprendendo a conhecer-me com mais segurança. Falo da personalidade que já deixei, com os conhecimentos que me foram ministrados numa das escolas de reconhecimento para desencarnados em Palmelo, mas preciso alinhar as referências que faço, de modo a esclarecer os pontos obscuros de minha desencarnação.

4 Você, meu irmão, e o nosso Cairo se lembram de que não possuía constante lucidez para entender a vida. Acresce que, nos tempos últimos assinalava uma dor persistente no peito, o que me induzia a colocar a mão direita sobre o coração.

5 Mas os meus irmãos, notadamente a Sônia e o Rômulo, não conseguiam justificar aquela inércia ou apatia de que me achava sempre acometido, dentro de casa. Meus irmãos não podiam ter a penetração de nossa mãezinha Cecília, cuja paciência para comigo excedia todos os limites. 6 Escutava frases como estas: “O Mauro não trabalha porque não quer”; “Não se sabe até onde vai o nosso irmão com essas manias de doença, que são claramente imaginárias”; “Por que o Mauro se faz de perturbado tendo um cérebro sadio?”; “Que fazer para transformar-lhe a cabeça?” 7 E eu ouvia tudo com revolta e com mágoa, porque me sentia incapaz de exercer qualquer função, ainda mesmo que fosse a de varredor. E apareceu-me a dor localizada no peito, que eu não sabia definir.

8 A mamãe Cecília, sempre me animando a confiar em Deus e reconhecer que meus irmãos não pronunciavam as frases, a que me refiro, unicamente por mal, mas buscando reanimar-me.

9 Num dia de Maio passado, do qual não me lembro, ouvi de novo os irmãos a me recriminarem para o meu próprio bem e falei em voz alta que eu iria morar em sua companhia, em Pires do Rio. A mãezinha Cecília me observou que não pensasse em sair assim de estalo, mas sem malas e sem retirar qualquer pertence meu, procurei a estrada dos caminhões que sabia seguirem sempre no rumo de Anápolis.

10 Sempre com a dor no peito, caminhei até a saída de Goiânia e um caminhoneiro de bom coração me viu pálido e a suar abundantemente. Perguntou-me se eu queria alguma providência. Disse a ele que precisava de uma carona para Pires do Rio, mas o amigo inesperado, cujo nome nem fiquei sabendo, me comunicou que não poderia me deixar em Pires e sim em Santa Cruz, de onde voltaria para novas tarefas. Aceitei; em Santa Cruz, despedi-me e agradeci.

11 Passei a caminhar no rumo de Pires do Rio, sabendo que os quilômetros eram poucos, e fiz pequeno trecho a pé; no entanto, chegou um instante em que não pude senão cair na estrada e esperar. 12 Pensei que aquela seria para mim a hora da morte e não me enganava, pois o meu desligamento do corpo estava tendo a bendita iniciação.

13 Pessoas de coração generoso se aproximaram de mim; contei que estava procurando a residência de meu mano João, com quem passaria a morar, até que fui levado a Pires do Rio e ainda pude tentar uma conversa com você. Quando disse que teria ido a pé, queria referir-me ao fato de haver começado a minha jornada a pé, de Santa Cruz para a frente, mas não consegui meios de falar com clareza.

14 O resto, você e o Cairo já sabem, a desencarnação apareceu mesmo e, na hora extrema, reconheci o papai Nazareno a meu lado.

15 Peço dizerem à nossa mãezinha Cecília que estou bem amparado e roguem aos meus irmãos me perdoarem o trabalho constante que lhes dei. Compreendo que ninguém me ofendeu e, sim, reconheço que todos os nossos me queriam liberto da apatia e da zonzeira, de que fui portador.

16 Estou melhor e mais forte, e Deus me auxiliará a ser útil aos nossos.

17 Sei que você perdeu um filho, mas ainda não puderam permitir a minha visita a ele, mas formulo votos para que você, como nosso estimado Cairo, e toda a nossa querida família, estejam usufruindo saúde e paz, encorajamento e felicidade.

18 Sou muito grato à mãezinha Cecília por desejar conhecer as minhas notícias e peço a ela para que me abençoe.

19 Lembrem-me aí com a bênção da oração. Isso me será de grande valia.

20 E recebam, querido João e querido Cairo, um grande abraço do


Mauro Augusto Rocha




NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 - João Nogueira Rocha — Irmão, residente à Rua Manoel Gonçalves de Araújo, n.º 10, Pires do Rio, GO.

2 - Cairo Nascente — Cairo Nascente Rocha, sobrinho (filho do Sr. João), estudante de Direito em Uberaba.

3 - Falo da personalidade que já deixei — Após 33 anos de uma vida física de provação, padecendo grave e limitante enfermidade mental — consequente de traumas adquiridos em existências passadas, localizados basicamente no cérebro perispiritual, — Mauro conseguiu a almejada cura numa instituição localizada na região espiritual da cidade de Palmelo, muito próxima de Pires do Rio. (Ver Entrevistas, Francisco Cândido Xavier/Emmanuel, IDE, questões 27 e 99.)

4 - Nos tempos últimos assinalava uma dor persistente no peito, o que me induzia a colocar a mão direita sobre o coração. — Dª Cecília, sua progenitora, confirma esta informação.

5 - Sônia e Rômulo — Irmãos.

6 - Mãezinha Cecília — Cecília Nogueira Rocha, residente em Goiânia.

7 - Papai Nazareno — Nazareno Rocha, desencarnado em Goiânia, com 61 anos, a 14/11/1970.


Hércio Arantes


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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